Revestimento em couro creme vem de série no Territory Titanium, que esbanja espaço para pernas no banco traseiro; porta-malas de 348 litros é ponto negativo
Pode-se perguntar se a origem chinesa do Territory transparece em algum lugar que não a etiqueta de fabricação sob o capô. A resposta é não: tudo normal e correto em acionamento e operação, sem arranjos estranhos ou traduções incorretas, e todas as informações das telas em português brasileiro. O SUV demonstra construção e acabamento cuidadosos, incluindo a carroceria com vãos estreitos e bem regulares entre seus painéis — por esse item, talvez fosse bom que todos os Fords viessem da China. E o cofre traz coberturas plásticas para o motor, a bateria e os reservatórios de fluidos, cuidado desconhecido na marca.
O Territory oferece um interior espaçoso para a cabeça e os ombros de todos os ocupantes e, em especial, para as pernas de quem viaja atrás — cujo assento de forma arredondada, porém, não apoia muito bem as coxas. O encosto traseiro admite duas posições, uma mais reclinada. Decepciona a capacidade de bagagem de 348 litros, típica de hatch médio, sob a qual fica o estepe temporário. Embora o principal rival Compass não ofereça muito mais (411 litros), há no segmento opções generosas como os 686 litros do Tiguan (com cinco lugares em uso) e os 520 litros do 3008.
Ciclo Miller e transmissão CVT
O motor do Territory é exclusivo do modelo por aqui: um quatro-cilindros turbo (sem relação com o de três do Fiesta ST europeu) que dispõe de bons elementos como injeção direta, variação do tempo de abertura das válvulas e acionamento dos comandos por meio de corrente. Contudo, tanto pela cilindrada modesta quanto por operar no ciclo Miller para maior eficiência, os índices de potência (150 cv) e torque (22,9 m.kgf) são apenas razoáveis. Também de 1,5 litro, o Honda CR-V obtém 190 cv e o Tiguan alcança 25,5 m.kgf com motor 1,4 turbo.
Motor turbo de 150 cv e caixa CVT trazem resposta ágil ao Territory, apesar da 1,6 tonelada, mas em altas rotações o desempenho é apenas adequado
Com um peso considerável de 1.632 kg, o novo Ford anuncia desempenho apenas regular, com aceleração de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos pelo dado de fábrica. Nosso teste usando estol na saída (pode ser que a fábrica não use esse método) obteve melhor marca, 10,5 s, à frente de Compass Limited e Sportage EX (12,1 s), mas atrás de 3008 (9,4 s) e Tiguan Comfortline (9,9 s). Sem estol nota-se ligeiro retardo até a turbina encher e o carro ganhar ímpeto.
No uso urbano a sensação é de agilidade, com bom isolamento de ruídos e vibrações, mas a potência modesta aparece em subida de serra ou ultrapassagem a pleno
A transmissão CVT, a primeira em um Ford não híbrido por aqui (apenas o Fusion Hybrid usava uma, mas de concepção diferente), usa conversor de torque para a ligação ao motor, receita para obter agilidade nas saídas. No canal de seleção manual à direita ocorre simulação de oito marchas, com mudanças para cima na faixa 5.000-5.400 rpm ao acelerar a pleno, mas não redução, mesmo que se pise no acelerador até o fim. Em D a operação é típica de CVT: sob aceleração total o giro cresce até 5.400 e estaciona, o que traz o melhor desempenho. O programa Sport, que também afeta acelerador e assistência de direção, não influi nessa definição.
No uso urbano a sensação ao acelerar o Territory é de agilidade, pois o acelerador promove grande abertura da borboleta e a CVT mantém certas rotações, salvo quando se anda com muita parcimônia. Mesmo em velocidade constante em rodovia, a caixa encurta a relação em subidas e os giros podem subir de 1.800 para 3.500 rpm para manter 120 km/h, por exemplo. A potência modesta aparece, porém, em subida de serra ou uma ultrapassagem a pleno. Boa nota vai para o isolamento de ruídos e vibrações: mesmo com motor um pouco áspero e ruidoso em altas rotações, esses incômodos ficam de fora.
Mesmo com a suspensão (multibraço na traseira) recalibrada pela Ford, o comportamento não tem a identidade da marca; faróis de leds são muito eficientes
O SUV mostrou também consumo adequado, com 12,3 km/l de gasolina no trajeto urbano leve e 11,6 km/l no rodoviário. O 3008 foi mais econômico (13,6 e 12,3 km/l) e o Tiguan fez 11,9 e 11,8 km/l, na mesma ordem. O Compass, sem turbo ou injeção direta, conseguiu apenas 10,8 e 11,1 km/l na versão Limited. O tanque de apenas 52 litros é que limita um pouco a autonomia.
O restante do conjunto mecânico do Territory é típico do segmento, caso da suspensão traseira multibraço, e até os pneus são de marca familiar, Goodyear em nosso carro — chineses, mas com engenharia europeia, segundo inscrição nos flancos. A mão da Ford na calibração para o Brasil incluiu, além de pneus mais silenciosos, novos parâmetros para buchas e amortecedores, provavelmente com o fim de melhorar o comportamento dinâmico, pois os carros chineses costumam ter suspensão macia demais para nosso padrão. E como ficou?
Ficou bom, mas não ficou um Ford. O rodar mostra conforto de modo geral, com boa absorção de movimentos lentos e aptidão para transpor lombadas. Já impactos curtos e rápidos são mais transmitidos à cabine do que o habitual na marca, possível indicação de buchas muito firmes. O comportamento em curvas está adequado à proposta, com subesterço aceitável e traseira que não quer sair nem mesmo ao se cortar o acelerador — boa definição para um carro familiar. Só não espere a vivacidade de comportamento, o elevado controle pelos amortecedores e a direção precisa que se tem desde um Ecosport até um Edge: nesse aspecto o Territory está mais para um SUV sul-coreano que para um Ford.
Desempenho pode depor contra o Territory na faixa de preço da versão superior, mas não a origem chinesa: SUV revela boa qualidade de acabamento e construção
No uso pacato a direção revela assistência correta e só incomoda pelo diâmetro de giro, maior que o esperado por seu tamanho (o Equinox sofre do mesmo mal). Já os freios merecem revisão: a sensação é de curso longo de pedal e pouco poder de frenagem no uso moderado, requerendo breve adaptação pelo motorista. De resto, o Territory tem ótimos faróis, boa visibilidade geral (com prejuízo mediano pelas colunas dianteiras) e alta dotação de equipamentos de segurança ativa e passiva — indica até a temperatura dos pneus, além de sua pressão.
Se gostamos do Territory? Sim: é elegante e bem-acabado por dentro, espaçoso, muito bem-equipado em conforto e assistências ao motorista e comporta-se bem como um carro familiar. Como limitações, tem pouco espaço para bagagem e desempenho apenas adequado, em uma faixa de preço que oferece opções potentes como o Equinox de 2,0 litros e 262 cv. Além do aguardado preenchimento da lacuna na linha de SUVs da marca, sua melhor notícia pode ser que a origem em nada desabona o novo modelo da Ford.
A julgar pelo contato inicial com o Territory, os chineses vêm mesmo para ficar.
Mais Avaliações
Desempenho e consumo
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 10,5 s |
0 a 120 km/h | 14,9 s |
0 a 400 m | 17,5 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h | 6,6 s |
60 a 120 km/h | 10,9 s |
80 a 120 km/h | 7,8 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 12,3 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 6,2 km/l |
Trajeto em rodovia | 11,6 km/l |
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 79 x 76 mm |
Cilindrada | 1.490 cm³ |
Taxa de compressão | 11,4:1 |
Alimentação | injeção direta, turbo, resfriador de ar |
Potência máxima | 150 cv a 5.300 rpm |
Torque máximo | 22,9 m.kgf de 1.500 a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, simulação de 8 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 18 pol |
Pneus | 235/50 R 18 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,58 m |
Largura | 1,936 m |
Altura | 1,674 m |
Entre-eixos | 2,716 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 52 l |
Compartimento de bagagem | 348 l |
Peso em ordem de marcha | 1.632 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 180 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,8 s |
Consumo em cidade | 9,2 km/l |
Consumo em rodovia | 10,0 km/l |
Dados do fabricante; consumo de gasolina conforme padrões do Inmetro |