Logan vs. Etios vs. Voyage: como o brasileiro gosta

Logan vs. Etios vs. Voyage

 

Com projetos simples, esses sedãs compactos concorrem por
sua preferência com diferentes qualidades na faixa até R$ 50 mil

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Sedãs compactos são, por definição, um tipo de carro para países emergentes. O dito Primeiro Mundo costuma optar pela praticidade e eficiência dos hatchbacks e das peruas ou, no caso dos Estados Unidos, praticamente começa seu leque de sedãs naqueles que chamamos de médios. Vez ou outra aparecem sedãs de pequeno porte por lá, mas uma participação de mercado expressiva eles só alcançam em países como… o Brasil.

Aqui eles são a solução para muitas famílias: por valores pouco mais altos que os dos hatches, oferecem amplo espaço para bagagem — não raro, mais que em sedãs médios e até grandes. Nos últimos anos, em vez de apenas acrescentar um porta-malas saliente aos modelos de dois volumes, os fabricantes têm desenvolvido sedãs com maior distância entre eixos a fim de ampliar também o espaço para os passageiros. Hoje é possível acomodar-se em um sedã compacto quase tão bem quanto em um médio.

 

 

Renault Logan Dynamique

Toyota Etios XLS

Volkswagen Voyage Seleção

4,35 m 4,26 m 4,21 m
98/106 cv 92/96,5 cv 101/104 cv
R$ 44.250 R$ 46.890 R$ 50.602
Preços públicos sugeridos, em reais, para os carros avaliados, com possíveis opcionais

 

O Renault Logan, pioneiro desses “pequenos crescidos”, ganhou a oposição de modelos como Chevrolet Cobalt, Fiat Grand Siena, Nissan Versa e Toyota Etios sedã. Incomodada em sua zona de conforto, a marca francesa decidiu adotar na linha 2014 brasileira as formas bem mais atuais e atraentes que haviam sido apresentadas um ano antes na Europa, onde em alguns países o Logan é vendido pela marca romena Dacia.

A chegada do novo Logan é o momento para verificar suas chances nesse renovado segmento. Para a competição com a versão de topo da Renault, a Dynamique, chamamos o Etios — ainda não avaliado como sedã — em seu acabamento XLS e o Volkswagen Voyage — em série limitada Seleção —, que não passava por nossa análise havia bons anos. Tanto o Grand Siena quanto o Versa são praticamente os mesmos do comparativo de 2012. Quanto ao Cobalt, vale explicar ao leitor não habitual que a General Motors há anos não mais cede carros para avaliação do Best Cars.

 

 

Os três modelos são concorrentes diretos nos quatro “Ps” que norteiam nossos comparativos. Sua proposta de uso  é a mesma: sedãs compactos de quatro portas com espaço e desempenho adequados tanto ao uso urbano quanto às viagens em família, ainda que sem excessos, como se espera dessa faixa de mercado. Em porte,  a variação chega a 13 centímetros em comprimento, o que os mantém no mesmo segmento, enquanto o entre-eixos varia 17 cm entre o menor VW e o maior Renault.

A potência  oscila pouco entre o mais modesto Etios (96,5 cv) e o líder Logan (106 cv), com Voyage (104 cv, todos com álcool) no meio-termo, em motores de 1,5 litro no Toyota e 1,6 nos demais, com quatro válvulas por cilindro apenas no primeiro. Quanto ao preço, o Etios XLS não oferece opcionais e custa R$ 46,9 mil; o Logan Dynamique começa em R$ 42,1 mil, mas chega a R$ 44,2 mil com opções; e o Voyage Seleção parte de R$ 43,8 mil e alcança R$ 50,6 mil como avaliado.

Os mais caros valem realmente mais? Respostas a partir da próxima página.

Próxima parte

 

 

 

 

Ganho importante em aparência marca a nova geração do Logan, que deixou o Etios parecendo ainda mais antigo; o Voyage, apesar das recentes mudanças, é um tanto discreto

 

Concepção e estilo

O Logan foi o primeiro deles a surgir. Apareceu em 2004 na Europa como projeto de baixo custo, com produção a cargo da romena Dacia, para ser um dos carros mais baratos daquele continente; três anos mais tarde começava a fabricação em São José dos Pinhais, PR. A reformulação apresentada em 2012 aos europeus foi lançada aqui um ano depois. O atual Voyage nasceu do Gol, como na primeira geração, sendo um projeto brasileiro apresentado em 2008 e produzido em Taubaté, SP. O Etios também veio de fora: existe na Índia desde 2010 e ganhou fabricação nacional em Sorocaba, SP, em 2012.

