
Bolsas infláveis de menos depõem contra a versão de topo da picape, com motor turbodiesel e acabamento refinado
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Das picapes que podem ser consideradas médias no mercado brasileiro, a Fiat Toro é certamente a mais urbana e mais próxima de um automóvel, seja por seu desenho, seja por soluções técnicas como estrutura monobloco e suspensão traseira independente multibraço. No entanto, a fábrica de Betim (MG) sabe que muitos apreciam picapes com visual repleto de cromados e acessórios — é aí que entra a versão Ranch, lançada na linha 2019 e que o Best Cars colocou na avaliação 10 Chances em seu modelo 2020. Trata-se da opção de topo da Toro, oferecida apenas com motor turbodiesel e tração integral ao preço sugerido de R$ 163 mil.
Estilo
A Toro é dona de um belo desenho, um de seus maiores argumentos de venda. A linha 2020 mudou pouco: o para-choque dianteiro recebeu um anexo que sustenta a placa e lembra um quebra-mato. As diferenças da Ranch incluem estribos, estrutura de caçamba (“santantônio”) e retrovisores cromados, rodas de 18 polegadas em tom cinza e engate para reboque. Os acessórios atendem ao gosto de um perfil de público, mas a nosso ver não combinam com seu estilo. 1 ponto
Estribos, “santantônio” e retrovisores cromados buscam um ar robusto à versão Ranch, mas destoam um pouco de seu belo desenho; rodas são de 18 pol
Acabamento e conveniência
O destaque da Ranch no interior é o revestimento em couro marrom, tom que se repete nas portas e em molduras do painel. Apesar do resultado agradável a nosso ver, o ambiente usa plásticos simples e rígidos, em desacordo com sua faixa de preço. Não faltam conveniências como alarme volumétrico, alerta de qual porta está mal fechada, ar-condicionado de duas zonas, assistente de descida, câmera e sensores na traseira, chave presencial, comando a distância para abrir e fechar vidros, controlador e limitador de velocidade, faróis e limpador de para-brisa automáticos, para-sóis com iluminação, porta-objetos sob o banco do passageiro, outro refrigerado no console e rebatimento elétrico dos retrovisores.
O modelo 2020 traz nova central de áudio com tela de toque de 7 pol (a anterior de 5 pol era comandada só por botões) e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, além de manter o navegador integrado, muito útil longe das grandes cidades. Pontos melhoráveis: há bem pouco espaço para objetos (até carteira e celular), as portas precisam ser batidas para fechar, o espelho interno fotocrômico parece ineficaz e falta faixa degradê no para-brisa. 1 ponto
Revestimento em couro marrom dá aspecto refinado ao interior de plásticos simples; motorista acomoda-se muito bem, mas espaço traseiro é regular
Posto do motorista
Essa Toro oferece ajuste elétrico integral para o banco do condutor, incluindo apoio lombar. Com banco bem definido e volante regulável em altura e distância, dirige-se com conforto, mas motoristas altos não dispõem de muito espaço e podem se incomodar com o porta-óculos lateral no teto. Os instrumentos incluem mostrador digital colorido com muitas funções, como temperatura dos óleos do motor e da transmissão, tensão da bateria e pressão de cada pneu. A Ranch tem bons faróis de duplo refletor, luzes diurnas por leds e faróis de neblina, mas a luz traseira de nevoeiro deu lugar a mais uma luz de ré para 2020. A visibilidade dianteira é regular, com colunas um pouco largas. 1 ponto
O destaque da Ranch no interior é o revestimento em couro marrom, de resultado agradável; a nova central de áudio tem tela de toque de 7 pol e integração a celular
Espaço interno
Para seu tamanho — quase cinco metros de comprimento —, o espaço aos passageiros da Toro poderia ser melhor. Embora acomode bem pernas e cabeças no banco traseiro, as portas são algo curtas e a largura similar à de um carro médio não dá conforto a três adultos atrás. O ocupante central ainda sofre com o encosto duro. 0,5 ponto
Nova central de áudio tem integração a celular e mantém navegador; instrumentos mostram várias informações e pressão dos pneus; ajuste elétrico do banco, ar de duas zonas e o touro nas soleiras
Caçamba
A capacidade de 820 litros é um bom valor, intermediário entre as picapes pequenas (Strada de cabine dupla, 580 litros) e as médias tradicionais (como Ford Ranger, 1.180 litros). A caçamba tem proteção plástica, cobertura marítima de série e as peculiares duas tampas abertas para os lados, que têm várias vantagens: são muito leves, ocupam menos espaço que a tampa única ao abrir e permitem chegar mais perto da carga para a retirada. A capacidade de carga de 1.000 kg é próxima à de modelos maiores. Ela usa estepe temporário montado sob a caçamba. 1 ponto
Equipamentos e preços
• Toro Ranch 4×4 – Alarme antifurto, ar-condicionado automático de duas zonas, assistente de saída em rampa, banco do motorista com regulagem elétrica, bancos de couro, câmera traseira de manobras, capota marítima na caçamba, central de áudio com tela de 7 pol, navegador e integração a Android Auto; chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controlador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, desembaçador do vidro traseiro, engate de reboque removível traseiro, estribos e retrovisores cromados, faróis de neblina, faróis e limpador de para-brisa automáticos, monitor de pressão dos pneus, partida remota do motor, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 18 pol, sensor de estacionamento traseiro, volante com regulagem de altura e distância.
• Preço sem opcionais: R$ 162.990
• Preço como avaliado: R$ 162.990
• Preço completo: R$ 165.990
• Garantia – Três anos sem limite de quilometragem.
Preços sugeridos em 7/11/19
Motor turbodiesel de 170 cv mostra certa lentidão nas saídas, mas oferece bom desempenho (de 0 a 100 km/h em 10,9 segundos) com ruído e vibrações moderados
Motor e desempenho
O motor Fiat Multijet de 2,0 litros e 16 válvulas produz potência (170 cv) e torque (35,7 m.kgf) adequados à cilindrada e ao peso da Toro, que com 1,9 tonelada fica pouco abaixo das picapes tradicionais. Um ponto alto está na operação suave e silenciosa: notam-se vibração em marcha-lenta e ruído até cerca de 40 km/h, que mal se percebem em velocidade mais alta. Seu desempenho é muito bom para uma picape a diesel, com aceleração de 0 a 100 km/h em 10,9 segundos, melhor que a da Ranger de 200 cv. Contudo, a demora para o turbo “encher” traz sensação de lentidão nas saídas, acentuada pelo acelerador pesado.
Muito boa a atuação da transmissão automática de nove marchas, que permite mudanças manuais com comandos no volante. A tração integral sob demanda, mais comum em SUVs que em picapes, aciona as rodas traseiras quando detecta perda de aderência das dianteiras. O modo 4WD, selecionado em botão no console, fixa a divisão de torque em 50% por eixo e melhora o comportamento na lama. Pode também ser usado no asfalto ou em curvas, uma vantagem sobre o sistema 4×4 temporário da maioria das picapes. A função 4WD Low, não uma reduzida de fato, passa a usar a primeira marcha (que no uso normal fica de fora) e altera as mudanças para manter rotação mais alta. 1 ponto
Caixa de nove marchas opera bem e deixa primeira de fora, salvo pelo uso do modo 4WD Low; o outro comando (4WD) fixa a divisão de torque em 50% para cada eixo
Consumo
Porte e potência menores que os de outras picapes permitem à Toro ser mais econômica: fez 12,9 km/l no trajeto urbano leve e 13,3 km/l no rodoviário, condição esta em que Ranger e Toyota Hilux não chegaram a 10 km/l. São boas marcas para o tipo de veículo e, mesmo com um tanque mediano de 60 litros, permitem grande autonomia. 1 ponto
O brilhante acerto de suspensão da Toro sobressai: sem abrir mão da capacidade de 1.000 kg, conseguiu um conforto ao rodar muito superior ao de picapes tradicionais
Comportamento dinâmico
O brilhante acerto de suspensão da Toro sobressai entre as picapes de qualquer tamanho. Sem abrir mão da capacidade de 1.000 kg, a Fiat conseguiu um conforto ao rodar muito superior ao dos modelos tradicionais, com destaque para a absorção de impactos — ela lembra de certo modo uma grande Volkswagen Saveiro, pouco mais dura na traseira que um automóvel. Os pneus 225/60 da Ranch em rodas de 18 pol não afetam esse aspecto em relação aos de 17 pol. Sua estabilidade também surpreende, mérito da suspensão traseira multibraço, e há o importante controle eletrônico. A direção está bem acertada; embora eficazes, os freios poderiam ter comando mais leve. 1 ponto
Com suspensão traseira multibraço, a Toro associa boa estabilidade, aptidão para uma tonelada e um conforto ao rodar sem paralelo em picapes maiores
Segurança passiva
A mais cara das Toros deixa de fora as bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista que equipam a versão Volcano, restando as frontais — a Fiat atribui a definição ao perfil mais “bruto” da Ranch. Não fosse por essa falha inaceitável por seu preço, o conteúdo de proteção seria bom, com cintos de três pontos e encostos de cabeça para cinco pessoas e fixação Isofix para cadeira infantil. 0 ponto
Custo-benefício
A Toro Ranch é oferecida em pacote fechado pelo preço sugerido de R$ 163 mil — apenas pintura especial e acessórios podem ser adicionados. Como fica sua relação custo-benefício comparada a picapes maiores? A Chevrolet S10 turbodiesel (2,8 litros, 200 cv) automática mais próxima em preço é a LT de R$ 174.950, que deixa de fora muitos itens de conveniência. O conteúdo da Fiat se equipara mais ao da LTZ de R$ 191.890. Na linha Volkswagen Amarok, a Comfortline automática de R$ 174.790 vem com motor 2,0 turbodiesel de 180 cv e tração integral permanente, mas também lhe faltam algumas comodidades da Toro. Assim, embora menor que esses modelos, a Ranch oferece um bom conjunto por seu preço — só que deveria receber o jogo de bolsas infláveis da Volcano. 1 ponto
Mais Avaliações
Desempenho e consumo
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 10,9 s |
0 a 120 km/h | 15,6 s |
0 a 400 m | 17,5 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h* | 6,9 s |
60 a 120 km/h* | 11,6 s |
80 a 120 km/h* | 8,1 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 12,9 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 6,6 km/l |
Trajeto em rodovia | 13,3 km/l |
Com diesel; *reduções automáticas; conheça nossos métodos de medição |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 83 x 90,4 mm |
Cilindrada | 1.956 cm³ |
Taxa de compressão | 16,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 170 cv a 3.750 rpm |
Torque máximo | 35,7 m.kgf a 1.750 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 9 |
Tração | integral |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 18 pol |
Pneus | 225/60 R 18 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,944 m |
Largura | 1,844 m |
Altura | 1,743 m |
Entre-eixos | 2,99 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Caçamba | 820 l |
Capacidade de carga | 1.000 kg |
Peso em ordem de marcha | 1.871 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 188 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,0 s |
Consumo em cidade | 10,0 km/l |
Consumo em rodovia | 12,6 km/l |
Dados do fabricante; consumo de diesel conforme padrões do Inmetro |