Rodovias foram metade da rodagem na terceira semana, em que ele mostrou conforto e bom acerto da mecânica
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
O Peugeot 2008 Griffe rodou bastante na terceira semana do teste Um Mês ao Volante: 952 quilômetros, mais da metade em rodovia, com média geral de 7,9 km/l de álcool. Como é praxe nas avaliações longas de carros flexíveis, nessa semana trocamos de combustível, o que representa mais 3 cv ao motor de 1,6 litro.
Foram 469 km em uso urbano (com média de 7 km/l) e 483 km em uso rodoviário (9 km/l). A melhor marca foi de 11,9 km/l em 47 km com média de 53 km/h, boa parte do trecho pelas marginais Tiête e Pinheiros sem trânsito e mantendo a velocidade entre 80 e 90 km/h. Por outro lado, a pior marca foi fruto de 39 km de trânsito pesado (média de 13 km/h, ou seja, três horas de anda-para) que resultaram em meros 4,2 km/l.
O 2008 em Sorocaba, viagem para um congresso da SAE Brasil: rodar confortável, desempenho adequado e consumo razoável do motor de 1,6 litro
No uso rodoviário usamos a rodovia Castelo Branco, tanto para uma viagem a Sorocaba quanto a Tatuí, ambas no interior paulista. A primeira viagem teve média de 9,4 km/l nos 101 km de ida, com média de velocidade de 77 km/h (com trânsito prejudicado por um acidente), e de 8,6 km/l na volta com média de 81 km/h. No trajeto a Tatuí conseguimos média de 10,2 km/l em 146 km de ida, com média de velocidade de 82 km/h, e na volta apenas 8 km/l com média de 95 km/h.
O que se notou é que em velocidades mais altas o consumo é bastante afetado, sobretudo nos trechos de 120 km/h. A sexta marcha é relativamente longa, mantendo 120 km/h com cerca de 2.800 rpm, o que obriga a reduções para quinta (3.300 rpm) em trechos inclinados. O controlador de velocidade mostra boa lógica para a economia: ao selecionar 120 km/h, permite que a velocidade caia para 112-113 km/h antes de reduzir para quinta. Assim, caso a subida termine ou seja atenuada, o trecho pode ser vencido em sexta. Nota-se que o motor sofre para sustentar a velocidade nessa condição, mas acaba achando um equilíbrio e evitando reduções constantes, que afetariam tanto o consumo como o conforto.
Nas viagens o 2008 mostrou-se um carro agradável, tanto pelo acerto de suspensão quanto pelo ruído dos pneus e do vento. Mesmo o ruído do motor, mais destacado no uso urbano, não incomoda em rodovia quando usado a até 4.500 rpm. Fica claro que o motor precisa buscar rotações mais altas para obter a potência necessária, aumentada pelo arrasto aerodinâmico. Além da área frontal maior que a de um hatch, pelo teto mais alto, esse Peugeot tem maior vão livre do solo — quanto maior, mais ar passa por baixo da carroceria, região nada contínua e plana, o que prejudica a aerodinâmica. Isso tudo, alinhado a um motor não tão moderno, fez com que o consumo não fosse dos melhores.
A captação de ar para o motor: parece faltar acabamento, mas tem sua eficiência
No compartimento do motor se poderia brincar do jogo dos sete erros para achar as diferenças entre o 2008 e o Citroën C4 Cactus THP testado. Se fosse o mesmo motor, provavelmente não haveria diferença alguma. Por exemplo, a admissão de ar segue o mesmo desenho, com um duto que capta ar fresco na grade e o joga atrás do farol. Logo embaixo, a admissão do ar do motor capta ar mais fresco por haver uma espécie de divisão que isola o calor oriundo de outras partes. Apesar da impressão de faltar uma caixa para melhor acabamento, não deixa de ser eficiente.
Nas viagens o 2008 mostrou-se um carro agradável, tanto pelo acerto de suspensão quanto pelo ruído dos pneus e do vento — mesmo o ruído do motor não incomoda
Também no motor, notam-se os injetores com preaquecimento para partida a frio com álcool, que também ajudam a reconhecer que houve mistura de combustíveis — e podem ajudar no consumo com motor frio ou em baixas cargas. Aquecendo-se o álcool, em certas situações, consegue-se melhor homogeneização com o ar, o que evita trabalhar com excesso de combustível, melhorando o consumo e reduzindo a contaminação do óleo lubrificante. O sistema se comportou perfeitamente durante a troca de gasolina para álcool, sem problema em partir, falhas de operação ou perda de torque nos primeiros minutos após sair do posto.
No vão onde se aloja o ancoramento frontal do capô, vê-se que a capa externa do para-choque (a peça de plástico pintada que vemos de fora) não é encostada diretamente na longarina frontal, a alma do para-choque. Entre as duas peças há apoios de plástico com duas funções primordiais: absorver o impacto num atropelamento, ferindo menos as pernas do pedestre, e não afetar a parte estrutural do carro em pequenos impactos urbanos, o que reduz o custo de reparo.
Entre a capa do para-choque e a longarina frontal, apoios que absorvem parte do impacto
O 2008 também compartilha com o C4 Cactus um detalhe negativo: parte do calor oriundo do escapamento é transferido para a longarina traseira, entre o silenciador final e o pneu traseiro direito. Ao menos não há uma enorme longarina com formato de baú como a do Citroën, mas uma longarina coberta com plástico, que transfere menos calor para o compartimento e as bagagens. Sempre fica a preocupação sobre a temperatura que tal longarina atinge: dependendo do aço empregado, acima de 250°C podem-se afetar o tratamento térmico e sua rigidez. De qualquer forma, com análises computacionais e testes, a Peugeot — que não começou a fazer carros ontem — certamente descartou tal risco.
Também tivemos a opinião feminina da habitual colaboradora Julia Pacheco, que gostou muito da apresentação do painel de instrumentos e do conforto de suspensão nas ruas irregulares. Ela achou o espaço interno adequado, apesar do porta-malas algo pequeno, e se satisfez com o desempenho urbano. Fez uma pequena crítica ao consumo, maior que o esperado por seu porte e potência. E argumentou que, embora o carro passe boa sensação de controle, ela ficaria receosa em comprar um carro nessa faixa de preço sem controle eletrônico de estabilidade, pela maior segurança em manobra de emergência.
Na quarta e última semana o 2008 seguirá em uso urbano, para compararmos seu consumo aos de C4 Cactus e outros concorrentes. Também traremos os resultados e análises dos testes dinâmicos.
Semana anterior
Terceira semana
Distância percorrida | 952 km |
Distância em cidade | 469 km |
Distância em rodovia | 483 km |
Consumo médio geral | 7,9 km/l |
Consumo médio em cidade | 7,0 km/l |
Consumo médio em rodovia | 9,0 km/l |
Melhor média | 11,9 km/l |
Pior média | 4,2 km/l |
Dados do computador de bordo com álcool |
Desde o início
Distância percorrida | 1.958 km |
Distância em cidade | 1.162 km |
Distância em rodovia | 795 km |
Consumo médio geral | 11,1 km/l (gas.) / 7,9 km/l (álc.) |
Consumo médio em cidade | 10,4 km/l (gas.) / 7,0 km/l (álc.) |
Consumo médio em rodovia | 13,0 km/l (gas.) / 9,0 km/l (álc.) |
Melhor média | 15,6 km/l (gas.) / 11,9 km/l (álc.) |
Pior média | 7,8 km/l (gas.) / 4,2 km/l (álc.) |
Dados do computador de bordo |
Preços
Sem opcionais | R$ 89.990 |
Como avaliado | R$ 89.990 |
Completo | R$ 91.680 |
Preços sugeridos em 28/10/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos e opcionais
• 2008 Griffe – Alarme volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas, bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina, câmera traseira de manobras, controlador e limitador de velocidade, faróis e limpador de para-brisa automáticos, faróis e luz traseira de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, porta-luvas refrigerado, rodas de alumínio de 16 polegadas, sensores de estacionamento atrás, sistema de áudio com tela de 7 pol e integração a celular, teto envidraçado, volante com regulagem de altura e distância.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 115/118 cv a 5.750 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,1 m.kgf a 4.750/4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/60 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,159 m |
Largura | 1,739 m |
Altura | 1,583 m |
Entre-eixos | 2,542 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 355 l |
Peso em ordem de marcha | 1.248 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 185/186 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,7/12,4 s |
Consumo em cidade | 10,7/7,5 km/l |
Consumo em rodovia | 13,0/9,2 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |