No momento em que o site celebra um marco em
sua história, vale lembrar um pouco do que se passou
Em 22 de outubro de 1997, alguns milhares de brasileiros — não muitos — conectaram seus ruidosos modens para ter acesso, em geral a velocidades muito baixas, às últimas novidades da rede mundial de computadores. Era assim que se descrevia a internet em um tempo em que uma minoria das pessoas tinha computador em casa e, dessas, poucas desfrutavam o privilégio de navegar pelo mundo sem sair da cadeira.
Algumas dessas pessoas podem ter conhecido, já naquele dia, uma página como muitas que já habitavam a internet. Hospedado no sistema Geocities, o Best Cars Web Site era o resultado da ideia de um jornalista especializado em automóveis, então com 22 anos, que pretendia associar a agilidade da nova rede a uma abordagem precisa e abrangente do assunto, como então se via apenas nas revistas impressas.
Ao integrar o conteúdo do UOL, em 1999, muitas portas se abriram, embora não fosse tarefa fácil se manter competitivo em meio a conteúdos bancados por grandes empresas
A pequena página não demorou a crescer e, no mesmo ano, ganhava o primeiro colaborador — Iran Cartaxo, ainda hoje seu consultor. Os conteúdos passaram a se diversificar; surgiram a Eleição dos Melhores Carros e o Teste do Leitor, iniciativas de grande êxito que se mantêm hoje. Recebeu o apoio de fabricantes e importadores, mesmo que várias assessorias de imprensa alegassem não poder acompanhar o trabalho — acredite — por falta de acesso à internet nos escritórios. Menos de um ano mais tarde, em setembro de 1998, era o primeiro site brasileiro a ter acesso a um carro de fábrica para avaliação, um Ford Mondeo.
Enquanto a rede ainda recente ganhava adeptos em progressão geométrica, o pequeno site recebia o convite de nada menos que o Universo Online, o UOL, para integrar seu conteúdo em maio de 1999. Dali em diante muitas portas se abriram para o Best Cars, embora não fosse tarefa fácil se manter competitivo em meio a tantos novos conteúdos na internet, muitos deles bancados por grandes empresas.
“Se não somos o maior, queremos ser o melhor”, dizia um antigo anúncio de distribuidora de combustíveis, e foi assim que o site encarou o desafio. Obteve mais colaboradores, lançou novas seções e colunas, aumentou a frequência e o volume de atualizações, buscou formas de interação com o leitor. Acima de tudo, preservou seus valores, como a linha editorial independente, o respeito ao idioma e a atenção a aspectos técnicos dos automóveis.
Textos breves
Não raro, o site foi questionado em sua forma de tratar o internauta. Dizia-se que o visitante da internet prefere conteúdos breves, que a leitura na tela é cansativa, que cabe às revistas impressas oferecer informação detalhada. O Best Cars ajudou a mostrar que nada disso era absoluto, a começar por artigos extensos — alguns com mais de 10 páginas — que mantinham grande parte da visitação da primeira à última, associada a tempos de visita às páginas bem superiores às médias conhecidas.
Muitas vezes, também, enfrentou dificuldades por sua linha independente, que não poupava as marcas e os produtos de merecidas críticas. Um mesmo fabricante — General Motors — em três períodos excluiu o site das mídias convidadas para seus lançamentos, sem jamais dar justificativa, o que levava a acreditar em retaliação pelas opiniões publicadas. O último desses períodos ainda não acabou e, há quatro anos, nenhum carro da GM é avaliado nestas páginas.
A linha independente trouxe dificuldades: um fabricante em três períodos excluiu o site das mídias convidadas para seus lançamentos, sem jamais dar justificativa
Houve obstáculos quanto ao uso do nome e do domínio de internet a ele associado. Tão logo o site migrou para o UOL, o pequeno provedor que o hospedava — e que havia registrado o domínio www.autolivraria.com.br — exigiu alto valor para ceder os direitos, o que foi recusado. Só sete anos mais tarde, após mudar de mãos algumas vezes, o endereço voltaria a direcionar ao Best Cars. Quase na mesma época, uma editora via-se no direito de usar (em um prêmio semelhante à Eleição dos Melhores Carros) e registrar tal marca, chegando a requerer ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a anulação do registro concedido ao site — uma disputa que permanece no órgão.
Tampouco foi uma trajetória fácil em termos financeiros. Se nos primeiros anos havia grande resistência dos anunciantes à internet, talvez considerada um mero passatempo adolescente, com o tempo o que se viu foi uma grande competição na qual levam vantagem as grandes mídias, enquanto algumas menores desvalorizam o trabalho da categoria ao oferecer espaço por valores simbólicos. Mas nunca faltou empenho e esperança para que tal quadro se tornasse mais favorável.
Ao completar 15 anos, o Best Cars está consagrado como um dos sites mais relevantes do setor automobilístico, o que é para mim motivo de orgulho e de agradecimento aos colunistas Geraldo “Tite”, Kleber, Marcio e Roberto e aos colaboradores Edilson, Iran, José Geraldo, Luiz Fernando e Paulo, sem esquecer os inúmeros que passaram pela equipe e deixaram sua contribuição. A todos eles, muito obrigado.
Tanto por seu pioneirismo (apenas o Webmotors tem um ano a mais, só que sem conteúdo editorial no início) quanto por eu estar à frente dele desde o primeiro dia, fico muito realizado em ver o Best Cars completar 15 anos. Um êxito que atribuo a você, que nos prestigia com sua leitura, sua participação e sua recomendação aos amigos — mais valiosa que qualquer forma de propaganda.
E espero que estejamos juntos, aqui, nos próximos 15.
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