
Aceleramos o grande SUV que pensa que é um carro esporte, os BMWs M140i e M240i e o Mini Countryman JCW
Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação
A BMW apresentou duas novidades ao mercado brasileiro no M Power Tour, evento para convidados no autódromo José Carlos Pace (Interlagos), em São Paulo, SP: a versão John Cooper Works do Mini Countryman e o BMW X5 M. O Best Cars pôde dirigir também o M140i e o M240i, hatch e cupê que compartilham o conjunto mecânico. Começamos pelo menos potente e fomos subindo de cavalaria, como um bolero de Ravel.
Mini JCW, um grande kart
Assumimos primeiro o comando do Mini — que não está tão “míni” assim, com os 4,30 metros de comprimento e 1.555 kg de peso desse modelo, o maior de sua linha. A versão John Cooper Works ou JCW vem de série com tração integral All4, que nesse caso não significa vocação fora de estrada: trata-se de recurso para aproveitar melhor sua potência e, no Hemisfério Norte, lidar melhor com a neve.
O pacote John Cooper Works traz mais 39 cv ao motor de 2,0 litros do Mini Countryman, que passa a 231 cv; vem ainda com rodas de 19 pol e controle de largada
O pacote de alto desempenho, que estreou em janeiro no exterior, começa a ser vendido aqui ainda este ano ao preço sugerido de R$ 213.950. O motor turbo de 2,0 litros foi ajustado para 231 cv e torque de 35,7 m.kgf, aumentos de 39 cv e 7,1 m.kgf sobre a unidade de mesma cilindrada do Cooper S. A fábrica inglesa anuncia 0-100 km/h em 6,5 segundos, ajudada pelo assistente de largada, e máxima de 234 km/h com caixa automática de oito marchas.
Não há melhor forma de definir esse Mini do que divertido: com rodas nos cantos e suspensão firme, comporta-se na pista como se fosse um grande kart
O pacote para o Brasil traz ar-condicionado automático de duas zonas, controle eletrônico de amortecedores, faróis de leds, projeção de informações no para-brisa, rodas de 19 pol, seletor de modos de condução e teto solar panorâmico. Os bancos combinam couro e camurça sintética, com seções em vermelho, e o sistema de áudio Harman/Kardon vem com tela de 8,8 pol, navegador e disco de 20 GB. Por fora o teto é vermelho, salvo no carro vermelho Chili, que o traz em preto para contraste. Opcional é o pacote Parking com assistente de estacionamento e sensores de obstáculos também à frente.
A primeira emoção em Interlagos foi descobrir que a pista estava molhada — depois de 45 dias sem chover em São Paulo. Sabe aquela sensação de esperar pelo Natal o ano inteiro e, no dia de estrear a tão desejada bicicleta nova, chove? Mas fomos em frente. Depois de ajustar a posição do banco — tudo manual —, selecionamos o modo Sport da transmissão, com trocas por comandos no volante, e saímos dos boxes com o pé no fundo do acelerador. A equipe de instrutores capitaneada por Rodrigo Hanashiro, nossa conhecida há décadas, deixou desligar os controles eletrônicos de tração e estabilidade. Naquela condição de pista era tudo que queríamos.
O maior dos Minis diverte na pista pela agilidade; bancos envolventes usam o vermelho; painel tem tela dentro do tradicional círculo, mas não os instrumentos
Não há melhor forma de definir esse Mini do que divertido. Com rodas quase nas extremidades do carro (2,67 m de entre-eixos), altura moderada e suspensão firme, ele se comporta na pista como se fosse um grande kart. A tração integral envia mais torque ao eixo dianteiro (80% em condições normais). No limite ele contorna as curvas bem neutro, mas no trecho de baixa velocidade, das curvas do Pinheirinho ao Bico de Pato, mostra leve tendência a soltar a frente.
Na posição Sport as trocas de marcha são muito rápidas. O JCW não é muito veloz de reta, talvez pelo Cx relativamente alto (0,34), mas para um carro de seu peso o motor proporciona diversão. Apesar de fazermos apenas uma volta lançada, abusamos do direito de fazer curvas no limite. Ainda bem que o banco é do tipo concha, senão o instrutor teria parado no nosso colo.
M140i: pequeno notável
Seguindo a estratégia do menor para o maior, o segundo da lista foi o M140i, vendido a R$ 267.950. O estilo desse BMW esbanja esportividade, com muita frente para pouco carro. Afinal, o cofre precisa abrigar um seis-cilindros em linha longitudinal e um túnel central permite a tração às rodas traseiras, arquitetura clássica da marca. A ideia aqui não é oferecer muito espaço, mas levar duas pessoas com até dois eventuais passageiros espremidos no banco de trás.
Com capô longo e cabine compacta, o M140i parece pronto para a briga; interior traz ampla tela de áudio e os itens comuns na classe, mas espaço atrás é pouco
Lançado no ano passado no Salão de São Paulo, o M140i trouxe o motor turbo de 3,0 litros do antigo M135i revisto para mais potência e torque (340 cv e expressivos 51 m.kgf), que se traduzem em 0-100 km/h em apenas 4,6 segundos. Comparado ao anterior, são 20 cv e 5,1 m.kgf adicionais que cortam 0,3 s do tempo citado, além de obter consumo e emissões até 7% menores. Ele vem com transmissão automática de oito marchas, menor altura de rodagem que o Série 1 normal, rodas de 18 pol com pneus mais largos na traseira, freios e direção recalibrados.
Seu conteúdo de série passa por bancos de couro Dakota, câmera traseira de manobras, faróis adaptativos de leds com comutação automática, sistema de áudio Harman/Kardon com navegador e teto solar elétrico. Baixo (1,41 m), esse BMW para solteiros é colado ao asfalto. Impressiona o motor de funcionamento tão suave e silencioso que mal se percebe que está ligado.
Entramos na pista na companhia de um velho amigo, Renato Russo, e nos divertimos para valer. Foi muito fácil passar nos boxes a 220 km/h (máxima limitada a 250 km/h) para depois sentir os freios e entrar no “S” do Senna. Só por curiosidade colocamos o seletor no modo Comfort — ficou aquela coisa sem graça nenhuma. Divertido é trocar as marchas no volante e escutar os estouros do escapamento nas reduções. O M140i mostra tendência a sair de traseira nas curvas de alta e de frente nas de baixa velocidade. Nada assustador: os controles eletrônicos atuam o tempo todo e ajudam a manter o carro no asfalto, longe da grama.
Próxima parte
Suspensão mais firme e rodas de 18 pol deixam o motorista do M140i apto a explorar os 340 cv entregues às rodas traseiras; som do motor nas reduções empolga
O perfil elegante diferencia o M240i do M140i, mas sob o capô está o mesmo seis-cilindros de 340 cv; com igual entre-eixos, é pouco mais espaçoso para bagagem
M240i: o notável, um pouco maior
Sob o capô do M240i está o mesmo motor do M140i, mas em uma carroceria mais comprida (4,45 m contra 4,32 m) e com apenas duas portas. Curioso é que o porta-malas cresce pouco em relação ao hatch, de 360 para 390 litros, o que confirma que praticidade não foi o objetivo dos projetistas. Os faróis de xenônio, em vez de leds, são uma das poucas diferenças quanto a equipamentos. O preço ainda não está disponível.
Como a distância entre-eixos é a mesma (2,69 m) e os acertos de suspensão se parecem, quase não se distingue entre dirigir rápido um e outro. A velocidade dos dois modelos é limitada a 250 km/h e o tempo divulgado para o 0-100 não muda. A maior diferença nessa avaliação foi que o instrutor Maurizio Sala, amigo desde a adolescência, para deixar tudo mais emocionante desligou o controle de tração com uma advertência: “vai com calma”…
Com a eletrônica fora de ação, o cupê deu festival de derrapagens de traseira; aceleração de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos repete a informada para o hatch
E calmos fomos, apesar do piso bem traiçoeiro, até chegarmos à curva do “S” e a traseira desgarrar de uma vez. Controlamos a derrapagem e dali em diante foi um festival de drift, sobretudo nas curvas de baixa velocidade e na Subida do Café. Mas a experiência de jornalista especializado recomenda deixar os riscos de fora — e preservar o carro para os colegas que ainda vão andar. Assim, pedimos para ligar tudo de volta. Apesar do desenho mais formal do cupê, em termos de desempenho e comportamento os dois são muito semelhantes, ou seja, puro prazer.
O X5 M tem muito motor, mesmo em um carro tão grande e pesado, e mais impressionante que o V8 é o comportamento na pista para suas dimensões
X5 M: utilitário esporte, eu?
Sim, a carroceria é de SUV, ele tem tração integral, enorme compartimento de bagagem de 650 litros e parece um carro todo família, bem comportado. Mas pode parar por aí: com motor V8 de 4,4 litros, dois turbos de duplo fluxo, 575 cv e estonteantes 76,5 m.kgf, o X5 M vai muito além de um carro para levar as crianças ao fim de semana no sítio ou na praia.
O mais quente dos X5 foi apresentado em outubro de 2014, mas será vendido aqui apenas no primeiro semestre de 2018 — mais de três anos depois. Oferecido ao lado do X6 M nos mercados externos, estimamos que ele vá custar pelo menos R$ 600 mil. O motor da geração anterior está com 4% mais potência e 10% mais torque. Dotado de tração integral e transmissão automática de oito marchas, o X5 M catapulta seu peso de 2,4 toneladas de 0 a 100 km/h em 4,2 segundos e alcança 280 km/h com o pacote M Driver (adotado aqui), 30 km/h a mais que o padrão.
O X5 M demorou, mas valeu a espera: 575 cv e 76,5 m.kgf em um utilitário esporte espaçoso para a família e sua bagagem, com direito a todas as comodidades
A tração pode enviar até 100% do torque às rodas dianteiras ou às traseiras, conforme a aderência disponível. O controle de estabilidade oferece um modo esportivo (mais permissivo) e pode ser desativado; a suspensão tem ajuste eletrônico de amortecimento com os modos Comfort, Sport e Sport+; os freios usam discos de compósito. No Brasil são de série as rodas de 21 pol, com pneus 285/35 na dianteira e 325/30 na traseira, que garantem o ar esportivo associadas às grandes tomadas de ar dianteiras, saídas de ar nos para-lamas e quatro saídas de escapamento.
Como se espera, há fartura de itens de conforto e segurança, como ar-condicionado de quatro zonas, faróis adaptativos de leds, projeção de informações no para-brisa, sistema de áudio Bang & Olufsen, sistema de visão noturna com reconhecimento de pedestres, tampa traseira com acionamento elétrico, telas para entretenimento atrás e teto solar panorâmico.
Não tenha dúvidas: é muito motor, mesmo em um carro tão grande e pesado. Saímos dos boxes no modo Comfort, mas assim que entramos na reta foi o momento de socar o pé no fundo do acelerador e sentir um empurrão daqueles de colar as costas no banco. Depois de três curvas o instrutor liberou o modo Sport e começou a diversão. Mais impressionante que o V8 é o comportamento na pista: um carro alto (1,72 m), com quase 20 cm de vão livre do solo, leva a supor um efeito de rolagem acentuado nas curvas. Nada disso.
A “cara de mau” do X5 M justifica-se: ele devora curvas como se não tivesse 2,4 toneladas e 1,7 m de altura; freios e pneus surpreendem pelo desempenho
Guardadas as diferenças de altura em relação ao solo, o X5 M devora curvas como se fosse um carro esporte. Quase não inclina e fica grudado ao chão, graças aos imensos pneus. Chegamos praticamente à velocidade máxima limitada à frente dos boxes na volta lançada e, bem antes da placa dos 100 metros, metemos o pé no freio… para perceber que deveríamos ter começado a frear bem antes. Deu a impressão que o X5 passaria reto no “S” do Senna, mas para nossa surpresa conseguimos fazer as curvas sem espalhar pela grama. Aplausos aos potentes discos e aos controles eletrônicos de frenagem, estabilidade e tração.
Ele foi feito para a família, mas deixa o papai bem feliz ao dirigir.
Mais Avaliações
| M 140i/M240i | X5 M | Countryman JCW | |
| Motor | |||
| Posição | longitudinal | transversal | |
| Cilindros | 6 em linha | 8 em V a 90° | 4 em linha |
| Comando de válvulas | duplo no cabeçote | ||
| Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | ||
| Diâmetro e curso | 82 x 94,6 mm | 89 x 88,3 mm | 82 x 94,6 mm |
| Cilindrada | 2.998 cm³ | 4.395 cm³ | 1.998 cm³ |
| Taxa de compressão | 11:1 | 10:1 | 10,2:1 |
| Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar (2 turbos no X5 M) | ||
| Potência máxima | 340 cv a 5.500 rpm | 575 cv de 6.000 a 6.500 rpm | 231 cv de 5.000 a 6.200 rpm |
| Torque máximo | 51,0 m.kgf de 1.250 a 4.500 rpm | 76,5 m.kgf de 2.200 a 5.000 rpm | 35,7 m.kgf de 1.450 a 5.000 rpm |
| Transmissão | |||
| Tipo de caixa e marchas | automática, 8 | ||
| Tração | traseira | integral | |
| Freios | |||
| Dianteiros | a disco ventilado | ||
| Traseiros | a disco ventilado | a disco | |
| Antitravamento (ABS) | sim | ||
| Direção | |||
| Sistema | pinhão e cremalheira | ||
| Assistência | elétrica | ||
| Suspensão | |||
| Dianteira | ind., McPherson, mola helicoidal | ind., multibraço, mola helicoidal | ind., McPherson, mola helicoidal |
| Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal | ||
| Rodas | |||
| Rodas dianteiras | 7,5 x 18 pol | 10 x 21 pol | 19 pol |
| Rodas traseiras | 8 x 18 pol | 11,5 x 21 pol | 19 pol |
| Pneus dianteiros | 225/40 R 18 | 285/35 R 21 | 225/45 R 19 |
| Pneus traseiros | 245/35 R 18 | 325/30 R 21 | 225/45 R 19 |
| Dimensões | |||
| Comprimento | 4,324 m/4,454 m | 4,88 m | 4,299 m |
| Largura | 1,765 m/1,774 m | 1,985 m | 1,822 m |
| Altura | 1,411 m/1,408 m | 1,717 m | 1,557 m |
| Entre-eixos | 2,69 m | 2,933 m | 2,67 m |
| Capacidades e peso | |||
| Tanque de combustível | 52 l | 85 l | 51 l |
| Compart. bagagem | 360 l/390 l | 650 l | 450 l |
| Peso, ordem de marcha | 1.550 kg/1.545 kg | 2.412 kg | 1.555 kg |
| Desempenho | |||
| Velocidade máxima | 250 km/h | 234 km/h | |
| Acel. 0 a 100 km/h | 4,6 s | 4,2 s | 6,5 s |
| Dados do fabricante; consumo não disponível | |||