Desbravador de uma mídia desconhecida, o site encontrou seu lugar entre os adeptos da informação completa e confiável
No Salão do Automóvel de São Paulo, em 1998, um jornalista percorria os estandes para divulgar às assessorias de imprensa a publicação que havia iniciado um ano antes. Embora todo seu conteúdo estivesse na mídia que hoje temos no bolso — a internet —, não bastaria informar o endereço: mesmo em grandes empresas como fabricantes e importadores, era comum não haver acesso dos funcionários à rede mundial. A solução foi levar em disquetes de 3,5 polegadas (aos que não imaginam o que isso seja, favor consultar o Google) uma amostra do conteúdo do site para ser visualizada em qualquer computador.
Por mais que histórias como essas pareçam surreais hoje, o mundo era bem diferente quando o Best Cars surgiu, em 22 de outubro de 1997, instalado no extinto servidor Geocities. As torres gêmeas estavam de pé, Titanic preparava sua estreia nos cinemas e a urna eletrônica estreara havia pouco no Brasil. Na internet o portal UOL tinha apenas um ano, o comunicador instantâneo ICQ estava começando e só um milhão de brasileiros tinham acesso à rede — dependente, em regra, de lentas e instáveis conexões que mantinham o telefone ocupado.
O Best Cars era de início uma página pessoal, que à época não se chamava de blog, mas com elementos que caracterizavam um verdadeiro veículo de imprensa
O mercado de automóveis ia muito bem: fecharia o ano com 1,94 milhão de unidades vendidas, recorde que se manteria por 10 anos. Incentivadas pelas perspectivas de crescimento prolongado, marcas como Dodge, Honda, Mercedes-Benz, Renault e Toyota iniciavam ou preparavam a produção local de carros, enquanto fabricantes tradicionais desenvolviam projetos ousados para modernizar sua oferta e fazer frente aos novos adversários.
Para o Best Cars, o começo foi tímido. Sem uma grande empresa na retaguarda — característica que se mantém —, apostou na dedicação da equipe e na paixão de cada um pelos carros para crescer e ganhar a assiduidade dos internautas. Era de início uma página pessoal, que à época não se chamava de blog, mas com elementos que caracterizavam um verdadeiro veículo de imprensa: respeito ao idioma, qualidade e profundidade de informação, um texto quinzenal chamado Editorial.
A equipe cresceu logo. Vieram Iran Cartaxo com o Consultório de Preparação, Francis Castaings com suas histórias de carros antigos e muitos outros que, por alguns meses ou longos anos, foram decisivos para construirmos o conteúdo e a reputação do site. A cada um deles — seria inviável nominá-los todos —, meu sincero agradecimento. Em 1999 começava a parceria com o UOL, a mais longeva do portal entre os sites do gênero.
Também aumentou rápido a oferta de serviços e seções, alguns inovadores na internet brasileira, como o Teste do Leitor, o Consultório Técnico e a Eleição dos Melhores Carros, até hoje de grande importância no site. As avaliações tornaram-se mais detalhadas, as matérias de antigos mais extensas, as notícias cada vez mais frequentes — eram semanais no começo, imagine. Houve também iniciativas menos bem-sucedidas, como o Carro do Leitor, espaço para mostrar seus automóveis antigos (não muitos quiseram participar), e o Canal Direto, que encaminhava reclamações aos fabricantes (útil a quem o usava, mas pouco visitado pelos demais, razão para que o tenhamos encerrado pela segunda vez este ano).
A quem recorrer
A concorrência era quase inexistente quando o Best Cars nasceu: dos atuais sites de relevo apenas o Webmotors existia desde 1996, mas pouco espaço dedicava a conteúdo. Só na virada do milênio a internet disparava como mídia para falar de carros, a ponto de em 2001 o UOL lançar sua seção Carros. A multiplicação de sites deixava os fabricantes confusos: na época, em que tínhamos presença habitual nos eventos de lançamento, houve quem não convidasse mais nenhum sob alegação de não conseguir mensurar audiência ou qualidade dos interessados.
Uma dificuldade de escolha que certamente afetava muitos internautas: a quem recorrer para se informar com qualidade sobre automóveis em meio a tantas opções? Para sobressair na multidão, era preciso reforçar nossos pilares e o foco de atuação do site.
Quando muitos apontavam a tendência por textos curtos, pois “matéria longa é coisa de revista”, insistimos em agregar tanta informação quanto fosse útil e conveniente
Quando muitos apontavam a tendência por textos curtos, pois “na internet ninguém tem tempo” e “matéria longa é coisa de revista”, insistimos em agregar tanta informação às matérias quanto fosse útil e conveniente aos leitores. Se grande parte da imprensa buscava um conteúdo superficial, optamos por trazer conhecimento. À escolha de vários pela linguagem “descolada” e cheia de gírias, mantivemos o respeito ao idioma em textos de fácil compreensão. A esses elementos acrescentamos novidades nos últimos anos, como medições de desempenho e consumo, o retorno do Consultório Técnico, a reabertura do Teste do Leitor a motocicletas e a coluna Carro, Micro & Macro, todos bem recebidos.
Foi preciso, é verdade, fazer algumas concessões. Gostaríamos de oferecer avaliações e matérias de antigos com mais frequência, o que esbarra em limitações de tempo de uma equipe enxuta. E algumas seções e colunas ficaram para trás, sem encontrarmos colaboradores aptos a assumir o bom trabalho realizado pelos que saíram. Mas procuramos — como naquele início — compensar as limitações de recursos humanos e financeiros com dedicação e paixão pelo assunto.
Acredito que, ao completar 19 anos, o Best Cars esteja maduro e em plena forma. Temos vários planos para oferecer mais em um futuro breve, o que vamos realizar na medida das possibilidades. O mais importante, porém, já conquistamos: o prestígio de sua visita regular, sua recomendação aos amigos como fonte confiável de informação, o carinho de sua manifestação por mensagem direta ou pelos comentários a cada artigo. Por tudo isso, nosso muito obrigado. E vamos rumo aos 20 anos!
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