Conforto da suspensão é destaque na versão Griffe, que vem mostrar semelhanças e diferenças ao Citroën C4 Cactus
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: Fabrício Samahá
A avaliação prolongada Um Mês ao Volante recomeça com outro Peugeot, o segundo no ano, depois do 3008. Dessa vez é o 2008 Griffe, colega de plataforma do Citroën C4 Cactus que avaliamos em julho e agosto. O parentesco despertou nossa curiosidade em como dois carros de “alma” e esqueletos iguais poderiam ser diferentes em vários aspectos. Seria também a oportunidade de medir o consumo de combustível do motor 1,6-litro aspirado em diversas condições (o Cactus veio com o THP turbo), além de analisar os acertos de cada marca do mesmo grupo PSA.
Na primeira semana rodamos com gasolina, em trechos urbanos e um rodoviário rumo ao interior de São Paulo. No total foram 794 quilômetros com média geral de 11,3 km/l, sendo 482 km urbanos, com média de 10,4 km/l, e 312 rodoviários com média de 13 km/l. A melhor marca, embora contabilizada como urbana, teve média de velocidade alta por ser em boa parte no Rodoanel: 14,9 km/l em 66 km com média de 62 km/h. Em trecho estritamente urbano, do dia a dia, a melhor marca foi de 11,6 km/l em 16 km com média de 27 km/h. Já a pior foi de 7,8 km/l em 6 km dentro do bairro com ladeiras e 25 km/h, com motor já aquecido.
O 2008 está de novo para-choque, que o aproxima do 3008; degrau no teto é apenas aparente e não afeta a parte central; versão Griffe começa em R$ 90 mil
Como dito no jargão da indústria, cada marca tem seu DNA no acerto fino dos carros, que afeta métricas relevantes para as sensações transmitidas ao motorista e aos passageiros. Tais métricas abrangem progressão dos pedais do acelerador e freio, calibração da transmissão automática, acabamento interno e acertos de coxins de suspensão, molas e amortecedores. Tudo isso cria uma identificação de cada marca e permite atender a clientes com gostos diferentes, sem que eles saiam debaixo do mesmo grupo corporativo, no caso a PSA.
É inevitável comparar com o primo C4 Cactus em diversas frentes. A primeira impressão no interior do 2008 é muito boa, começando pelo quadro de instrumentos bem apresentável, com mostradores analógicos e indicação digital de velocidade e do computador de bordo no centro. Como no 208 e no 3008, os mostradores ficam acima do volante e junto ao para-brisa, o que ajuda o motorista a desviar menos a atenção da via. Para que isso seja possível, a Peugeot adotou um volante diminuto que também auxilia no espaço para as pernas. Ao usar pela primeira vez, a impressão é de estar com um volante de videogame.
Se temos só vantagens em um volante menor, por que os carros começaram apenas nesta década a usar esse tamanho? O motivo é que, quanto maior o diâmetro do volante, menor o esforço para esterçamento. Como antes os carros dependiam de sistema hidráulico para assistência de direção, um volante muito pequeno exigiria uma bomba hidráulica de maior pressão, o que roubaria ainda mais energia do motor mesmo em retas, afetando o consumo. Contudo, hoje o auxílio é elétrico, mais eficiente e que “rouba” energia do motor — pelo alternador — apenas quando se esterça.
Volante pequeno e instrumentos por cima são uma ideia original que funcionou bem; teto panorâmico fixo tem acionamento elétrico da tela, que não afasta o Sol por inteiro
E falando no auxílio elétrico, a calibração do 2008 se mostrou no ponto ideal, um pouco menos atuante em movimento que no Cactus. Ao mesmo tempo o sistema é leve em baixa velocidade e permite movimentos rápidos em manobras. A única ressalva é um certo retardo na atuação do auxílio logo após a partida do motor, como se esperasse o alternador começar a produzir energia antes de roubar mais carga da bateria.
O 2008 se mostrou um dos melhores carros para vias cheias de remendos, buracos e desníveis: absorve os impactos muito bem, sem ruídos e pancadas secas
A carroceria passa boa sensação de espaço em altura, apesar de alguns centímetros perdidos pelo teto panorâmico. De fora chama a atenção o “degrau” na parte traseira do teto, que na verdade são “calombos” laterais com fins apenas estéticos, sendo a parte central do teto nivelada com a seção dianteira. O teto panorâmico é fixo, com acionamento elétrico apenas da tela clara que filtra os raios solares — não completamente, o que deveria ser revisto em um país tropical. Ruim com ela, pior sem ela: esquecemos de fechar a tela em certa noite e, ao buscar o carro parado ao Sol até o meio-dia, a cabine estava quente ao extremo.
Para haver o vidro panorâmico, a longarina estrutural que une as colunas centrais foi eliminada. Tal fechamento entre as colunas ajuda muito em impactos laterais, impedindo que a coluna se dobre para dentro da cabine, o que obrigou a Peugeot a trabalhar em reforços adicionais nas longarinas laterais que vão do para-brisa à coluna traseira.
Conforto de rodagem é um ponto alto do 2008: com pneus de bom perfil e suspensão macia, absorve muito bem as irregularidades das ruas paulistanas
O acerto de suspensão também tem agradado, tanto nas absorções de impactos quanto no controle de movimentos da carroceria. De novo, a comparação é inevitável com o C4 Cactus, mas o conforto ao rodar do 2008 se mostrou melhor que o do primo, em parte pelo uso de pneus de perfil mais alto e rodas de aro menor (205/60 R 16 contra 205/55 R 17 do Citroën). Fica difícil saber se a diferença é oriunda apenas dos pneus ou se coxins, e mesmo os amortecedores, são diferentes.
Na prática o Peugeot se mostrou um dos melhores carros para vias cheias de remendos, buracos e desníveis como as que temos na cidade de São Paulo, absorvendo os impactos muito bem, a ponto de dar impressão de que as irregularidades são menores. Ao rodar mais rápido por essas condições, sentem-se as rodas perdendo contato com o solo em vez de ruídos e pancadas secas.
A movimentação da carroceria é bem controlada, mesmo quando a via tem grande queda ou ao passar em alta velocidade por lombadas. Claro que em tocadas mais esportivas se sente o carro mais “mole”, mas sem comprometer a segurança, algo que detalharemos melhor nas próximas semanas. A impressão que passa é que a Peugeot aprendeu em poucos anos o que a Fiat desenvolveu em décadas de Brasil — uma suspensão bem acertada para o conforto, sem comprometer a segurança em tocadas esportivas. Mas seria bom oferecer controle eletrônico de estabilidade, hoje praticamente um padrão na categoria do carro.
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 794 km |
Distância em cidade | 482 km |
Distância em rodovia | 312 km |
Consumo médio geral | 11,3 km/l |
Consumo médio em cidade | 10,4 km/l |
Consumo médio em rodovia | 13,0 km/l |
Melhor média | 14,9 km/l |
Pior média | 7,8 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 89.990 |
Como avaliado | R$ 89.990 |
Completo | R$ 91.680 |
Preços sugeridos em 28/10/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos e opcionais
• 2008 Griffe – Alarme volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas, bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina, câmera traseira de manobras, controlador e limitador de velocidade, faróis e limpador de para-brisa automáticos, faróis e luz traseira de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, porta-luvas refrigerado, rodas de alumínio de 16 polegadas, sensores de estacionamento atrás, sistema de áudio com tela de 7 pol e integração a celular, teto envidraçado, volante com regulagem de altura e distância.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 115/118 cv a 5.750 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,1 m.kgf a 4.750/4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/60 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,159 m |
Largura | 1,739 m |
Altura | 1,583 m |
Entre-eixos | 2,542 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 355 l |
Peso em ordem de marcha | 1.248 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 185/186 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,7/12,4 s |
Consumo em cidade | 10,7/7,5 km/l |
Consumo em rodovia | 13,0/9,2 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |