Motor e comportamento do novo modelo de entrada da
marca superam padrões da categoria, mas não justificam os altos preços
Texto: Edison Ragassi – Fotos: divulgação
Um projeto realmente moderno em termos mundiais — foi lançado em 2011 na Europa — para o segmento de entrada do mercado nacional: é o que a Volkswagen propõe com o Up, que vem substituir o Gol de segunda geração, de nome comercial G4, como seu modelo mais barato.
Barato, quanto? Não muito: a versão de entrada Take Up custa R$ 26.900 com três portas (carroceria que pode levar até três meses para chegar ao mercado) e R$ 28.900 com cinco; a seguinte, Move Up, R$ 28.300 com três e R$ 30.300 com cinco; a High Up, R$ 35 mil; e as versões Black Up, Red Up e White Up, R$ 39.390 (do High Up em diante, apenas a carroceria de cinco portas é oferecida). Como o conteúdo de série é escasso em itens de conforto, a ponto de apenas as três opções de topo virem com ar-condicionado de série (conheça o conteúdo de cada uma no quadro mais abaixo), os valores finais podem ficar um tanto salgados.
O ar-condicionado acrescenta R$ 2.750; direção assistida com volante ajustável, R$ 1.240 para as duas primeiras versões; e o sistema de áudio e navegação Maps & More, R$ 1.200. Assim, um Move Up de cinco portas com os opcionais citados vai a R$ 35.490, ainda sem controles elétricos de vidros e travas, e as versões superiores começam a frequentar o segmento de carros maiores, com motor de maior cilindrada e tão equipados quanto, como Citroën C3 1,4, o novo Ford Fiesta 1,5 e Peugeot 208 1,4.
A versão avaliada White Up tem aparência e interior mais agradáveis, mas custa
R$ 39,4 mil, preço próximo ao de concorrentes maiores entre 1,4 e 1,5 litro
A apresentação do Up que publicamos em 27 de janeiro mostrou o novo VW em detalhes, mas sem contato com o automóvel, o que só foi possível no evento de lançamento na serra gaúcha, entre Gramado e Porto Alegre, RS. A versão dirigida pelo Best Cars foi a White Up.
Seu desempenho é muito bom para a categoria, com acelerações e retomadas convincentes; o motor é suave e tem nível de ruído moderado
Ao entrar no compacto a impressão é de estar em um carro maior do que o visto por fora. Com espaço bem aproveitado pelas linhas retas e a grande altura, o Up acomoda bem uma pessoa com 1,80 metro de estatura, seja o motorista, seja o passageiro ao lado. O painel de linhas retas tem boa visualização do velocímetro, mas não do conta-giros, tão pequeno quanto o marcador de combustível.
Enquanto o volante com boa pega e base achatada lembra carros de padrão superior, a difusão de ar deixa a desejar: as saídas centrais foram colocadas sobre o painel, atrás da tela do sistema Maps & More, e acaba direcionando a ventilação mais para o para-brisa que para a região dos ocupantes. O acabamento é simples, sem chegar a incomodar pelos materiais, embora a solução de chapas aparentes nos painéis de porta possa causar críticas. Apesar da boa visibilidade geral, tanto as colunas dianteiras quanto as traseiras, grossas, prejudicam-na em certos ângulos.
Por dentro, soluções como a tela portátil do Maps & More e bom volante em
contraste a limitações típicas de um carro feito para ser o mais barato da marca
Ajustar os bancos e volante é fácil, com várias posições oferecidas para se encontrar a maneira mais confortável de dirigir. Os controles elétricos de vidros usam botões nas portas, mas não têm função um-toque nem opção de comandar os vidros traseiros. Outra falha: como a ancoragem superior do cinto de segurança não tem ajuste de altura, só pode subir ou descer com uso de ferramenta. Isso pode causar incômodo ao passageiro, que não dispõe de regulagem de altura do banco. Em parte da avaliação, sentado à direita, o cinto ficou posicionado junto ao pescoço. No banco traseiro o espaço é adequado para dois adultos, com largura e vão das pernas algo restritos.
Três-cilindros revela agilidade
Ao girar a chave, a primeira impressão é boa: o três-cilindros mostra-se silencioso, dócil, mesmo que se note alguma oscilação em marcha-lenta pela dificuldade em equilibrar o funcionamento desse tipo de motor. Os engates do câmbio são muito macios e precisos, dentro do padrão VW que tem vigorado na última década, e a embreagem é bastante leve, assim como a direção com assistência elétrica.
Como já notado no Fox Blue Motion, que usa o mesmo motor e pesa pouco mais que o Up completo (993 ante 958 kg), o motor de 1,0 litro mostra nas saídas uma agilidade inesperada por sua baixa cilindrada ou pelo uso de quatro válvulas por cilindro. Em rodovia seu desempenho é muito bom para a categoria, com acelerações e retomadas convincentes. A quinta marcha produz cerca de 4.000 rpm a 120 km/h, rotação elevada (no Fox são 3.800 rpm), mas dentro da média da classe e que — graças à suavidade de funcionamento e ao nível de ruído moderado do motor — não causa desconforto.
