
Versão Drive de três cilindros obteve o menor consumo rodoviário de nossos testes, mas tem onde melhorar
Texto e fotos: Fabrício Samahá
A reação inicial ao lançamento do Fiat Mobi, em abril do ano passado, foi de ceticismo pelo Best Cars e por parte do mercado. Um carro menor que o Uno até faz sentido para uma parcela de compradores, que se limita ao uso urbano e raramente transporta passageiros ou bagagem. Mas, se Betim finalizava o desenvolvimento da linha de motores Firefly, por que o Mobi chegou às ruas com o veterano Fire?
O resultado de nossa avaliação com a versão “aventureira” Way On, em julho, comprovou: em desempenho e consumo o Mobi deixava a desejar, sobretudo se comparado ao adversário mais direto, o Volkswagen Up. Mas a Fiat agiu rápido e, em novembro, apresentava a versão Drive com o motor Firefly de 1,0 litro e três cilindros que havia aparecido em setembro no Uno. Chegou a hora, então, de colocar esse revitalizado Mobi em avaliação completa e levá-lo à pista para medições.
Ao preço sugerido de R$ 40.650, o Drive 2018 traz equipamentos de série como abertura interna da tampa do tanque de combustível e do porta-malas, ar-condicionado, banco traseiro bipartido, chave canivete com comando de travamento, computador de bordo, controle elétricos de vidros dianteiros e travas, direção com assistência elétrica, limpador/lavador e desembaçador do vidro traseiro, volante e cintos dianteiros com regulagem de altura.
Curiosamente, quando comparado ao Like (que mantém o motor de quatro cilindros e custa R$ 39.190), o Drive é só vantagens: além do motor mais moderno e econômico, acrescenta preaquecimento de álcool para partida a frio, substitui a assistência hidráulica de direção pela mais eficiente elétrica e traz tela central do quadro de instrumentos com mais informações. Ficou clara a intenção da Fiat de melhorar o carro e sua relação custo-benefício, meses após o lançamento, de uma forma discreta ao manter a versão Like no catálogo.
O Mobi ficou bem melhor com novo motor: a aceleração de 0 a 100 km/h baixou de 17,1 para 14 segundos, e a retomada de 60 a 120 em quarta marcha, de 31,8 para 24,2 s
O Drive pode receber os pacotes de opcionais Connect (rádio com USB e Bluetooth), Tech (acabamento interno superior, ajuste elétrico e luzes de direção nos retrovisores, alarme, banco do motorista com regulagem de altura, console de teto, faróis de neblina, rodas de alumínio de 14 pol, sensor de estacionamento traseiro e volante com comandos de rádio/telefone, entre outros) e Tech Live On (sistema Live On de integração a telefone, a ser descrito adiante). Nosso carro, na configuração completa, custava R$ 46.050 (R$ 47.360 com pintura metálica). Ainda poderia receber transmissão automatizada GSR-Comfort por mais R$ 4.130.
Como ficou o Mobi com o Firefly? Em duas palavras, bem melhor. A aceleração de 0 a 100 km/h baixou de 17,1 segundos (versão Way com gasolina) para 14 s (Drive com álcool), e a retomada de 60 a 120 em quarta marcha, de 31,8 para 24,2 s. Embora o Way testado antes tenha maior altura de rodagem que o Drive, pneus e relações de transmissão são iguais — contudo, não houve tempo hábil para esgotar o tanque de álcool da nova versão antes das medições. Dados de fábrica apontam ganho importante também em velocidade máxima, de 153 km/h (do Like, sem a suspensão elevada) para 161 km/h no Drive, ambos com gasolina.
O Firefly deixou o Mobi bem mais rápido (menos 3 segundos de 0 a 100 km/h) e econômico: foi o campeão de nossos testes em consumo rodoviário com gasolina
O novo motor tem 2 cv a mais que o antigo com álcool (77 ante 75), mas perde com gasolina (72 contra 73 cv). A grande vantagem do três-cilindros em desempenho está no torque, que revela o quanto dessa potência está disponível em faixas de rotação mais comuns no dia a dia: 10,4 m.kgf com gasolina e 10,9 com álcool, ante 9,5 e 9,9 m.kgf do motor anterior, na ordem. Apesar do pico de torque a 3.250 rpm, nota-se desenvoltura a partir de 2.000.
Desempenho é bom, mas em geral o que mais se procura em um carro desse segmento é economia de combustível — talvez o maior trunfo do novo motor, pois a Fiat o anuncia como modelo mais econômico entre os 1,0-litro aspirados. Mais leve, com um cilindro a menos e medidas que aumentam a eficiência (leia Comentário Técnico na próxima página), o Firefly conseguiu 18,1 km/l de gasolina no trajeto urbano leve, 9,8 km/l no exigente e 16,1 km/l no rodoviário, enquanto o antigo Fire obteve 13,6, 7,5 e 11,3 km/l, na ordem. São ganhos expressivos e muito bem-vindos entre 31% e 42%.
Uma comparação com o Up aponta o quanto o Mobi melhorou. Testado em 2014 com gasolina, o Move Up aspirado foi pouco melhor que o Drive no urbano leve (19,1 km/l, até hoje um recorde em nossos testes), mas perdeu no urbano exigente (9,5) e no rodoviário (14,8). Se fizermos uma média entre os índices, o Fiat consagra-se como carro mais econômico que já medimos com gasolina — o Up TSI, porém, só foi testado com álcool.
Sem estabilizador, o Drive perde em conforto de rodagem para o Way; comando de transmissão é adequado; direção melhorou com assistência elétrica
Em números, portanto, a Fiat alcançou grandes resultados. E quanto a aspectos subjetivos? O Firefly é apenas razoável em suavidade: até 2.000 rpm nota-se a vibração típica dos motores de três cilindros, uma sensação de rotação baixa demais, como um quatro-cilindros sendo acelerado a 1.000 rpm. A oscilação retorna a 4.000 rpm acompanhada de algum ruído e aspereza, que se tornam expressivos a 5.500, mas na faixa intermediária a operação é macia e agradável — mais, por exemplo, que o do Ford Ka, embora menos que o do Up. Na faixa de 120 km/h o ruído do motor é discreto, mas não os aerodinâmicos e de rolagem, algo comum nesse segmento.
No conjunto, a mudança de motor foi muito positiva — e com os benefícios adicionais de não precisar de substituição de correia dentada, pois usa corrente para acionar o comando de válvulas, e de dispensar abastecimento de gasolina em tanque auxiliar. Pena que o Firefly esteja disponível apenas na versão Drive e não na Way: a Fiat fará bem quando o estender para toda a linha.
Próxima parte
Desempenho e consumo
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 14,0 s |
0 a 120 km/h | 21,4 s |
0 a 400 m | 19,7 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h (3ª.) | 10,6 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 15,5 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | NA |
60 a 120 km/h (4ª.) | 24,2 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | NA |
80 a 120 km/h (4ª.) | 17,3 s |
80 a 120 km/h (5ª.) | 25,8 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 18,1 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 9,8 km/l |
Trajeto em rodovia | 16,1 km/l |
Autonomia | |
Trajeto leve em cidade | 766 km |
Trajeto exigente em cidade | 415 km |
Trajeto em rodovia | 681 km |
Testes efetuados com álcool (desempenho) e gasolina (consumo); NA = não aplicável a essa marcha; conheça nossos métodos de medição |
Dados do fabricante
Velocidade máxima | 161/164 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,8/12,0 s |
Consumo em cidade | 13,7/9,6 km/l |
Consumo em rodovia | 16,1/11,3 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro |
Interior do Mobi tem acabamento adequado; sistema Live On traz suporte e tomada USB para celular; aplicativo controla as principais funções de forma simples
Live On: tudo pelo celular
Motor à parte, o Mobi Drive trazia poucas novidades em relação ao Way do ano passado, uma delas a interface Live On de sistema de áudio. A ideia da Fiat é dispensar a compra de um aparelho para executar mídias e navegador no carro: essas tarefas cabem ao telefone celular.
Como vem instalado, o sistema traz apenas rádio com comandos no volante — limitados, a ponto de não se poder ajustar tonalidade. No painel, um suporte retrátil segura o celular e oferece tomada USB para carregar a bateria, sem função de executar mídias. O telefone deve então receber um aplicativo próprio que permite comandar em sua tela as funções de rádio, música, navegador (aplicativos Apple Maps, Google Maps, Tomtom e Waze), telefone, Ecodrive (auxílio à condução eficiente com notas para aceleração, desaceleração, velocidade e mudanças de marcha) e localização do carro estacionado (aplicativo Onde Parei?). Tudo ocorre pela interface Bluetooth, sem fios.
Funciona bem? Em termos. Em nosso Samsung com Android o aplicativo funcionou de primeira, mas em numerosas tentativas posteriores a conexão foi impossível — acabamos só com a transmissão de áudio por Bluetooth e a navegação pelo Waze, sem usar o Live On. Talvez fosse o caso de reinstalação, mas a dificuldade revela que talvez o aplicativo precise ser aprimorado. Outros pontos para estudo pela Fiat: um, se a tomada USB lesse um pendrive, atenderia a usuários não interessados no uso do aplicativo (como ao compartilhar o carro com pessoas da família); dois, a posição do telefone no painel, mais próxima do passageiro e sem uma inclinação voltada ao motorista, não é ideal para leitura da tela.
Bancos dianteiros, ruins em conformação e densidade, cansam rápido as costas; atrás o espaço para pernas e ombros é um dos menores do mercado
No quadro de instrumentos, a versão Drive traz o mostrador digital conhecido do Uno, com funções como computador de bordo com duas medições, repetidor do velocímetro e medidor de horas de uso do motor. Seria bom que o conta-giros tivesse outro formato: o de arco deixa imprecisa sua indicação.
O Live On segura o celular e oferece tomada USB; com aplicativo próprio, comandam-se na tela as funções de rádio, música, navegador, telefone, Ecodrive e localização do carro
Do ponto de vista técnico, o Firefly veio acompanhado de assistência elétrica para a direção, em vez da hidráulica dos outros Mobis. Ótima troca: além do sistema mais eficiente, o volante ficou leve em manobras e pode se tornar levíssimo com o modo City, que amplia a assistência em baixa velocidade. Em rodovia ele adquire peso adequado. O comando de transmissão é leve, embora pudesse ganhar em precisão.
Em termos de suspensão, tanto o Drive quanto os Mobis Easy e Like têm altura de rodagem 15 mm menor que no Way e abrem mão do estabilizador dianteiro. Em questão de altura, nenhum problema: o vão livre do solo é mais que suficiente para o piso brasileiro, mesmo em trechos mais desnivelados. No entanto, o estabilizador deixa saudades, e não por sua principal função de aumentar a resistência à rolagem (inclinação da carroceria em curvas).
Cabe pouca bagagem no Mobi, 215 litros, e o acesso é difícil pelo alto vão; faróis iluminam bem no facho baixo e retrovisores podem ter luzes de direção
Sem a barra que liga um lado ao outro do mesmo eixo, o fabricante precisa recorrer a amortecedores (caso do Mobi) e/ou molas mais firmes para manter o nível de segurança — e aí surge o inconveniente. Em pisos de má qualidade, com defeitos no asfalto ou em estradas de terra, os impactos e irregularidades são muito transmitidos à cabine do Drive e penalizam o conforto. Além disso, fazem tudo por dentro vibrar (moedas no console tornam-se uma escola de samba), o que deixa expectativa de mais ruídos de acabamento com o tempo. Pelo custo de um estabilizador, gostaríamos que a versão também o tivesse em nome da qualidade de rodagem.
O comportamento dinâmico, porém, é menos afetado pelo diferente arranjo de suspensão. Como o “aventureiro”, este Mobi tem uma calibração macia de amortecedores (que ajuda no conforto enquanto o piso é apenas ondulado, sem impactos) e movimenta-se bastante sobre os pneus, em um jeito de rodar bem conhecido dos Fiats mais baratos, como Uno e Palio. Nada que coloque o motorista em apuros em curvas e desvios de trajetória, mas não é carro para quem gosta de esportividade na tocada.
No restante, é o Mobi que conhecemos — para o bem e para o mal. Entre os bons atributos estão o acabamento interno adequado ao segmento, ótimo facho baixo dos faróis (o alto não, por serem refletores simples, que apagam o baixo), indicador para troca de marcha (para cima e para reduzir), função um-toque no controle elétrico de vidros e comando a distância para abrir e fechar, alarme volumétrico (ultrassom), comando interno da tampa do tanque, amplos retrovisores com luzes de direção, faixa degradê no para-brisa, indicador de porta mal fechada, sensores de estacionamento na traseira e espelho convexo no teto para acompanhar crianças atrás.
Bons detalhes são velocímetro digital, indicador de portas, espelho para acompanhar crianças, vidros um-toque e comandos no volante; faltam controles elétricos atrás
Melhoráveis são o porta-luvas muito baixo e as faltas de controle elétrico de vidros traseiros, maçaneta na quinta porta (precisa-se usar a chave ou a alavanca no assoalho e, ao se esquecer de destravar as demais portas, o alarme dispara) e luz no porta-malas. Realmente ruins são os bancos dianteiros: curtos no assento, com encosto muito mole e apoios laterais apertados, cansam em viagens. Ainda, são bem modestos o espaço lateral e para pernas no banco traseiro (em altura é bom) e a capacidade de bagagem, 215 litros (o Up leva 70 a mais). As largas colunas dianteiras prejudicam a visibilidade e a tampa traseira de vidro, embora poupe espaço e peso, impôs um vão de acesso pequeno e base muito alta, o que dificulta colocar/retirar cargas e transforma a remoção do estepe em um desafio.
O Up mais próximo deste Mobi é o Move aspirado, que parte de R$ 46 mil e passa a R$ 47,2 mil (3% mais caro que o Fiat) com o único pacote de opcionais. São competitivos em desempenho, consumo e conforto de rodagem e têm conteúdo semelhante, mas o VW é melhor em espaço de bagagem e comando de transmissão. A comparação aplica-se ao Up 2017: a linha 2018, renovada em aparência e com itens adicionais, terá os preços anunciados em breve.
Um novo e eficiente motor, claro, não poderia transformar o Mobi em outro carro: há limitações inerentes a seu tamanho, ao projeto e à idade da plataforma, que não foi concebida para ele — ao contrário do Up, mais moderno e com frente bem curta. Mesmo assim, receber o Firefly lhe fez muito bem: em agilidade e economia, ele agora está como deveria ter sido desde o lançamento.
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Comentário técnico
• A fábrica de Betim, MG, adotou outras boas soluções. Por meio de deslocamento de 10 mm entre a linha central dos pistões e o centro do eixo do virabrequim, foi reduzido o atrito entre cada pistão e seu cilindro. Outra é a estratégia de uso do variador de válvulas para cargas (aberturas de acelerador) parciais: nessa condição o sistema atrasa a abertura das válvulas de admissão e escapamento, o que diminui as perdas por bombeamento — as mesmas que fazem o motor desacelerar o carro quando se corta o acelerador.
• Como na linha E-Torq de 1,6 e 1,75 litro, uma corrente leva movimento do virabrequim ao comando de válvulas, em vez de correia dentada usada pelo Fire. O preaquecimento de álcool para partida a frio segue a tendência de eliminar o tanque auxiliar de gasolina. Elevada a taxa de compressão de 13,2:1, que supera até mesmo as de motores com injeção direta. A relação r/l de 0,289, embora não tão boa quanto a do Fire (com menos cilindros foi usado curso de pistões mais longo), está bem adequada.
Foto: divulgação
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 70 x 86,5 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 13,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 72 cv a 6.000 rpm/77 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 10,4/10,9 m.kgf a 3.250 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 72,1/77,1 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual / 5 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | |
2ª. | 4,27 / 6 km/h |
3ª. | 2,32 / 11 km/h |
4ª. | 1,44 / 18 km/h |
5ª. | 1,03 / 25 km/h |
6ª. | 0,80 / 33 km/h |
Relação de diferencial | 4,20 |
Regime a 120 km/h | 3.650 rpm (5ª.) |
Regime à velocidade máxima informada (gas./álc.) | 6.350/6.450 rpm (4ª.) |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco (257 mm ø) |
Traseiros | a tambor (185 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,0 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Estabilizador(es) | não |
Rodas | |
Dimensões | 5,5 x 14 pol |
Pneus | 175/65 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,566 m |
Largura | 1,633 m |
Altura | 1,502 m |
Entre-eixos | 2,305 m |
Bitola dianteira | 1,406 m |
Bitola traseira | 1,4 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 47 l |
Compartimento de bagagem | 215 l |
Peso em ordem de marcha | 945 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 13,1/12,3 kg/cv |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2017 |
Pneus | Pirelli Cinturato P1 |
Quilometragem inicial | 3.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |