Derivada da versão Sporting, edição limitada associa visual
esportivo, interior escuro e mecânica adequada ao que propõe
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Das marcas de grande volume do mercado, nenhuma oferece tantas versões esportivas quanto a Fiat: do Uno Sporting — com um modesto motor de 1,4 litro, mas dotado de suspensão específica — ao Bravo TJet, são oito opções diferenciadas dos modelos convencionais em visual, suspensão e, na maior parte dos casos, motor. E a mais recente delas é a edição limitada Punto Black Motion, derivada da versão Sporting.
O nome já usado em uma série do Stilo não se refere, como as fotos mostram, à cor preta da carroceria, pois o Punto pode vir também em cinza, prata e branco. O black faz alusão ao acabamento interno todo em cinza e preto, dos bancos ao painel, passando pelos cintos de segurança em cinza — nada dos cintos vermelhos do Sporting, que nem todos apreciam. A edição traz ainda os para-choques até então exclusivos do Punto TJet, mais largos, com amplas tomadas de ar e um difusor no caso do traseiro, além de suas molduras de para-lamas e saias laterais.
Para-choques e molduras cedidos pelo TJet deixam o Black Motion mais ousado por
fora, mas as rodas (as do Essence, de 16 pol, com nova pintura) não são ideais
O Black Motion tem preço sugerido a partir de R$ 50.550, ou 5% a mais que o Sporting, com o qual compartilha os equipamentos de série. Entre eles estão bolsas infláveis apenas frontais, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), rodas de alumínio de 16 pol, faróis de neblina, ar-condicionado, rádio/CD com MP3 e entrada USB, volante de couro com comandos de áudio e regulagem em altura e distância, sensores de estacionamento traseiros, computador de bordo, direção assistida e controle elétrico de vidros, travas e retrovisores.
Em médias e altas rotações, o E-Torq deixa o Punto bastante ágil, com um ronco esportivo sem excessos que combina bem com sua proposta
O carro avaliado trazia opcionais como câmbio automatizado monoembreagem Dualogic com comandos no volante e controlador de velocidade, automatismo para ar-condicionado, faróis e limpador de para-brisa, retrovisor interno fotocrômico, teto solar com controle elétrico Skydome, interface Bluetooth com comando por voz (chamada de Blue&Me) para celular, alarme e pintura metálica, com os quais o preço chegava a R$ 61.089. Poderia ainda ter bolsas infláveis laterais e cortinas, rodas de 17 pol, revestimento parcial em couro e banco traseiro bipartido em total de R$ 67.554.
Apesar do tempo de mercado — seis anos no Brasil, nada menos que oito na Europa —, o desenho do Punto permanece atual e atraente, o que mostra o êxito do trabalho da ItalDesign de Giorgetto Giugiaro. As alterações lançadas na linha 2013 trouxeram algum refresco à aparência, embora não tenham lhe dado os faróis de duplo refletor que sempre mereceu. O pacote visual do Black Motion tem bom conjunto, mas talvez ficasse melhor com outro tipo de rodas — as raiadas cedidas pelo Punto Essence, que receberam fundo preto, são sóbrias demais para um carro com seu aspecto.
Preto e cinza tomam conta do interior, que usa dois tecidos nos bancos; apesar
do espaço modesto para quem vai atrás, bancos dianteiros acomodam bem
A decoração interna agrada em cheio aos que gostam de ambientes escuros. Os bancos são revestidos em dois padrões de tecido — um deles com grande capacidade de reter fiapos e poeira — e trazem o nome da versão bordado nos encostos dianteiros; a faixa central do painel simula o aspecto de fibra de carbono e as costuras do couro do volante e dos tecidos vem em prata. Para iluminar um pouco o interior, o teto solar compõem-se de duas seções: a dianteira ergue-se ou corre por cima da outra; a traseira é fixa. Deveria ser revisto seu forro, uma tela perfurada que isola o sol bem menos do que deveria em um país tropical.
O motorista encontra conforto no banco bem definido em densidade de espuma e apoios laterais (poderia ter mais suporte lombar), com um volante de ótima pega dotado de ajustes em altura e distância (que deixa à mostra uma capa flexível toda folgada na coluna de direção), pedais bem posicionados e amplo apoio para o pé esquerdo. O quadro de instrumentos é simples e funcional e traz um mostrador digital com computador de bordo de duas medições, configuração de funções e mostrador de temperatura externa, entre outros. O espaço no banco traseiro é pequeno, assim como o compartimento de bagagem, mas ambos aceitáveis para um hatch compacto.
O Punto está repleto de bons detalhes, como controle elétrico dos vidros com função um-toque para todos, temporizador, abertura e fechamento a distância (mas o teto solar permanece aberto); controlador de velocidade e alerta programável para excesso, um ótimo comutador de farol (alterna-se entre os fachos alto e baixo apenas puxando contra o volante, com um batente bem definido), apoio de braço central na frente e sistema de áudio com boa qualidade e graves bem presentes. E a Fiat instalou no painel o interruptor de travamento central das portas, que faltava.
Seletor DNA altera câmbio e acelerador entre três programas; nome da série
vem nos encostos dianteiros; ar-condicionado automático, interface Bluetooth
com comando por voz e teto solar com dois painéis estão entre os opcionais
Embora tenha funções convenientes como comandos por voz, leitura de mensagens de texto recebidas no telefone e até de novidades das redes sociais, o sistema Blue&Me deixa a desejar na tarefa básica de tocar músicas de um dispositivo USB, como pendrive: a leitura só acontece com a ignição ligada (embora se possa ouvir rádio ou CD sem isso) e não há como mudar de pasta pelos comandos do rádio, sendo preciso recorrer às instruções por voz. Nada disso é aceitável hoje, em que qualquer rádio barato de lojas de acessórios reproduz um pendrive tão bem quanto um CD.
Outros pontos que merecem revisão são o pouco espaço para objetos (até o porta-luvas é pequeno) e as faltas de luz traseira de neblina, repetidores laterais de luzes de direção, iluminação nos espelhos dos para-sóis e luz de cortesia ou de leitura na parte traseira da cabine. E gostávamos da roda de alumínio no estepe dos Puntos anteriores, embora o pneu de mesma medida dos outros já seja digno de elogio no cenário atual de obsessiva redução de custos.
Sob o capô, um Sporting
Apesar do jeito de TJet trazido pelos para-choques, em termos mecânicos o Punto Black Motion é um Sporting, dotado do motor E-Torq flexível de 1,75 litro (que a Fiat arredonda, mas não deveria, para 1,8) e quatro válvulas por cilindro. A potência de 132 cv e o torque de 18,9 m.kgf com álcool não são expoentes para a cilindrada, mas fazem bom papel diante do peso razoável do modelo, 1.229 kg. Passada alguma hesitação em baixos regimes, nos quais um mecanismo de variação (do tempo de abertura das válvulas ou do coletor de admissão, se não ambos) seria de grande ajuda, o E-Torq entra em sua melhor fase e deixa o Punto bastante ágil, com um ronco esportivo sem excessos — em parte de admissão, em parte de escapamento — que combina bem com sua proposta.
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