Líder do segmento em março, modelo fluminense revela impressões iniciais de seus 30 dias de avaliação
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
Começa mais uma avaliação de Um Mês ao Volante com um carro que anda despertando muito interesse no segmento de utilitários esporte compactos: o Nissan Kicks, que recebemos na versão SV com motor de 1,6 litro e transmissão automática de variação contínua (CVT). Ele nos chega em momento oportuno: em março, foi o SUV mais vendido no Brasil, à frente do Honda HR-V.
Ao preço sugerido de R$ 87.490, o SV é o Kicks intermediário — a linha abrange o simples S e o topo SL, sendo apenas o primeiro disponível também com caixa manual. Seu conteúdo de série inclui alarme, ar-condicionado, assistente de saída em rampa, câmera traseira de manobras, chave presencial para acesso e partida, cintos de três pontos para os cinco ocupantes, computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina, fixações Isofix para cadeiras infantis, freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem e assistência de emergência, preaquecimento de álcool para partida a frio, rádio com tela de 7 pol e navegador, retrovisores com luzes de direção, rodas de alumínio de 17 pol, sensor de estacionamento traseiro e volante com ajustes de altura e distância.
Versão SV é intermediária na linha Kicks e custa a partir de R$ 87.490; rodas de 17 pol vêm de série; saias e barras de teto foram aplicados como acessórios
Um pacote opcional com bancos de couro e bolsas infláveis laterais e de cortina leva o preço a R$ 90.490. O carro avaliado recebeu ainda acessórios à venda nas concessionárias: anexos aerodinâmicos com apliques em prata (preço sugerido de R$ 2.676), barras transversais do teto (R$ 1.879) e frisos nas portas (R$ 480). De forma oposta ao Volkswagen Polo testado no mês passado, que veio em um chamativo amarelo, nosso Kicks é preto — não a melhor cor para fotos ou para atrair atenções no trânsito. Mesmo assim, ele agrada pelo desenho repleto de ângulos e arestas e ganha certo apelo com os acessórios aplicados.
Nota-se claramente que o Kicks deriva do March: o peso muito baixo favorece consumo e desempenho, mas sacrifica aspectos de refinamento
Fabricado em Resende, RJ, o Kicks nacional é bem conhecido dos leitores: o mesmo SV apareceu em outubro em comparativo com Ford Ecosport e Renault Captur, no qual ficou em segundo lugar. Por que colocá-lo na seção? Para submetê-lo à análise de mais motoristas, cada um (ou uma) com seu perfil de uso e suas preferências, além de levá-lo à oficina para análise técnica.
As primeiras impressões ao volante refletem a “alma construtiva” do Kicks: nota-se claramente que deriva do March, apesar de ser bem mais volumoso. Um destaque do modelo é o peso de 1.132 kg, muito baixo para sua categoria (o Captur, poucos centímetros maior, acusa 1.286 kg com motor e transmissão similares). Detalhes como acabamento, simplicidade do painel, isolação de ruídos e absorção de impactos revelam como a Nissan conseguiu construir um carro desse porte tão leve, o que favorece tanto o consumo quanto o desempenho, mas sacrifica pontos que podem ser relevantes para alguns consumidores.
Boa posição de dirigir e tela de 7 pol para áudio, navegador e câmera traseira; acabamento simples, mesmo com bancos de couro, pode melhorar
O espaço interno agrada ao motorista, permitindo conforto para as pernas dos mais altos. O volante torna-se um pouco desconfortável quando se regula na posição mais alta: fica muito inclinado e com a parte superior longe, lembrando (com algum exagero, é verdade) motoristas de ônibus ou de Kombi, que precisam inclinar o corpo para frente toda vez que a mão passa pela parte superior do volante. Os bancos são bem desenhados; contudo, o couro sem perfurações (que auxiliariam a ventilação) está longe do ideal em um país tropical. Por isso sempre defendemos que haja escolha entre couro e tecido nos bancos, como no Kicks SV — mas as bolsas infláveis adicionais não deveriam estar vinculadas ao tipo de revestimento.
Inconveniente é a falta de apoio de braço central, em um veículo que tem largura e preço suficientes. No banco traseiro, como no Polo, notamos a falta do ancoramento central superior para sistema Isofix. Mais uma vez fizemos o ancoramento no encosto de cabeça central. Outras falhas: faltam luz de cortesia para o banco traseiro (que ao menos fosse no centro da cabine) e mostrador de temperatura externa, e a luz de porta-luvas apenas funciona se o farol estiver ligado.
O colaborador Edison Velloni, habitual na seção, havia dirigido o Polo Highline TSI alguns dias antes e ficou surpreso ao descobrir que o Kicks custa bem mais que o VW. Além dos itens citados, o Nissan carece de alguns refinamentos para sua faixa de preço, como melhor acabamento de portas e painel. Edison gostou da simplicidade do sistema de áudio e navegação, fácil de operar, e achou a direção precisa e leve em manobras, além de considerar que o carro se inclina pouco em curvas. Mas sentiu falta de respostas mais rápidas em baixas e médias rotações: “Apesar de o acelerador ser bem arisco, ou seja, se pressiona pouco o pedal e já se altera bastante o comportamento do motor e da transmissão, falta fôlego nas retomadas do dia a dia. Para fazer o carro andar bem, precisa-se ganhar mais rotação do que se deseja”.
Motor de 114 cv não é dos mais modernos; com baixo peso, Kicks tem-se mostrado econômico, mas requer alta rotação para obter bom desempenho
Seu trajeto sempre resulta nas piores médias de consumo do mês, neste caso apenas 4,8 km/l nos 54 km percorridos em longas 3h20. Edison perguntou se os pneus não estariam muito cheios, por sentir qualquer imperfeição no asfalto. Mesmo com as pressões corretas, o Kicks carece de boa absorção de pequenos impactos, embora revele boa atitude em grande oscilações como lombadas e maiores desníveis, devido aos amortecedores macios. Voltaremos ao acerto de suspensão nas próximas semanas.
De maneira geral o Kicks se mostrou um carro econômico no uso urbano, muito graças ao comportamento da CVT e do baixo peso, que compensam o motor de tecnologia não tão atual. Na primeira semana rodamos 491 km em cidade com álcool, obtendo média de 9,1 km/l, sendo a melhor média de 12 km/l no trecho de 70 km comumente feito pela equipe (média de velocidade de 38 km/h). No entanto, já pudemos notar que o tanque de combustível de 41 litros é pequeno demais para uso de álcool, fazendo do dono desse Nissan um visitante frequente dos postos.
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Primeira semana
Distância percorrida | 491 km |
Distância em cidade | 491 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 9,1 km/l |
Consumo médio em cidade | 9,1 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 12,0 km/l |
Pior média | 4,8 km/l |
Dados do computador de bordo com álcool |
Preços
Sem opcionais | R$ 87.490 |
Como avaliado | R$ 90.490 |
Completo | R$ 90.490 |
Preços sugeridos em 2/4/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78 x 83,6 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 114 cv a 5.600 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,5 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa | automática de variação contínua |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 205/55 R 17 V |
Dimensões | |
Comprimento | 4,295 m |
Largura | 1,76 m |
Altura | 1,59 m |
Entre-eixos | 2,61 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 41 l |
Compartimento de bagagem | 432 l |
Peso em ordem de marcha | 1.132 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 175 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,0 s |
Consumo em cidade | 11,4/8,1 km/l |
Consumo em rodovia | 13,7/9,6 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |