Bancos com encosto integrado não são problema: os incômodos são o desconforto dos dianteiros e o espaço traseiro muito limitado para pernas e ombros
O calcanhar de Aquiles do pequeno Fiat é, sem dúvida, o espaço no banco traseiro exíguo em largura (levar três adultos beira o impossível) e no vão para pernas, embora adequado em altura. Um passageiro de 1,75 metro já fica com os joelhos quase no encosto, atrás de um motorista de mesma estatura. O encosto é mais vertical que o usual e o assento deixa as coxas mal apoiadas, o que cansa em longos trajetos. Mesmo que o padrão no segmento de hatches pequenos seja certo desconforto, o Mobi está entre os mais limitados. De fato, sem recorrer a uma carroceria bem alta, seria impossível reduzir em 24,5 centímetros o comprimento em relação ao Uno sem sacrificar ocupantes e… bagagem.
Pisa-se pouco no acelerador e a borboleta abre muito, o que deixa o carro ágil: a máscara cai quando se acelera mais e nada acontece
Sim, a observação vale também para o compartimento de 215 litros, menor em 70 l que o do Up, de comprimento parecido. Uma caixa organizadora no fundo tem duas funções: a óbvia, de guardar objetos com uma divisão que pode ser reposicionada, e a outra de tornar mais alta e acessível a base do compartimento. Sem ela, o assoalho fica muito fundo — e nem luz existe para ajudar a procurar objetos perdidos. Se for removida ganham-se 20 litros de espaço. O estepe interno segue a medida dos outros pneus, com roda de aço.
Veterano motor decepciona na pista
Com motor idêntico e certo aproveitamento de plataforma, o Mobi não poderia mesmo ser muito diferente do Uno para quem dirige. Até em peso eles estão muito próximos: 966 kg o Way On, apenas 14 kg abaixo do Uno Way de mesmo motor. O Fire desenvolve potência de 73/75 cv e torque de 9,5/9,9 m.kgf (com gasolina e álcool, na ordem): valores apropriados à categoria e a seu peso, embora menos expressivos que nos modernos três-cilindros, que chegam a ter 13 cv a mais no caso do Ford Ka.
Instrumentos compactos com indicador para troca de marcha, comandos de áudio no volante, controle um-toque para vidros (só dianteiros), espelho para vigiar as crianças
O veterano quatro-cilindros tem funcionamento macio, qualidade que os três-cilindros raramente alcançam, e seu nível de ruído está dentro da média: pode-se viajar a 120 km/h sem maior incômodo, apesar dos barulhos gerais transmitidos à cabine. Barulhento de verdade ele se torna acima de 5.000 rpm, mas o acelerador foi suave nas aberturas e fechamentos, ao contrário da versão Like On dirigida no lançamento. O desempenho, porém, é menor do que as reações iniciais fazem parecer.
Como assim? Tem ficado evidente em alguns modelos (os da Hyundai, em sua maioria, são exemplos) que a abertura da borboleta de aceleração é muito maior que a do solicitada pelo pedal acelerador. Pisa-se pouco e a borboleta abre muito, o que deixa o carro ágil no uso urbano e transmite sensação de potência. Além do maior consumo, o problema é que a máscara cai quando se acelera mais (ou mesmo tudo) e nada acontece: como o motor já estava próximo de obter toda a potência disponível naquela rotação, o motorista acaba decepcionado — ou descobre que a ultrapassagem será mais apertada do que imaginava.
A comprovação veio nas medições em nossa pista, onde o Mobi acelerou de 0 a 100 km/h em modestos 17,1 segundos: qualquer um esperaria menos ao ver sua rapidez no trânsito com o enganoso acelerador. Também não foi tão econômico: 13,6 km/l no trajeto urbano leve e 11,3 km/l no rodoviário com gasolina são marcas bem abaixo das obtidas pelo Move Up (veja abaixo os números, análise detalhada e comparação aos adversários).
Motor igual ao do Uno é muito suave, mas decepciona em desempenho; faróis de refletor único iluminam bem no facho baixo; os de neblina são de série
No comando da transmissão, relativamente suave e preciso, ou nas boas respostas da direção (que poderia adotar assistência elétrica para menor consumo de energia), o Mobi repete em grande parte as sensações de dirigir o Uno. O mesmo vale para a suspensão, que no Way vem com altura de rodagem elevada em 15 mm e calibração específica. Os pneus 175/65 R 14 de asfalto, Pirelli Cinturato P1 no carro avaliado, são os mesmos da versão Like.
Com ajuste macio e longo curso, a suspensão garante um rodar confortável, com destaque para a absorção de grandes irregularidades (como buracos mais fundos em estradas de terra) e a passagem tranquila por lombadas de qualquer tipo. Pequenos impactos são mais transmitidos, ainda em patamar muito bom para um carro pequeno, e o vão livre do solo (171 mm) é suficiente para rodar em quase qualquer terreno aberto à circulação no Brasil sem risco de raspar alguma parte inferior. O sobrenome Way não foi em vão.
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Desempenho e consumo
Testado com gasolina, como o recebemos do fabricante, o Mobi ficou distante do índice oficial para aceleração de 0 a 100 km/h: 17,1 segundos ante 14,6 s declarados. Com essa marca, está bem atrás do Ford Ka SEL (14,4 s com álcool) e do VW Move Up (13,5 s com álcool, 15 s com gasolina) e empatado com o Nissan March SV (17,1 s com álcool).
Chama atenção no Fiat a demora para alcançar 120 km/h: 27,9 s, exatos 10,8 s a mais que os 100 km/h. A explicação está no cálculo da transmissão, pelo qual a terceira atinge o limite de giros (6.500 rpm) pouco antes dessa velocidade real e requer mudança para quarta. O motor então cai de rotação e demora a “empurrar” o carro com alguma decisão. Apesar de também não alcançarem 120 em terceira, o Up com gasolina levou mais 7,9 s para o trecho 100-120 e o March mais 8,3 s, tempos razoáveis. O Ka, que pode ir a 120 naquela marcha e dispensa a troca para quarta, fez em 6,2 s.
Esse cálculo também explica a ausência das usuais medições de 60 a 120 km/h e de 80 a 120 km/h em terceira marcha para o Fiat. Somado ao baixo desempenho do motor, isso levou a prova de 60 a 120 a ser feita em sonolentos 31,8 s, tempo dos piores já obtidos em nossos testes (o Up fez em 22,3 s, o Ka em 24,2 s e o March em 25,4 s). Claro que no mundo real o motorista poderá concluir uma ultrapassagem em terceira com o motor no limite ou mudar para quarta para continuar a ganhar velocidade: nesse caso chegará mais rápido aos 120.
Não bastasse andar bem menos, o Mobi ainda consome muito mais que o Move Up, ambos com gasolina: rodou 29% a menos por litro que o VW no trajeto urbano leve, 21% a menos no urbano exigente e 24% a menos no percurso rodoviário. Ka e March foram medidos com álcool, o que dificulta a comparação. Não estranhe o consumo bem mais alto em rodovia que no trajeto urbano leve: isso é comum em carros pouco potentes, que são mais exigidos para manter 120 km/h constantes com ar-condicionado ligado, enquanto economizam na cidade com os pequenos motores.
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 17,1 s |
0 a 120 km/h | 27,9 s |
0 a 400 m | 20,6 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h (3ª.) | 13,3 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 19,4 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | NA |
60 a 120 km/h (4ª.) | 31,8 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | NA |
80 a 120 km/h (4ª.) | 24,5 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 13,6 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 7,5 km/l |
Trajeto em rodovia | 11,3 km/l |
Autonomia | |
Trajeto leve em cidade | 575 km |
Trajeto exigente em cidade | 317 km |
Trajeto em rodovia | 478 km |
Testes efetuados com gasolina; NA = não aplicável; conheça nossos métodos de medição |
Dados do fabricante
Velocidade máxima | 151/152 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 14,6/13,8 s |
Consumo em cidade | 11,9/8,4 km/l |
Consumo em rodovia | 13,3/9,2 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro |
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