Traseira bem-resolvida em todos: escola oriental com presença forte em City e Yaris, com elementos do presente e do passado; soluções atuais em Cronos e Virtus, reflexo dos projetos mais novos; bom esforço em fazer o Cobalt parecer diferente sem mexer muito
Essa quina bem marcada aparece em todos porque confere dinamismo ao estilo e ajuda na aerodinâmica. Em quatro deles, a faixa espessa sugere um defletor. Em City, Virtus e Yaris esses vincos abrangem toda a largura do carro e têm formato parecido. O vinco do Cobalt, por sua vez, está restrito à tampa do porta-malas: foi criado no redesenho de meia-vida como mudança de custo baixo. Já a quina do Cronos é a mais discreta. Como seu estilo traseiro é carregado na parte central, ressaltá-la causaria poluição visual e roubaria espaço do emblema.
Lanternas horizontais têm aplicação cara porque é preciso dividi-las entre carroceria e tampa do porta-malas. No entanto, combinam tão bem com um sedã que estão virando regra. O Cobalt as ganhou no redesenho: o formato original, vertical, foi mantido só na região onde invade a carroceria, porque seria mais cara de mudar; a parte que invade o para-choque foi trocada por uma extensão na tampa. Não é a solução mais elegante, mas causou grande mudança.
O Cronos adota lanternas esguias como manda a tendência italiana. As de Virtus e Yaris, mais chamativas, usam contornos retos no primeiro e arredondados no segundo para combinar com suas propostas de estilo. As do City, em vez de serem o destaque da traseira, adaptam-se ao estilo do resto. A porção branca foi delineada de modo a continuar o filete cromado que une as lanternas.
O suporte da placa atua como coringa. No Cobalt ele está no para-choque para baratear a produção da tampa. City e Yaris o têm na tampa e em baixo relevo para integrá-lo às peças vizinhas, mas isso causa sobrecarga visual. Cronos e Virtus, por fim, usam as placas na tampa e distribuem bem os elementos.
As soluções de Honda e Toyota são boas, mas criam desequilíbrio ao ter o suporte muito próximo da linha de base da tampa — rebaixar esta última evitaria o problema e facilitaria o uso do porta-malas, mas existe a questão de rigidez estrutural. No Chevrolet reestilizado o suporte da placa ficou perdido, sem ser seguido por nada, e a tampa ganhou vincos que a fazem parecer vinda de outro modelo. Há ainda um vinco logo abaixo de cada lanterna que dissimula muito mal a “cirurgia” comentada no item 2.
Cobalt, Cronos e Virtus usaram a solução genérica de conectar laterais e traseira com vincos. O Cronos usa só um, porque tem uma parte grande em plástico preto logo abaixo. Os dois vincos fortes do Virtus reforçam seu caráter sóbrio, mas tornam a aparência pesada. Como os vincos do Cobalt são mais leves e altos, ele não deveria ter problemas, mas a Chevrolet queria fazer o modelo reestilizado parecer o mais diferente possível.
Em City e Yaris, a região tem um vinco muito leve. No primeiro isso é bom: há muitos elementos de estilo logo acima e a parte debaixo tem desenho forte, incluindo falsas saídas de ar e um vinco espesso. No segundo, essa suavidade repete o que se vê em toda a carroceria, mas isso nem sempre é bom: conforme o ângulo e a iluminação, não se vê relevo nessa região do Yaris. Isso lhe dá um aspecto pobre.
Diversidade também na seção inferior do para-choque. City e Cronos a destacam bastante, um com vincos e outro com a diferença de material e cor, ao passo que Virtus e Yaris apostam em elementos horizontais. Ela assume um visual discreto no Cobalt, por ser o único a usar a placa ali: evita poluição visual. City e Cronos combinam plástico preto, refletores, vincos e até falsas saídas de ar; o primeiro chama atenção pelo jogo de luz de sombra e o segundo pelo contraste de cores. No Virtus, a linha cromada tem ressaltos baixos e largos demais para sugerir saídas de escapamento, então este elemento acaba parecendo perdido. O Yaris causa sensação parecida: falta conexão visual com as laterais.
Painéis de conservador a arrojado, de objetivo a carregado, de monocromático a colorido; consoles de antiquado a moderno, de estreito a largo e até de vertical a quase horizontal
A indústria tem preferido volantes de três raios e detalhes em preto brilhante ou prata fosco, com raio inferior maciço ou vazado. É comum que o fabricante use o mesmo volante em vários modelos, embora seja a peça que o motorista mais vê e toca. Cobalt, Virtus e Yaris desagradam por causa disso — será que essa economia compensa o prejuízo à imagem? City e Cronos, por sua vez, compartilham seus volantes somente com os irmãos de projeto.
A tela da central de áudio costuma ocupar três posições e aqui temos todas. A tradicional é a de City e Cobalt, abaixo dos difusores de ar, como nos rádios antigos: traz sensação de familiaridade, mas limita o tamanho da tela. Em Virtus e Yaris ela fica no topo do console. Pode ser vista baixando menos o olhar, mas obriga o console central a ser largo e alto na parte superior. Aqui, o Cronos é a exceção. Isolar a tela acima do console permite usar vários tamanhos e permite manter o resto do painel baixo, o que favorece a visibilidade. Por outro lado, um elemento saltado pode quebrar a harmonia.
A discussão do console central se aprofunda aqui. O mais convencional é o do Yaris, estreito e alto, com componentes discretos que remetem aos anos 90. O do City é mais largo e tem formas internas horizontais, de modo que perde a aparência de coluna; no Cobalt ele é protuberante e baixo, o que faz os lados do painel parecerem mais recuados e dá sensação de espaço.
Cronos e Virtus fazem valer a modernidade dos projetos. Painéis com formas horizontais evitam a sensação de que a cabine é dividida ao meio, de modo que ela parece mais espaçosa. O perfil baixo implica “espalhar” os componentes no console, o qual os deixa mais próximos das mãos. A Fiat usou formas arredondadas e uma faixa horizontal cinza ou bordô, dependendo da versão. Já a Volkswagen permaneceu fiel às formas retas, criticadas por muitos pela simplicidade, e usou o branco como opção contrastante.
Como o painel fica vazio no lado do passageiro, preenchê-lo de maneira que combine com o restante é um desafio. O Cobalt recorre a uma simples superfície inclinada e baixa. O Cronos traz uma variação mais adornada, em que a saída de ar chama mais atenção e a superfície é quebrada pela faixa contrastante. Em ambos procura-se evitar que o painel “avance” sobre o passageiro, mas o Cronos denota mais capricho e atenção aos detalhes. City, Virtus e Yaris usam superfícies horizontal e vertical bem delineadas. O painel do City é o que mais passa impressão de altura, portanto é bom que use elementos fortes para dissimulá-la. Já o Virtus ameniza essa impressão com as formas horizontais. O caso do Yaris é intermediário.
Por mais bonitos que sejam o painel e as portas, vão deixar o conjunto feio se forem desconexos. Essa integração é fraca em City e Cobalt: as portas têm estilo independente, que segue o do painel. Por outro lado, o Virtus repete a faixa branca nas portas de um modo que parece papel dobrado. O Yaris faz uma transição nos relevos e, no Cronos, o painel não tem formas que pudessem ser prolongadas às portas. Elas então são cheias de formas arredondadas, com puxadores de porta saltados, em alusão ao desenho geral do carro.
O segmento dos sedãs compactos superiores se encontra acima da esfera popular, mas ainda abaixo da dos médios, e isso é fácil de perceber: há modelos projetados no Brasil, outros vindos do exterior e outros que são adaptações locais de projetos estrangeiros. Além disso, eles têm uma diferença de idade que, nos tempos atuais, implica seguir tendências de estilo muito diversas. Some tudo isso às características particulares de cada fabricante — conservadorismo, esportividade, inovação — e se entende que, embora pequeno, esse segmento já se tornou uma bela representação do mercado automobilístico brasileiro de hoje.
Se a análise tivesse sido feita alguns anos atrás, o Ford Fiesta Sedan teria participação garantida, mas sua situação começou a desandar em 2014: só o hatch foi nacionalizado e o sedã, vindo do México e sujeito à variação cambial, passou a vender cada vez menos.
Embora seu estilo esteja datado em relação aos outros sedãs, a carroceria mostra contornos angulares e vincos fortes e muito equilibrados. A área envidraçada reduzida cria um problema: a lateral traseira tem uma área metálica enorme, o que confere a sensação de rodas pequenas. Por dentro, o painel exibe formas agradáveis, mas a tela da central de áudio atesta sua idade.
Infelizmente, não se pode esperar muito do futuro desse carro: a nova geração europeia não está prevista para o Brasil e, mesmo no exterior, ainda nem se fala em uma versão sedã.
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