O SUV recebe um frescor de novidade na segunda geração, que surpreende em alguns itens e deixa a desejar em outros
Texto: Kleber Nogueira – Fotos: divulgação
Quando chegou ao Brasil, em 2011, o Renault Duster causou sensação. O utilitário esporte derivado da família Logan/Sandero esbanjava robustez na aparência com os para-lamas bojudos, a frente alta e o grande vão do solo, um conjunto de apelo indiscutível para quem deseja esse tipo de carro. Além disso, trazia uma cabine espaçosa e grande compartimento de bagagem. O problema é que o interior sempre foi muito, muito simples. E agregar equipamentos e acessórios não torna refinado um carro que nasce espartano.
O lançamento do Captur, em 2017, deixava dúvidas sobre a continuidade do Duster, que parecia relegado a frotas policiais, taxistas e os adeptos da tração nas quatro rodas. Afinal, na Europa esses SUVs pertencem a marcas diferentes: o Captur é um Renault e o Duster leva, em vários mercados, o emblema da marca romena de baixo custo Dacia. Mesmo assim, os franceses decidiram fabricar em São José dos Pinhais, PR, a evolução do Duster que os europeus conheceram em 2018.
Fãs e candidatos a fãs do Duster não se decepcionarão com a nova geração da linha 2021. Sim, nova geração, apesar de manter a arquitetura básica da anterior — tanto quanto o Volkswagen Gol ao passar de “quadrado” para “bolinha”, em 1994. O que precisava de refresco, foi melhorado. As boas características que o tornaram quem é, continuam ali. A Renault garante que o Duster é 100% novo, sem peça alguma reaproveitada do anterior. Embora mantenha a plataforma B0, ela foi denominada B0 Plus, aludindo aos reforços estruturais que aumentaram em 12% a rigidez torcional e à nova arquitetura eletroeletrônica, que permitiu um acréscimo de dispositivos de segurança e entretenimento.
No desenho é claramente um Duster, mas até a inclinação do para-brisa mudou, como revela o modelo de argila exposto: antigo no lado direito, novo no esquerdo
Por fora, há muitas mudanças. Conserva-se um desenho básico que atribui identidade ao Duster desde o começo da vida do produto, mas os projetistas ajustaram detalhes e trouxeram harmonia e atualidade aos traços: linha de cintura levemente mais elevada, o fim do controverso arco ascendente nas portas (herdado do Sandero até 2014, que lhe cedia as peças dianteiras), para-lamas menos estufados e base de para-brisa mais para frente, dando um caimento menos vertical à região.
Outros detalhes são mais polêmicos, como as lanternas que parecem inspiradas nas do Ford Galaxie 500 (ou de Jeep Renegade rotacionadas…) e um aplique no para-lama dianteiro que lembra um snorkel, aquele duto para captar ar do alto para o motor, usado em jipes que atravessam rios. Para o público-alvo do produto, isso até que garante um bom papo de bar. Ao vivo, o resultado agrada, em especial quando se vê as versões velha e nova lado a lado — ou em cada lado do mesmo veículo, como no modelo de argila que a Renault mostrou à imprensa para destacar as novidades.
A versão de topo Iconic traz inédita opção de rodas de 17 polegadas. É oferecido um pacote opcional Outsider que acrescenta apliques plásticos nas portas, nos para-lamas, saias inferiores e no para-choque dianteiro. Polêmicos também: a nosso ver, atrapalham a harmonia do desenho e, de quebra, as saias sujam a barra da calça quando se deixa o carro, como acontecia antes em todas as versões.
Interior está mais refinado, ganhou equipamentos e uma moderna central de áudio; bancos foram revistos e há alerta de pontos cegos; amplo porta-malas permanece
Quando abre a porta, aí sim o candidato a fã pensa “finalmente!”. A Renault melhorou bastante a cabine, tornando-o mais próxima (talvez ainda não páreo) aos competidores do segmento. O painel tem linhas retas, mais atuais, que transmitem solidez. As portas mostram puxadores desenhados com mais capricho e os bancos foram redesenhados, com novos tecidos e costuras e mais apoio lateral, embora o assento tenha ficado demasiado firme. É o fim das esquisitices do modelo anterior, como botões em locais inesperados. Agora, tudo está em seu devido lugar — menos o estepe, abaixo da carroceria, posição que poucos apreciam.
A nova central de áudio com tela de oito polegadas, boa, rápida e competente, é semelhante à do novo Clio europeu e traz a desejada integração a celular para Android e Apple (adotada há algum tempo no modelo anterior), além de certa ostentação, até então impensada para o espartano Duster. Ele, quem diria, pode ostentar feliz a marca de ser o único Renault nacional hoje a ter ajuste de altura e distância no volante, que só o Mégane ofereceu. O volante traz os comandos básicos do computador de bordo e do controle de velocidade, mas não do áudio, que continua pelo comando satélite.
Em movimento, é o Duster de sempre — e isso não é ruim: apesar do desempenho modesto, o acerto atende no cotidiano e ele continua um engolidor de lombadas
Inexplicável foi manter apenas bolsas infláveis frontais, em todas as versões, sendo que Sandero, Logan e até Kwid trazem as laterais. Também não há como entender a Renault manter o tanquinho de partida com gasolina, tanto tempo depois de se espalhar pela indústria, até nos carros mais baratos, o preaquecimento de álcool para partida a frio. Ao menos, a mudança técnica mais esperada aconteceu: a direção ganha assistência elétrica, mais eficiente em termos energéticos que a eletro-hidráulica, além de dispensar fluido.
O conjunto motriz é o mesmo da edição anterior, com o motor SCE 1,6-litro associado a transmissão manual de cinco marchas ou à automática de variação contínua (CVT), que simula seis marchas. A Renault não pretende voltar a oferecer o motor de 2,0 litros, de pouca aceitação, ou a tração nas quatro rodas, que exigiria novos desenvolvimentos difíceis de amortizar.
Rodas de 17 pol e direção elétrica são novidades técnicas; motor SCE de 1,6 litro e até 120 cv permanece, assim como o anacrônico tanque auxiliar para partida a frio
Ao volante do Duster 2021
Nossa breve avaliação no lançamento em Foz do Iguaçu, no Paraná, foi feita na versão Iconic em cidade, rodovia de baixa velocidade e estrada de terra batida. O acerto atende no cotidiano, mas o Duster é um carro pesado e o motor sofre para atender ao pé direito. As reações são um tanto pastosas, mesmo que os números de desempenho não estejam distantes dos concorrentes diretos.
Em movimento, o carro é o Duster de sempre — e isso não é ruim. Molas e amortecedores foram recalibrados, mas ele continua um engolidor de lombadas e imperfeições. O rodar fica levemente mais áspero na versão com as rodas de 17 pol, nada que incomode. A direção mais leve em manobras trouxe mais conforto, embora seja um tanto desmultiplicada, lenta. Ela transmite menos as imperfeições, algo crítico no Captur e no antigo Duster, e em terra batida o SUV atende muito bem. A altura do solo continua a garantir tranquilidade e o controle de estabilidade entra em ação sempre que o motorista se sente mais “saidinho”.
Em suma, o Renault Duster está melhor. Merece um novo motor — que parece estar encaminhado para breve, com direito a turbo. Mas ainda é o bom Duster que os fãs, e candidatos, conhecem e desejam.
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Versões, preços e equipamentos
• Duster Zen manual (R$ 71.790) e Zen CVT X-Tronic (R$ 77.790) – Alarme perimétrico, ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro bipartido, computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção elétrica, faróis com luzes de posição em leds, fixação Isofix para cadeira infantil, rádio, rodas de aço de 16 pol. Opcionais: central de áudio Easy Link, faróis de neblina e rodas de alumínio de 16 pol.
• Duster Intense CVT X-Tronic (R$ 83.490) – Como o Zen CVT mais ar-condicionado automático, barras de teto e grade dianteira e cromadas, central de áudio Easy Link, controlador e limitador de velocidade, controle elétrico de vidros com função um-toque, espelhos nos para-sóis, faróis de neblina, indicador de temperatura externa, luz de cortesia no porta-luvas e porta-malas, rodas de alumínio de 16 pol, sensor de estacionamento e câmera traseiros, volante de couro. Opcional: bancos de couro.
• Duster Iconic CVT X- Tronic (R$ 87.490) – Como o Intense CVT mais alerta de ponto cego, apoio de braço, chave presencial para acesso e partida, faróis automáticos, quatro câmeras externas, rodas de alumínio de 17 pol.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 78 x 83,6 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 118/120 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,2 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, simulação de 6 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 215/60 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,376 m |
Largura | 1,832 m |
Altura | 1,693 m |
Entre-eixos | 2,673 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 475 l |
Peso em ordem de marcha | 1.279 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 172/173 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,3/12,4 s |
Consumo em cidade | 10,7/7,2 km/l |
Consumo em rodovia | 11,1/7,8 km/l |
Dados do fabricante para versão Iconic; consumo conforme padrões do Inmetro |