Interior do Mobi tem acabamento adequado; sistema Live On traz suporte e tomada USB para celular; aplicativo controla as principais funções de forma simples
Live On: tudo pelo celular
Motor à parte, o Mobi Drive trazia poucas novidades em relação ao Way do ano passado, uma delas a interface Live On de sistema de áudio. A ideia da Fiat é dispensar a compra de um aparelho para executar mídias e navegador no carro: essas tarefas cabem ao telefone celular.
Como vem instalado, o sistema traz apenas rádio com comandos no volante — limitados, a ponto de não se poder ajustar tonalidade. No painel, um suporte retrátil segura o celular e oferece tomada USB para carregar a bateria, sem função de executar mídias. O telefone deve então receber um aplicativo próprio que permite comandar em sua tela as funções de rádio, música, navegador (aplicativos Apple Maps, Google Maps, Tomtom e Waze), telefone, Ecodrive (auxílio à condução eficiente com notas para aceleração, desaceleração, velocidade e mudanças de marcha) e localização do carro estacionado (aplicativo Onde Parei?). Tudo ocorre pela interface Bluetooth, sem fios.
Funciona bem? Em termos. Em nosso Samsung com Android o aplicativo funcionou de primeira, mas em numerosas tentativas posteriores a conexão foi impossível — acabamos só com a transmissão de áudio por Bluetooth e a navegação pelo Waze, sem usar o Live On. Talvez fosse o caso de reinstalação, mas a dificuldade revela que talvez o aplicativo precise ser aprimorado. Outros pontos para estudo pela Fiat: um, se a tomada USB lesse um pendrive, atenderia a usuários não interessados no uso do aplicativo (como ao compartilhar o carro com pessoas da família); dois, a posição do telefone no painel, mais próxima do passageiro e sem uma inclinação voltada ao motorista, não é ideal para leitura da tela.
Bancos dianteiros, ruins em conformação e densidade, cansam rápido as costas; atrás o espaço para pernas e ombros é um dos menores do mercado
No quadro de instrumentos, a versão Drive traz o mostrador digital conhecido do Uno, com funções como computador de bordo com duas medições, repetidor do velocímetro e medidor de horas de uso do motor. Seria bom que o conta-giros tivesse outro formato: o de arco deixa imprecisa sua indicação.
O Live On segura o celular e oferece tomada USB; com aplicativo próprio, comandam-se na tela as funções de rádio, música, navegador, telefone, Ecodrive e localização do carro
Do ponto de vista técnico, o Firefly veio acompanhado de assistência elétrica para a direção, em vez da hidráulica dos outros Mobis. Ótima troca: além do sistema mais eficiente, o volante ficou leve em manobras e pode se tornar levíssimo com o modo City, que amplia a assistência em baixa velocidade. Em rodovia ele adquire peso adequado. O comando de transmissão é leve, embora pudesse ganhar em precisão.
Em termos de suspensão, tanto o Drive quanto os Mobis Easy e Like têm altura de rodagem 15 mm menor que no Way e abrem mão do estabilizador dianteiro. Em questão de altura, nenhum problema: o vão livre do solo é mais que suficiente para o piso brasileiro, mesmo em trechos mais desnivelados. No entanto, o estabilizador deixa saudades, e não por sua principal função de aumentar a resistência à rolagem (inclinação da carroceria em curvas).
Cabe pouca bagagem no Mobi, 215 litros, e o acesso é difícil pelo alto vão; faróis iluminam bem no facho baixo e retrovisores podem ter luzes de direção
Sem a barra que liga um lado ao outro do mesmo eixo, o fabricante precisa recorrer a amortecedores (caso do Mobi) e/ou molas mais firmes para manter o nível de segurança — e aí surge o inconveniente. Em pisos de má qualidade, com defeitos no asfalto ou em estradas de terra, os impactos e irregularidades são muito transmitidos à cabine do Drive e penalizam o conforto. Além disso, fazem tudo por dentro vibrar (moedas no console tornam-se uma escola de samba), o que deixa expectativa de mais ruídos de acabamento com o tempo. Pelo custo de um estabilizador, gostaríamos que a versão também o tivesse em nome da qualidade de rodagem.
O comportamento dinâmico, porém, é menos afetado pelo diferente arranjo de suspensão. Como o “aventureiro”, este Mobi tem uma calibração macia de amortecedores (que ajuda no conforto enquanto o piso é apenas ondulado, sem impactos) e movimenta-se bastante sobre os pneus, em um jeito de rodar bem conhecido dos Fiats mais baratos, como Uno e Palio. Nada que coloque o motorista em apuros em curvas e desvios de trajetória, mas não é carro para quem gosta de esportividade na tocada.
No restante, é o Mobi que conhecemos — para o bem e para o mal. Entre os bons atributos estão o acabamento interno adequado ao segmento, ótimo facho baixo dos faróis (o alto não, por serem refletores simples, que apagam o baixo), indicador para troca de marcha (para cima e para reduzir), função um-toque no controle elétrico de vidros e comando a distância para abrir e fechar, alarme volumétrico (ultrassom), comando interno da tampa do tanque, amplos retrovisores com luzes de direção, faixa degradê no para-brisa, indicador de porta mal fechada, sensores de estacionamento na traseira e espelho convexo no teto para acompanhar crianças atrás.
Bons detalhes são velocímetro digital, indicador de portas, espelho para acompanhar crianças, vidros um-toque e comandos no volante; faltam controles elétricos atrás
Melhoráveis são o porta-luvas muito baixo e as faltas de controle elétrico de vidros traseiros, maçaneta na quinta porta (precisa-se usar a chave ou a alavanca no assoalho e, ao se esquecer de destravar as demais portas, o alarme dispara) e luz no porta-malas. Realmente ruins são os bancos dianteiros: curtos no assento, com encosto muito mole e apoios laterais apertados, cansam em viagens. Ainda, são bem modestos o espaço lateral e para pernas no banco traseiro (em altura é bom) e a capacidade de bagagem, 215 litros (o Up leva 70 a mais). As largas colunas dianteiras prejudicam a visibilidade e a tampa traseira de vidro, embora poupe espaço e peso, impôs um vão de acesso pequeno e base muito alta, o que dificulta colocar/retirar cargas e transforma a remoção do estepe em um desafio.
O Up mais próximo deste Mobi é o Move aspirado, que parte de R$ 46 mil e passa a R$ 47,2 mil (3% mais caro que o Fiat) com o único pacote de opcionais. São competitivos em desempenho, consumo e conforto de rodagem e têm conteúdo semelhante, mas o VW é melhor em espaço de bagagem e comando de transmissão. A comparação aplica-se ao Up 2017: a linha 2018, renovada em aparência e com itens adicionais, terá os preços anunciados em breve.
Um novo e eficiente motor, claro, não poderia transformar o Mobi em outro carro: há limitações inerentes a seu tamanho, ao projeto e à idade da plataforma, que não foi concebida para ele — ao contrário do Up, mais moderno e com frente bem curta. Mesmo assim, receber o Firefly lhe fez muito bem: em agilidade e economia, ele agora está como deveria ter sido desde o lançamento.
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Comentário técnico
• A nova linha de motores Firefly da Fiat adota construção modular: a versão de 1,35 litro é a de 1,0 litro com um cilindro a mais, sem alterar elementos internos e medidas como diâmetro de cilindros, curso de pistões e comprimento de bielas. Bloco de alumínio, variação do tempo de abertura das válvulas (tanto de admissão quanto de escapamento, pois há uma só árvore de comando) e alternador com operação variável (maior quando o motor desacelera, menor quando se requer mais potência) são recursos atuais e que concorrem para a eficiência. Na foto, vista em corte da versão de quatro cilindros.
• A fábrica de Betim, MG, adotou outras boas soluções. Por meio de deslocamento de 10 mm entre a linha central dos pistões e o centro do eixo do virabrequim, foi reduzido o atrito entre cada pistão e seu cilindro. Outra é a estratégia de uso do variador de válvulas para cargas (aberturas de acelerador) parciais: nessa condição o sistema atrasa a abertura das válvulas de admissão e escapamento, o que diminui as perdas por bombeamento — as mesmas que fazem o motor desacelerar o carro quando se corta o acelerador.
• Como na linha E-Torq de 1,6 e 1,75 litro, uma corrente leva movimento do virabrequim ao comando de válvulas, em vez de correia dentada usada pelo Fire. O preaquecimento de álcool para partida a frio segue a tendência de eliminar o tanque auxiliar de gasolina. Elevada a taxa de compressão de 13,2:1, que supera até mesmo as de motores com injeção direta. A relação r/l de 0,289, embora não tão boa quanto a do Fire (com menos cilindros foi usado curso de pistões mais longo), está bem adequada.
Foto: divulgação
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 70 x 86,5 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 13,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 72 cv a 6.000 rpm/77 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 10,4/10,9 m.kgf a 3.250 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 72,1/77,1 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual / 5 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | |
2ª. | 4,27 / 6 km/h |
3ª. | 2,32 / 11 km/h |
4ª. | 1,44 / 18 km/h |
5ª. | 1,03 / 25 km/h |
6ª. | 0,80 / 33 km/h |
Relação de diferencial | 4,20 |
Regime a 120 km/h | 3.650 rpm (5ª.) |
Regime à velocidade máxima informada (gas./álc.) | 6.350/6.450 rpm (4ª.) |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco (257 mm ø) |
Traseiros | a tambor (185 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,0 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Estabilizador(es) | não |
Rodas | |
Dimensões | 5,5 x 14 pol |
Pneus | 175/65 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,566 m |
Largura | 1,633 m |
Altura | 1,502 m |
Entre-eixos | 2,305 m |
Bitola dianteira | 1,406 m |
Bitola traseira | 1,4 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 47 l |
Compartimento de bagagem | 215 l |
Peso em ordem de marcha | 945 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 13,1/12,3 kg/cv |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2017 |
Pneus | Pirelli Cinturato P1 |
Quilometragem inicial | 3.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |