Conforto, estilo, desempenho e segurança em altas doses:
é o que se pode esperar da nova versão com motor de 272 cv
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Por R$ 300 mil você poderia comprar alguns carros: uma minivan para viajar com espaço para a família e toda sua bagagem, um sedã de luxo para usar no dia a dia, um jipe ou uma picape com tração nas quatro rodas para aquele passeio em meio à natureza ou uma esticada até o sítio nos fins de semana. Mas também é possível reunir esse dinheiro em um só carro capaz de fazer tudo isso com altas doses de estilo, conforto, desempenho e segurança.
O Audi Q5 é um desses veículos polivalentes, que servem para tudo e não decepcionam em nenhuma aplicação. Lançado na Europa em 2008 e no Brasil um ano depois, o utilitário esporte médio passou por mudanças recentes no visual e na mecânica, que adotou na versão Ambition o conhecido motor V6 de 3,0 litros com compressor — o mesmo do S5 Cabriolet avaliado há um ano — no lugar do V6 aspirado de 3,2 litros e uma caixa de câmbio automática com oito marchas. O Best Cars escolheu essa nova versão, identificada como 3.0 TFSI Quattro (FSI para injeção direta; T para superalimentação, embora não com turbo; e Quattro para a tração integral da marca) para uma avaliação especial em seu décimo sexto aniversário.
São quase R$ 300 mil quando se adicionam os opcionais, mas o Q5 com novo motor
dotado de compressor consegue reunir grandes atributos para toda condição de uso
O preço inicial de R$ 246.700 sobe para R$ 294.600 com a adição do pacote Advanced (controlador da distância à frente, monitor de pontos cegos nas laterais, sistema Drive Select, controle eletrônico de amortecimento e acesso e partida sem uso de chave por R$ 30.000), rádio MMI Plus com navegador (R$ 10.500), sistema de áudio superior da Bang & Olufsen (R$ 5.900) e pintura metálica (R$ 1.500). O carro avaliado ainda trazia o pacote visual S-Line e rodas de 20 pol, não mais disponíveis; há quatro opções de tons para o revestimento interno — preto, cinza, bege e marrom. As outras duas versões, Attraction e Ambiente, têm motor turbo de 2,0 litros e 225 cv. A garantia é de dois anos.
O Drive Select oferece três programas de uso básicos: Efficiency, que favorece a economia; Comfort, pelo conforto; e Dynamic, em prol do desempenho
Concebido a partir da plataforma do A4 e do A5, com motor longitudinal, o Q5 impressiona bem ao estilo Audi, ou seja, com linhas harmoniosas e modernas, mas sem inovações. A ampla grade com frisos verticais assume destaque na frente, ladeada por faróis que usam refletores elipsoidais e lâmpadas de xenônio para ambos os fachos. Eles trazem molduras para luz diurna com leds, elementos usados também nas lanternas traseiras horizontais. Por serem montadas inteiras na quinta porta, fica a pergunta: o que acontece quando se precisa abrir a tampa à noite com o carro à beira da estrada? Simples: as luzes de direção e de posição passam a ser emitidas pelos repetidores do para-choque, nos quais já vêm as luzes de ré. Abaixo deles estão as duas saídas de escapamento. O coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,33 é muito bom para o tipo de veículo.
O estilo típico da marca está presente também no interior: sem surpresas no visual, mas com alta qualidade em todos os materiais e um esmero nos detalhes que cativa. Que detalhes? Itens como a fina moldura cromada em inúmeros comandos, a precisão com que todos eles são acionados, a tecla que dá acesso às duas entradas para cartões de memória SD do sistema de áudio, as hastes que deixam a ancoragem interna dos cintos de segurança traseiros sempre à mão. Ou ainda a forma inferior das portas, que encobre as soleiras e garante que estas não sujarão a barra da calça ao sair do carro após um trecho com chuva ou lama.
Grade, faróis e lanternas estão entre os itens de estilo renovados para 2013; quando a
tampa traseira motorizada se abre, as luzes passam a se acender no para-choque
Motorista e passageiro ao lado desfrutam bancos amplos, com a espuma densa (firme) típica dos carros alemães e regulagem elétrica integral, ou seja, até em inclinação do assento e altura e intensidade do apoio lombar; o do condutor tem duas memórias de posição. A origem germânica está ainda no volante de quatro raios com suporte perfeito para os polegares e no apoio de pé esquerdo bem definido.
