Derivado da picape Hilux mostra se ainda há razão para comprar um utilitário esporte com chassi e eixo rígido
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Em um mercado repleto de utilitários esporte com rodar próximo ao de um automóvel, ainda existe espaço para um SUV “dos velhos tempos”, com carroceria sobre chassi e eixo traseiro rígido?
Algumas marcas apostam que sim, como a Chevrolet com o Trailblazer, a Mitsubishi com o Pajero Sport e a Toyota com o SW4. Os três deixam de lado a construção monobloco e a suspensão traseira independente, tão comuns hoje em SUVs médios e grandes, para manter a arquitetura que esses veículos usavam há 30 ou 40 anos. Há razões para isso, como a grande resistência a condições severas de uso — o que lhes garante um público fiel em algumas regiões do Brasil, longe dos grandes centros.
E vale a pena ter um SUV desse tipo em um cenário mais urbano? Essa é outra questão, que buscamos responder com a avaliação 10 Chances do SW4 em versão de entrada, a SR com tração simples, cinco lugares e motor flexível de 2,7 litros. Ao preço sugerido de R$ 172 mil, ele faz merecer sua garagem?
O SW4 é dono de um estilo imponente e com detalhes ousados; a versão mais simples, que custa R$ 172 mil, vem com rodas de 17 pol e os faróis não usam leds
Estilo
A atual geração do SW4, lançada no Brasil em 2016, mostra um bom trabalho de desenho. Tem detalhes angulosos e até ousados em um conjunto que transmite robustez. 1 ponto
Acabamento e conveniência
Para uma versão de entrada, o aspecto interno agrada: plásticos rígidos de bom aspecto, algumas seções suaves ao toque, bancos com tecido marrom escuro de boa qualidade. Itens de conveniência, porém, não são muitos: vale citar alarme volumétrico, alerta específico de qual porta está mal fechada, aviso para uso do cinto pelos cinco ocupantes (com sensor de peso e nas fivelas de cada um), câmera de manobras e sensores na traseira, faixa degradê no para-brisa, faróis automáticos (função que não pode ser desligada, mas deveria), para-sóis com iluminação, porta-luvas refrigerado, rebatimento elétrico dos retrovisores, bom espaço para objetos e excelente distribuição de ar-condicionado por meio de difusores no teto — o ar frio deve ser sempre dirigido à parte superior da cabine para uma refrigeração homogênea.
A central de áudio tem tela de 7 polegadas, entradas USB e auxiliar, navegador integrado, TV digital e qualidade sonora muito boa, mas é lenta para reagir aos comandos e só espelha telefone celular por um aplicativo da Toyota — seria melhor atender aos consagrados padrões Android Auto e Apple Car Play. Outros pontos melhoráveis: o ar-condicionado não é automático, função um-toque existe só no controle do vidro do motorista, o capô é pesado ao extremo, e sempre se estranha o visual antiquado do relógio digital e do comando do controlador de velocidade. 0,5 ponto
Interior do SUV tem bom aspecto, com bancos de tecido marrom, e ótimo espaço tanto na frente quanto atrás, onde o encosto pode ser reclinada
Posto do motorista
O SW4 dispõe de banco bem projetado, bastante espaço na parte dianteira e ajuste do volante em altura e distância — este poderia ter maior alcance. Os instrumentos simples, de leitura difícil sob sol intenso, incluem computador de bordo de medição única (que informa consumo em litros por 100 km, um ponto a ser revisto). A visibilidade dianteira agrada, com colunas estreitas, mas as traseiras criam grandes pontos cegos. Ele tem bons faróis de duplo refletor com ajuste elétrico do facho, luzes diurnas (halógenas), luzes de neblina à frente e atrás, repetidores laterais das luzes de direção e retrovisores amplos. 0,5 ponto
Com motor flexível de 2,7 litros e até 163 cv, o peso de 1,8 tonelada se reflete em desempenho modesto: ganhar desenvoltura requer giros e paciência
Espaço
Uma das qualidades esperadas de um carro de 4,8 metros de comprimento é espaço interno. O SW4 mostra-se amplo para pernas e cabeças à frente e atrás e tem boa largura para três pessoas, embora o passageiro central não se acomode bem. O encosto traseiro pode ser regulado em inclinação. Ponto crítico: o assoalho alto deixa as pernas em má posição. 1 ponto
Porta-malas
Sobra espaço para bagagem nesse SUV, embora a capacidade não seja divulgada. O vão de acesso é bom, mas requer levantar mais a carga que em SUVs mais baixos. Ele tem banco traseiro bipartido 60:40 e estepe de tamanho integral (com roda de aço) sob a carroceria. 1 ponto
Central de áudio tem navegador, mas conexão a celular não usa padrões usuais; câmera traseira de manobras, instrumentos simples e boa solução de saídas de ar no teto
Motor e desempenho
O motor flexível dessa versão tem 2,7 litros e quatro válvulas por cilindro, com variação de tempo de abertura de todas elas. Apesar dos bons índices de potência (159 cv com gasolina, 163 com álcool) e torque (25 m.kgf), o peso de 1,8 tonelada se reflete em desempenho modesto, como ao acelerar de 0 a 100 km/h em 13,2 segundos. No uso urbano ele acompanha bem o tráfego em baixa rotação, mas ganhar desenvoltura requer giros e paciência. Apesar de se ouvir certa aspereza do motor, pouca vibração chega à cabine. Existe seletor entre três modos de condução. A transmissão automática de seis marchas opera bem e oferece mudanças manuais via alavanca. Na versão avaliada a tração é apenas traseira. 0,5 ponto
Consumo
Peso e aerodinâmica críticos fazem do SW4 um “beberrão”, apesar do motor atualizado: fez 9 km/l de gasolina no trajeto urbano leve e 8,5 no rodoviário, as piores marcas entre os SUVs testados até hoje (veja testes de outros modelos). Foi comum a caixa trazer para quarta marcha em subidas da rodovia para manter 120 km/h, o que contribui para o mau resultado. 0 ponto