Como o Toyota Land Cruiser, esse utilitário surgiu copiando o Jeep Willys, ganhou identidade e chegou luxuoso a nossos dias
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
O mercado de utilitários focados no uso fora de estrada abrange nomes lendários como o norte-americano Jeep Willys, o inglês Land Rover e o japonês Toyota Land Cruiser, estabelecidos entre as décadas de 1940 e 1950. Mas há mais um tão longevo quanto esses — embora não tão conhecido por aqui — na indústria japonesa: o Nissan Patrol, produzido em seis gerações desde 1951.
Resultado de uma licitação do governo entre os fabricantes para um jipe de uso militar e civil, que pudesse auxiliar os nipônicos na reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial, o primeiro Patrol (código 4W60) surgiu em setembro de 1951. A Nissan não obteve o contrato, vencido pela Mitsubishi, mas resolveu lançá-lo ao mercado assim mesmo. Com duas portas, teto rígido ou de lona, 3,65 metros de comprimento e 2,20 m de distância entre eixos, ele copiava (assim como o Land Cruiser) as formas do Jeep Willys — os japoneses recorreram muito a esse expediente no início de sua trajetória sobre rodas, assim como fazem hoje os chineses —, mas era maior em todas as medidas.
Na primeira geração do Patrol (fotos superiores), semelhança evidente com o Jeep; na segunda, mais versões e produção em outros países
O motor a gasolina de seis cilindros em linha, 3,7 litros e potência de 75 cv, suficiente para alcançar 100 km/h, vinha de um ônibus da marca e a carroceria era montada sobre chassi. Com câmbio manual de quatro marchas e tração temporária nas quatro rodas com redução, o Patrol usava suspensões de eixo rígido com molas semielípticas e freios a tambor e pesava 1.500 kg. A primeira evolução vinha em 1955 com para-brisa inteiriço em vez de bipartido, nova grade dianteira e motor mais potente (92 cv) de mesma cilindrada, substituído pouco depois pelo de 4,0 litros e 105 cv. Três anos mais tarde aparecia a perua fechada com oito lugares e, em 1959, um motor 4,0 com 125 cv.
Seu terceiro modelo seguia a tendência de acrescentar conforto para o uso urbano: ar-condicionado, direção assistida, câmbio automático, piso de carpete
O Patrol passava à segunda geração (código 60) em outubro de 1960: ganhava formas mais retas, já com alguma identidade, e para-lamas integrados à carroceria. Disponível como jipe com entre-eixos de 2,20 ou 2,50 m e perua com 2,80 m, podia levar de quatro a oito pessoas e foi oferecido também como picape (de 1968 em diante), furgão, caminhão de bombeiros e chassi/cabine sem caçamba. O motor de 4,0 litros permanecia, mas em 1965 a potência subia para 145 cv. Além do Japão, que o fabricou até 1980, o veículo foi feito na África do Sul (de 1959 a 1983), na Índia (com o nome Jonga P60 de 1965 a 1999) e nas Filipinas (1972 a 1983).
Seu terceiro modelo seguia a tendência de acrescentar conforto para o uso urbano, pois os 4×4 já não estavam tão restritos ao fora de estrada. O Patrol da série 160, em janeiro de 1980, podia receber ar-condicionado, direção assistida, câmbio automático de três marchas e interior mais bem-acabado com piso de carpete. Vinha como jipe com teto rígido ou de lona, perua de cinco portas, picape de duas ou quatro portas e carro de bombeiros.
Evoluções em conforto: ar-condicionado e câmbio automático podiam equipar a geração de 1980, que incluiu motor turbodiesel
A linha de motores estava maior: seis-cilindros a gasolina de 2,8 litros/120 cv e 4,0 litros/123 cv e a diesel de 3,3 litros/95 cv. Como antes, a tração 4×4 tinha reduzida e as suspensões mantinham as molas semielípticas. Atualizações em 1983 passavam por faróis retangulares, opção de teto mais alto, câmbio de cinco marchas e motor 3,3 turbodiesel de 110 cv. Alguns mercados de exportação o recebiam com a marca Datsun, que a Nissan encerraria no ano seguinte.
Para o site australiano Go Auto, esse Patrol foi “um passo decisivo na direção da civilidade, com espaço e conforto aprimorados, rodagem e freios melhores e novas opções de trem de força, que trouxeram a Nissan de volta à contenda com Range Rover, Toyota Land Cruiser e os novos Mitsubishi Pajero e Holden/Isuzu Jackaroo. Embora os japoneses tenham cessado sua produção em 1989, ela foi mantida nas Filipinas e na África do Sul por mais dois anos; o modelo foi montado também no Irã.
Uma versão específica para a Europa — código 260 — foi feita na Espanha, na Itália e na Inglaterra como Ebro Patrol de 1986 a 1993, ganhando sobrevida entre os espanhóis até 2002; os iranianos fizeram igual modelo até 2000. Com estética renovada, vinha com tração traseira ou integral, duas opções de entre-eixos (2,35 e 2,97 m) e a alternativa de motor Perkins a diesel de quatro cilindros e 2,7 litros, que contribuía para aumentar o conteúdo espanhol.
O Patrol de 1988 mantinha linhas retas, mas ganhava molas helicoidais e oferecia versão de luxo; o Maverick foi sua variação para a Ford
Enquanto os europeus produziam o 260, os japoneses lançavam em janeiro de 1988 o Patrol de quarta geração (código Y60), que assumia maiores dimensões: 4,29 a 4,85 m de comprimento, 2,40 a 2,97 m entre eixos. Com linhas retas que lembravam as do Jeep Cherokee de 1984, o utilitário era oferecido com três ou cinco portas (sempre com teto rígido) e picape de duas, com tração traseira ou integral. No Japão era chamado de Safari; também o produziram África do Sul, Espanha, Inglaterra e Filipinas.
Os motores variavam entre 3,0 litros/136 cv (com injeção) e 4,2 litros/170 cv (carburador) a gasolina e 2,8 litros/125 cv e 4,2 litros/116 cv a diesel (com turbo no 2,8), todos de seis cilindros em linha. Câmbios manuais de quatro e cinco marchas e um automático de quatro com controle eletrônico estavam no catálogo e, pela primeira vez, a tração 4×4 podia ser aplicada em movimento. As suspensões adotavam molas helicoidais para um rodar mais suave, mantendo os eixos rígidos, e a traseira permitia desconectar o estabilizador por uma alavanca sob o painel, o que ampliava o curso das rodas no uso fora de estrada. Havia freios a disco nas quatro rodas das peruas e direção assistida de série em todos. A versão Ti oferecia bancos de couro, apliques de madeira no painel, teto solar e ar-condicionado separado para o banco traseiro: o espartano jipe estava se tornando um carro de luxo.
Na opinião do Go Auto, seus destaques eram “natureza robusta, habilidades reais fora de estrada e carroceria prática e espaçosa da perua. Um veículo forte e confiável com potência suficiente, espaço de sobra e uma sensação de ‘vai a qualquer lugar’, confortável e fácil de dirigir. Oferecia conforto no asfalto e refinamento a uma fração do preço de um Range Rover”. Em 1992 o Patrol ganhava injeção eletrônica no motor 4,2 a gasolina (agora com 184 cv), bancos, suspensão, freios e câmbio aprimorados e rodas-livres automáticas, que dispensavam o acionamento manual nos cubos de roda. A Ford, parceira da Nissan em alguns projetos, vendeu-o na Austrália como Maverick de 1988 a 1994.
A quinta geração do Nissan, de 1997, ganhou requinte; embaixo o modelo reestilizado de 2002, que trouxe um motor de 4,8 litros com 252 cv
Outra modernização vinha em janeiro de 1997 com o Patrol de série Y61, que preservava as opções de carroceria, câmbio e tração, mas estava mais longo (até 5,08 m) e arredondado. Lembrava um pouco o Mitsubishi Pajero Full que seria lançado três anos depois. O motor de topo a gasolina crescia para 4,8 litros e 197 cv, enquanto os 2,8 e 4,2 a diesel não mudavam. O 4,2 turbodiesel, que vinha dois anos depois, alcançava 155 cv para transportar seus 2.400 kg.
Um moderno turbodiesel de quatro cilindros, 3,0 litros, 16 válvulas e 158 cv substituía o 2,8 em 2000 com torque 40% maior. O Go Auto opinava: “O diesel pede um pouco mais empenho para se manter ágil, mas o ruído é bem absorvido e o funcionamento continua suave. Ele tem um rodar sólido, mas não desconfortável, mas você não esquece que é um veículo ultrapesado, mais caminhão que carro. O interior é espaçoso e cômodo”. Um 4,8 a gasolina bastante potente, com 252 cv, aparecia para 2002 junto a uma renovação visual e ao câmbio automático de cinco marchas. A produção dessa fase foi no Japão até 2000, na África do Sul de 2001 até hoje, na Espanha de 1998 a 2009, na Inglaterra de 1999 a 2010, no Marrocos desde 2009, no Paquistão desde 2005 e nas Filipinas de 1999 a 2004.
Apesar de manter o modelo Y61 em mercados que buscam mais robustez que requinte, a Nissan lançava em 2010 um novo Patrol (Y62), fabricado apenas no Japão com foco em mercados como Oriente Médio e Austrália. Sem abdicar da aptidão fora de estrada, o utilitário esporte de luxo vinha sempre com cinco portas, grandes dimensões (5,14 m de comprimento, 3,08 m entre-eixos, peso de 2.700 kg) e acabamento luxuoso, com recursos como sistema de áudio Bose, telas de vídeo de sete polegadas para os passageiros, banco e volante com ajuste elétrico e memória e tampa traseira motorizada.
Sofisticado na técnica e no conforto, o Patrol Y62 vinha em 2010 com motor V8 de 400 cv; na última foto, o antigo Y61 ainda em produção
Os motores de seis cilindros ficaram no passado: agora havia um V8 de 5,6 litros a gasolina com injeção direta e variação de tempo de válvulas, capaz de 400 cv e torque de 57,1 m.kgf para o levar de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos, associado a câmbio automático de sete marchas e tração integral. Recursos eletrônicos incluíam seletor para adaptar os vários sistemas do carro entre quatro programas de uso (asfalto, neve, areia e pedras), controle de estabilidade, controlador de velocidade em declives, assistência hidráulica para controlar a inclinação da carroceria em curvas, bloqueio de diferencial e frenagem automática ao detectar risco de colisão à frente. Nos Estados Unidos ele foi lançado como Infiniti QX56 pela divisão de luxo da Nissan.
Na Austrália, o site Cars Guide avaliou-o: “É o maior e mais caro 4×4 já feito pelo gigante japonês, para competir com Lexus LX 570 e Mercedes-Benz GL. Há toda sorte de confortos que se espera de um carro familiar de alto padrão. Mesmo com três fileiras de bancos, sobram 550 litros de espaço para bagagem. O grande V8 é maravilhosamente suave e silencioso, mas seu borbulhar sob aceleração forte é um prazer aos ouvidos”. Críticas foram feitas ao consumo elevado, à falta de versão a diesel e à dificuldade de manobrar.
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