A picape de caçamba curta, com tampa aberta para o lado, foi a primeira do gênero no País; no anúncio da linha 1978, o destaque ao interior do GL
A 147 Pickup, primeira picape derivada de automóvel no Brasil, aparecia no fim de 1978 como pioneira de um segmento hoje muito importante no mercado. Tinha o mesmo comprimento do carro, do qual usava até as lanternas traseiras, e uma pequena tampa de caçamba aberta para o lado. Com espaço útil razoável (650 litros), a capacidade de carga de cerca de 450 kg dava conta do recado para serviços urbanos com os motores de 1,05 e 1,3 litro. Esse modelo e sua evolução mais longa seriam as únicas opções do gênero por quatro anos, até que surgissem a Ford Pampa (derivada do Corcel II), a VW Saveiro (com base no Gol) e mais tarde a Chevrolet Chevy 500 (da linha Chevette).
Outra novidade desse ano era a versão esportiva Rallye, com motor de 1,3 litro desenvolvido a partir do 1,05-litro (mediante aumento do curso dos pistões de 57,8 para 71,5 mm), que produzia 72 cv e 10,8 m.kgf brutos. Por fora tinha faixas pretas laterais, defletor dianteiro, faróis auxiliares e tomada de ar para a pequena grade sobre o capô, além de rodas de desenho esportivo, ainda de aço. O interior trazia cinto de segurança de três pontos dianteiros e bancos reclináveis com encostos de cabeça. No painel completo havia conta-giros, voltímetro e manômetro de óleo.
Mais versões: o luxuoso GLS (em cima) e o esportivo Rallye (à esquerda), com motor de 1,3 litro, e o primeiro carro brasileiro a álcool, em 1979
Após testes por todo o país durante três anos, era lançado em 1979 o primeiro carro a álcool do mundo: o Fiat 147 com motor de 1,3 litro e 60 cv brutos (56 cv líquidos), que ganharia o apelido de “cachacinha” pelo odor característico exalado pelo escapamento. Embora com taxa de compressão baixa para álcool (10,65:1), superava em velocidade máxima, aceleração e retomada o similar a gasolina.
A 147 Pickup, primeira picape derivada de automóvel no Brasil, foi pioneira de um segmento hoje muito importante no mercado
Agora o Fiat contava também com a versão mais luxuosa GLS, com carburador de corpo simples no motor 1,3 a gasolina, que assim fornecia 61 cv (brutos). Era dotada de rodas e painel similares aos do Rallye, encostos de cabeça no banco traseiro (inovação na categoria), vidros verdes com desembaçador traseiro e cintos dianteiros de três pontos e retráteis. Nas outras versões, sem retrator, a faixa se desajustava caso o ocupante se deslocasse para frente. Para o conforto do motorista contava ainda com freios assistidos (servofreio).
A primeira reestilização do 147 vinha no começo de 1980, pouco depois da mudança de ano-modelo, atitude que levou a críticas dos compradores. Na nova frente denominada Europa o capô era mais inclinado, a grade ganhava ligeira inclinação para frente, os faróis vinham ladeados pelas luzes de direção (juntas das luzes de posição: por isso metade era na cor âmbar e metade incolor) e os para-choques de aço davam lugar aos de plástico polipropileno em cinza ou preto, conforme a opção de acabamento. O básico, a Pickup e a Furgoneta preservavam a frente antiga.
A frente inclinada Europa e para-choques de plástico atualizavam o 147 em 1980; nas fotos, Rallye (em cima), GLS (à esquerda) e GL
As alterações não mudaram as opiniões da Auto Esporte, que testou o 147 L: “A linha Europa não foi lançada especificamente para reduzir o impacto do VW Gol, mas sim para incrementar as exportações da empresa: a Fiat espera elevá-las em 56% este ano. O modelo mantém suas boas características e apresenta uma leve melhora no consumo em rodovias”. Com motor 1,05, o carro acelerou de 0 a 100 km/h em 18,7 segundos e fez em média 14,4 km/l de gasolina nos trajetos rodoviários.
A Quatro Rodas confrontou o 147 GLS ao Gol L, ambos de 1,3 litro: “Os dois têm ótima estabilidade, boa frenagem, boa direção e transmissão que não revelou problemas. Motorista e passageiro da frente do Gol são beneficiados por ótimos bancos, mas com cinco pessoas os resultados mudam. Para um casal jovem o Gol é aconselhável, desde que não se exija bom desempenho. Para quem tiver família maior ou quiser melhor desempenho, a escolha que se impõe é a do Fiat”. A recomendação justificava-se: o 147 foi de 0 a 100 km/h em 17 segundos ante 24,2 s do Gol.
A Panorama era certamente funcional, mas o degrau no teto não ajudava o estilo
Espaçosa, sim, mas bonita?
De olhos nos interessados em mais espaço para bagagem, a Fiat lançava em abril de 1980 a perua da linha 147, que recebeu o nome Panorama — já usado na Itália na perua do modelo maior 128. Com amplas janelas que justificavam seu nome, era mais longa que os outros modelos em 18 centímetros, sem alterar o entre-eixos, e trazia painel redesenhado na versão CL (havia também a mais simples C). Concorria com a Chevrolet Marajó, derivada do Chevette, e pouco abaixo da Ford Belina, baseada no Corcel II. A VW, que tirara de produção a Variant II, só teria dois anos mais tarde a Parati no segmento.
Seu grande apelo era o espaço para carga: transportava 730 litros com o banco traseiro em posição normal (até o teto) ou 1.440 litros com ele rebatido. Como o teto era mais alto a partir do ponto dos encostos dianteiros, havia mais espaço para a cabeça dos passageiros de trás, o que impunha um “degrau” bem evidente no estilo que poucos aprovavam. O motor 1,3-litro lidava com um peso pouco maior, 840 kg, e o tanque de combustível comportava 52 litros, contra 43 dos outros modelos, que logo seguiram a perua para aumento da autonomia.
Próxima parte
Na Argentina
O 147 chegou ao país vizinho em 1981, por meio de importação do Brasil, mas no ano seguinte começava a produção local pela Sevel, Sociedad Europea de Vehículos para Latinoamérica, para substituir o Fiat 133. Embora igual ao modelo Europa nacional na aparência, usava os motores de 1.116 cm³/53 cv e 1.290 cm³/60 cv do 128 italiano, diferentes dos nossos. A mudança visual e de nome para Spazio vinha em 1984, junto à opção de motor 1,3 a diesel de 45 cv.
Interessante era a versão esportiva 147 Sorpasso, elaborada em série limitada pela IAVA (Industria Argentina Vehículos de Avanzada), com motor 1,3 de 90 cv (nada menos que 30 cv acima do original), rodas de alumínio, faróis de neblina, defletores e volante de três raios. Foi o mais potente 127 ou 147 de produção já visto. Sua capacidade de acelerar de 0 a 100 km/h em 8,2 segundos era inédita na indústria argentina.
Se aqui a linha desaparecia em 1986, por lá teve vida bem mais longa, para o que contribuíram as crises econômicas argentinas entre os anos 80 e 90. Como resposta ao programa de carros populares do governo, o 147 com o desenho original dos anos 70 (anterior à frente Europa) e motor 1,1 era relançado em 1987 sob o nome Brío. De atual, apenas o emblema de cinco barras inclinadas na frente. Era tão despojado que não tinha marcador de combustível (só uma luz-piloto de reserva) e deixava o tubo inicial do tanque à mostra no porta-malas.
Picape e furgão Fiorino entravam na linha argentina em 1989, depois da descontinuação no Brasil, onde os modelos da linha Uno tomavam seu espaço. Com a adoção de motor de 1,4 litro e 63 cv (da mesma linha do 1,6 amplamente usado aqui, sem relação com o Fire que teríamos nos anos 2000) em 1991 e a versão Vivace dois anos depois, o veterano Fiat ganhou fôlego para continuar no mercado até 1997. Foram fabricados mais de 230 mil deles.
Na Venezuela, as séries Europa e Spazio eram chamadas de Túcan (tucano).
Foto do Brio: Parabrisas/Test del Ayer
























