Espaço interno, quatro portas e motor de 2,0 litros são seus trunfos sobre Strada e Saveiro; desempenho da versão 1,6 não satisfaz
Avaliação: Edison Ragassi – Texto: E. Ragassi e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Até a reabertura do mercado nacional aos carros importados, em 1990, os brasileiros conheciam picapes de dois tamanhos: pequeno, as derivadas de automóveis com estrutura monobloco (na época, Chevrolet Chevy 500, Fiat Fiorino, Ford Pampa e Volkswagen Saveiro), e grande, as de padrão norte-americano com carroceria sobre chassi (então, Chevrolet Série 10/20 e Ford F-1000). Foi com marcas japonesas como Mazda, Mitsubishi, Nissan e Toyota, seguidas por Chevrolet S-10 e Ford Ranger, que conhecemos as picapes de médio porte, também com chassi separado.
Depois de 25 anos, o tradicional tamanho grande está quase extinto por aqui (restou apenas a Ram 2500) e as picapes médias cresceram para ocupar seu espaço, o que abriu lugar para um segmento intermediário. Essa classe, a que se pode chamar de médio-pequena, é inaugurada pela Renault com a Duster Oroch (pronuncia-se como se não houvesse o “h”) e terá a companhia da Fiat Toro, prevista para o começo do próximo ano, ambas com monobloco derivado de utilitários esporte — o Duster no caso da marca francesa, o Jeep Renegade no caso da italiana.
Pouco maior que Strada e Saveiro, a Oroch é um Duster até as portas traseiras; dali em diante mede 36 cm a mais em comprimento
Primeira picape da marca no Brasil, embora não em âmbito mundial (veja quadro abaixo), a Oroch chega ao mercado em duas versões de acabamento, Expression e Dynamique (veja os equipamentos e preços), e com dois motores já conhecidos do Duster, associados por enquanto a câmbios manuais e tração dianteira. As opções de caixa automática e tração nas quatro rodas estão nos planos para uma segunda fase, talvez no próximo ano. Motor a diesel, previsto para a Toro, não deve vir: implicaria aumentar a capacidade de carga em 50% para pelo menos 1.000 kg.
A Renault foi além e adotou suspensão traseira independente multibraço em toda a linha: a Oroch é a primeira picape nacional com tal solução
Tanto pelo tamanho quanto pela faixa de preço, a picape da Renault ocupará um espaço pouco acima das pequenas Fiat Strada e VW Saveiro — as únicas da classe com opção de cabine dupla, com três portas na primeira e apenas duas na segunda —, mas bem abaixo de médias como Chevrolet S10 e Toyota Hilux (veja tabela comparativa abaixo). Comparada ao SUV de que se originou, a Oroch mede 36 centímetros a mais em comprimento (4,69 metros) e 15 cm a mais na distância entre eixos (2,83 m). A capacidade volumétrica da caçamba (683 litros) e a carga útil (650 kg) são similares às da Strada.
A ideia por trás da Oroch parece simples: retira-se a parte traseira da carroceria do Duster, substituída por uma caçamba, e aumenta-se a distância entre eixos para ampliar o espaço para carga. Mas a Renault foi além, tomando medidas como a adoção de suspensão traseira independente multibraço em toda a linha — no SUV, apenas a versão 4WD tem esse conceito no lugar do eixo de torção —, o que faz dela a primeira picape nacional com tal solução. Assoalho e parte traseira da cabine receberam reforços estruturais em relação aos do modelo de origem e os pneus de igual medida são mais reforçados, segundo a fábrica. O vão livre do solo ficou em 206 mm.
Tudo similar ao Duster por dentro, mas o banco traseiro fica pouco mais avançado; o passageiro central dispõe de cinto de três pontos
O desenho é igual ao do Duster até as portas traseiras, após as quais surge o alongamento entre eixos, disfarçado pela moldura plástica nas caixas de roda (o adereço no para-choque dianteiro com faróis auxiliares é acessório). Os para-lamas traseiros largos terminam em lanternas inéditas. A tampa da caçamba, que suporta até 80 kg quando aberta, é trancada por chave e não traz a placa de licença, o que permite instalar um extensor em 60 cm oferecido como acessório. O estepe fica sob a caçamba, com acesso que requer uso da chave.
Também por dentro a Oroch repete o utilitário esporte, como no painel de instrumentos, painéis de portas e bancos, mas o de trás foi posicionado mais à frente para favorecer o espaço para carga. Encosto de cabeça e cinto de três pontos também para o passageiro central (o segundo item não equipa o próprio Duster) e amplas portas com vidros descendentes com controles elétricos diferenciam a picape Renault das pequenas de cabine dupla.
Os motores de 1,6 e 2,0 litros trazem as revisões lançadas no Duster 2016, que favoreceram o torque em baixa rotação e aumentaram a potência do segundo. Os câmbios manuais, de cinco marchas para o 1,6 e de seis marchas no 2,0, também vieram do utilitário esporte. No cinco-marchas, quarta e quinta estão mais curtas (8% no caso desta última) e o diferencial é o mesmo, enquanto no seis-marchas as relações repetem as do Duster de tração dianteira, mas com diferencial encurtado em 7,5%, o que afeta todas elas. À velocidade de 120 km/h na última marcha, o motor 1,6 gira a 3.750 rpm, e o 2,0-litros, a 3.150 rpm (calculadas).
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Um degrau acima
De um lado, as picapes pequenas que oferecem cabine dupla; de outro, duas representantes do segmento de médias; no centro, a Duster Oroch, que vem se colocar como opção intermediária. A comparação dos principais dados revela que a novidade da Renault fica um degrau acima das pequenas em termos de preço, tamanho, peso, volume de caçamba, cilindrada e potência, mas não supera a Strada em capacidade de carga ou volume útil do compartimento.
Fiat Strada Adventure | VW Saveiro Cross | Renault Duster Oroch Dynamique | Chevrolet S10 Advantage | Toyota Hilux SR | |
Preço básico | R$ 67.110 | R$ 68.290 | R$ 70.790 | R$ 81.900 | R$ 104.750 |
Comprimento | 4,47 m | 4,51 m | 4,69 m | 5,35 m | 5,26 m |
Largura | 1,74 m | 1,73 m | 1,82 m | 1,88 m | 1,84 m |
Entre-eixos | 2,75 m | 2,75 m | 2,83 m | 3,10 m | 3,09 m |
Caçamba | 680 l | 580 l | 683 l | 1.061 kg | ND |
Capacidade de carga | 650 kg | 607 kg | 650 kg | 944 kg | 775 kg |
Peso | 1.258 kg | 1.133 kg | 1.346 kg | 1.806 kg | 1.685 kg |
Cilindrada | 1.747 cm³ | 1.598 cm³ | 1.998 cm³ | 2.405 cm³ | 2.694 cm³ |
Potência (gas./álc.) | 130/132 cv | 110/120 cv | 143/148 cv | 141/147 cv | 158/163 cv |
Torque (gas./álc.) | 18,4/18,9 m.kgf | 15,8/16,8 m.kgf | 20,2/20,9 m.kgf | 22,3/24,1 m.kgf | 25,0 m.kgf |
Câmbio e marchas | manual, 5 | manual, 5 | manual, 6 | manual, 5 | autom., 4 |
Tração | dianteira | dianteira | dianteira | traseira | traseira |
Dados dos fabricantes para versões de cabine dupla com motor flexível; ND = não disponível |
Primeira picape? Só no Brasil
“A primeira picape da história da Renault” é como o fabricante anuncia a Oroch. No Brasil, certamente, mas não lá fora. Entre 1950 e 1957 a marca francesa produziu a Colorale (à esquerda), derivada do sedã médio de mesmo nome, com motores de 2,0 e 2,4 litros (ambos de quatro cilindros em linha), tração traseira e até versão com tração nas quatro rodas.
Mais recente é a Logan Pickup, projeto da marca romena Dacia a partir do sedã de primeira geração. Foi feita entre 2007 e 2012 e ganhou até o logotipo Nissan ao ser fabricada e vendida como NP 200 na África do Sul. Contudo, apesar de cotada para produção no Brasil alguns anos atrás, não foi oferecida como um produto Renault — e por isso não entra na conta.
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