Novas opções de câmbio e carroceria ampliam oferta do
menor carro da marca: saiba como anda a versão assim equipada
Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação
Dois meses após sua apresentação ao mercado, a Volkswagen amplia a gama de opções do pequeno Up com duas novidades: a carroceria de três portas (prevista desde o início, até com preços divulgados, mas só agora mostrada) e o câmbio manual automatizado monoembreagem I-Motion. Com isso, são oito versões do compacto de três cilindros, que cobrem a faixa de preços de R$ 26.900 a mais de R$ 45.000 (veja os valores de cada versão).
A título de curiosidade, o desenho original do Up — criado pelo brasileiro Marco Antônio Pavone e provado pela matriz na Alemanha — era com três portas. Segundo o departamento de Estilo da VW, essa versão “representa a essência” do automóvel, mas a opção com cinco é uma demanda do mercado. O trabalho estético foi bom, com o detalhe interessante de ocultar a coluna central atrás do vidro para sensação de continuidade, embora haja um ligeiro degrau na linha de base das janelas por existir guarnição plástica apenas na das portas.
Maior que o europeu, assim como o cinco-portas, o Up de três portas oculta
a coluna central atrás do vidro; bancos avançam para facilitar o acesso
Uma diferença para o Up vendido na Europa, válida tanto para uma versão quanto para outra, é a traseira 65 milímetros mais longa no modelo brasileiro para abrigar um porta-malas maior, o que levou a janelas traseiras também maiores (com vidros fixos). A explicação é que aqui muitos consumidores de carros pequenos também os usam em viagem com a família, enquanto na Europa esse é essencialmente um veículo urbano. A VW não informa sua previsão de percentual de vendas para cada opção por “questões estratégicas”.
O automatizado monoembreagem é uma forma
barata de eliminar tarefas no trânsito, mas o
“engasgo” nas trocas parece inerente ao sistema
No Up três-portas com câmbio manual convencional, motor, dimensões e câmbio são iguais aos do cinco-portas. Claro que as duas portas de acesso são maiores — chegam a chamar atenção por seu comprimento em relação ao do carro — e os bancos dianteiros ganham encosto rebatível para permitir o acesso ao banco de trás, com alavancas de liberação à direita e à esquerda. Apesar de a porta abrir em ângulo de quase 90° e todo o banco correr para frente, o acesso é penoso para adultos, como em toda carroceria nessa configuração. Por isso, essa versão foi pensada para os frotistas (custa R$ 2.000 a menos que a cinco-portas), jovens que buscam o primeiro automóvel e casais sem filhos (nem sogros…).
O Up de três portas vem apenas nas duas versões mais simples, a Take Up (R$ 26.900) e a Move Up (R$ 28.300). A primeira traz de série itens como retrovisores externos com comando interno e para-sol com espelho para o passageiro, além dos obrigatórios freios com sistema antitravamento (ABS) e bolsas infláveis frontais; as rodas são de 13 pol. O Move Up acrescenta rodas de 14 pol, retrovisores e maçanetas na cor do carro, divisória no porta-malas (para elevar o assoalho até o patamar do vão de acesso, criando um porta-objetos abaixo), computador de bordo, conta-giros, relógio digital e indicador de temperatura externa
Apenas a versão de entrada Take Up (acima) e a Move Up oferecem a nova opção
de carroceria, que custa R$ 2 mil a menos; o interior é bastante simples no Take Up
O mais barato sem pedal
O Up I-Motion, por sua vez, é o primeiro carro nacional a combinar câmbio automatizado e motor de 1,0 litro. Torna-se também o modelo mais barato do País a oferecer caixa com mudanças automáticas, a partir de R$ 31 mil no caso do Move Up de três portas. A opção só não é aplicável à versão Take Up, ou seja, pode ser combinada aos Ups de três e cinco portas com acabamento Move ou superior.
O câmbio empregado é o inédito SQ100 de cinco marchas, mais leve (30 kg) e compacto que o de outros modelos da VW, e usa atuadores eletromecânicos para acolamento e desacoplamento da embreagem e troca de marchas. Para reduzir o consumo de energia, esses motores elétricos só são energizados quando em uso. A alavanca no console traz as posições D (drive, direção normal com trocas automáticas), M (operação manual), N (ponto-morto) e R (marcha à ré). Mudanças manuais podem ser operadas para frente (ascendentes) e para trás (reduções) mesmo com a alavanca em D, mas a operação volta a ser automática após alguns instantes, salvo se for colocada em M.
A VW reviu as relações de marchas, que ganharam intervalo menor entre si (escalonamento mais fechado), com a primeira mais longa que na caixa manual. O objetivo foi reduzir a queda de rotação após as mudanças entre as marchas inferiores, sobretudo de primeira para segunda, e assim minimizar o “soluço” conhecido dos automatizados monoembreagem. Como nas marchas superiores a aceleração é menor, o maior intervalo não incomoda tanto. A relação final da quinta marcha (considerando-se o diferencial, que foi alongado) é 5% mais alta, o que leva o Up a manter 120 km/h com 4.000 rpm ou 200 a mais que na versão manual.
O nome é o mesmo, mas o câmbio I-Motion do Up difere do usado em outros
modelos da VW, com atuadores eletromecânicos e caixa mais leve e compacta
Na prática, como constatamos na avaliação de lançamento em São Paulo, SP, o resultado não foi tão bom quanto na teoria. O “soluço” continua bem sensível a cada troca de marcha em uso urbano, bem diferente da suavidade obtida com câmbios de dupla embreagem, que a própria VW usa em modelos como Golf, Jetta TSI e Passat. O fato é que o automatizado monoembreagem é uma forma simples e barata de eliminar tarefas — trocas de marcha e acionamento da embreagem — e até pode agradar a quem nunca dirigiu um carro com câmbio automático convencional ou mesmo de variação contínua (CVT), mas essa sensação de “engasgo” nas trocas parece inerente ao sistema pelo tempo decorrido entre cessar a aceleração e retomá-la após a troca.
A vantagem do I-Motion sobre um automático tradicional é evitar perdas de energia na transmissão, que afetariam mais o desempenho e o consumo de um carro com motor de 1,0 litro. A comparação dos dados de fábrica entre as versões revelam o bom resultado: a aceleração de 0 a 100 km/h piora de 12,6/12,4 segundos para 13/12,8 s e a velocidade máxima até melhora de 163/165 km/h para 166/168 km/h (sempre na ordem gasolina/álcool).
O consumo também é pouco afetado. Os dados corrigidos conforme o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Inmetro apontam 13 e 9 km/l no ciclo urbano e 14,5 e 10 km/l no rodoviário para o I-Motion, ante 13,2 e 9,1 km/l no urbano e 14,3 e 9,9 km/l no rodoviário para o manual, na mesma ordem de combustíveis. Por que o manual consome mais que o automatizado em rodovia, apesar das marchas mais longas (em tese, favoráveis à economia), é algo ainda sem explicação.
O High Up (fotos) é uma das versões que dispõem do câmbio automatizado
de cinco marchas; pode-se aplicá-lo ao Move Up, mas não ao Take Up
Se o Up for pensado como veículo urbano para os grandes centros, onde enfrentará congestionamentos, o sistema I-Motion pode representar uma economia de centenas de mudanças de marcha e pisadas na embreagem por dia. Essa praticidade, associada ao motor tricilíndrico com bom torque em baixa rotação, faz do mais novo VW uma interessante opção para as cidades, justamente aquilo a que o Up se propôs desde sua primeira aparição, ainda como carro-conceito, em 2007.
O ponto mais negativo é mesmo o baixo conteúdo de série, que torna necessária a adição de muitos opcionais para deixar o carro ao gosto do consumidor médio de hoje. O Move Up I-Motion de três portas com ar-condicionado, direção assistida, controle elétrico de vidros e travas e sistema de áudio já chega a R$ 36.840, o que para muitos é dinheiro demais para um carro com suas características.
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Ficha técnica – Move Up I-Motion
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 999 cm3 |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 75/82 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,7/10,4 m.kgf a 3.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual automatizado / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 5 x 14 pol |
Pneus | 175/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,605 m |
Largura | 1,645 m |
Altura | 1,50 m |
Entre-eixos | 2,421 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 285 l |
Peso em ordem de marcha | 953 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 166/168 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 13,0/12,8 s |
Consumo em cidade | 13,0/9,0 km/l |
Consumo em rodovia | 14,5/10,0 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |