O Viper das picapes: a Ram SRT-10 usava o mesmo motor do supercarro
da Dodge, com 8,3 litros, 507 cv e câmbio manual de seis marchas
Pouco mais de um ano depois de sua apresentação como conceito, a Ram SRT-10 chegava ao mercado em fevereiro de 2003. Estava equipada com o motor do novo Viper, anunciado com quatro números de relevo: potência de 500 hp (507 cv), 505 pol³ de cilindrada (8,3 litros), 525 libras-pé de torque (72,6 m.kgf) e 500 watts de potência no sistema de áudio. Tratava-se da mais potente picape produzida em série até então — e a mais veloz, com máxima declarada de 240 km/h e um recorde de 248,7 km/h válido para o Guiness, o livro dos recordes. Acelerar de 0 a 96 km/h consumia apenas 5,2 segundos.
O câmbio manual de seis marchas (com opção por automático de quatro) usava comando Hurst, marca famosa nos anos 60, e as rodas de 10 x 22 pol em alumínio forjado recebiam pneus 305/40. Completavam o conjunto defletor dianteiro, aerofólio traseiro, ampla tomada de ar no capô e, em suas laterais, a inscrição Viper powered, indicando de onde vinha sua usina de força. Com cabine simples e (após dois anos) também com a estendida Quad Cab, a SRT-10 seria oferecida só até 2006.
Picape com aerofólio? Sim: a Ram 1500 Daytona, uma série
especial de 2005 com rodas de 20 pol e motor Hemi
“O V10 faz essa coisa andar”, garantia a avaliação da Motor Trend: “A grande e má Dodge é um monstro transportador que reúne suspensão, freios, comportamento, atitude visual e um tremendo chute”. A Car and Driver destacou como qualidades “queimadas fumacentas de pneus sob demanda, estilo intimidador, 0-96 km/h em 4,9 segundos”, mas reclamou do comando de câmbio, da suspensão dura e do alto consumo. Um dos editores resumiu: “Rude e crua, mas a atual rainha das picapes hot-rod”.
A SRT-10 era a mais potente picape
de série até então — e a mais veloz, com um
recorde de 248,7 km/h para o Guiness
O motor Cummins passava por revisões em 2004, alcançando 325 cv e 84,6 m.kgf. Na mesma época aparecia a edição limitada Rumble Bee, com visual esportivo garantido pela cor amarela (ou preta), grade e para-choques no mesmo tom, rodas de 20 pol e tomada de ar no capô. Oferecida apenas com cabine simples, a série tinha motor Hemi V8 e tração traseira ou 4×4. No ano seguinte era a vez da Ram Daytona, inspirada no clássico esportivo de competição da linha Charger, com pintura laranja ou prata, rodas de 20 pol e um aerofólio em destaque no fim da caçamba. Também usava o motor Hemi, mas podia ter cabine simples ou estendida.
A linha Ram 2006 trazia novos faróis e volante, navegador integrado ao painel, interface Bluetooth para telefone celular, rádio por satélite em padrão Sirius e entretenimento com telas de DVD e fones de ouvido sem fio para os passageiros de trás. Estes, enfim, podiam de fato esticar as pernas e até reclinar seu banco na nova Mega Cab, uma cabine dupla com 56 centímetros a mais de espaço longitudinal em relação à Quad Cab e caçamba de 2 m.
Estique as pernas: a Mega Cab tinha 56 cm a mais que a Quad Cab
em espaço longitudinal; os faróis também mudavam em 2006
Na série 1500, o motor Hemi 5,7 ganhava sistema de desativação seletiva de cilindros, que desligava quatro deles em condições de baixa demanda de potência para reduzir o consumo, sem alterar potência e torque máximos. Uma versão 3500 com chassi e cabine, para aplicação da carroceria desejada pelo comprador, aparecia no ano seguinte com motores Hemi e Cummins. Essa linha seria ampliada em 2008 com os caminhões Ram 4500 e 5500, aptos a 7,5 e 8,8 toneladas (na ordem) e dotados de motor turbodiesel de 6,7 litros — versões que não aparecem nesta matéria porque fogem a nossa proposta.
