Ford Escort, cooperação que deu certo por 30 anos

1986 Escort XR3i

 

1986 Escort
1986 Escort XR3i Cabriolet

 
Um arredondamento das formas para 1986 dava origem ao Escort Mark IV, ou quarta série, com novo motor 1,4 e sistema antitravamento mecânico para os freios

 

Diante do bem sucedido Golf GTI, o XR3 mostrava deficiências como a suspensão, o motor com carburador e o câmbio de quatro marchas. Encaminhado à SVE (Special Vehicle Engineering, engenharia de veículos especiais da Ford), o esportivo reaparecia na linha 1983 como XR3i com injeção, 105 cv e 14,1 m.kgf para máxima de 192 km/h, além das cinco marchas. A Autocar considerou que ele “agora representa real ameaça ao Golf GTI. Em desempenho, esses dois estão bem à frente. O Golf oferece a mais especial combinação de desempenho, estabilidade, conforto de marcha e refinamento, mas o XR3i é um pouco mais barato, comparável em desempenho, mais econômico e com freios exatos”.

Um Escort ainda mais potente que o RS 1600i aparecia no Salão de Genebra de 1984 e ganhava as ruas no ano seguinte: o RS Turbo, que adotava turbocompressor no motor 1,6 para chegar a 132 cv e 18,4 m.kgf. Oferecido como edição limitada de 5.000 unidades, todas brancas, ele trazia bancos Recaro e diferencial autobloqueante.

A Car comparou-o ao Toyota MR2, de proposta bem distinta, com dois lugares e motor central: “O RS Turbo parece mais rápido que o Toyota e, na maioria dos testes, foi mesmo. Embora ambos tenham acelerado de 0 a 96 em 7,9 segundos, o Escort foi notavelmente mais ágil nas retomadas de quarta marcha e superior em velocidade máxima, com 203 km/h. Contudo, o Escort sai de frente e a direção pesa bastante em curvas de pé embaixo; o Toyota mantém-se mais composto e adere melhor”.

 

1986 Escort RS Turbo

 

1986 Escort RS Turbo
1986 Orion

 
Com 132 cv o RS Turbo, que acompanhava a reestilização, era o Escort mais potente daquela geração; o sedã Orion e a perua passavam pelas mesmas mudanças do hatch

 

O Escort passava no começo de 1986 por uma extensa reestilização que alterava toda a carroceria, embora mantivesse a estrutura e o formato básico — os fãs a chamaram de Mark IV, traduzível como quarta série, sem que constituísse nova geração. Estava mais arredondado e reduzia a grade dianteira a um estreito vão; o painel também ganhava curvas. Na mecânica as novidades eram o motor CVH de 1,4 litro e 75 cv, revisões na suspensão para melhor estabilidade e sistema antitravamento mecânico (ABS) para os freios. A produção mundial acumulada chegava a 10 milhões.

 

Um Escort ainda mais potente que o RS 1600i aparecia em 1984: o RS Turbo, com 132 cv, oferecido como edição limitada de 5.000 unidades

 

Testado pela espanhola Autopista, o RS Turbo dessa fase convenceu: “Embora a potência mais favorável apareça a 3.000 rpm e com muito empurrão até 5.500, tanto abaixo quanto acima desses regimes o motor se comporta com muito boas maneiras, a ponto de duvidarmos que se trata de um turbo. O RS é um autêntico esportivo, um carro que se desfruta ao volante, que exige ser conduzido com mão firme e com desempenho muito notável”. Acabamento e equipamentos também foram elogiados, mas o ABS mecânico mereceu críticas.

Evoluções técnicas vinham em 1989. Os motores 1,1 e 1,3 passavam à série HCS, lançada pouco antes no Fiesta; o 1,4 ganhava injeção monoponto; o XR3i e o Orion Ghia mudavam da injeção Bosch para a multiponto fabricada pela própria Ford; o motor a diesel crescia de 1,6 para 1,8 litro (60 cv). No lugar da antiquada caixa automática de três marchas aparecia um câmbio de variação contínua (CVT), chamado de CTX e já aplicado ao Fiesta. A série limitada 1600 E do Orion vinha com acabamento superior e bancos de couro como opção.

 

1990 Escort Ghia

 

1990 Escort Cabriolet
1990 Orion

 
Escort e Orion ficavam mais largos e com maior entre-eixos para 1991, além de adotar eixo de torção; agora as lanternas eram as mesmas para ambos e o conversível

 

Essa geração foi fabricada na Inglaterra, na Alemanha, em Almussafes (Espanha) e em São Bernardo do Campo, SP (leia a história do modelo no Brasil), incluindo o sedã Verona, de desenho diverso do Orion, e seu clone Apollo para a Volkswagen. Suécia, Finlândia e Noruega receberam o Escort brasileiro, de produção mais barata que a do alemão. Após a reestilização ele saiu também de unidades em General Pacheco (Argentina) e Valência (Venezuela).

 

 

Escort com alma de Sierra Cosworth

A quarta geração (Mark V ou quinta série para os fãs) do Escort era apresentada em agosto de 1990 com maiores dimensões, desenho e suspensão reformulados. Agora media 4,10 m de comprimento, 1,70 m de largura, 1,40 m de altura e 2,52 m entre-eixos, este um incremento de quase 13 cm. As linhas estavam mais suaves, sem abrir mão da fácil identificação com o modelo antecessor, e tinham como peculiaridade os para-lamas abaulados sem o tradicional arco nas caixas de roda. No conversível as lanternas traseiras eram as mesmas do hatch e do Orion, ao contrário dos antigos, que usavam as da perua. O eixo traseiro de torção, que seguia o conceito usado desde 1974 pelo Golf, substituía a suspensão McPherson.

Apesar da nova estrutura, ao dar partida o Escort revelava motores conhecidos: o HCS 1,3 de 60 cv, o CVH 1,4 de 75 cv e o CVH 1,6 com 90 ou 105 cv (a gasolina) vinham do anterior, embora houvesse um 1,8 turbodiesel com 90 cv. O esportivo RS 2000 aparecia em novembro de 1991 com uma sigla histórica e motor de 2,0 litros e quatro válvulas por cilindro — derivado daquele de duas válvulas dos maiores Sierra e Scorpio — com 150 cv e 19,3 m.kgf. Vinha ainda com faróis duplos, para-choque dianteiro próprio, rodas de 15 pol com pneus 195/50, freios a disco também na traseira (os primeiros em um Escort), dois ressaltos no capô e bancos Recaro.

 

1992 Escort RS 2000
1992 Escort RS 2000

 
Estilo frontal próprio e rodas de 15 pol identificavam o RS 2000, com motor de 16 válvulas e 150 cv; o esportivo era o primeiro Escort com freios a disco traseiros

 

Ele mostrou bom desempenho e conjunto harmonioso na avaliação da Car: “De 2.300 rpm em diante o motor fica próximo do torque máximo, com resposta satisfatória em média rotação. O motorista pode sentir falta da forma como alguns motores japoneses ‘cantam’ alegres a 7.000 rpm, mas no dia a dia o torque em média do Escort compensa. A aderência é forte, e o carro, agradavelmente equilibrado e confiável. Como automóvel de todos os dias, é confortável e conveniente, e também divertido de dirigir”.

A tradição do nome Cosworth nas pistas voltava a prestigiar um Ford de rua em maio de 1992 com uma versão muito especial do Escort: a RS Cosworth. O motor de 2,0 litros com 16 válvulas e turbo produzia 227 cv e 30,4 m.kgf, valores bem mais expressivos que os de qualquer versão jamais oferecida do modelo, mas a grande turbina impunha um retardo excessivo até que entrasse em ação. Vinha montado em posição longitudinal e com tração nas quatro rodas, transmitindo sempre 67% do torque às traseiras.

Próxima parte

 

Nas telas

La Baby Sitter
La Baby Sitter
Velozes e Furiosos 6
Velozes & Furiosos 6
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes

Escorts de versões e épocas variadas tiveram atuação significativa em filmes. Da primeira geração destacam-se os modelos do policial La Baby Sitter (1975), da ação italiana Colpo in Canna (1975) e da ação Velozes & Furiosos 6 (Furious 6, 2013), um RS 2000 de 1974. O segundo modelo pode ser visto na comédia Life Is Sweet (1990), no policial Kazino (1992) e, em versão RS 2000, na comédia inglesa Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998).

A terceira geração é popular também no cinema, com presenças na ação Challenge of the Tiger (1980), no drama espanhol Heroina (2005) e nas comédias Car Trouble (1985) e Italiani a Rio (1987). Um XR3 aparece na ação inglesa Sudden Fury (1997), uma perua no drama Agenda Secreta (Hidden Agenda, 1990) e um conversível no suspense francês L’Année des Méduses (1984).

Bungalow
Bungalow
Cover-Up
Cover-Up
The Fourth Protocol
The Fourth Protocol

O modelo reestilizado ou Mark IV consta de filmes como o drama espanhol Días Contados (1994), o suspense inglês The Fourth Protocol (1987), a comédia também britânica Fever Pitch (1997) e o drama alemão Bungalow (2002). Um conversível da série está na ação inglesa Cover-Up (1991), e um furgão, no filme de terror britânico The Gathering (2002).

Boy Eats Girl
Boy Eats Girl
Le Fils de l'Épicier
Le Fils de l’Épicier
L'Uomo che Guarda
O Homem que Olha

Escorts da quarta geração, ou Mark V, foram usados na comédia italiana Ma Quando Arrivano le Ragazze? (2005) e na inglesa Boy Eats Girl (2005), que mostra um RS Cosworth. Mais numerosas são as cenas com o carro reestilizado de 1993, como na ação inglesa The Point Men (2001), na comédia francesa Conte d’Été (1996) e na ação irlandesa Moving Target (2000). Peruas da mesma fase estão na ação holandesa New Kids Turbo (2010), com cenas de ação que incluem capotamento, e na comédia britânica Butterfly Kiss (1995). Conversíveis são vistos no drama italiano O Homem que Olha (L’Uomo che Guarda, 1994) e no drama francês Le Fils de l’Épicier (2007).

A chamada série Mark VI, a última do Escort, tem empregos no cinema no drama francês Conte d’Automne (1998), no argentino Fuga de Cerebros (1998), na ação do mesmo país Comodines (1997) e na comédia espanhola Segredos em Família (Familia, 1996). Uma perua dessa linha consta do drama italiano O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, 2001), e um conversível, do policial inglês Pusher (2012).

 

Um retorno no Oriente

Ford Escort
Ford Escort

Quase 10 anos depois de o último Escort ser fabricado, a Ford optou por trazer o nome de volta em um carro-conceito no Salão de Xangai de 2013. O sedã de quatro portas e linhas conservadoras — ao gosto chinês — sugeria uma opção mais simples que o Focus, um dos carros mais vendidos naquele mercado: a Ford o descrevia como “um carro compacto com estética superior, sem sacrificar elementos básicos como o espaço para a família ou ter de pagar um preço premium”. Um ano mais tarde o Escort oriental tornava-se modelo de produção (fotos) no evento de Pequim. Desenhado em parceria entre centros da marca na China e na Austrália, usava a plataforma C do Focus e motor Sigma de 1,5 litro e 16 válvulas.

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