Ficou mais acessível e ganhou opção manual, mas preços das versões conhecidas subiram e conteúdo foi reduzido
Texto: Fabrício Samahá e Sérgio Galvão – Fotos: divulgação
Depois de quase um ano de importação do México, o que impunha limitação de volume (há imposto adicional se superada a cota de unidades), o Nissan Kicks passa a ser fabricado no Brasil. A produção em Resende, RJ, ao lado de March e Versa permitiu oferecer mais opções: agora são três acabamentos em vez de dois e o mais simples pode ter transmissão manual (a automática de variação contínua, CVT, permanece disponível em todos). Com isso, o Kicks está também mais acessível: agora parte de R$ 70.500.
Esse preço refere-se à versão S manual, inédita por aqui, embora os mexicanos tivessem opção equivalente sob o nome Sense. Seu aspecto é mais simples, com partes dos para-choques sem pintura, rodas de aço de 16 polegadas com calotas, bancos de tecido e sistema de áudio espartano, só com rádio e conexões USB e Bluetooth. Com CVT o mesmo Kicks passa a R$ 79.200, o que inclui itens opcionais para o manual (controle eletrônico de estabilidade e tração e assistente de saída em rampa) e outros não disponíveis para ele (faróis de neblina e rodas de alumínio de 16 pol). Veja no quadro abaixo o conteúdo de cada versão.
Como já se viu em outros casos, nacionalizar a produção nem sempre significa melhorar a relação entre preço e equipamentos de série. O Kicks SV fluminense custa R$ 85.600, mas perde alguns itens do SV Limited mexicano, que na linha 2017 custava R$ 700 a menos: ar-condicionado automático, luzes diurnas de leds, quadro de instrumentos com seção digital configurável e assistentes eletrônicos de chassi.
Com caixa manual de operação suave, em desempenho o Kicks S mostra-se discreto: em rodovia falta um pouco de potência ao motor de 114 cv em situação de ultrapassagem
Esse recurso, agora restrito ao SL, compreende três funções: Estabilizador Inteligente de Carroceria, com sensores de aceleração que detectam o movimento e atuação no freio-motor e nos freios para estabilizar a carroceria; Controle Inteligente em Curvas, com mesma atuação, voltada a reduzir o subesterço; e Controle Inteligente de Freio-Motor, que recebe o sinal do sensor de aceleração e da posição do volante e atua no freio-motor em curvas e descidas de serra. Não se trata, portanto, de intervenção na suspensão como o nome do primeiro item pode fazer supor.
A versão de topo SL subiu de R$ 90 mil do importado para R$ 94.900 do nacional e também perdeu os leds, mas recebeu retrovisores com rebatimento elétrico automático e sistema de áudio Multi-App, que executa aplicativos e acessa a internet por meio de conexão do telefone celular ou de modem USB, como conhecido em March e Versa. O aparelho não usa plataformas como Android Auto e Apple Car Play: funciona como um tablet com Android, cuja operação independe do telefone.
Aspecto do Kicks S manual é mais simples, com calotas em rodas de 16 pol e para-choques sem pintura completa; preço da versão começa em R$ 70.500
O SL ganhou ainda uma opção inédita no Kicks: alerta de risco de colisão frontal com assistente inteligente de frenagem. O carro monitora o trânsito adiante e, no caso de possibilidade de colisão frontal, atua em até três passos: 1) aviso sonoro e visual no painel; 2) segundo aviso sonoro e visual no painel e frenagem parcial, caso o motorista não apresente reações; e 3) frenagem total para evitar ou diminuir o impacto da colisão. Lamenta-se a ausência de controlador de velocidade, reclamado desde o lançamento. Como a diferença de preço entre as versões aumentou, a SV ganhou opção de bancos de couro e bolsas infláveis laterais e de cortina.
Conteúdos à parte, o Kicks nacional é o mesmo que conhecemos — e que se saiu muito bem no recente comparativo com Chevrolet Tracker, Honda HR-V, Jeep Renegade e Renault Captur. O motor de 1,6 litro e quatro válvulas por cilindro com potência de 114 cv e torque de 15,5 m.kgf (com gasolina ou álcool) segue inalterado, sem as evoluções apresentadas pela Renault como SCE; em contrapartida, tem preaquecimento de álcool para partida a frio, que a marca sócia não usa. Da mesma forma, embora a caixa CVT seja compartilhada com Duster e Captur, no Kicks não permite mudanças manuais entre pontos de parada do variador. Existe apenas o programa Sport automático, que mantém o motor em rotações mais altas.
A versão manual pesa 20 kg a menos (1.109 ante 1.129 kg no caso do S) e consegue melhor aceleração que a CVT: 0 a 100 km/h em 11 segundos em vez de 12 s, de acordo com a fábrica, que anuncia para ambas a velocidade máxima de 175 km/h. Em consumo, porém, o automático é melhor: pelos dados oficiais e padrões do Inmetro, faz 11,4/8,1 km/l em cidade (ante 11,1/7,8 do manual) e 13,7/9,6 km/l em rodovia (contra 13,0/9,0 km/l do manual), sempre na ordem gasolina/álcool. Os dados para CVT não variam entre as três versões.
O S abre mão de bancos de couro, ampla tela de áudio e seção configurável nos instrumentos, mas o ambiente interno é coerente com o segmento e o preço
No chassi, a única novidade do nacional está nos pneus 205/60 em rodas de 16 pol do S, pois o importado vinha sempre com 205/55 em 17 pol (conjunto mantido em SV e SL). Bem poderia ter sido aumentado o tanque de combustível, dos menores do mercado, de 41 litros: embora seja um carro de consumo moderado, a autonomia com álcool é muito baixa.
Ao volante do Kicks
Para a avaliação no evento de lançamento escolhemos o Kicks S manual pelas diferenças técnicas para as versões importadas. O trajeto — curto, cerca de 30 quilômetros entre a fábrica e a cidade de Penedo — permitiu analisá-lo em rodovia e cidade. A versão é simples, sem maiores atrativos por dentro, mas coerente com o que a concorrência oferece na faixa de preço. O painel de boa visualização traz conta-giros fixo e mostrador digital no centro, que serve ao computador de bordo e indicação de consumo instantâneo.
Como principal alteração, a caixa manual de cinco marchas tem operação suave, que não requer esforço, e pedal de embreagem bem acertado. Em desempenho o carro mostra-se discreto: desenvolve velocidade de maneira progressiva e confortável no uso urbano. Em rodovia falta um pouco de potência em situação de ultrapassagem. A 120 km/h em quinta marcha são 3.500 rpm, boa marca para o motor e o tipo de caixa. Na CVT a rotação fica pela metade (1.750 rpm), mas cresce em subidas e quando se pede mais potência: se a manual fosse tão longa, seria inevitável a queixa pelo baixo desempenho e reduções sucessivas.
Motor de 114 cv não mudou; com caixa de cinco marchas o Kicks ficou mais rápido (0 a 100 em 11 segundos), mas ainda falta potência em algumas condições
Os pneus de perfil mais alto deixam o carro com melhor absorção de irregularidades, sendo macio em valetas e lombadas. Mesmo assim ele tem boa frenagem e se mostra firme em curvas. De resto esse Nissan oferece acomodações confortáveis para quatro adultos, sobretudo pelo espaço vertical (embora estreito para três pessoas atrás), e capacidade de bagagem bem inserida na classe, 432 litros.
Afinal, são boas as novidades do Kicks em versão brasileira? Algumas, sim: a opção de caixa manual e de acabamento mais simples e acessível, além da oferta com isenção de impostos a taxistas e pessoas com deficiência, o que não acontecia. Suas qualidades, que explicam o êxito da versão importada nesse primeiro ano, foram mantidas. Como más notícias ficam o expressivo aumento de preço do SL e a perda de equipamentos do SV Limited mexicano para o SV nacional.
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Versões, preços e equipamentos
• S manual (R$ 70.500) – Alarme, ar-condicionado, bolsas infláveis frontais, cintos de três pontos para os cinco passageiros, comandos de áudio, telefone e computador de bordo no volante; controle elétrico de vidros, travas e retrovisores; fixações Isofix para cadeiras de crianças, freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem e assistência de emergência, preaquecimento de álcool para partida a frio, rádio com USB e Bluetooth, rodas de aço de 16 pol, volante com ajustes de altura e distância. Opcional: pacote com assistente de saída em rampa e controle eletrônico de estabilidade e tração.
• S CVT (R$ 79.200) – Como o S, mais assistente de saída em rampa, controle de estabilidade e tração, faróis de neblina, rodas de alumínio de 16 pol, transmissão automática CVT.
• SV CVT (R$ 85.600) – Como o S CVT, mais câmera traseira de manobras, chave presencial para acesso e partida, para-choques na cor do carro, retrovisores com luzes de direção, rodas de alumínio de 17 pol, sensor de estacionamento traseiro, tela de 7 pol para áudio e navegador. Opcional: pacote Plus com bancos de couro e bolsas infláveis laterais e de cortina.
• SL CVT (R$ 94.900) – Como o SV CVT, mais ar-condicionado automático, bancos de couro, bolsas infláveis laterais e de cortina, câmeras com visão em 360 graus, controle eletrônico de chassi (controle em curvas, estabilizador de carroceria e controle de freio-motor), faróis automáticos, maçanetas cromadas, monitor de pontos cegos, quadro de instrumentos com seção digital (TFT), retrovisores com rebatimento elétrico automático, sistema de áudio Multi-App com execução de aplicativos e conexão à internet. Opcional: pacote Tech (alerta de risco de colisão frontal com assistente inteligente de frenagem e faróis com leds diurnos).
• Garantia: três anos sem limite de quilometragem.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78 x 83,6 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 114 cv a 5.600 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,5 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/60 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,295 m |
Largura | 1,76 m |
Altura | 1,59 m |
Entre-eixos | 2,61 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 41 l |
Compartimento de bagagem | 432 l |
Peso em ordem de marcha | 1.109 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 175 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,0 s |
Consumo em cidade | 11,1/7,8 km/l |
Consumo em rodovia | 13,0/9,0 km/l |
Dados do fabricante para versão S manual |