Tão desejado nos anos 90, o SUV agora combina um eficiente
motor a diesel às melhorias internas e mecânicas do modelo 2014
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Sonho de consumo de muitos brasileiros na década de 1990, o Jeep Grand Cherokee — hoje na quarta geração, três após aquela tão desejada quando as importações de veículos foram reabertas — não tem mais a vida fácil da época. Com as principais marcas de prestígio empenhadas no mercado de utilitários esporte (SUVs), tudo ficou mais difícil para a divisão da Chrysler que criou o segmento de veículos 4×4 civis após a Segunda Guerra Mundial.
Para se manter competitiva em uma categoria hoje disputada por marcas de luxo como Audi, BMW, Range Rover, Mercedes-Benz e até Porsche, a Jeep tem seguido os caminhos de acrescentar luxo, oferecer variedade de opções e manter o foco nas aptidões para uso fora de estrada. O Grand Cherokee 2014 é um pouco de tudo isso — e acaba de ganhar a opção de motor V6 turbodiesel, lançado no ano passado e que havia ficado de fora da linha por ocasião das mudanças apresentadas em janeiro.
Grade, para-choque, faróis e lanternas redesenhados atualizaram o desenho da
geração lançada em 2011; as rodas de 20 pol são de série na versão Limited
Ao contrário do Grand Cherokee a gasolina, que oferece os acabamentos Laredo (ao preço sugerido de R$ 185.900) e Limited (R$ 219.900), a versão a diesel vem apenas na opção superior e custa R$ 239.900 com o mesmo conteúdo de série. São itens como controle eletrônico de estabilidade, auxílio de saída em subida, assistência adicional em frenagens de emergência, sete bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras, cortinas e para os joelhos do motorista), apoios de cabeça ativos na frente, ajuste elétrico dos bancos dianteiros, quadro de instrumentos configurável, tampa traseira motorizada, rodas de 20 pol, câmbio automático de oito marchas, tração integral permanente com caixa de transferência (reduzida) e sistema Selec-Terrain (mais sobre ele adiante).
A opção pelo diesel abre mão de 16% em
potência, mas traz 58% adicionais
em torque e aceleração muito próxima
Há ainda o sistema multimídia Uconnect com tela sensível ao toque de 8,4 polegadas, navegador integrado, diversas conexões (entrada auxiliar, USB, de cartão SD e interface Bluetooth), comandos de voz em português, sistema de áudio Alpine com nove alto-falantes mais um de subgraves, duas telas de alta definição de 9 pol atrás dos encostos de cabeça e reprodutor de DVD e Blu-ray.
A renovação visual do Jeep, aplicada à geração lançada em 2011, afetou apenas a frente e a traseira. Mudam faróis (agora com lâmpadas de xenônio em ambos os fachos, o que dispensou um dos refletores, e contorno em leds para luz diurna), grade, para-choque dianteiro, lanternas (também com contorno em leds para luzes de posição) e tampa do porta-malas, além dos retrovisores. O resultado é bom, com aspecto atualizado e sem destoar das partes que foram mantidas.
Volante, instrumentos e seção central do painel são novos no Grand Cherokee 2014;
bancos acomodam bem e há farto espaço atrás, mas piso alto pode incomodar
No interior, o painel recebeu nova seção central com tela maior para o sistema de entretenimento, comandos giratórios para o ar-condicionado (antes eram teclas, menos práticas para acionar em movimento) e volante com mais funções para comandar sistema de áudio, telefone, controlador de velocidade e ajustes do quadro de instrumentos. Este é outra novidade: redesenhado, traz um velocímetro em posição central que, por se tratar de mostrador digital, pode ser configurado de várias formas.
É possível escolher quais informações serão exibidas em três locais do quadro, como relógio, temperatura externa e alerta de excesso de velocidade. O velocímetro analógico pode dar lugar a uma indicação numérica digital, o que abre espaço para mais funções como pressão de cada pneu, temperatura dos óleos lubrificantes do motor e da transmissão, consumo instantâneo, voltímetro e indicações de operação da tração integral, do sistema Selec-Terrain e do bloqueio do diferencial central.
Coração italiano
O motor do Limited Diesel é o mesmo do modelo 2013: uma unidade da VM Motori italiana de 3,0 litros com bloco e cabeçotes de alumínio, turbina de geometria variável, injeção eletrônica de duto único com pressão de 1.800 bars e variação do tempo de abertura das válvulas, que são quatro por cilindro. Com baixo peso para a categoria (230 kg), o turbodiesel fornece potência de 241 cv e torque de 56 m.kgf entre 1.800 e 2.800 rpm, ante 286 cv e 35,4 m.kgf do V6 a gasolina de 3,6 litros.
O velocímetro de LCD pode ser analógico ou digital; no segundo caso surge
espaço para informações como consumo, tração 4×4 e pressão de pneus
A opção pelo diesel abre mão de 16% em potência, mas traz nada menos que 58% adicionais em torque e em regime bem mais baixo. Com isso, a Jeep anuncia índices de desempenho muito próximos entre as duas versões: aceleração de 0 a 100 km/h em 8,2 segundos (diesel) ou 8,3 s (gasolina) e velocidade máxima de 202 km/h (diesel) e 206 km/h (gasolina). Onde a nova opção ganha fácil é no custo por quilômetro rodado, pois associa menor consumo (10,8 km/l em ciclo urbano e 15,4 km/l no rodoviário, ante 7 e 12,2 km/l da versão a gasolina) a menor preço por litro de combustível. Há ainda a vantagem de excepcional autonomia, até mais de 1.400 km.
Em todo Grand Cherokee 2014 o câmbio automático passa a ser um ZF de oito marchas, três a mais que antes, e conta com comandos atrás do volante para mudanças manuais. A evolução trouxe vantagens como encurtamento em 14% na combinação da primeira marcha com a reduzida, o que indica maior capacidade em subidas íngremes, e redução de consumo da ordem de 10%, tanto pelas marchas finais mais longas quanto pelo menor intervalo entre as relações (o conversor de torque trabalha menos). A caixa oferece um modo de uso esportivo, que mantém marchas mais baixas. Em operação manual as trocas para cima permanecem automáticas, mas é possível abrir todo o acelerador sem comandar redução, um padrão Chrysler.
Outra novidade é o Eco Mode, função que mantém o câmbio em marchas mais altas, retarda a ação do acelerador e até reduz o regime de marcha-lenta para economizar combustível e reduzir emissões. O modo econômico é padrão, acionado a cada partida, podendo ser desativado por um botão no painel.
Próxima parte |
A divisão Jeep da FCA, Fiat Chrysler Automobiles — nome oficial do grupo formado após a compra da empresa norte-americana pela italiana —, vive uma fase de crescimento no Brasil rumo a um aumento substancial nos patamares de vendas: até março de 2015 começa a sair da nova fábrica de Goiana, PE, o utilitário esporte compacto Renegade, lançado no mês passado no Salão de Genebra. A versão com especificação para o Brasil, que inclui motor E-Torq flexível em combustível, será mostrada em outubro no Salão do Automóvel em São Paulo, SP. A Jeep anuncia que haverá versões para diferentes perfis, das acessíveis àquelas com conteúdos inéditos no segmento, que abrange modelos como Ford EcoSport e Renault Duster. No segundo semestre começam as vendas da nova geração do Cherokee, modelo de médio porte que ficará abaixo do Grand Cherokee na linha. Apresentado há um ano nos Estados Unidos, o SUV de linhas ousadas foi mostrado à imprensa neste evento e deixou boa impressão, parecendo-nos mais agradável que em fotos — ou estaríamos nos acostumando a suas formas tão diferentes do habitual? O interior tem aspecto moderno e jovial, típico de carros europeus, e mostra qualidade nos materiais. Será oferecido na versão Limited com tração integral e motor V6 a gasolina de 3,2 litros com 271 cv e 31,9 m.kgf, o mais potente disponível em outros mercados.Em fase de crescimento
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O porta-malas espaçoso ganhou acionamento elétrico da tampa; a tela central serve
para ajustes e entretenimento; Selec-Terrain oferece cinco programas de ajuste
O sistema de tração integral permanente Quadra-Trac II, que trabalha com repartição variável de torque entre os eixos, foi preservado no modelo 2014. Ele opera em sintonia com o gerenciamento de tração Selec-Terrain, que altera parâmetros de funcionamento de acelerador, câmbio, freios, caixa de transferência e controles eletrônicos para adequar a condução a cinco tipos de terreno. Duas delas — Sand ou areia e Mud ou lama —, antes combinadas, agora vêm separadas. As outras são Snow ou neve, Rock ou pedra (que só funciona com reduzida) e Auto, o modo automático.
O controle de velocidade em declive (HDC), que usa os freios para segurar o carro sem intervenção do motorista nos pedais, agora permite comandar o ritmo pela seleção de marchas. Cada mudança representa 1,5 km/h a mais ou a menos, ou seja, a velocidade fica ao redor de 1,5 km/h em primeira marcha e chega a 12 km/h em oitava. No restante a Jeep efetuou poucas alterações, como a calibração pouco mais firme para os amortecedores e a assistência eletro-hidráulica de direção, que consome menos energia que a hidráulica.
Ao volante
No lançamento da versão a diesel, pudemos dirigir o Grand Cherokee por cerca de 40 quilômetros na serra de Campos de Jordão, SP, além de um trajeto fora de estrada na estância de inverno. No percurso em asfalto o que mais chama a atenção são a suavidade e o baixo nível de ruído do motor, que disfarça plenamente se tratar de um diesel — só mesmo em baixa velocidade, fora do carro, consegue-se ouvir algo do clac-clac que um dia tanto incomodou quem dirigia esse tipo de veículo. Mesmo a marcha-lenta é de um silêncio que impressiona.
O moderno V6 de 3,0 litros e 241 cv oferece 58% mais torque que o motor a gasolina:
respostas imediatas ao acelerador, mesmo para um utilitário de 2,4 toneladas
Com o Eco Mode acionado, o desempenho é convincente: o grande utilitário de 2,4 toneladas — a versão pesa 182 kg a mais que a V6 a gasolina — move-se com desenvoltura e sobe a serra tão rápido quanto se deseja, mantendo baixas rotações com o câmbio em marchas altas ou esticando-as até cerca de 4.000 rpm apenas para constatar que continua silencioso. Desativar o programa de economia traz agilidade, mérito do torque abundante em qualquer regime. As mudanças de marcha são tão suaves que passam despercebidas, incluindo as reduções.
O Jeep venceu grandes erosões com a
suspensão de longo curso e manteve
inabalada sua capacidade de tração na terra
Serra pode parecer um local inadequado para avaliar um 4×4, mas permitiu perceber a boa estabilidade para um veículo de suas proporções e com vão livre mínimo do solo de 218 mm. Dirigido como tal, o Grand Cherokee toma as curvas com pouca inclinação de carroceria e razoável precisão de direção. O rodar mantém-se confortável mesmo nos pisos bastante degradados e nas infinitas lombadas daquela cidade, mas os adeptos da escola europeia talvez preferissem amortecedores com maior carga. Detalhe curioso é que os pneus são da marca sul-coreana Kumho e feitos no Vietnã — a globalização veio mesmo para ficar.
Terminada a serra, a verdadeira diversão com um 4×4: um trajeto de terra até o Pico do Imbiri, a 1.862 metros de altitude. Ali o Jeep mostrou do que é capaz, vencendo as grandes erosões com a suspensão de longo curso e mantendo inabalada sua capacidade de tração mesmo com um dos pneus fora do solo. O controle de velocidade em declive mostrou utilidade em descidas íngremes e acidentadas, percorridas com facilidade a menos de 5 km/h, e em nenhum momento o Jeep deixou de proporcionar conforto.
Suspensões de longo curso, tração eficiente e auxílios eletrônicos fazem desse Jeep um
4×4 muito capaz no fora de estrada; à direita, indicação de uso do modo Rock
Conforto que vem também do interior requintado e repleto de conveniências, como aquecimento para volante e bancos dianteiros e traseiro, coluna de direção com regulagens elétricas, câmera traseira para manobras com orientação por linhas dinâmicas, duas tomadas USB para carregar eletrônicos no console e uma lanterna portátil de leds integrada à lateral do porta-malas — compartimento que acomoda de 457 litros, até a altura dos vidros, a 1.554 litros até o teto com o banco rebatido e traz o estepe de 18 pol sob seu assoalho. O encosto posterior admite regulagem de inclinação e dois adultos acomodam-se com fartura de espaço, apesar da ressalva do piso alto em relação ao assento; já o passageiro central sofre com a rigidez do encosto.
Com acabamento interno disponível em couro preto ou bege, o Limited traz um ambiente agradável e com detalhes charmosos, como a inscrição Since 1941 (desde 1941) no volante, também aplicada a um dos faróis, que relembra a tradição da marca Jeep. Até grandes retrovisores externos biconvexos a empresa incluiu na especificação para o Brasil — nada do limitado espelho plano usado em alguns carros que vêm da América do Norte —, assim como luzes de direção traseiras da cor certa, âmbar. Contudo, alguns plásticos do interior são mais simples e rígidos do que se espera de um carro desse preço e deveria ser oferecido teto solar, mesmo como opção. O fato de grande percentual dos SUVs luxuosos receber blindagem não justifica privar outros compradores.
O Grand Cherokee Diesel deixou boas impressões no breve contato e, entre as opções a diesel dos utilitários esporte maiores, está situado em patamar aceitável de preço: fica um tanto acima dos mais simples Chevrolet Trailblazer LTZ (R$ 169 mil) e Toyota Hilux SW4 SRV (R$ 182,1 mil) ou do antigo Mitsubishi Pajero Full (a partir de R$ 203 mil), mas abaixo de Land Rover Discovery (que começa em R$ 269.700) e Mercedes-Benz ML 350 (a partir de R$ 285.500).
Ficha técnica
Motor | |
Posição | longitudinal |
Cilindros | 6 em V a 60° |
Comando de válvulas | duplo nos cabeçotes |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 83 x 92 mm |
Cilindrada | 2.987 cm³ |
Taxa de compressão | 16,5:1 |
Alimentação | injeção de duto único, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 241 cv a 4.000 rpm |
Torque máximo | 56 m.kgf de 1.800 a 2.800 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático, 8 |
Tração | integral |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco ventilado |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, braços sobrepostos, mola helicoidal |
Traseira | independente multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 8 x 20 pol |
Pneus | 265/50 R 20 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,828 m |
Largura | 1,943 m |
Altura | 1,802 m |
Entre-eixos | 2,915 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 93 l |
Compartimento de bagagem | 457 l |
Peso em ordem de marcha | 2.393 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 202 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 8,2 s |
Consumo em cidade | 10,8 km/l |
Consumo em rodovia | 15,4 km/l |
Dados do fabricante |