O novo motor dos japoneses é moderno, suave e econômico, mas
seu desempenho poderia ser maior em relação ao do antigo Renault
Texto: Edison Ragassi e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
De frente, de lado ou de traseira, nada identifica o novo Nissan March das versões vendidas até agora. Mas basta apurar os ouvidos para notar o som diferente do motor, típico da nova geração de três cilindros que começa a tomar conta do segmento de 1,0 litro do mercado nacional — já estão em Ford Ka, Hyundai HB20, Kia Picanto e os Volkswagens Up e Fox Blue Motion, além do Smart Fortwo.
De forma um tanto prematura para um modelo que se tornou nacional e passou por reestilização há apenas oito meses, o March deixa de lado a unidade Renault de quatro cilindros (as marcas são sócias em âmbito mundial) para adotar um motor da própria marca, desenvolvido para o Brasil a partir do HR12 de 1,2 litro usado em outros mercados. O mesmo três-cilindros será aplicado em algumas semanas ao sedã Versa nacionalizado.
Não há identificação externa da mudança, que chega apenas oito meses
depois da remodelação do March; nas fotos a versão superior SV
Ao menos por enquanto, o quatro-cilindros continua disponível no March Active, de estilo antigo, que em novembro passou a ser fabricado em Resende, RJ, ao lado do modelo mais atual. O “New” March, como é chamado pela empresa, oferece três acabamentos que tiveram aumento de preço ao redor de R$ 1.700 com a troca de motor: Conforto, por R$ 36 mil; S, a R$ 38 mil; e SV, por R$ 41 mil.
O trabalho da Engenharia foi bem feito,
deixando-o suave como o motor VW;
a sensação é de um motor bem acertado
O novo HR10 tem soluções atuais como bloco de alumínio (melhor dissipação de calor e menor peso que no de ferro fundido do Renault), variação do tempo de abertura das válvulas de admissão (não havia no quatro-cilindros) e preaquecimento de álcool para partida a frio com tal combustível no tanque (dispensa o tanque suplementar de gasolina; a versão de 1,6 litro passou pela mesma evolução). Como antes, são quatro válvulas por cilindro, mas o acionamento do comando agora usa corrente, como é usual em motores Nissan, o que dispensa a troca da correia dentada prevista para a unidade Renault.
A ótima relação r/l de 0,254 indica bom trabalho de desenvolvimento. Para conter as vibrações de funcionamento comuns nos três-cilindros, a fábrica aplicou contrapesos externos ao volante e à polia de amortecimento, além de rever o isolamento acústico. Ao contrário dos motores similares da VW e da Ford, não foi adotado duplo circuito de arrefecimento — o sistema, aliás, tem a peculiaridade de não usar reservatório de expansão. No câmbio, o alongamento da quinta marcha reduziu a rotação do motor em 3%.
O ambiente interno é o mesmo, com computador e comandos no volante
no caso do SV; o motor obtém 77 cv, apenas 3 cv acima do antigo
Apesar dos bons ingredientes, a receita pode decepcionar pelo desempenho. A potência de 77 cv e o torque de 10 m.kgf (com gasolina ou álcool, tanto faz) ficaram aquém do esperado nos atuais padrões do segmento, que têm como líder o Ka, dono de 80 cv/10,2 m.kgf com gasolina e 85 cv/10,7 m.kgf com álcool. Mesmo em comparação ao motor Renault usado antes, são apenas 3 cv a mais e o mesmo torque. A fábrica anuncia aceleração de 0 a 100 km/h em 15 segundos, tempo maior que o do quatro-cilindros (14,5 s com gasolina e 13,8 s com álcool), apesar do peso reduzido em 6 kg.
Em economia, porém, o novo motor fica bem situado na classe. Com nota A pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Inmetro, o March três-cilindros rende pouco a mais que o quatro-cilindros com álcool, embora seja superado por este ao usar gasolina: o novo faz 12,9/8,8 km/l em ciclo urbano e 15,1/10,3 km/l no rodoviário, na ordem gasolina/álcool, ante 12,5/8,7 e 14,8/10,4 km/l do antigo. São marcas próximas às do Ka e algumas delas melhores que as do Up.
Ao volante
A avaliação da imprensa no lançamento foi feita na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em total de 40 quilômetros praticamente só em linha reta e com velocidade média de 60 km/h — pouco para constatar seu desempenho em condições mais severas, como subidas de serra e ultrapassagens em rodovia. Mas o March deixou boas impressões.
Funcionamento suave e boa parcela de torque em baixa rotação
são atributos do novo três-cilindros, ao lado da economia
Por ter três cilindros sua vibração é maior, mas o trabalho da Engenharia foi bem feito, deixando-o suave como o motor VW e melhor nesse quesito que o Ford. Em termos de dirigibilidade, a sensação é de um motor bem acertado, com acelerações e retomadas convincentes e boa parcela do torque desde baixas rotações — o baixo peso do carro, que parte de 950 kg, contribui para a agilidade. Como antes, as marchas engatam de maneira fácil e precisa e o volante é bastante leve em manobras, mérito da assistência elétrica.
A Nissan não alterou o conteúdo de série de cada versão. A Conforto vem com ar-condicionado, direção assistida elétrica, banco do motorista e volante reguláveis em altura, computador de bordo, conta-giros, espelho em ambos os para-sóis, comando interno da tampa do tanque e freios com distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD) e assistência adicional em emergência, além dos obrigatórios sistema antitravamento (ABS) e bolsas infláveis frontais.
O March S acrescenta controle elétrico de vidros dianteiros, travas e retrovisores e controle remoto de travamento, além de detalhes de acabamento. Na SV o conteúdo inclui rodas de alumínio de 15 pol, faróis de neblina, defletor traseiro, rádio/CD com MP3 e interface Bluetooth, comandos de áudio no volante e revestimento superior.
Apesar do bom conjunto, o March poderia custar menos: difícil ganhar
mercado com preços e conteúdos equivalentes aos do Ford Ka
Embora coerentes com o que a concorrência oferece, os preços parecem altos diante do carro que se tornou a nova referência da categoria, o Ka. Mais moderno em projeto, o modelo da Ford tem conteúdo similar ao do March S (adiciona sistema de áudio, mas falta computador de bordo) por R$ 37,5 mil na versão SE. No caso do Ka SEL, de R$ 42,3 mil, leva-se o que a Nissan aplica a seu SV acrescido de controle eletrônico de estabilidade e assistente para saída em rampa. Não deveria o March custar menos?
De resto, há um boato no mercado de que a Renault testa um três-cilindros — opção que existe na Europa, mas com turbo, para modelos como Logan e Sandero. Fariam eles agora o caminho contrário, com a francesa compartilhando o motor da Nissan? O tempo dirá.
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Ficha técnica
Motor |
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Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 78 x 69,7 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 11,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 77 cv a 6.200 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 10,0 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão |
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Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios |
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Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção |
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Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão |
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Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas |
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Dimensões | 14 pol (Conforto e S), 15 pol (SV) |
Pneus | 165/70 R 14 (Conforto e S), 185/60 R 15 (SV) |
Dimensões |
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Comprimento | 3,827 m |
Largura | 1,675 m |
Altura | 1,528 m |
Entre-eixos | 2,45 m |
Capacidades e peso |
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Tanque de combustível | 41 l |
Compartimento de bagagem | 265 l |
Peso em ordem de marcha | 950 kg (Conforto e S), 964 kg (SV) |
Desempenho e consumo (gas./álc.) |
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Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 15,0 s |
Consumo em cidade | 12,9/8,8 km/l |
Consumo em rodovia | 15,1/10,3 km/l |
Dados do fabricante; ND = não disponível; consumo conforme padrões do Inmetro |