Mistura de carros japoneses, não mais: o Mondeo 1997 ganhava forte identidade,
com linhas algo controversas que destacavam o tema oval do logotipo da Ford
Uma opção de motor mais potente estreava em 1994: o Duratec V6 de 2,55 litros (2.544 cm³) e 24 válvulas, produzido nos EUA, com 170 cv e 22,4 m.kgf. De concepção atual, tinha recursos como o comando de válvulas que desativava duas válvulas de cada cilindro em baixas rotações, para melhor eficiência nessa condição de uso menos favorável aos motores multiválvula, e permitia alcançar velocidade máxima de 225 km/h.
É verdade que o estilo do modelo 1997 ficou longe de agradar a todos, mas obteve maior aceitação que a reforma aplicada pouco antes ao Scorpio, o modelo grande da marca
O 2,5-litros foi oferecido com os acabamentos V6 básico, Si, Ghia, Ghia X, GT, ST24 e Business Edition, de acordo com o mercado. O ST24 contava com o visual mais esportivo entre eles, com um conjunto de anexos aerodinâmicos chamado de Rally Sport e rodas de 16 pol que estavam restritas até então à perua Ghia X. Entre 1995 e 1996 esteve disponível um sistema de tração integral, oferecido nas versões Si, Ghia e Ghia X com motor de 2,0 litros.
Também na Car, o Mondeo Ghia 2,5 enfrentou o Laguna V6, o inglês Rover 620 ti e o sueco Saab 900 SE Turbo. Com desempenho intermediário no grupo, o Ford mostrou-se competitivo: “O motor tem muito torque, mas é também suave em altas rotações e toca uma clássica melodia de seis cilindros. Mostre o Mondeo a uma estrada desafiadora e seu controle o impressionará profundamente. Pneus mais largos, porém, prejudicaram o conforto de marcha”.
A estrutura era a mesma, mas grande parte da carroceria foi redesenhada;
o interior ganhava aspecto mais suave sem alterar a disposição dos elementos
Já nos EUA, a Popular Science colocou a versão local Contour SE ao lado de Chrysler Cirrus (Stratus no Brasil), Honda Accord, Hyundai Sonata e Mazda 626, todos com motores V6. O Mondeo dos norte-americanos foi descrito como “um carro rígido, firme, com peso moderado. O interior tem um desenho esculpido, integrado, com boa ergonomia e bancos que apoiam bem. O Contour ficou no topo ou empatado em primeiro em cada teste de estabilidade e foi segundo em aceleração, atrás do Accord. O Contour mostra-se um carro bem mais especializado — oferece desempenho impressionante e refinamento em um pequeno pacote”. Apesar desses atributos, a escassez de espaço interno indicou um carro “mais adequado para enfrentar o Civic que o almejado Accord”, concluiu a revista.
Controversa identidade
Apesar de seus atributos mecânicos, o primeiro Mondeo foi bastante criticado pelo estilo anônimo, sem inspiração — alguém o definiu como a mistura de vários carros japoneses inseridos em um supercomputador. Com a adoção em meados da década de uma nova filosofia de desenho na Ford, com base em elementos ovais como seu emblema, foi programada uma ampla remodelação para o automóvel, que chegava ao mercado em outubro de 1996.
Embora considerada como Mark II (segunda série) pelo padrão dos ingleses, não se tratava de uma nova geração, mas as mudanças na carroceria eram amplas o bastante para dar aspecto bem diferente — apenas teto, portas e os para-lamas traseiros da perua eram preservados do anterior. Diferente e ousado: os faróis assumiam grandes dimensões e ladeavam uma grade oval, enquanto as lanternas traseiras do sedã lembravam olhos de insetos e subiam pelos para-lamas. O hatch também ganhava novo visual posterior, mas na perua a aparência geral dessa parte era mantida.
O hatch e a perua recebiam as mesmas novidades, embora ela mantivesse o
estilo da traseira; à direita, a SW em pacote esportivo GT como vendido no Japão
Ninguém mais poderia dizer que o Ford se parecesse uma fusão de carros japoneses. É verdade que seu estilo causou controvérsia e ficou longe de agradar a todos, mas obteve maior aceitação que a reforma aplicada pouco antes ao modelo grande Scorpio. O interior passava por uma leve atualização, sem alterar a disposição do painel e dos comandos, e mostrava moderação se comparado ao que a empresa havia feito do outro lado do Atlântico no novo Taurus, que usava o tema oval à exaustão.
Do ponto de vista técnico o Mondeo era praticamente o mesmo de antes, mas os motores Zetec passavam por evolução para maior suavidade de funcionamento. No caso do 2,0-litros ocorria perda de 6 cv, para 130 cv, e aumento de 0,3 m.kgf no torque para 18,1 m.kgf.
O Best Cars avaliou em 1998 a versão GLX de 2,0 litros, que revelou como destaques espaço interno, acabamento, dotação de equipamentos e atitude em curvas. “O Mondeo não inova, mas reúne um conjunto equilibrado e eficiente. O torque disponível em baixa rotação é satisfatório e permite um dirigir tranquilo no trânsito. O Zetec demonstra outras qualidades, como ótimo nível de ruídos e vibrações e desempenho bastante adequado à proposta do modelo. Tudo somado, o Mondeo GLX aparece como grande alternativa no segmento. Demonstra ótima qualidade de construção e reúne os requisitos mais desejáveis num carro médio-grande”, analisamos.
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Os conceitos
A primeira geração do Mondeo serviu de base para alguns estudos, enquanto a terceira foi antecipada por uma perua conceitual.
O Ford Profile e o Mercury Premys, revelados em meados de 1994 nos Estados Unidos, buscavam criar expectativa pelas versões norte-americanas Ford Contour e Mercury Mystique. Os sedãs de quatro portas receberam modificações de estilo para uma aparência algo futurista, como faróis de perfil mais baixo, retrovisores bem pequenos e novas lanternas traseiras.
O Premys tinha formas “limpas”, suaves e de boa aerodinâmica, enquanto o Profile ostentava um grande aerofólio curvo, defletor dianteiro, quatro pequenos faróis e saídas de escapamento por dentro do para-choque traseiro. Seu interior usava bancos de competição que, como o volante, tinham a cor amarela. Diferenças também na mecânica, pois a versão Ford combinava o motor V6 de 2,5 litros (a ser usado depois no Contour) a um compressor e à tração integral. Curiosamente, a associação do V6 a essa tração nunca foi usada em uma versão de série, fosse na Europa ou nos EUA. O Profile chegou a ser exposto pela Ford brasileira no Salão de São Paulo de 1996.
Em 1999, já remodelado, o Contour dava origem ao projeto P2000. O sedã de propulsão híbrida combinava um motor a gasolina de 1,2 litro e 74 cv com injeção direta a um motor elétrico, usado tanto para mover o carro quanto para auxiliar a unidade a combustão. Com redução de peso de 40% em comparação a um Ford Taurus da época, obtida em parte pelo extenso uso de alumínio, magnésio e fibra de carbono, o conceito tinha consumo anunciado de 26,8 km/l.
Seguindo a linha de alternativas para reduzir emissões, o P2000 ganhava pouco depois a versão FC EV, ou Fuel Cell Electric Vehicle, veículo elétrico dotado de pilha a combustível. O sistema alimentado por hidrogênio produzia potência de 67 kW (91 cv), para acelerar de 0 a 96 km/h em 12,3 segundos, e permitia autonomia de 160 km.
Na Europa o primeiro Mondeo conceitual apareceu mais tarde, em 1999. No ST250 Eco, o motor V6 de 3,0 litros (então não oferecido no modelo de série) recebeu compressor para elevar a potência a 250 cv e foi ajustado para usar gasolina ou gás liquefeito de petróleo (GLP, que no Brasil é “gás de cozinha”, mas em parte daquele continente funciona em veículos). O ST250 vinha ainda com rodas de 18 pol e pneus 225/40, suspensão esportiva, câmbio automatizado Prodrive com trocas comandadas por botões no volante (mantendo a alavanca no console para operação manual), painel digital e anexos aerodinâmicos.
Se a segunda geração não foi base para conceitos, a terceira surgiu exatamente dessa forma: em 2006 a Ford apresentava no Salão de Paris a Mondeo Wagon conceitual, com as linhas do modelo a ser produzido, mas associadas a um pacote esportivo com anexos aerodinâmicos e revestimento interno em preto e marrom.
Para ler
Powered by SVT: Celebrating a Decade of Ford Performance, Substance, Exclusivity, and Value – por Jim Campisano, editora Worzalla. A divisão Special Vehicle Team da Ford norte-americana é o tema desse livro de 160 páginas, publicado em 2003. Inclui a história dos principais modelos, dados técnicos e ilustrações em transparência.
The Ford Century: Ford Motor Company and the Innovations that Shaped the World – por Russ Banham, editora Artisan. O Mondeo talvez nem seja mencionado nessa obra de 2002, mas ela interessa a quem gosta da marca. São 100 anos de história desde o pioneiro Modelo A, com informações sobre os carros mais relevantes e homens que fizeram a trajetória da Ford, como o fundador Henry, Robert McNamara e Lee Iacocca. São 272 páginas.