Versão Sport com motor de 2,0 litros começa teste de um mês com bom interior, suspensão firme e… alto consumo
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: autor e Fabrício Samahá
O primeiro carro “oficial” de 2019 no teste Um Mês ao Volante — já que o Honda HR-V começou a rodar antes do Natal — é o Hyundai Creta Sport com motor de 2,0 litros. Trata-se da mesma unidade que participou do comparativo de utilitários esporte e, apesar de seu modesto resultado naquela avaliação, havia curiosidade em colocar o carro em uma análise prolongada por seus bons índices de vendas. Além disso, é o primeiro modelo da Hyundai a participar da seção.
O Creta tem um estilo imponente, mais “de SUV” que o do concorrente, ajudado pelos traços retilíneos. Rodas com belo acabamento e um vistoso defletor de teto, talvez exagerado para o tipo de veículo, buscam um ar coerente com o nome da versão. O Sport é sua opção mais em conta com motor de 2,0 litros, vendida em pacote fechado ao preço sugerido de R$ 99 mil. Acima existe a Prestige, que sai por R$ 105 mil. As diferenças entre elas, além do acabamento e alguns conteúdos, passam pela calibração mais firme da suspensão no Sport.
Entre os equipamentos de série desse Creta estão ajuste de altura do banco do motorista, ajuste do volante em altura e distância, alarme antifurto, ar-condicionado automático, assistente de saída em rampa, câmera traseira para manobras, central de áudio (com tela de 7 pol, integração a celular por Android Auto e Apple Car Play e TV digital), cintos de três pontos para todos os ocupantes, computador de bordo, controlador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis automáticos, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, monitor de pressão dos pneus, parada/partida automática do motor, rodas de alumínio de 17 pol e sensores de estacionamento traseiros.
Versão Sport, ao preço de R$ 99 mil, é a mais em conta do Creta a usar motor de 2,0 litros e até 166 cv; defletor traseiro e rodas buscam aspecto mais esportivo
Da mesma maneira que o sujeito ao trocar de namorada fica, mesmo sem querer, comparando qualidades e defeitos de cada uma, nós amantes de carros não evitaríamos a comparação com o HR-V, que foi devolvido no mesmo dia em que pegamos o Creta. Mesmo sem repetir o que foi dito no comparativo, há pontos que abordamos na seção que podem ser interessantes.
Ao entrar no Creta, realmente se percebe que se senta no alto. No HR-V uma “viúva” de peruas pode enganar a esposa, alegando que ela terá a visão de cima do trânsito típica dos SUVs — na verdade, mais jogo de impressões que realidade, pois ele fica pouco acima de um hatch médio. Contudo, no Creta motorista e passageiros realmente estão mais altos em relação ao solo, fácil de notar quando se abre a porta traseira e se pede para a filha de quatro anos entrar sozinha. Essa estratégia é um dos segredos para se vender carros hoje — ou para cobrar um pouco mais por eles —, pois na visão do público leigo um automóvel alto é melhor, tanto por acesso quanto pela visão do que está a volta. Contudo, como sempre comentamos, isso traz complicações nos quesitos dinâmicos.
Ainda falando de bancos, para a alegria do autor, que não entende a predileção pelo couro (ou, pior, material sintético com aspecto de couro) no clima tropical, a Hyundai usa na versão Sport bancos com a parte central em tecido e só as laterais em couro. Mas a felicidade durou pouco, pois o tecido escolhido esquenta bem os ocupantes e permite baixa ventilação, fazendo com que o motorista chegue com a marca na camisa ao trabalho. A posição de dirigir é confortável e espaçosa, mesmo para pernas e cabeça de pessoas de grande estatura, mas a retração dos bancos dianteiros acaba prejudicando um pouco o espaço para as pernas dos ocupantes traseiros. Para eles, boa notícia é haver difusor central de ar-condicionado.
Interior usa tecido nos bancos, mas inadequado ao calor tropical; central de áudio inclui TV e tem uso fácil; difícil foi acomodar o celular no porta-objetos
Ao andar com o carro, no primeiro quarteirão já percebemos a proposta de acerto de suspensão da Hyundai para o Sport: pouca absorção de pequenos desníveis (como remendos do asfalto), mas com amortecedores macios em grandes oscilações, como passar em lombadas. O rodar acaba lembrando muito o do Nissan Kicks, diferente do HR-V, que é superior a ambos em absorção. No Creta, os amortecedores são rígidos em movimentos pequenos e rápidos a ponto de as rodas perderem contato com o solo, e o carro dar aquela “dançada”, ao se fazer uma curva mais acentuada com remendos.
Seu comportamento de suspensão é do tipo que às vezes atrai em um rápido teste, pela sensação de carro conectado, mas em viagem longa causa cansaço
Observa o editor Fabrício Samahá que outras versões do Creta — tanto a Prestige quanto a Pulse Plus de 1,6 litro — são um pouco mais macias em pequenos impactos, sem chegar ao bom acerto do Honda. Comparado ao Nissan, o Hyundai tem uma vantagem: a carroceria não ressona após o impacto, indicação de boa rigidez estrutural, e pouco se transmite dos impactos do conjunto buchas/amortecedor quando a compressão é rápida e curta.
É interessante que cada vez mais se notam carros com essas características, que vão contra os conceitos que engenheiros da área acreditam ser melhores — absorver vibrações rápidas e pequenas, mas ser firme nas maiores para bom comportamento em curvas e manobras rápidas. Claro que as Engenharias só vão nessa direção por uma demanda de mercado — basta lembrar que o Toyota Corolla tem acerto semelhante. Esse é o tipo de comportamento que às vezes atrai o consumidor na hora de um rápido teste, pela sensação de carro conectado ao motorista, mas que em viagem longa causa cansaço, sem ele saber que o grande responsável é o acerto que tanto agradou no ato da compra.
Consumo e firmeza dos amortecedores deixaram má impressão na primeira semana; instrumentos têm fácil leitura; banco traseiro recebe difusor de ar-condicionado
A central de áudio com tela de 7 polegadas, TV digital e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play agradou pela facilidade de uso e de sincronismo com o telefone — mostra o nome da música no aplicativo Spotify, mesmo via interface Bluetooth. Conectando ao Car Play tudo funciona muito bem, mas o local escolhido para se apoiar o celular junto à porta USB é pequeno, trazendo risco de quebrar o fio de conexão e obrigando o motorista a deixá-lo no porta-copos central.
A câmera traseira de manobras tem ótima resolução, linhas para indicar as extremidades do carro e guias que se esterçam em função do volante. Aliás, o esterçamento de direção do Creta agradou, o que facilita estacionar em vagas pequenas. Por outro lado, não tente usar a central de áudio com óculos escuros polarizados: a polaridade da tela coincide com a eliminada pelos óculos na horizontal, ou seja, o motorista precisa inclinar a cabeça ou tirar os óculos.
Na primeira semana o Creta rodou com gasolina em circuito urbano, em 455 quilômetros rodados com média geral de apenas 9,8 km/l. Sua melhor marca foi de 11,2 km/l em 20 km percorridos com média de 37 km/h (não estamos mais efetuando o trajeto pelas marginais paulistanas). Já a pior foi de 6,5 km/l em 12,4 km de trânsito intenso com média de 16 km/h — um consumo elevado para o combustível que está em uso, e que confirma suas marcas bem inferiores às do HR-V pelas medições do comparativo.
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 455 km |
Distância em cidade | 455 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 9,8 km/l |
Consumo médio em cidade | 9,8 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 11,2 km/l |
Pior média | 6,5 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 98.990 |
Como avaliado | R$ 98.990 |
Completo | R$ 100.190 |
Preços sugeridos em 4/2/19 em São Paulo, SP |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 81 x 97 mm |
Cilindrada | 1.999 cm³ |
Taxa de compressão | 12,0:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 156/166 cv a 6.200 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 19,1/20,5 m.kgf a 4.700 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6,5 x 17 pol |
Pneus | 215/60 R 17 H |
Dimensões | |
Comprimento | 4,27 m |
Largura | 1,78 m |
Altura | 1,635 m |
Entre-eixos | 2,59 m |
Capacidades e peso | |
Tanque comb. | 55 l |
Compartimento de bagagem | 431 l |
Peso em ordem de marcha | 1.399 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 188 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,7 s |
Consumo em cidade (gas./álc.) | 10,0/6,9 km/l |
Consumo em rodovia (gas./álc.) | 11,4/8,2 km/l |
Dados do fabricante; ND = não disponível; consumo conforme padrões do Inmetro |