Desafio: Argo e Ka confrontam o renovado Sandero CVT

A Renault investiu em transmissão CVT e mais conforto e segurança, mas estará o hatch apto à briga com Fiat e Ford?

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Espaço e robustez a um preço contido: esse sempre foi o argumento do Renault Sandero, o que fez dele um carro frequente em frotas de empresas, locadoras e no transporte por aplicativo — impulsionado, claro, por uma boa estratégia de descontos para vendas diretas. Na linha 2020, porém, o hatch da marca francesa busca alcançar um público mais exigente com as novidades em conforto, segurança e, em especial, a oferta de transmissão automática de variação contínua (CVT).

Para mensurar o que as evoluções podem fazer pelo Sandero, colocamos a versão Intense com motor de 1,6 litro (a de topo, deixando à parte o Stepway) lado a lado com o Fiat Argo Precision de 1,75 litro e o Ford Ka Freestyle de 1,5 litro. O critério foi buscar nos concorrentes as opções que mais se aproximassem do Renault em características e preço (veja os valores na tabela abaixo).

 

 

Não estranhe o Ka estar em versão “aventureira”, coerente com a altura de rodagem do Sandero CVT, e o Argo não: no Fiat, o pacote Trekking existe apenas com caixa manual. Vale notar que nosso Precision de imprensa era um modelo 2017, com equipamentos que não estão mais disponíveis, caso das rodas de 16 pol. O texto e as tabelas refletem a configuração atual, deixando apenas as fotos desatualizadas.

 

 

Estilo
Sandero e Ka mostram um desenho mais simples, diante do elaborado Argo e seus muitos vincos e detalhes, mas os três são carros de boa aparência. Fica uma restrição à traseira remodelada do Renault, em que as lanternas não combinam muito com as linhas e seu recorte inferior mostra o aproveitamento do antigo para-choque. Altura de rodagem, molduras nos para-lamas e rodas maiores deixam o Sandero com ar “aventureiro”, lembrando o do Ka Freestyle.

 

 

Acabamento e conveniência
É do Argo o melhor aspecto interno, com formas mais caprichadas e materiais de aparência superior. Ele oferece revestimento sintético que simula couro para os bancos, enquanto os rivais usam esse material combinado a tecido — no caso do Sandero, o tecido esquenta muito no calor e o falso couro risca com facilidade. Bom efeito no Freestyle vem do tom marrom no painel e parte dos bancos e portas. Itens de conveniências exclusivos do Argo são alerta programável para excesso de velocidade, aviso de qual porta está mal fechada, duas tomadas USB, faixa degradê no para-brisa, luz na parte traseira da cabine, monitor de pressão dos pneus e porta-óculos, enquanto só o Sandero traz limitador de velocidade e mola a gás para manter aberto o capô.

 

O conforto dos passageiros continua um destaque do Sandero, mais amplo que os demais, e seu espaço de bagagem é superior, mas o Argo vence em acabamento

 

Todos têm assistente de partida em rampa, câmera traseira de manobras, comandos de áudio no volante ou junto dele, controlador de velocidade, controle elétrico um-toque para os vidros, sensores de estacionamento traseiros e central de áudio com tela de 7 pol e integração a telefone celular por Android Auto e Apple Car Play. Faltam ao Fiat mais espaços para objetos; ao Ford, ar-condicionado automático; e ao Renault, alarme volumétrico (ultrassom), comando a distância para abrir e fechar vidros e preaquecimento de álcool para partida a frio, que ainda usa tanque de gasolina.

 

 

Posto do motorista
Nenhum satisfaz de verdade em posição de dirigir, mas o Argo tem os melhores bancos — os do Ka são os mais estreitos. Ao perder o ajuste do volante em distância, o Fiat manteve apenas o de altura como nos outros. Os instrumentos dos três são fáceis de ler e incluem computador de bordo; o Fiat sai em vantagem ao incluir temperatura de óleo, tensão da bateria e dois trajetos de medição no computador, além de repetidor digital do velocímetro.

 

 

Argo e Sandero trazem faróis melhores, com duplo refletor, mas só no segundo há luzes diurnas — os leds do Fiat, restritos às luzes de posição, não substituem os faróis em rodovia. Faróis de neblina (sem a luz traseira) e repetidores laterais das luzes de direção equipam os três. A visibilidade dianteira do Ka é mais prejudicada pelas colunas largas.

 

Bancos dianteiros do Argo são os melhores, mas em todos falta o ajuste do volante em distância; espaço na traseira dá clara vantagem ao Sandero

 

Espaço interno
O conforto dos passageiros continua um destaque do Sandero: é claramente mais amplo que os demais em largura, altura e espaço das pernas para quem viaja atrás — os rivais são parecidos, com ligeira vantagem ao Argo. Mesmo a largura para três adultos na traseira é razoável do Renault, que tem ainda melhor acomodação do passageiro central (nisso o pior é o Fiat).

Porta-malas
A capacidade de bagagem também dá vitória ao Sandero: 320 litros contra 300 do Argo e apenas 257 do Ka. O encosto traseiro é bipartido em todos, que usam estepes diferentes dos demais pneus. O Renault agora tem comando elétrico da tampa (por botão no painel, na chave ou no emblema Renault) como os adversários.

Próxima parte

 

 

Próxima parte

 

Bons instrumentos com computador de bordo; centrais de áudio com tela ampla e integração a celular; Sandero tem maior espaço de bagagem, seguido por Argo

 

Motor e desempenho
Os motores variam entre o 1,5 litro do Ka e o 1,75 do Argo, sempre com quatro válvulas por cilindro e variação do tempo de abertura. O Fiat oferece mais potência e torque, seguido pelo Ford — o 1,6 do Renault tem menos cv. Boa surpresa no Ka é a suavidade de operação, sobretudo por ter três cilindros, o que em geral resulta em oscilações (os demais são regulares nesse aspecto). Ele é também o mais silencioso.

 

 

O teste apontou desempenhos parecidos, com o Ka geralmente à frente, mas apenas 0,4 segundo entre o mais rápido e o mais lento para acelerar de 0 a 100 km/h. O Sandero compensa no peso e na eficiência da CVT sua menor potência, enquanto o Argo anula sua vantagem pela massa adicional.  Neste o acelerador incomoda, com um retardo de resposta e então atuação maior que a esperada.

 

 

A nova transmissão caiu muito bem ao Sandero: no uso moderado em cidade e rodovia ela mantém rotação baixa e constante, o que favorece a economia, e ao acelerar mais forte simula seis marchas para variar o ruído do motor, como muitos preferem. As três caixas obtêm operação suave (a do Ka um pouco menos) e respondem bem ao acelerador, mas só o Ford oferece programa esportivo: sem ele, apenas o Argo obtém freio-motor adequado em descidas e na condução rápida. No Ka a força de tração com carro parado é excessiva, um desconforto nas paradas. Mudanças manuais podem ser feitas em todos. O Fiat traz comandos no volante para elas e, como o Renault, traz um canal lateral na alavanca, melhor que o botão em seu pomo usado pelo Ford.

 

A transmissão CVT caiu muito bem ao Sandero: mantém rotação baixa e constante, o que favorece a economia, e ao acelerar mais forte simula seis marchas

 

Consumo
Os leves Ka e Sandero, este ajudado pela transmissão, foram bem mais econômicos: entre 12,9 e 14 km/l de gasolina nos trajetos mais brandos, nos quais o Argo não chegou a 12 km/l. O Renault consumir menos que o Ford na cidade, embora pouco mais em rodovia, demonstra como a CVT é mais eficiente quando se tem mudanças frequentes de velocidade.

Comportamento dinâmico
Temos aqui dois carros com maior altura de rodagem que o normal: o Sandero CVT, que segue o padrão do Stepway, e o Ka Freestyle. Só que o resultado foi bem melhor no Ford, que obteve ótima estabilidade sem prejuízo do conforto, chegando a superar a versão Titanium em absorção de pequenos impactos. Já o Renault ganhou amortecedores firmes, sobretudo na distensão dos traseiros, talvez para manter o bom comportamento com a maior altura. Isso penaliza seu conforto em certas situações, como lombadas, comparado ao Sandero comum.

 

Boa atuação das caixas automáticas; a CVT do Sandero simula seis marchas com acelerador mais aberto; comandos de trocas no volante vêm só no Argo

 

O Argo, por sua vez, tem o rodar mais macio dos três e comportamento adequado, sem chegar ao brilho do Ka. Vale notar que os três usam pneus comuns de asfalto, não de uso misto. Controle eletrônico de estabilidade e tração equipa todos, assim como freios corretos. Em direção, a assistência elétrica de Argo e Ka a deixa bem mais leve em manobras que a eletro-hidráulica do Sandero, mas a do Fiat ganha peso acima do ideal em curvas ao dirigir rápido.

 

 

Segurança passiva
O Sandero evoluiu em proteção dos ocupantes para 2020: ganhou de série bolsas infláveis laterais dianteiras (que o Ka tem, mas não o Argo), encosto de cabeça e cinto de três pontos para o passageiro central traseiro e fixação Isofix para cadeira infantil, itens que também estão nos rivais. Fiat e Ford ofereciam mais bolsas infláveis nessas versões (laterais no primeiro e de cortina no segundo), mas foram descartadas para redução de custos.

 

 

Custo-benefício
Embora tenha o menor preço básico, o Argo precisa receber opcionais para oferecer itens que nos outros são de série, como câmera traseira, central de áudio, controlador de velocidade, rodas de alumínio e sensores de estacionamento traseiros. Com os pacotes necessários (não todos os disponíveis), ele supera o Ka em R$ 3.900 e o Sandero em R$ 6.800 e ainda não tem bolsas infláveis laterais. Entre o Ford e o Renault há equilíbrio de conteúdo, com alguns itens a favor de cada um.

Sem considerar preço, o Ka e o Sandero acumulam um ponto a mais nas notas que o Argo. Quando o valor é levado em conta, a situação favorece o mais barato Renault e agrava-se para o Fiat, que não oferece atributos para justificar o alto preço. Assim, embora as prioridades de cada comprador devam sempre ser consideradas, em relação custo-benefício e na média geral o renovado Renault termina este Desafio à frente.

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