Para um motor de 1,0-litro, o três-cilindros do Up agrada pela agilidade e tem ruído
moderado; a suspensão firme traz boa estabilidade à versão com pneus largos
A estabilidade também agrada, com um rodar firme e ajudado na versão pelos pneus mais largos, 185/60 R 15. Resta saber como será no Take Up com os estreitos 165/80 R 13, que por outro lado ganha em conforto e robustez em pisos de má qualidade. Em algumas lombadas e trechos irregulares, mostrou o bom ajuste da suspensão para enfrentar o piso brasileiro. A altura de rodagem é 26 mm maior que na versão europeia, sendo 20 mm pela suspensão e o restante pelos pneus.
Os atributos revelados na primeira avaliação, somados à nota máxima em segurança obtida no teste de colisão do Latin NCap, permitem concluir que o Up está em patamar acima dos modelos de entrada com os quais vem competir, mas não chegam a justificar os preços um tanto inflados quando se acrescentam os equipamentos que a maioria hoje deseja.
Saiba mais: apresentação do Up |
Por que Up e não “up!”
O leitor deve ter observado que o Best Cars grafa o nome do novo VW como Up, com inicial maiúscula e sem ponto de exclamação, e não up!, com minúscula e tal ponto, como usa o fabricante em sua divulgação. Por que optamos por não seguir a grafia escolhida pela marca?
Respeitar o bom português é algo que este site faz desde sua criação, há 16 anos. E as normas de nossa língua são claras: nomes próprios começam com letra maiúscula. A VW não é a primeira a contrariar a regra: há a Smart com seu smart e a Audi com o sistema de tração integral quattro. Outras marcas preferem brincar de outras formas, como a Mini (que se autodenomina MINI) e a Fiat com os motores E.torQ.
Logotipos podem usar a grafia que o fabricante quiser, e há inúmeros deles escritos apenas com maiúsculas. Contudo, quando se trata de mencionar o nome do carro, entendemos que cabe ao jornalista respeitar as regras do idioma — não o que temos visto, com vários casos nos últimos dias de frases iniciadas em minúscula só porque up! era sua primeira palavra. Quanto ao ponto de exclamação, é um recurso gráfico que preferimos omitir para maior clareza, evitando a confusão com a pontuação usada na redação do texto.
O rigor nessa questão é parte de nossa maneira de enxergar o jornalismo, assim como a cautela ao usarmos termos como geração (nunca para remodelações parciais de estilo), cupê (não para carros com quatro ou cinco portas), cilindrada (como medida, não unidade de medida) e fabricante (em vez de montadora). Saiba mais sobre o tema.
Por isso, no Best Cars você lê apenas Up, assim como E-Torq, Mini, Smart e Quattro.
Fabrício Samahá
Os equipamentos e opcionais
O conteúdo de série do Take Up inclui bolsas infláveis frontais, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica de força de frenagem entre os eixos (EBD), fixação para cadeira infantil em padrão Isofix, limpador/lavador e desembaçador do vidro traseiro, banco do motorista com regulagem de altura, espelho no para-sol do passageiro e cintos traseiros laterais retráteis. As rodas de 13 pol usam pneus 165/80.
O Move Up acrescenta rodas de 14 pol com pneus 175/70, retrovisores e maçanetas na cor do carro, faróis com máscara escurecida, terceiro encosto de cabeça no banco traseiro, computador de bordo, conta-giros, relógio digital e indicador de temperatura externa, além de acabamento interno diferenciado.
Para essas versões os opcionais incluem aquecimento, ar-condicionado, direção com assistência elétrica, volante ajustável em altura, rádio/CD com MP3 e entradas USB e auxiliar e, no Take Up, rodas de 14 pol. O Move Up pode vir ainda com revestimento dos bancos em couro sintético, controle elétrico de vidros e travas, alarme, rodas de alumínio, sensores de estacionamento na traseira, volante ajustável em altura e preparação para o navegador Maps & More com tela destacada no painel.
O High Up adiciona rodas de 15 pol com pneus 185/60, faróis e lanterna de neblina, bancos revestidos em tecido com faixa em couro sintético, luzes de leitura dianteiras, chave do tipo canivete com controle remoto de alarme, direção assistida, volante ajustável em altura, controle elétrico de vidros dianteiros e travas e os sensores de estacionamento. Há cinco opções de cores para o acabamento do painel e duas de ambientação interna (preto ou cinza claro). Mesmo para ele o ar-condicionado e o sistema de áudio são opcionais.
As versões Black Up, Red Up e White Up são as mais equipadas, oferecidas cada uma apenas na cor do nome — branco, vermelho ou preto. Em relação à High, acrescentam retrovisores, frisos laterais e aro dos faróis de neblina com efeito cromado, soleira das portas dianteiras com aplique em alumínio e rodas exclusivas de 15 pol com parte central na cor do carro. O interior recebe couro sintético no volante e nas alavancas de câmbio e do freio, ar-condicionado e o citado rádio/CD/MP3. Opcionais, só bancos em couro sintético e a preparação para o Maps & More.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 999 cm3 |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 75/82 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,7/10,4 m.kgf a 3.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 5 x 13 pol, 5 x 14 pol, 5,5 x 15 pol |
Pneus | 165/80 R 13, 175/70 R 14, 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,605 m |
Largura | 1,645 m |
Altura | 1,50 m |
Entre-eixos | 2,421 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 285 l |
Peso em ordem de marcha | 910 a 958 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 163/165 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,6/12,4 s |
Consumo em cidade | 13,2/9,1 km/l |
Consumo em rodovia | 14,3/9,9 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |