Mais de 1.100 km nas mãos de dois motoristas buscam
respostas sobre comportamento, consumo e custo-benefício
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Atualização de 27/11/12
Se a primeira semana do Citroën C3 Exclusive avaliado em Um Mês ao Volante havia sido até certo ponto tranquila, a segunda foi de intensa rodagem: mais de 1.100 quilômetros cumpridos entre duas viagens, com diferentes motoristas, e uso urbano em localidades diversas.
Na primeira viagem — de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, à região de Campinas, ambas no interior paulista —, para cobrir o evento de lançamento do Renault Fluence GT na Fazenda Capuava, o autor rodou 500 km em rodovias, como as boas Carvalho Pinto e Dom Pedro I, e pouco mais de 100 em trajetos urbanos. Sem pressa e respeitando os limites de velocidade (de 120 e 110 km/h, na ordem), o motorista obteve a marca média de consumo de 8,9 km/l de álcool, a melhor obtida até agora pelo C3.
Poderia ser mais positiva para as condições de uso, o que mostra que economia não é o ponto alto do modelo. Em contrapartida, o percurso comprovou bons atributos do novo Citroën, como o desempenho bastante adequado do motor de 1,6 litro e 122 cv, o baixo nível de ruído no uso normal e o rodar confortável, que não fica a dever a carros de médio porte. Tanto o controlador de velocidade quanto o limitador mostraram utilidade, um nos longos quilômetros de rodovia, o outro nos deslocamentos em cidades repletas de radares.
O C3 em meio às belezas da Fazenda Capuava, em Indaiatuba, SP: viagem com
conforto e bom desempenho, média apenas regular de 8,9 km/l de álcool
Em aclives acentuados, como na Dom Pedro I, a caixa de câmbio automática revelou calibração que favorece o conforto e a eficiência: reduções são feitas apenas quando realmente necessárias, isto é, quando não há mais potência para manter a velocidade em quarta dentro do método carga de direção. Bem diferente do que costuma acontecer com câmbios de marcas japonesas, que reduzem marchas em excesso e implicam maiores ruído e consumo. Por outro lado, ao acionar o controlador de velocidade após uma parada (para pagar pedágio, por exemplo), a retomada é abrupta como não seria preciso.
Boa companhia na viagem solitária veio do bom sistema de áudio, que conta com conexões auxiliar e USB (contudo, seria melhor haver um local oculto para o dispositivo conectado) e interface Bluetooth para celular. Bom detalhe é que o pequeno painel do rádio mantém à mostra as emissoras memorizadas; seus controles vêm em satélite junto ao volante, fácil de usar depois de rápida adaptação. No trecho noturno, os faróis de duplo refletor — solução que deveria ser padrão na categoria — forneceram eficiente iluminação.
A caixa automática favorece o conforto e a eficiência: reduções são feitas apenas quando realmente necessárias, diferente do que costuma acontecer com marcas japonesas
O ar-condicionado do C3 cumpriu sua missão, ajudado pelos cinco difusores em posição ideal no painel, mas poderia ser mais rápido no resfriamento da cabine depois de exposta ao sol tropical. Nesses momentos, a ideia de combinar couro (laterais) e tecido (centro) no revestimento dos bancos mereceu nossa aprovação, pois teria sido bem mais desconfortável sentir as costas colando a um banco todo de couro… Um ponto que precisa ser revisto, tanto no C3 quanto em outros modelos do grupo PSA Peugeot Citroën, é o aquecimento indevido do ar: com ventilador acionado em temperatura ambiente ao redor de 20°C, o ar emitido à cabine não é agradável como o lá de fora.
Há outros detalhes melhoráveis. Ao usar os comandos junto ao volante para trocas manuais de marcha, com a alavanca na posição D, o indicador do painel não mostra qual a marcha em uso — o que só aconteceria com o seletor em posição manual. Os cintos dianteiros não têm regulagem de altura, o que constitui problema no caso do passageiro (o motorista pode ajustar a altura do banco), e não há alças de teto. O tanque de combustível, quando próximo de cheio, faz um barulho incômodo ao parar o carro (desaparece ao deixar o nível baixar) e seu bocal requer o anacrônico uso de chave. O estepe com pneu de 15 pol, diferente dos outros, não serve para reposição.
Dirigido por um ex-proprietário de dois Polos, o Citroën foi elogiado pelo
estilo e o acabamento, mas criticado pelo consumo e a suspensão mais firme
Em contrapartida, bons detalhes têm sido percebidos: painel com formato que traz amplo espaço e sensação de amplidão à frente do passageiro, controle elétrico dos vidros agora nas portas (bem melhor posição que a do antigo C3, muito avançada no console central), um enorme porta-luvas com iluminação e refrigeração, ótima área de varredura pelo limpador de para-brisa. E, como já mencionado no relato anterior, uma assistência (elétrica) de direção que talvez seja a melhor da categoria.
Do Polo para o C3
Depois da volta de Campinas e de algum uso urbano com elevado consumo médio (5,8 km/l), das mãos do autor o C3 passou para as de Luciano P. Santos, 37 anos, estreante na colaboração à seção, mas experiente como dono de carros variados que incluíram dois Volkswagens Polos, do mesmo segmento do Citroën. O motorista viajou entre Pindamonhangaba e São Paulo e, na capital, fez diversos trajetos que somados ao rodoviário alcançaram 460 km. Certo trânsito, alguma pressa e uso intenso de ar-condicionado resultaram em média de 6,9 km/l de álcool em todo o uso pelo colaborador.
Luciano define o novo compacto como “um carro com estilo agradável, jovem e moderno, que passa robustez e esportividade. Seu acabamento é de boa qualidade quando comparado com modelos da mesma faixa de preço. Gosto da posição de dirigir, mas os bancos são um pouco estreitos. Uma queixa vai para o espaço interno: é apertado para ocupantes acima de 1,80 metro, sobretudo no banco traseiro”.
Dos aspectos dinâmicos do C3, o motorista destaca a estabilidade e os freios, que “transmitem segurança ao condutor”. O motor foi considerado agradável em baixas rotações, com mais potência nessa faixa do que o esperado para uma unidade de quatro válvulas por cilindro, mas “um pouco barulhento em altas rotações e, acima de 100 km/h, falta potência para ultrapassagens”.
Espaço diante do passageiro, controlador/limitador de velocidade e porta-luvas
amplo e refrigerado são bons detalhes; bocal do tanque com chave,
estepe com pneu diferente dos outros e indicador de marcha podem melhorar
Adepto do câmbio manual, Luciano aprovou a possibilidade de trocas pelas aletas atrás do volante. “É um bom conjunto, mas poderia ter uma quinta marcha para reduzir o intervalo entre elas. Quando se pede uma redução, os giros aumentam muito e o ruído passa a incomodar. Na estrada ou se ‘estica’ a terceira, que é curta, ou se passa a quarta e o carro perde o fôlego para ganhar velocidade. Além disso, no uso intenso no trânsito de São Paulo, o câmbio apresentou leve trepidação nas saídas”.
Dois pontos em particular incomodaram o colaborador. “Um, o consumo, muito elevado para um veiculo de sua cilindrada e seu tamanho, que se reflete em baixa autonomia. Outro, a suspensão firme, que não absorve bem as irregularidades do piso e chega a ser desconfortável. A do Polo é mais acertada nesse aspecto, apesar de ser um carro de projeto muito mais antigo que o C3”, ele compara.
Questionado se compraria um Exclusive como o avaliado pelo preço sugerido (R$ 59.130), Luciano descartou a opção de imediato: “É um custo muito elevado pelo que oferece, por se tratar de um carro urbano. Modelos maiores e mesmo de outra categoria podem ser encontrados pelo mesmo preço ou por uma diferença pequena, o que inclui bons sedãs médios na faixa de 1,8 a 2,0 litros”.
Atualização anterior |
Último período
7 dias |
1.138 km |
Distância em cidade | 358 km |
Distância em estrada | 780 km |
Consumo médio (álcool) | 7,8 km/l |
Melhor média (álcool) | 8,9 km/l |
Pior média (álcool) | 5,8 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
13 dias |
1.405 km |
Distância em cidade | 430 km |
Distância em estrada | 975 km |
Consumo médio (álcool) | 7,7 km/l |
Melhor média (álcool) | 8,9 km/l |
Pior média (álcool) | 5,8 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Preço
Sem opcionais | R$ 55.340 |
Como avaliado | R$ 59.130 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas.) | 115 cv a 6.000 rpm |
Potência máxima (álc.) | 122 cv a 5.800 rpm |
Torque máximo (gas.) | 15,5 m.kgf a 4.000 rpm |
Torque máximo (álc.) | 16,4 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 4 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 195/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,944 m |
Largura | 1,708 m |
Altura | 1,521 m |
Entre-eixos | 2,46 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.202 kg |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não disponíveis |