Entre os instrumentos, claros e de fácil leitura com sua iluminação permanente em branco, está o mostrador digital multifunção que serve a mensagens, computador de bordo, repetidor do velocímetro e informações de áudio. Na tela central do painel as funções se multiplicam, comandadas por um conjunto de botões bem à mão no console central: áudio, vídeo por DVD, telefonia pela interface Bluetooth, navegador (baseado em disco rígido e funcional no Brasil, mas com voz em português lusitano), imagens da câmera traseira para manobras (cujas linhas-guia acompanham o movimento do volante) e dos sensores de estacionamento (à frente e atrás), configurações do carro.
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Comentário técnico
• Adotado pela primeira vez no sedã A6 em 2009, o motor V6 de 3,0 litros usa ingredientes bem atuais, como bloco e cabeçotes de alumínio, variação contínua do tempo de abertura das válvulas de admissão, injeção direta, compressor mecânico do tipo Roots e dois resfriadores de ar. O acionamento dos comandos de válvulas é por meio de corrente, como tem sido comum nos motores mais recentes do grupo Volkswagen (mesmo o turbo de 2,0 litros passou de correia dentada a corrente há alguns anos). Acima dele, uma barra de amarração liga as torres da suspensão dianteira para aumentar a rigidez da estrutura.
• Mesmo que surpreenda para uma marca associada ao turbo desde os anos 80, o compressor Roots é justificado pela Audi como a melhor solução para esse motor. Bastante compacto, ele fica dentro do “V” de 90 graus entre as bancadas de cilindros. É acionado pelo próprio motor por meio de uma correia poli-V e começa a produzir superalimentação desde a rotação mais baixa. Dois pistões rotativos giram em sentidos opostos em regime que supera 20.000 rpm. Os resfriadores de ar são usados para aumentar a densidade do ar admitido e, assim, ampliar a quantidade de ar “empurrada” para os seis cilindros.
• Esse V6 é um bom exemplo de como motores são calibrados em termos de mapeamento eletrônico e, às vezes, outros elementos como os comandos de válvulas para atender a diferentes aplicações. Compare os valores de potência e torque do 3,0-litros em três modelos com finalidades e características (como peso e aerodinâmica) diversas:
Q5 | 272 cv de 4.780 a 6.500 rpm | 40,8 m.kgf de 2.150 a 4.780 rpm |
A6 | 310 cv de 5.500 a 6.500 rpm | 44,9 m.kgf de 2.900 a 4.500 rpm |
S4 e S5 | 333 cv de 5.500 a 7.000 rpm | 44,9 m.kgf de 2.900 a 5.300 rpm |
Nada impediria que o Q5 recebesse os 61 cv e 4,1 m.kgf que o separam dos esportivos S4 e S5, mas o motor do utilitário esporte atinge a potência e o torque máximos em regimes mais baixos, como apropriado para um modelo de seu peso e sua proposta. Já do comportado sedã A6 para os ousados S4 e S5, embora os valores máximos sejam obtidos a partir das mesmas rotações, houve o objetivo de mantê-los até regimes mais elevados para atender a uma forma mais vigorosa de direção, esperada de quem escolhe esses Audis.
• A tração integral Quattro do Q5, como a usada em outros Audis de motor longitudinal, recorre a um diferencial central Torsen (marca comercial que significa sensível ao torque, em inglês) para repartir o torque do motor entre os eixos dianteiro e traseiro. A repartição em condições normais de uso é de 40% à frente e 60% à traseira, mas há ampla gama de variação conforme a aderência disponível em cada eixo e a forma de dirigir. Os eixos trazem ainda um bloqueio eletrônico de diferencial, de modo a enviar mais torque para a roda daquele eixo com maior aderência e evitar a patinação dos pneus.
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• Modernidade também nas suspensões. A dianteira é a chamada Five-Link, uma evolução do conceito de braços sobrepostos com cinco articulações, que responde de formas diferentes a forças nos sentidos longitudinal (de forma mais complacente) e lateral (mais resistente). Na traseira usa-se um sistema multibraço e ambas são montadas em subchassi para melhor isolamento de vibrações.
• O controlador de distância à frente ou controlador de velocidade ativo usa 27 sensores para monitorar o tráfego adiante e ajustar a velocidade do Q5, usando aceleração e frenagem, podendo ser ativado entre 30 e 200 km/h. Estão disponíveis quatro níveis de distância à frente, enquanto a forma com que o carro reage para acelerar e frear depende da opção escolhida no Drive Select — mais rápida no modo Dynamic, mais suave no Comfort e no Eficciency. O sistema tem um limite máximo de aplicação dos freios bem abaixo da capacidade total de frenagem do carro; por isso, se necessária uma desaceleração mais intensa, o controlador alerta o motorista com sinais visual e auditivo para que assuma a operação. O dispositivo não tem a função de para e anda que alguns desses sistemas oferecem, já que abaixo de 30 km/h deixa de funcionar.
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