Agora com outra transmissão, o “aventureiro” segue com grande agilidade e certas limitações em conforto
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
Nosso teste Um Mês ao Volante com o Ford Ka Freestyle chega à terceira semana com uma mudança: como antecipamos, a fábrica trocou a versão de transmissão automática, de cor marrom Trancoso, pela manual com os mesmos itens e cor prata Dublin (ambas metálicas). Foi bom, pois podemos comparar o comportamento de cada transmissão.
A primeira impressão da caixa manual de cinco marchas agrada, com acionamento bastante preciso e suave. Contudo, o pedal de embreagem impede que o motorista de maior estatura estique a perna esquerda tanto para baixo do pedal como ao lado dele, onde há um apoio de pé. Como tem sido comum em carros manuais, tal pedal conta com sensor de posição, que tem como função informar a central quando há troca de marchas ou saída da imobilidade.
A lógica do sistema da Ford foi a melhor vista até agora. Ao se acionar a embreagem, a rotação sai de marcha-lenta para cerca de 1.200 rpm. Quando se libera o pedal, o sistema aciona o auxílio de partida, evitando que o motor apague ou passe a impressão de falta de força. O sistema também opera bem com o assistente de saída em rampa. Com progressão do pedal do acelerador bem acertada, consegue-se dosar o comportamento do motor em baixas velocidades e rotações, bem como obter sensação de agilidade no dia a dia.
Foi-se o automático marrom, chegou o manual prata, mas o motor suave e de bom desempenho — um três-cilindros de 1,5 litro e até 136 cv — permanece
Ainda, ao passar para uma marcha mais alta (como da 2ª para 3ª), o sistema reduz o giro do motor para a exata rotação que ele terá na próxima marcha, deixando a troca suave e isenta de trancos, mesmo que o motorista não seja habilidoso — o contrário do Fiat Argo 1,35, que além de não “casar” os giros tem acelerador muito agressivo. O escalonamento da caixa da Ford é típico de carros europeus, pois favorece o consumo no ciclo NEDC usado por lá: três primeiras marchas algo longas, 4ª e 5ª um pouco curtas. Por um lado, 2ª e 3ª longas favorecem o consumo em cidade, mas tiram um pouco da agilidade do carro — já as marchas mais altas, usadas em rodovia, deixam a impressão de rotação acima do ideal.
O conjunto do Freestyle, agora com mudanças de marcha à escolha do motorista, tem-se mostrado muito ágil em termos de motor e transmissão, além de a suspensão ser bem adequada a nossas ruas de pavimentação precária. Tivemos uma emergência médica na semana e precisamos ir com urgência até o hospital mais próximo, ocasião em que o Kazinho nos impressionou. Foi muito rápido nas saídas de curvas, esquinas e lombadas, além de “engolir” com boa estabilidade as valetas, remendos e ruas desniveladas do trajeto de 4 km. Daria um belo carro compacto para perseguições policiais!
Voltando ao uso civilizado, notamos boa reserva de torque mesmo em rotações baixas, na casa de 1.500 rpm, o que permite condução econômica com giros moderados. O motor praticamente nunca “arrasta-se”, pois a central não espera o giro cair para perto da marcha-lenta para começar a acelerá-lo. Por exemplo, ao encarar uma subida em 2ª marcha, se o motorista parar de acelerar, a central leva o motor de forma progressiva e sutil até por volta de 1.300 rpm, o que evita vibrações. Se o motorista deixar a velocidade cair, ele mantém boa suavidade e força mesmo a 1.000 rpm. Parece difícil “matar” o motor por não reduzir a marcha, o que agrada a motoristas iniciantes.
O motor bem disposto, associado à suspensão competente e à ótima estabilidade, fez do Freestyle o carro ideal para atender a uma emergência médica
O uso contínuo do Ka tem revelado também alguns pontos negativos. O espaço para bagagem é um tanto limitado (257 litros, menor até que os dos mais curtos Renault Kwid e Volkswagen Up) e há restrições a ampliá-lo pelo rebatimento do banco traseiro. O assento não se rebate e obriga o encosto a ficar apoiado nele, o que cria um degrau em relação ao porta-malas e atrapalha para cargas maiores. Além disso, ao rebater o encosto traseiro e reclinar o banco do passageiro dianteiro, não se cria uma união plana entre os dois. Com isso, objetos longos como uma prancha de surfe ficam mal posicionados: o bico da prancha fica apontado para o teto, em vez de se apoiar no assoalho dianteiro.
Em viagem urgente ao hospital, o Ka foi muito rápido nas saídas de curvas, esquinas e lombadas: daria um belo carro compacto para perseguições policiais
Outra falha é a repartição do encosto traseiro (60:40) ao contrário do que deveria ser: o lado mais largo (60%) está do lado do motorista. Assim, deitar o lado direito menor não é suficiente para colocar uma prancha ou objeto tão largo e longo quanto ela, como um móvel desmontado numa caixa comprida. Nesse caso acaba-se por rebater ambos os lados, o que torna o carro para uma pessoa apenas.
O sistema de ar-condicionado tem-se provado bem potente e com soluções bem pensadas. Entre elas, ao se direcionar a ventilação para o para-brisa, ele liga automaticamente o compressor, desativa a recirculação e não permite que seja reativada. O objetivo é desembaçar melhor o vidro e evitar o uso indevido dos comandos, mas há um senão: ao rodar atrás de um caminhão soltando fumaça preta, não se consegue evitar a entrada na cabine sem redirecionar o ar. Outro ponto: o sistema de ventilação natural quase não admite ar para o interior. Isso indica que falta pressão positiva entre o capô e o para-brisa, onde fica a captação de ar para o interior. Por um lado garante melhor aerodinâmica, mas prejudica a renovação de ar na cabine, a menos que se ligue a ventilação ou se abram os vidros.
Painel e console vêm em marrom mesmo com outra cor externa; caixa manual tem comando bem leve e preciso; divisão do banco traseiro é incorreta para objetos mais longos
Também encontramos algo um tanto curioso nas duas versões: um duende bebedor de combustível em diversas vezes ao ligar a ignição do carro. Brincadeira à parte, notamos a seguinte condição: o computador de bordo marcava média de 10,3 km/l. Ao desligar o motor e ligar apenas a ignição, o marcador foi para 10,1 km/l. Repetimos o ciclo de liga-desliga (confira vídeo no Instagram do autor), até que o computador parou de baixar o consumo quando mostrava 8,5 km/l — quase 2 km/l a menos que a marcação inicial, sem ao menos dar partida no carro.
Nessa primeira semana o Ka manual rodou 294 km em São Paulo, SP, com consumo médio de 12 km/l de gasolina. A melhor média foi no trajeto costumeiro, feito quase todo pelas Marginais dos Rios Tietê e Pinheiros: 14 km/l. A pior foi registrada em trecho curto e congestionado, 9,5 km/l — não foi considerado o “rali de velocidade” até o hospital por ser uma condição atípica.
O Ka Freestyle parte para a última semana de teste, na qual passaremos a usar álcool para conferir como ficam consumo e comportamento. Em breve ele passará também pela análise técnica em oficina. Não perca.
Semana anterior
Terceira semana
Distância percorrida | 294 km |
Distância em cidade | 294 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 12,0 km/l |
Consumo médio em cidade | 12,0 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 14,0 km/l |
Pior média | 9,5 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 63.990 |
Como avaliado | R$ 63.990 |
Completo | R$ 65.340 |
Preços sugeridos em 11/10/18 com caixa manual |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 84 x 90 mm |
Cilindrada | 1.497 cm³ |
Taxa de compressão | 12:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 128/136 cv a 6.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,3 m.kgf de 3.500 a 5.000 rpm/15,3 m.kgf de 3.000 a 6.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6 x 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,954 m |
Largura | 1,695 m |
Altura | 1,57 m |
Entre-eixos | 2,49 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 52 l |
Compartimento de bagagem | 257 l |
Peso em ordem de marcha | 1.086 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND |
Consumo em cidade | 11,9/8,4 km/l |
Consumo em rodovia | 14,4/9,9 km/l |
Dados do fabricante para caixa manual; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |