

O Imperial (no alto) e o cupê
300 de 1955 foram os primeiros trabalhos de Exner para a Chrysler a
chegar ao mercado — e causaram sensação

"De repente, é 1960": o anúncio
da Plymouth ilustra como a linha 1957 era avançada, a ponto de levar a
concorrência a redesenhar modelos


O TurboFlite, com
teto-bolha retrátil e grande aerofólio, e o Plymouth XNR, de desenho
assimétrico: entre suas últimas criações na Chrysler


Um sedã para ressuscitar a
Duesenberg (em cima), que não se tornou realidade, e o retorno da Stutz:
obras de Exner nos últimos anos de vida |
Outros conceitos da era Exner foram o Flight Sweep I e o II, de 1955, um
conversível e um cupê hardtop com o
padrão de estilo que apareceria em 1957 nos modelos de linha; o Chrysler
Falcon do mesmo ano, um dois-lugares com longo capô e escapamentos
laterais; o Plymouth XNR de 1960, com desenho assimétrico entre a metade
esquerda e a direita e grande aleta atrás do piloto; e o Chrysler
TurboFlite, cupê de dois lugares com bolha retrátil fazendo a função de
teto. Este último trazia ainda um aerofólio traseiro que inspiraria o
Dodge Charger Daytona e o
Plymouth Superbird de 1969/1970.
Nos modelos de produção, Exner adotou linhas mais arredondadas,
para-brisa com laterais envolventes e perfil mais baixo. O recurso de
"rabos de peixe", introduzido em 1948 pela Cadillac com inspiração em
aviões de caça, também foi explorado por ele, que em 1953 se tornava
diretor do departamento de estilo. Os modelos 1955 do cupê
300 e do
Imperial foram seus primeiros
trabalhos completos a chegar às ruas. O Forward Look — traduzível como
visual avançado — esbanjava elegância e modernidade. As proporções entre
capô, grade e para-lamas eram harmoniosas e as curvas casavam-se bem por
toda a carroceria. Mesmo que o 300 fosse uma união de grade do Imperial,
seção central da carroceria do
New Yorker hardtop
e para-lamas traseiros do Windsor, Virgil conseguira lhe dar um aspecto
equilibrado. O Imperial era ainda mais atraente com seu desenho
inspirado no do Imperial Parade Phaeton 1952, um conversível especial
para desfiles de autoridades, também assinado por ele.
Dois anos depois, a linha Chrysler para 1957 tomava a indústria de
surpresa. Os anúncios diziam: "Suddenly, it's 1960!" — de repente é
1960. De fato, a marca estava na vanguarda de estilo. No 300C, faróis
duplos, uma ampla grade em forma de trapézio invertido e para-choque
acompanhando sua linha inferior davam ar imponente, que combinava com as
vistosas aletas. O modelo desse ano é considerado clássico dentro da
"série letra". No Imperial, vidros laterais curvos eram usados pela
primeira vez na indústria. Modelos da Dodge como o
Coronet e da Plymouth, como o
Fury e o
Belvedere, também estavam
modernos e charmosos.
Em uma apresentação sobre aerodinâmica na SAE (Sociedade dos Engenheiros
Automotivos) em 1957, Exner explicava os atributos dos para-lamas
traseiros: "O desenho exerce um efeito de estabilização, da mesma forma
que em aviões e em barcos motorizados. Com as aletas voltadas para cima,
testes mostraram que a estabilidade é melhorada, reduzindo as correções
de direção em ate 20% sob intensos ventos laterais a velocidades normais
de cruzeiro." E acrescentava: "Enquanto essa pesquisa era conduzida em
Detroit, selecionamos a Ghia — um dos maiores projetistas e construtores
de carrocerias do mundo — para criar um carro em torno dos fatos
aerodinâmicos revelados em testes de túnel de vento". O resultado dessa
encomenda foi o conceito Dart, depois renomeado Diablo para 1957.
As concorrentes tiveram de correr às pranchetas para responder à ousadia
da Chrysler. Chuck Jordan, que mais tarde seria chefe de estilo da
empresa, trabalhava então com Bill Mitchell na GM. Ele conta sua reação
ao ver os novos carros da Plymouth antes da apresentação: "Eu não
acreditava em meus olhos. Lá estava um pátio cheio de carros
sensacionais, com novas proporções e um aspecto que os fazia parecer em
movimento mesmo enquanto parados. De volta ao estúdio, contei a Mitchell
o que tinha visto. Voltamos ao pátio da Plymouth. Naquela tarde ele
tomou uma medida muito corajosa: iniciou um desenho alternativo para
cada linha da GM, da Chevrolet à Cadillac".
Depois de um infarto em 1956, Exner retornou ao trabalho no ano
seguinte, em que assumia em julho o cargo de vice-presidente de estilo.
No fim da década, Detroit exagerava no tamanho dos carros, nos cromados
e
adornos. Ele alegava que os excessos não estavam na
vontade dos estilistas: "Poderíamos fazer atraente
um pacote menor, mas o público indicou sua preferência pelos maiores...
Ele também tem exigido muitos cromados. Todas as tentativas que conheço
de deixar um carro 'pelado', de tirar seus cromados, encontraram o
fracasso".
Quando ele desenvolvia os modelos 1962, recebeu uma ordem que o
contrariou. Tendo ouvido rumores de que a GM reduziria o tamanho de seus
carros, o presidente da Chrysler disse a Virgil para fazer o
mesmo. Como os novos desenhos já estavam prontos, o projetista
argumentou que a medida prejudicaria a harmonia de estilo, mas não o fez
mudar de ideia. Só que o rumor era falso e, diante dos concorrentes, os
modelos Dodge e Plymouth 1962 ficaram decididamente feios. A
queda de vendas foi inevitável. Quando o público os recebeu, Exner já
não estava no comando do estilo — tornara-se em 1961 apenas consultor da
Chrysler. A linha 1963 foi a última desenhada por ele. Elwood Engel,
desenhista da Ford elogiado pelas linhas sóbrias do
Lincoln Continental 1961,
ocupou seu lugar.
Virgil prestou consultoria de desenho para diversas empresas e passou a trabalhar com o filho. Em 1963 propôs
o relançamento da Duesenberg, fora do mercado desde 1937, o que não se
concretizou. Cinco anos mais tarde, trabalhou no ressurgimento da Stutz,
marca norte-americana que atuara de 1911 a 1935. Coube a Exner desenhar
o extravagante
Blackhawk, produzido pela Ghia e lançado em 1970, mas o
projetista não pôde ver muito da trajetória da nova empresa: morria aos
64 anos em 22 de dezembro de 1973 em Royal Oak, Michigan.
Em entrevista à revista Popular Mechanics em 1959, Exner definira
que um automóvel, embora seja um meio de transporte, "deve ser tão
estimulante quanto possível. Ele deve criar um desejo e um orgulho de
possuir. As pessoas procuram algo com uma impressão que as
inspire". Definições que continuam muito válidas, meio século depois.
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