Uma edição especial em parceria com a marca de chapéus de cowboy Resistol vinha em 2007. A Ram 3500 Resistol Edition baseava-se na Mega Cab com acabamento Laramie, tração traseira ou 4×4 e duplo rodado posterior. A série incluía rodas de 17 pol, pintura em dois tons e revestimento em couro especial. O Cummins turbodiesel de 6,7 litros, 350 cv e 89,8 m.kgf vinha com câmbio automático de seis marchas — e quem comprasse a picape levava um chapéu Resistol Black Gold 20X, o líder de vendas da marca.
Mais versões, mais segurança
A Ram passava por outro extenso redesenho na linha 2009, apresentada no ano anterior no Salão de Detroit. O desenho da quarta geração ficou bastante atraente com os faróis em forma de trapézio, que continuavam mais baixos que a grade, e a caçamba trazia amplos porta-objetos nas laterais (120 litros cada) com trava, iluminação e vedação. No interior, os recursos incluíam disco rígido de 30 GB para armazenar músicas, toca-DVDs para o banco traseiro, volante aquecido e bancos dianteiros com ventilação.
As linhas mais angulosas acentuavam a robustez na quarta Ram,
que adicionava conforto e controle de estabilidade de série
A Dodge oferecia três opções de cabine, três de caçamba e cinco de acabamento. O Hemi V8 de 5,7 litros estava mais potente, com 380 cv e 55,8 m.kgf, e levava a picape de cabine simples de 0 a 96 km/h em 6,1 segundos. Mais modestos eram o V8 de 4,7 litros (310 cv) e o V6 de 3,7 (215 cv). Cortinas infláveis e controle eletrônico de estabilidade de série adicionavam segurança.
A Ram 1500 garantiu outra vitória sobre a F-150 e a Silverado 1500 na Car and Driver, cada uma com um V8 entre 5,3 e 5,7 litros: “A Dodge muda o estado da arte — e as regras — do jogo das picapes grandes. O interior da Ram Laramie é quase tão bonito e espaçoso quanto o da F-150. Na caçamba, a Dodge criou compartimentos fechados com muito espaço. A qualidade de rodagem é distintamente superior à das rivais e a Ram foi a mais rápida. A desvantagem é o pior consumo”. A revista destacou ainda os itens de conveniência, estilo, níveis de ruído e vibração e estabilidade, mas criticou a direção e a capacidade de reboque.
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No Brasil
Embora a Ram de segunda geração tenha sido trazida por importadores independentes na década de 1990, até mesmo com o motor V10, foi só com o terceiro modelo que a Chrysler estabeleceu sua vinda oficial para o Brasil. A série 2500 com cabine dupla foi a escolhida, pois o segmento por aqui praticamente exigia motor a diesel — o que impõe capacidade de carga mínima de 1.000 kg, não atendida pela versão 1500.
Lançada em 2004 no Salão de São Paulo, nossa Ram era importada do México no acabamento SLT com câmbio automático de quatro marchas com alavanca na coluna de direção, tração 4×4 de uso temporário e motor Cummins turbodiesel de 5,9 litros e 330 cv. Por pesar cerca de quatro toneladas com sua carga máxima, a picape era classificada como caminhão leve, o que exigia habilitação de categoria C para o motorista. Depois das alterações visuais da linha 2006, a versão de cabine simples começava a ser vendida por aqui.
Embora apresentada no Salão de 2010, a quarta geração da picape — agora com 6,7 litros e 310 cv no motor a diesel e câmbio automático de seis marchas — só chegava a nossas ruas em março de 2012, marcando a estreia da marca Ram de forma independente no Brasil.
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