O que Focus e Quantum têm em comum? E um Lancia e um Gordini? Confira no último artigo sobre a origem dos nomes
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Muitos são os temas que inspiram os fabricantes no momento de dar nome a um novo automóvel. Na primeira parte da série abordamos animais; na segunda, cidades e outros lugares; na terceira, esportes, aviões, profissões e aventura; e na quarta, natureza, mitologia e astrologia. Para completar a sequência, veremos denominações que vêm de pessoas, música, moedas, temas indígenas e as de origem grega e latina.
A italiana Lancia talvez seja o fabricante que mais vezes usou nomes de pessoas, todos femininos, como Augusta, Aurelia, Flaminia, Flavia e Fulvia. No Japão a Subaru fazia o esportivo Alcyone e a Nissan produzia o Gloria e o Silvia. A marca tcheca Skoda, do grupo Volkswagen, tem os modelos Fabia e Octavia.
Italianos com nomes humanos: o Giulia da Alfa Romeo (foto maior), o Dino referente ao filho de Enzo Ferrari (à esquerda) e o Fulvia, uma das “mulheres” da Lancia
Outra italiana, a Alfa Romeo, tem em seu nome a combinação da sigla ALFA (Anonima Lombarda Fabbrica Automobili) ao sobrenome de Nicola Romeo, empresário que a adquiriu cinco anos após a fundação. Além disso, até hoje oferece os modelos Giulia e Giulietta. Outro Alfa Romeo com nome de pessoa foi o sedã lançado no Brasil em 1960 como FNM 2000 JK — homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek, grande incentivador da indústria automobilística.
Ainda na Itália, a Ferrari chamou de Dino uma série de modelos de menor potência nos anos 70 — os 206, 246 e 308 —, que não recebiam a marca do cavalinho. Dino era o apelido de Alfredino, filho do comendador Enzo que morreu com apenas 24 anos de idade. Mais tarde, em 2002, o supercarro Enzo homenageou o criador da marca.
Homenagens variadas: ao artista Picasso na minivan da Citroën, ao inventor na marca Tesla (à esquerda) e ao preparador francês no Renault Gordini
Outros casos vêm da Opel alemã: o pequeno Adam, com o nome do fundador da empresa, e o Karl, homenagem a seu filho Carl. Na França e no Brasil, o pequeno sedã Renault Gordini fazia referência ao preparador de motores francês Amedée Gordini. A Hyundai fez um carro chamado Marcia e a Citroën escolheu o nome feminino Xsara, o mesmo de uma rainha da Babilônia. Derivadas do Xsara e depois do C4, as minivans Picasso relembravam o artista espanhol Pablo Picasso.
Por fim, dois pioneiros da eletricidade foram homenageados em carros elétricos: Alessandro Volta, criador da pilha voltaica, foi lembrado no Chevrolet Volt e Nikola Tesla, inventor na área do eletromagnetismo, denomina a prestigiada marca de elétricos (veja mais casos de homenagens em modelos e versões de carros).
O nome Cherokee do Jeep (foto maior) tem origem nos índios, assim como o Carajás da Gurgel; o Accord (à direita) é um dos Hondas com música como tema
Temas indígenas também foram usados por diferentes marcas. O caso mais famoso é Pontiac, divisão norte-americana da General Motors encerrada em 2010. Pontiac era um chefe indígena de Ottawa, Canadá, que teria liderado uma rebelião contra os ingleses no século 18. Também dos Estados Unidos vem Cherokee, utilitário esporte da Jeep com nome originário de índios do sudeste do país. A mesma Jeep fazia a picape Comanche, tribo do sudoeste dos EUA. No Brasil, a pequena fábrica Gurgel usou dois nomes de povos indígenas em jipes: Xavante nos anos 70 em seu menor modelo, depois chamado de X-12, e Carajás em um veículo maior na década seguinte.
A música foi inspiração para o nome de vários carros da Honda. O do sedã Accord vem de acorde, um conjunto harmônico de notas que parecem soar em simultâneo. O cupê Prelude remetia ao prelúdio, como são chamadas as obras que introduzem outras maiores, como em óperas.
Na Europa a marca fez uma variação do Civic como Concerto, que dispensa explicação, e outro Civic era vendido na África do Sul com o nome Ballade, ou balada, que tem diversas conotações musicais conforme a época. Jazz é o nome do Fit em mercados europeus. Há mais carros “musicais” em outras marcas, caso do Sonata da Hyundai, o Ritmo da Fiat (nome usado nos anos 80 e retomado no Bravo vendido na Austrália) e dois modelos da Seat espanhola, o Salsa e o Tango.
O nome Omega do Opel/Chevrolet vem de letra grega, assim como o do Lancia Lambda (à esquerda); esse Ritmo, outro nome musical, era o Bravo na Austrália
O grego e o latim também denominaram carros. A Lancia aplicou letras gregas a vários modelos: os mais recentes Beta, Gamma (gama), Delta, Ypsilon (épsilon) e Kappa, os mais antigos Lambda, Eta, Theta e Zeta. Embora Alfa seja a primeira letra do alfabeto grego, já sabemos que não foi essa a origem da Alfa Romeo. A última letra grega — Omega — foi escolhida pela Opel alemã para o sedã que, em 1992, ganhou produção brasileira como Chevrolet. O nome seguiu entre nós por 20 anos, incluindo o período de importação da Austrália.
Outros automóveis foram nomeados com palavras em latim. Foi o caso da perua Volkswagen Quantum, palavra que significa volume ou quantidade e sugere um carro espaçoso. O nome foi usado nos Estados Unidos tanto no sedã (aqui Santana) quanto na perua. Mais tarde a marca escolheu Virtus (poder) para o sedã nacional do Polo.
Palavras do latim denominam o Ford Focus e a VW Quantum (à esquerda), nome também do Santana nos EUA; o Doblò é um dos Fiats inspirados em moedas
Nomes do latim também estão na Ford com o Focus (significa fogo ou iluminar alguma coisa), na Toyota com o Prius (primeiro, alusão a seu pioneirismo entre os carros híbridos de produção) e na Renault com o Kwid: vem de quid, “o que” em latim. A Lancia teve o modelo Appia, que significa abelha em latim. Embora possa parecer originário de tal idioma, Logus — do sedã que a Volkswagen criou a partir do Ford Escort — vem do grego e significa ponto de equilíbrio.
Por fim, uma origem peculiar de nomes é a de antigas moedas, escolhida pela Fiat para quatro furgões. Doblò vem de doblone, moeda italiana que circulou no século XVI. Ducato era uma moeda de ouro, usada na região de Veneza antes de se espalhar por outras regiões da Europa. Fiorino, nome também usado na Itália, era a moeda usada na Toscana no século XIX e o modelo Scudo vem de uma moeda de prata que foi comum em estados italianos.
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