Strada Endurance cumpre seu papel, mas só vale para CNPJ

Apesar das boas novidades, apenas desconto na venda direta faz compensar a escolha da picape Fiat mais simples

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Demorou, mas quase 22 anos depois do lançamento a Fiat Strada passa, afinal, à segunda geração — as muitas mudanças feitas até então caracterizavam apenas reestilizações. Sem um lançamento nos moldes tradicionais, por causa da pandemia de Covid-19, a Fiat passou direto aos empréstimos da nova picape para teste completo. Começamos pela análise em 10 itens da versão de entrada Endurance de cabine dupla (preço sugerido de R$ 81.130 como avaliada), ficando a Volcano para daqui a algumas semanas.

Estilo
Tantas alterações parciais mais tarde, enfim a Fiat pôde desenhar a Strada a partir do zero… ou quase. O uso das portas dianteiras e do para-brisa do Mobi impôs algumas limitações, mas a frente é toda exclusiva, com um estilo interessante, e a traseira deixa clara a inspiração na Toro. Ainda que longe de ser tão bela quanto a “irmã” maior, a picapinha agradou à maioria, mesmo com a “cara preta” dessa versão causada pelo para-choque dianteiro sem pintura.

 

Frente própria, portas de Mobi e traseira inspirada na Toro formam um desenho interessante na nova Strada; para-choques da versão Endurance não são pintados

 

Acabamento e conveniência
Como versão mais simples da linha, a Strada Endurance convence por dentro. O painel semelhante ao do Uno e outras seções têm plásticos de bom aspecto, o tecido dos bancos é apropriado e apliques pintados contribuem para evitar uma impressão despojada.

 

 

Entre as conveniências estão alerta para uso de cinto para motorista e passageiro, alerta programável para excesso de velocidade, assistente para saída em rampa, comandos de áudio e do computador de bordo no volante, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos, temporizador, fechamento automático ao travar o carro e comando a distância para abertura; câmera traseira de manobras, comando da tampa do tanque integrado à trava das portas, duas tomadas USB (uma acessível aos passageiros de trás), espelho em ambos os para-sóis, indicador específico de qual porta está mal fechada, sensores de estacionamento na traseira e vários bons espaços abertos para objetos — além de os difusores de ar, afinal, estarem na altura correta.

 

Interior tem bom aspecto para uma versão básica e seção digital nos instrumentos; bancos adequados na frente; espaço traseiro aumentou, mas ainda é limitado

 

Muito boa é a nova central de áudio com tela de sete polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play (ambos sem uso de cabo, se o telefone for compatível), que usa menus fáceis de operar. A qualidade de áudio é mediana. Pontos melhoráveis: os vidros dianteiros não descem até o fim (vão incomodar os que apoiam o braço na porta) e faltam ajuste elétrico de retrovisores e luz de cortesia para o banco traseiro.

 

A nova Strada leva 844 litros de carga até as bordas da caçamba, aumento importante sobre a anterior; abrir e fechar a tampa ficou bem leve com o sistema de mola

 

Posto do motorista
Os bancos dianteiros são adequados e com bom apoio de coxas, embora devesse ser maior na região lombar, e o volante tem desenho e posição corretos, ainda que regulável apenas em altura. O quadro de instrumentos inclui conta-giros, computador de bordo com dois trajetos, repetidor digital do velocímetro e indicador de horas de funcionamento do motor.

Na parte de iluminação, à parte as luzes diurnas (halógenas), a Endurance traz só o essencial: os faróis são de refletor único, não há unidades de neblina nem repetidores laterais de luzes de direção. Em visibilidade, as largas colunas dianteiras prejudicam mais que as do modelo antigo, mas não poderia ser diferente após 20 anos de evolução dos padrões de segurança em colisões.

 

Indicador de horas do motor, alerta de velocidade, vidros um-toque com fechamento ao travar, câmera traseira e nova central de fácil operação com interface sem fio

 

Espaço interno
A nova Strada é a primeira picape do segmento — se colocarmos a Renault Duster Oroch, digamos, meio segmento acima — com quatro portas na versão de cabine dupla, em lugar da terceira porta aberta para trás no lado direito do modelo anterior. Ela passou também a oferecer três lugares (portanto, três cintos) no banco traseiro, o que estava devendo para a rival Volkswagen Saveiro.

 

 

Como ficou a acomodação dos passageiros de trás? Melhor que antes, sem dúvida, mas isso não diz muito. Embora ampliado, o espaço para pernas continua modesto, mesmo em comparação a hatches pequenos — ampliar o vão entre os bancos implicaria reduzir a caçamba ou deixar o carro mais comprido —, e há pouca largura. Ponto positivo é o espaço para cabeça.

 

Quatro portas convencionais são boa novidade no segmento; caçamba está maior em 164 litros e traz luz interna; atrás da cabine, porta-escada e grade protetora

 

Caçamba
A nova Strada leva 844 litros de carga até as bordas da caçamba, aumento importante de 164 litros sobre os 680 da anterior. A capacidade em peso foi mantida em 650 kg. Abrir e fechar a tampa ficou bem leve com o sistema de mola — basta uma das mãos, até de uma pessoa de menor força — e sua maçaneta é travada junto das portas. Há quatro ganchos de amarração de carga em cima e quatro embaixo, estrutura com porta-escada junto à cabine e uma prática luz na lateral direita com comando no painel. O estepe sob a caçamba usa pneu igual aos outros.

Próxima parte

 

Preços

Sem opcionais R$ 74.990
Como avaliado R$ 81.130
Completo R$ 84.230
Preços sugeridos em 21/7/20 para São Paulo, SP; apenas o preço completo inclui pinturas especiais

 

Equipamentos de série e opcionais

Strada Endurance 1,4 de cabine dupla – Ar-condicionado, assistente de partida em rampa, bloqueio eletrônico de diferencial, bolsas infláveis laterais dianteiras, computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção assistida hidráulica, luzes diurnas, preparação para áudio, protetor de caçamba, rodas de 15 pol, volante com ajuste de altura.

Opcionais – Calotas, cobertura marítima de caçamba, pacote Audio (rádio com USB e comandos no volante), pacote Worker (alarme, banco do motorista com ajuste de altura, controle elétrico de vidros, travas, tampa de caçamba e tampa de combustível) e pacote Teck (câmera traseira de manobras, central de áudio com tela de 7 pol, integração a celular sem fio e duas portas USB, sensor de estacionamento traseiro).

• Garantia – Três anos sem limite de quilometragem.

Próxima parte

 

Antigo motor Fire com até 88 cv não depõe contra a Strada Endurance, que tem bom torque em baixa rotação e acelera de 0 a 100 km/h como a Toro

 

Motor e desempenho
O mais moderno motor Firefly de 1,35 litro não equipa essa versão da Strada, que preserva o antigo Fire de 1,4 litro com 88 cv (álcool). Problemas? Não: é uma unidade comprovada e satisfatória para a proposta da Endurance, com boas respostas em baixa rotação e níveis de ruídos e vibrações aceitáveis para uma picape simples (os ruídos mecânicos em geral é que são altos).

Se o desempenho não empolga, os 14,1 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h são condizentes com o tipo de veículo e próximos ao desempenho da Toro de 1,75 litro, que vende tão bem. O comando da transmissão manual é típico Fiat, leve e não muito preciso. O anel-trava para engate da marcha à ré poderia ser abolido.

 

Conforto ao rodar poderia ser maior: a suspensão traseira com eixo rígido e molas parabólicas, mantida pela robustez no transporte de carga, cobra seu preço

 

Consumo
Testada com álcool (nosso padrão é gasolina, mas a recebemos assim e não houve tempo hábil para a substituição), a Strada Endurance mostrou consumo urbano muito bom: os 10,6 km/l equivalem-se a cerca de 15 km/l de gasolina. Em rodovia a situação piora, pois o motor pouco potente é mais exigido e a má aerodinâmica faz mais diferença, mas os 9,2 km/l ainda são adequados.

 

 

Comportamento dinâmico
A Fiat garante que pouco foi aproveitado da antiga Strada na plataforma e na suspensão do novo modelo, mas o conforto ao rodar ainda lembra bastante o do anterior. Não pela dianteira, que está correta em calibração, e sim pela traseira dura, típica de um carro leve com grande capacidade de carga e dotado de eixo rígido com molas parabólicas. Pequenos impactos são bem transmitidos e os maiores impõem um movimento desconfortável, que não deixa o motorista esquecer o tipo de suspensão empregado.

A parte positiva é que seu comportamento dinâmico melhorou bastante. Nas curvas os movimentos são bem controlados e os pneus (195/65 R 15 para asfalto) mostram tal aderência que praticamente não se consegue fazer a frente ou a traseira sair. Assim, é preciso provocar muito para ver a luz de atuação do controle de estabilidade, inédito na Strada. A Fiat aproveitou o conjunto eletrônico para adotar um controle de tração ajustável. Ao toque do comando TC+ no painel, o sistema passa a buscar mais equilíbrio entre as duas rodas dianteiras, fazendo o papel de bloqueio parcial do diferencial, em vez de cortar potência do motor quando elas patinam juntas. Uma boa solução para uso em lama, areia e outros pisos de baixa aderência.

 

Com pneus 195 para asfalto, a Endurance mostra muito boa estabilidade; controle de tração e freios ABS incluem modo TC+ destinado ao fora de estrada

 

Os freios estão bem dimensionados. O TC+ também altera a programação do sistema antitravamento (ABS) para que não atue tão cedo, como convém no uso fora de estrada (a liberação prematura da força de frenagem pode tornar difícil frear em piso pouco aderente). Por falar nessas condições de uso, o vão livre do solo de 232 mm facilita bastante trafegar por terrenos acidentados, onde ela transmite sensação de robustez.

 

Seu comportamento dinâmico melhorou bastante: os movimentos são bem controlados e precisa-se provocar muito para o controle de estabilidade atuar

 

A Endurance mantém a antiga assistência hidráulica de direção — não recebeu a elétrica das demais versões. Bem ajustado em velocidade, o volante poderia ser mais leve em manobras. O diâmetro de giro, um pouco grande para o tamanho do carro, indica que as rodas não esterçam tanto quanto deveriam.

Segurança passiva
A Fiat tomou a boa medida de aplicar bolsas infláveis laterais dianteiras (com proteção também à cabeça) mesmo nessa versão de entrada, deixando a Strada um passo à frente das concorrentes em segurança passiva. No restante há o obrigatório por lei, com fixação Isofix para cadeiras infantis, encostos de cabeça e cintos de três pontos para as cinco pessoas.

 

A Strada mais simples só se justifica para venda direta: com opcionais, o preço público supera o da versão de topo Volcano, que é superior em vários aspectos

 

Custo-benefício
O grande problema da Strada Endurance é o preço. Se os R$ 75 mil da versão de cabine dupla já parecem altos à primeira vista, escolhê-la perde todo o sentido quando equipada como a avaliamos, com os pacotes de opcionais Worker e Teck, que levam o valor a R$ 81.130.

 

 

Isso porque a versão de topo Volcano custa R$ 80 mil com motor e acabamento superiores, direção elétrica, rodas de alumínio, faróis de leds e cobertura de caçamba, entre outros itens. A única razão de existir essa Endurance é que a Fiat lhe promove maior desconto na venda direta a frotistas e produtores rurais, condição em que surge a diferença de preço esperada entre as versões.

A Saveiro mais próxima, a Robust de cabine dupla, sai por R$ 79.280 com o pacote de opcionais necessário. Oferece vantagem em desempenho (motor 1,6 de até 104 cv) e freios traseiros a disco, mas perde por ter apenas duas portas e não vir com qualquer sistema de áudio. Assim, em termos de preço ao público geral, a Strada Endurance faria uma proposta interessante de custo-benefício… se não houvesse pela mesma faixa de preço as versões superiores da própria Fiat.

Mais Avaliações

 

Nossas notas

Estilo 3
Acabamento e conveniência 3
Posto do motorista 3
Espaço interno 3
Porta-malas 4
Motor e desempenho 3
Consumo 4
Comportamento dinâmico 3
Segurança passiva 4
Custo-benefício 3
Média 3,3
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Desempenho e consumo

Aceleração
0 a 100 km/h 14,1 s
0 a 120 km/h 21,4 s
0 a 400 m 19,2 s
Retomada
60 a 100 km/h (3ª.) 8,3 s
60 a 100 km/h (4ª.) 12,1 s
60 a 120 km/h (4ª.) 19,5 s
80 a 120 km/h (4ª.) 13,8 s
Consumo
Trajeto leve em cidade 10,6 km/l
Trajeto exigente em cidade 5,9 km/l
Trajeto em rodovia 9,2 km/l
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Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2
Diâmetro e curso 72 x 84 mm
Cilindrada 1.368 cm³
Taxa de compressão 12,35:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 85/88 cv a 5.750 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 12,4/12,5 m.kgf a 3.500 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas manual, 5
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência hidráulica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo rígido, mola semielíptica
Rodas
Dimensões 15 pol
Pneus 195/65 R 15
Dimensões
Comprimento 4,48 m
Largura 1,732 m
Altura 1,595 m
Entre-eixos 2,737 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Caçamba 844 l
Peso em ordem de marcha 1.140 kg
Desempenho e consumo (gas./álc.)
Velocidade máxima 157/159 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 13,4/12,8 s
Consumo em cidade 11,7/8,3 km/l
Consumo em rodovia 12,4/8,9 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

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