O primeiro SUV da marca sueca combina segurança, conforto e desempenho há quase 20 anos
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Quando se vê a profusão de utilitário esporte (SUVs) em quase todas as marcas de hoje, parece que sempre foi assim. Mas não é verdade: apenas entre o fim da década de 1990 e o começo dos anos 2000 essa categoria recebeu a adesão de fabricantes de prestígio como BMW, Lexus, Mercedes-Benz (à parte o Classe G, que nasceu em 1979 como jipe), Porsche e Volvo.
Na marca sueca, o XC90 — hoje seu SUV topo de linha — foi o responsável por inaugurar o segmento em 2002. Até então, tudo que a Volvo oferecia era a perua XC70, uma variação da V70 com suspensão elevada, pneus maiores e molduras na carroceria. Fazia sentido, pois peruas eram um produto de longa tradição na empresa, desde a Duett de 1953, e a V70 esteve por longo tempo entre os carros mais vendidos de seu país. Contudo, não era mais possível ficar de fora de uma classe tão promissora quanto a dos SUVs de luxo.
Exageros de estilo à parte, as linhas básicas do primeiro XC90 apareciam um ano antes no ACC, conceito da Volvo no Salão de Detroit de 2001
No Salão de Detroit em janeiro de 2001 era revelado o Adventure Concept Car (carro-conceito de aventura) ou ACC, com linhas angulosas que antecipavam em boa parte as do XC90. O modelo de produção estreava um ano depois, no mesmo evento, e entrava em produção em agosto na fábrica de Torslanda, Suécia.
O desenho do XC90 não negava a semelhança com a V70 e outras peruas da Volvo, em particular pelas lanternas traseiras que subiam pelas colunas. Os faróis tinham contorno ondulado, a grade dianteira vinha integrada ao capô e, sob a linha de base das janelas, “ombros” pronunciados estabeleciam a ligação visual com os demais modelos da marca. Amplo, o SUV media 4,81 metros de comprimento, 1,90 m de largura e 2,86 m de distância entre eixos.
No interior também se notavam elementos comuns dos suecos, como os comandos grandes e fáceis de usar (caso dos botões giratórios de ajuste da temperatura do ar-condicionado), pensados para uso com luvas grossas, e o amplo volante de quatro raios diante de instrumentos de clara leitura. A tela do navegador destacava-se sobre o painel. Havia escolha entre cinco e sete lugares.
O XC90 estreava em 2002 com estilo simples e imponente, opção de sete lugares e interior luxuoso; as lanternas traseiras elevadas seguiam as peruas da marca
A plataforma P2 era basicamente a mesma do sedã S80, lançado em 1998, e dos modelos menores S60 e V70 de 2000. O XC90 oferecia duas versões de motores a gasolina: T5, com cinco cilindros em linha, 2,5 litros, turbo, potência de 211 cv e torque de 32,6 m.kgf; e T6, que usava um seis-cilindros em linha de 2,9 litros com dois turbos, 272 cv e 38,8 m.kgf, ambos com transmissão automática de cinco marchas. O turbodiesel D5 tinha um 2,4-litros com 163 cv e 34,7 m.kgf.
O XC90 tinha motor transversal, posição incomum para um seis-cilindros em linha, e desde 2002 trazia controle eletrônico de rolagem e cortinas infláveis para toda a área lateral de vidros
Tração integral vinha de série no T6 e como opção nos outros, que como padrão usavam tração dianteira. Todos os motores eram transversais, posição incomum na história para um seis-cilindros em linha: por seu comprimento, ele quase sempre dá lugar ao V6 quando montado nessa posição. Além de bolsas infláveis frontais, laterais e de cortina (que abrangiam a área de vidros das três fileiras de bancos) de série, o XC90 trazia controle eletrônico de estabilidade e rolagem (RSC), que usava um sensor de giroscópio para registrar a inclinação da carroceria. Se calculasse alto risco de capotar, o RSC provocava subesterço para tentar evitar o acidente.
A revista Car and Driver comparou o T6 a Acura MDX, BMW X5, GMC Envoy, Land Rover Discovery, Lexus GX470, Lincoln Aviator e Volkswagen Touareg: “O XC90 se comporta bem como o primeiro esforço da Volvo em SUVs. Está carregado de itens de segurança. O desempenho em estrada foi mediano, sem números impressionantes. Na lama o Volvo se comportou razoavelmente bem. No geral, é um carro agradável, mas sem paixão. Com um preço baixo no grupo, espera-se que seja calorosamente recebido pelos aficionados da Volvo”.
Cortinas infláveis para as três fileiras de bancos e controle de rolagem eram itens de segurança de série; a edição Ocean Race (à direita) vinha em 2005
A versão Executive aparecia em 2003 com interior mais luxuoso, minibar integrado entre os bancos dianteiros, toca-DVDs e duas telas de vídeo de sete polegadas para os passageiros de trás. O XC90 ganhava na linha 2005 o primeiro motor V8 aplicado a um Volvo. A unidade aspirada de 4,4 litros produzida pela Yamaha, empresa japonesa mais conhecida pelas motos, era uma evolução do 3,4-litros de 235 cv que a marca forneceu nos anos 90 para o Ford Taurus SHO, agora com 315 cv e 45,1 m.kgf. A versão ganhava rodas de 18 polegadas, caixa automática de cinco marchas e suspensão recalibrada.
“É estranho dirigir um Volvo sem ruído e sem a oscilação de humor comum aos turbos”, anotou a Car and Driver. “O V8 puxa com força linear e ultrapassar caminhões é fácil. Todo o resto se parece muito com os XC90 menos potentes: direção leve, frenagem competente, bancos confortáveis, suspensão complacente, a sensação geral de dirigir um sedã Volvo que alguém levantou três polegadas. E uma nota no escapamento para causar inveja a um Camaro, rica e sonora em altas rotações”. Outra novidade do ano era o aumento de potência no D5, agora com 185 cv e 40,8 m.kgf. Aparecia também a edição limitada Ocean Race, em alusão ao torneio de embarcações então patrocinado pela Volvo, com detalhes próprios de acabamento.
Discretas mudanças de estilo vinham na linha 2007, com novos faróis, para-choques e lanternas traseiras com elementos internos mais retos em vez dos ovalados. Os faróis usavam lâmpadas de xenônio em ambos os fachos com efeito autodirecional em curvas. Em lugar do motor turbo do T5 estava um seis-cilindros em linha aspirado de 3,2 litros com 243 cv e 32,6 m.kgf. A versão Sport aparecia com rodas de 19 pol, suspensão mais firme e adereços de estilo e podia receber três dos motores. O turbodiesel D3 de 2,4 litros, em 2010, tinha 163 cv e tração apenas dianteira.
Faróis, lanternas e para-choques mudavam para 2007, como mostrado no XC90 V8 das fotos menores; em destaque o pacote Sport, disponível com três dos motores
Já em fim do ciclo de produção, o XC90 ganhava lanternas traseiras com leds para 2012. Um ano depois vinham luzes diurnas de leds, mais elementos pintados na cor da carroceria e a edição de despedida Signature Edition, com estilo R-Design, rodas de 19 pol, sistema de áudio de alto padrão e telas de vídeo para o banco traseiro. A geração teve sobrevida até 2016 na China como XC Classic com motor 2,5 turbo de 220 cv e tração integral.
Martelo de Thor
Doze anos depois do primeiro, o XC90 de segunda geração era revelado em agosto de 2014. O desenho frontal apontava a tendência para seus próximos modelos, sendo o feixe de leds apelidado de “martelo de Thor”. Com a plataforma modular SPA (Scalable Product Architecture) e sete lugares de série, o SUV trazia um dos tetos solares mais amplos já vistos e, no centro do painel, uma grande tela vertical para comandar áudio, telefone, navegação e outras funções.
O ar-condicionado tinha quatro zonas e o áudio usava alto-falantes Bowers & Wilkins e amplificador de 1.400 watts. Pela segurança, o sistema City Safety de frenagem autônoma detectava também pedestres e ciclistas, mesmo à noite. Um dispositivo apertava os cintos de segurança ao detectar um movimento acentuado ou impacto sob o carro, que poderia lesionar os ocupantes pela força vertical. Com assistente de condução semiautônoma, o carro assumia as funções de aceleração, frenagem e direção em curvas leves a até 50 km/h — a velocidade subiria para 130 km/h em 2017.
Redesenhado e bem mais moderno, o segundo XC90 oferecia a versão de quatro lugares Excellence em opção à de sete; a mecânica de topo era a híbrida T8 com 407 cv
O novo XC90 oferecia as versões a gasolina T5 (2,0 litros, turbo, 254 cv e 35,7 m.kgf) e T6 (2,0 litros, turbo e compressor, 320 cv e 40,8 m.kgf) e turbodiesel D4 (2,0 litros, 190 cv e 40,8 m.kgf) e D5 (2,0 litros, 238 cv e 49 m.kgf). Havia também o híbrido recarregável em fonte externa (plug-in) T8, que somava o 2,0 com turbo e compressor a um motor elétrico para totais de 407 cv e 65,3 m.kgf — o bastante para acelerar de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos. Nesse caso a tração traseira era fornecida pelo elétrico, o que dispensava o cardã. A caixa automática passava a oito marchas e a suspensão oferecia o sistema Four-C de controle eletrônico de amortecimento.
Pouco depois surgia a opção R-Design, com visual esportivo obtido com defletores, rodas de até 22 pol, novos bancos revestidos em couro e camurça sintética e tema próprio nos instrumentos. Para o segmento de alto luxo, a versão Excellence vinha com dois bancos individuais na parte traseira, dotados de ventilação e massagem. Os passageiros desfrutavam telas para controles diversos, mesas escamoteáveis, minigeladeira, porta-copos com aquecimento e resfriamento e copos de cristal da Orrefors sueca.
O Best Cars comparou XC90 T8, Audi Q7 e Range Rover Vogue em 2017: “Interior sofisticado e com materiais de primeira linha é um atributo em comum em três, mas o Volvo nos causou a melhor impressão. O sistema de áudio garante o espetáculo, muito superior em potência, peso de graves e sensação de palco. Grande conveniência do XC90 e do Q7 é a condução semiautônoma:”. Em desempenho, o sueco era “imediato ao responder ao pé direito: o motor elétrico preenche qualquer lacuna que haveria até o quatro-cilindros operar a pleno. Combinação de motores falou alto no Volvo, o mais rápido em todas as acelerações e retomadas; em consumo, porém, vantagem para os rivais turbodiesel”.
No T8 apenas o motor elétrico acionava as rodas traseiras; com os retoques visuais de 2019 (foto maior), o mais luxuoso SUV da Volvo aproxima-se de duas décadas de prestígio
Um recurso adicional em 2017 avisava o condutor caso ele invadisse a faixa contrária, oferecendo suporte à direção para conduzir o carro de volta à pista original. No Brasil a versão T8, de início importada com apenas cinco lugares para usufruir benefício fiscal, passava a levar sete pessoas após alteração da norma. Novidades em 2019 incluíam sistema híbrido leve com regeneração de energia em frenagens em toda a linha, o que melhorava o consumo e as emissões em até 15% em uso real, segundo a empresa; nova grade dianteira e mais opções de bancos, como a inédita de seis lugares em três fileiras.
Próximo de completar 20 anos, o XC90 continua a representar bem a Volvo entre os utilitários esporte de luxo. Solidez, conforto e segurança, sem abrir mão de desempenho, permanecem as marcas do número um da marca entre os SUVs.
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