Chineses lançados em 2011 já ganham nova frente e melhor
aspecto interno em busca de maior aceitação no Brasil
Texto: Fabrício Samahá e Paulo de Araújo – Fotos: divulgação
Dois anos são um prazo muito curto para um automóvel ser remodelado, mas existem fatores que podem justificar essa pressa. Desde que a chinesa JAC Motors apresentou os compactos J3 (hatchback) e J3 Turin (sedã), em março de 2011, a recepção pelo mercado brasileiro foi morna. Para uma empresa que queria mostrar que carros chineses podem ter boa qualidade — apesar dos maus precedentes de inúmeros produtos da mesma origem, não só motorizados —, a JAC não trabalhou bem em acabamento e aparência interna. Além disso, seu desenho ficou longe de entusiasmar e, no caso do Turin, a solução das lanternas traseiras mereceu críticas.
O resultado tem sido vendas modestas: mesmo mantendo preços semelhantes aos da fase de lançamento, de janeiro à primeira quinzena de junho, segundo a Fenabrave, foram emplacadas 2.205 unidades do J3 e 1.289 do Turin. Em suas categorias, o hatch só superou no período os modelos da Chery (QQ e Face), enquanto o sedã conseguiu deixar para trás apenas o Renault Symbol. Não são motivos de comemoração.
A nova frente remoçou o J3 hatch, que não tem alterações na traseira; com a versão
de 1,5 litro ausente por enquanto, o motor 1,35-litro a gasolina é o único oferecido
A JAC espera reverter esse quadro com a reestilização agora apresentada como linha 2014, que teve como alvos a frente e o painel dos dois modelos e a traseira do sedã. Ambos continuam a usar o motor de 1,35 litro e quatro válvulas por cilindro a gasolina, já que a versão J3 Sport, que tinha um 1,5-litro flexível, deixou o mercado menos de quatro meses após ser lançada (a JAC volta a oferecer esse motor em setembro). A única alteração de ordem técnica ocorreu no trambulador da alavanca de câmbio. Os preços sugeridos são de R$ 36 mil para o hatch e o R$ 38 mil em pacotes fechados, que não oferecem opcionais.
No interior, o objetivo de alcançar uma aparência mais refinada foi alcançado e o painel de instrumentos ganhou leitura mais fácil
Os equipamentos de série para ambos os modelos incluem bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força entre os eixos (EBD), faróis e luz traseira de neblina, faróis com regulagem elétrica de altura, rodas de alumínio de 15 pol, ar-condicionado, direção assistida, controle elétrico dos vidros, travas e retrovisores, sensores de estacionamento traseiros, banco traseiro bipartido 60:40, volante com regulagem de altura, rádio/toca-CDs/MP3 com entrada USB e abertura interna da tampa do tanque de combustível. A garantia é de seis anos.
A reforma da frente foi ampla, abrangendo faróis, grade, para-choque, para-lamas e capô. As linhas desenvolvidas pelo Centro de Design da JAC em Turim, na Itália, deram um ar mais moderno ao J3 e não chegam a destoar do restante da carroceria. Se o hatch manteve a traseira inalterada, o sedã Turin ganhou para-choque, tampa do porta-malas e lanternas redesenhados, que assumem linhas mais horizontais para dar a sensação de um carro mais largo. Não foi preciso alterar os para-lamas, o que conteve os custos. Com exceção dos logotipos, que parecem não caber nos espaços onde foram aplicados, o resultado nos pareceu bom. As rodas de alumínio também mudam nos dois modelos.
A traseira do J3 Turin melhorou bastante com a reforma; as rodas de 15 pol são novas
No interior, o objetivo de alcançar uma aparência mais refinada foi alcançado. O painel foi todo refeito e ganhou muito em aspecto em áreas como os comandos de ventilação, o aparelho de áudio e o quadro de instrumentos. Um conjunto de mostradores mais amplo, com tela central para os hodômetros e a indicação de porta mal fechada, substitui o diminuto quadro anterior no qual o conta-giros ficava dentro do velocímetro.
O volante, também novo, agora traz revestimento em couro, comandos do sistema de áudio e seções em plástico preto brilhante, assim como as usadas no painel central e nos painéis de porta redesenhados. O fim dos anéis cromados nos difusores de ar parece ter eliminado os incômodos reflexos de sol notados no modelo anterior. Mais novidades são o reostato de iluminação dos instrumentos e a chave do tipo canivete, com haste metálica embutida no miolo.
Embora não houvesse mudanças mecânicas para avaliar, a JAC convidou a imprensa para dirigir os carros entre São Paulo e Campinas, no interior do estado. Ao volante do J3 Turin, notamos uma boa posição de dirigir, com ressalva para a falta de regulagem de altura do banco, inconveniente para motoristas mais baixos. O acabamento continua baseado em plásticos rígidos, com três padrões de textura e aspecto um tanto simples, e usa tecido áspero no revestimento dos bancos.
Mesmo que os materiais ainda sejam simples, o interior do J3 melhorou muito em
aspecto e ganhou instrumentos de leitura mais fácil e comandos de áudio no volante
O novo volante é muito bom e o quadro de instrumentos ganhou fácil leitura, mas os pedais de freio e embreagem não transmitem confiança, sendo fácil fazê-los bambear para os lados com o pé. Ao sair, o motor demonstra que precisa de certa rotação para fornecer bom desempenho: com alta potência específica de 81 cv/litro, e apesar de contar com variação do tempo de abertura das válvulas de admissão, seus 108 cv e o torque máximo de 14,1 m.kgf surgem apenas em rotações elevadas. Abaixo de 2.000 giros é um motor um tanto “vazio”, mas ganha vivacidade quando se deixam as 3.500 rpm para trás.
O câmbio mostra bons engates e, em rodovia, o nível de ruído moderado traz conforto enquanto não se precisa elevar a rotação. A direção assistida é leve em baixa velocidade, mas em alta poderia ganhar mais peso. A suspensão traseira dos J3 é independente McPherson, um caso raro no mercado (o eixo de torção é praticamente absoluto hoje na categoria), e sua calibração macia transmite alguma sensação de instabilidade. Um pouco mais de carga nos amortecedores desse eixo deixaria o rodar mais firme e controlado, sem tornar o carro desconfortável.
Enquanto constrói sua fábrica em Camaçari, BA, com inauguração prevista para o próximo ano, a JAC quer ampliar a participação do J3 importado com as boas novidades apresentadas. São mudanças que não revolucionam o modelo, mas que corrigem algumas falhas da versão anterior e podem ajudá-lo a cair no gosto dos brasileiros.
Ficha técnica (J3 Turin)
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 75 x 75,4 mm |
Cilindrada | 1.332 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 108 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 14,1 m.kgf a 4.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,155 m |
Largura | 1,65 m |
Altura | 1,465 m |
Entre-eixos | 2,40 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 48 l |
Compartimento de bagagem | 490 l |
Peso em ordem de marcha | 1.100 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 186 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,9 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |