Conceitos que vieram às ruas:
Lamborghini Countach (em amarelo), Maserati Khamsin (à direita) e Bertone
Runabout, que se fez o Fiat X 1/9
Um BMW com assinatura italiana:
o 2002 TI Garmisch inspirou o Série 5
Já na fase independente, Gandini
desenhou os supercarros Bugatti EB 110 (em cima) e Cizeta-Moroder, este
com muito em comum ao Diablo
Do popular ao sofisticado: nos
anos 80 o projetista desenhou o segundo Renault 5 e o Maserati Shamal,
seguido pelo Quattroporte anos depois |
Curiosamente, não foi pela Alfa que as lâminas chegaram a um carro de
produção — e sim pela Lamborghini, que aparentemente reviu sua opinião
sobre o desenho do Marzal. O fato é que o conceito
Countach LP 5000, desenhado
por Gandini para a marca de Sant'Agata, acrescentava um tempero às
linhas angulosas de seu antecessor, caso das várias e imponentes tomadas
de ar, e acabou por encontrar grande aceitação. Exposto no Salão de
Genebra de 1971, o Countach estreava no mercado de supercarros três anos
mais tarde, com motor V12 de 4,0 litros e 375 cv, para suceder ao Miura
no topo da linha "Lambo".
Antes e depois do Countach, outros carros reforçaram a demonstração do
talento de Gandini para desenhar superesportivos, a maior parte baseada
em ângulos intensos e poucas curvas. O Espada
de 1968 pode não ser o mais harmonioso deles, pois a necessidade de
espaço no banco traseiro levou a um perfil muito alto nessa seção. O
Jarama de 1970 mantinha o padrão de linhas retas, mas em um desenho
menos imponente, até por se tratar de um cupê de motor dianteiro. No
Urraco, revelado como conceito em 1970 e
lançado oficialmente após três anos, Marcello acrescentou algumas curvas
ao predomínio de ângulos e conseguiu um desenho atraente.
Também de 1970 é outro desenho muito retilíneo do italiano: o Lancia
Stratos Zero, com enorme para-brisa em forma de trapézio invertido (mais
largo no topo) que também dava acesso ao interior, diminutas janelas
laterais e motor V4 do cupê
Fulvia. No ano anterior, um desenho de Gandini dera origem ao Lele
da italiana Iso, cupê de 2+2 lugares e motor Chevrolet V8, mais tarde
trocado por um Ford. Um dos mais belos trabalhos de Gandini talvez seja
o Maserati Khamsin, revelado
como conceito independente pela Bertone em 1972 e adotado pela marca do
tridente, que o pôs nas ruas dois anos depois. O grã-turismo de dois
lugares tinha motor V8 dianteiro de 4,9 litros e 320 cv.
Outra a adotar um desenho seu foi a Fiat. Depois de ver o
conceito Bertone Runabout, com mecânica do sedã 128 adaptada para
posição central com tração traseira, a empresa de Turim interessou-se em
levar o projeto à produção, o que aconteceu sob a denominação
X1/9 em 1972. A Bertone encarregou-se da produção
do monobloco e, de 1982 em diante, de toda a fabricação. Até mesmo a
Ferrari, que há décadas mantém a Pininfarina como seu estúdio de estilo
preferencial, entregou à Bertone — e assim a Gandini — o pedido de um
desenho: o do Dino 308 GT4,
primeiro modelo V8 da marca de Maranello, lançado em 1973 com a rara
configuração de motor central-traseiro e 2+2 lugares.
Não só de esportivos, é claro, Gandini fez sua atuação na Bertone. Sua
criação com base no BMW 2002 em
1970 — o cupê 2002 TI Garmisch — foi a base para a primeira geração do
sedã Série 5, dois anos depois,
também um desenho do italiano. Certa semelhança com esse modelo alemão é
notada em seu projeto de sedã de luxo para a Fiat, o
132, também lançado em 1972 e que
sobreviveu sob o nome Argenta até 1985. Mais tarde ele projetou para a
Citroën o BX de 1982, outro
de formas retilíneas.
Depois de 15 anos de carreira na Bertone, grande parte no cargo de chefe
de estilo, Gandini partia em 1980 para o trabalho independente. Fez para a Renault em 1985 a segunda geração do
compacto R5, que ganhou atualidade
para manter o sucesso por mais 11 anos, e voltou a
desenhar para a Maserati com os cupês Shamal de 1989 e Ghibli de 1992,
com base na série Biturbo, e o
sedã Quattroporte de 1994.
Incumbiu-se das linhas de dois supercarros: o
Bugatti EB 110, que marcou o
retorno da clássica marca francesa em 1991 com um V12 com quatro turbos
e 550 cv, e o Cizeta-Moroder V16T, de 16
cilindros, 6,0 litros e 540 cv, desenvolvido por ex-funcionários da
Lamborghini e lançado em 1989. Desenhou ainda produtos tão variados
quanto o helicóptero Angel, uma casa na Córsega e o interior de uma casa
noturna. Mas não ficaria realizado sem trabalhar no sucessor do Countach.
Lançado em 1990, o Diablo adotava o
conceito de cabine avançada, a ponto de ser preciso recortar as portas
junto às caixas de roda dianteiras, e tinha a carroceria claramente mais
larga na parte traseira, para não deixar dúvidas de que ali estava sua
fonte de potência. Ambas as características já apareciam no Cizeta, não
por uma coincidência: uma proposta inicial do desenhista para o Diablo,
ao qual a Lamborghini fez restrições, acabou vendida para a fábrica do
V16T. De certo modo, o desenho do Diablo suavizava as formas do Countach
sem abandonar a ênfase na imponência, na missão de impressionar mais do
que seduzir — um legado que pode ser visto nos atuais Gallardo e
Murciélago, apesar de não haver participação de Gandini neles. Os traços
precisos de Marcello ganharam curvas, mas mantiveram a forte identidade
que ainda resiste na Lamborghini.
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