A Renault fez um bom trabalho ao redesenhar o Logan, que ganhou linhas harmoniosas e atuais, distantes do ar despojado e antiquado do anterior. A reforma foi ampla a ponto de aumentar a inclinação do para-brisa, o que concorreu para o aspecto moderno e para melhorar a aerodinâmica, antes crítica. A maioria que opinou ao vê-lo foi bastante favorável.

Mais que ao Voyage: embora mostre equilíbrio de formas e tenha recebido uma traseira mais atraente na linha 2013, ainda não é capaz de seduzir com suas linhas discretas. Quanto ao Etios, o que dizer? A Toyota conseguiu um desenho mais antigo e menos agradável que o do próprio Logan inicial, com o que o modelo obteve grande rejeição desde o lançamento.

 

 

Diferentes soluções de estilo também na traseira, mas sempre com a placa no para-choque; em aerodinâmica o Logan decepciona, mesmo tendo melhorado com a reformulação

 

Os três mostram vãos de carroceria regulares, sem os defeitos que se notam em alguns carros pequenos, sendo os do VW os menores; os do Toyota fogem ao padrão japonês de vãos mínimos, o que é compreensível pelo foco no menor custo de produção. Em aerodinâmica, empate técnico entre o Cx do Etios (0,31) e o do Voyage (0,313). Embora tenha melhorado de 0,37 para 0,34, o do Logan continua bem atrás e um tanto alto para os padrões de hoje. Considerada a área frontal, o VW sai à frente com o índice de 0,704, seguido pelo Toyota (0,735) e o Renault ainda mais distante (0,836).

 

A Renault fez um bom trabalho ao redesenhar
o Logan, que ganhou linhas harmoniosas e atuais,
ante o ar despojado e antiquado do anterior

 

Conforto e conveniência

O Logan melhorou a olhos vistos também no aspecto interno, deixando o Voyage para trás: adotou formas agradáveis, ainda que use materiais simples e plásticos rígidos como os adversários. Há um novo padrão de revestimento dos bancos dianteiros na versão Dynamique, com tecido que dispensa a habitual costura entre a seção central e as laterais, mas o resultado é menos expressivo do que se espera: continua um tecido áspero, típico de carros de baixo custo, como o dos concorrentes.

No Voyage, o interior combina um painel sem inspiração a um padrão de revestimento — na série Seleção — com relevos no formato de uma bola de futebol. O conjunto impressiona menos que o do Renault, mas não incomoda. O Toyota fica mais uma vez longe dos oponentes: mesmo com apliques em preto brilhante e o esportivo volante revestido em couro com base chata, adotados para 2014, a aparência interna é simplória e as formas retas do painel chegam a ser desagradáveis, sem falar na escuridão trazida pelo revestimento todo preto. Além disso, como no Logan, há mais parafusos aparentes do que seria aceitável.

 

 


Melhorou muito o aspecto interno do Logan, agora atual e mais refinado; seu
espaço é o mais generoso; os bancos dianteiros aboliram uma costura do tecido

 

Embora carros compactos tenham limitações para o conforto do motorista, como pedais mais deslocados para a direita, os três modelos são relativamente bons nesse quesito, com posições relativas adequadas entre banco, os pedais e o volante. No Voyage, certa divergência entre o acelerador próximo e o pedal de embreagem distante em seu fim de curso dificulta encontrar o ajuste ideal do assento.

 

 

Ajuste de altura do banco vem no Logan e no Voyage, mas com método de regulagem pouco prático neste: o próprio peso do corpo o faz descer ou subir, o que só pode ser feito com o carro parado. Nos mesmos modelos o assento curto apoia mal as coxas; nos três carros a caixa de roda está perto demais para servir de repouso para o pé esquerdo. No Renault e no Toyota o volante admite regulagem em altura; a VW só oferece tal item em outras versões. A regulagem de encosto é por botão de girar no Voyage e por alavanca, em pontos definidos, nos demais.

Em instrumentos, o Voyage sobressai por trazer um completo computador de bordo com duas medições (só uma no Logan; o Etios não tem computador) ao lado de mostradores bem legíveis, incluindo marcador de temperatura do motor, que os concorrentes substituíram pela luz-piloto de superaquecimento. Difícil é ler alguns dígitos da pequena tela central digital, como hodômetros e informações da música do sistema de áudio.

 

 


Volante esportivo e seções em preto brilhante não disfarçam o painel simplório e
pouco prático do Etios; espaço é amplo, mas falta ajuste de altura do banco

 

No Toyota, hodômetro e mostrador de nível de combustível são minúsculos, de leitura precária, e há quem não goste da posição central dos instrumentos, embora para nós seja questão de breve adaptação. O que também requer hábito é a indicação de velocidade e rotação, que para o motorista parece menor que para o passageiro pelo ângulo do quadro. A iluminação é em branco nos três modelos (ficou no passado o padrão em azul e vermelho da VW, que não permitia boa leitura).

O controle elétrico de vidros mais completo é o do Voyage, com função um-toque para todos (exceto para os comandos dianteiros dos vidros traseiros), sensor antiesmagamento, temporizador, abertura e fechamento (automático) pelo controle remoto da chave. Nenhum desses recursos equipa os adversários, embora também tenham controle para os quatro vidros. No Etios há o problema habitual em carros de marcas japonesas: ao bloquear os botões traseiros, o motorista perde controle dos vidros de todos os passageiros e ainda deixa o ocupante ao lado sem ação sobre o próprio vidro.

Todos vêm com sistema de áudio de qualidade mediana (inferior no Toyota), dotados de função MP3, comandos no volante ou junto dele e entrada USB, que deixa o aparelho conectado bem à vista de quem passa pelo carro — seria ideal uma tomada remota. Voyage e Logan oferecem ainda conexão auxiliar e interface Bluetooth para telefone celular, mas o Renault dispensa toca-CDs, o que pode desagradar a alguns. No Etios o som fica inativo sem a chave, outro padrão japonês.

Próxima parte

 

 

 

 
Ambiente interno do Voyage é correto e funcional, embora simples; conforto no
banco traseiro é sua maior limitação comparado aos espaçosos concorrentes

 

O Logan é o único a oferecer navegador como opcional de fábrica, integrado ao painel e agora em posição mais alta e adequada (contudo, ainda sujeito a reflexos em algumas condições, conforme a incidência de luz na parte traseira do carro). A tela sensível ao toque permite fácil inserção do endereço desejado.

No mesmo painel há o sistema Eco2, que auxilia a direção econômica e favorável ao meio ambiente, ao informar a distância percorrida sem consumo (com o motor em corte de alimentação, como em declives sem acelerar) e atribuir notas ao motorista por sua forma de acelerar, antecipar manobras e trocar de marcha. O Voyage traz apenas mensagens que podem evitar consumo desnecessário, como não acelerar o carro parado e fechar janelas quando o ar-condicionado estiver ligado — mesmo que o interior esteja em brasas depois de exposto ao sol por horas…

Sensores de estacionamento na traseira equipam Logan e Voyage, com indicação gráfica no rádio deste último, mas a Renault deveria pintar seus pontos na cor do para-choque, pois em preto parecem improvisados. Outros bons detalhes no Logan são ar-condicionado com controle automático, limitador e controlador de velocidade, maçanetas internas cromadas (mais fáceis de ver à noite) e indicador de temperatura externa. Como no Etios, o volante vem revestido em couro, em vez do plástico algo áspero do Voyage.

 

 

 
Logan: instrumentos bem legíveis, ar-condicionado automático, limitador
e controlador de velocidade, tela central tátil com navegação e
registros para condução econômica, mola a gás para sustentar o capô

 

O Toyota destaca-se pela extensão do ar-condicionado para o porta-luvas e o alerta para uso do cinto também pelo passageiro da frente, com sensor no assento. A favor do Voyage estão espelhos iluminados nos para-sóis (os outros têm espelho sem luz e, no Etios, sem a necessária tampa no lado do motorista), repetidor digital do velocímetro, alerta programável para excesso de velocidade, alarme antifurto com sensores de ultrassom, duas luzes de leitura na frente (só uma no Logan, nenhuma no Etios) e rebatimento automático do retrovisor direito ao engatar marcha à ré para focalizar o meio-fio.

 

Em capacidade de bagagem a vitória é do
Etios, com 562 litros, ante 510 do Logan e 460
do Voyage; só no Renault há banco bipartido

 

Alguns pontos merecem revisão pelos fabricantes. No VW o ar-condicionado é bastante ruidoso, sobretudo em modo de recirculação; falta a luz indicadora de porta mal fechada; é preciso usar chave para acesso ao tanque de combustível e ao porta-malas (há comando remoto nela, mas não uma prática alavanca na cabine, como as dos concorrentes); as portas traseiras têm uma parte de chapa exposta que seria fácil evitar; a retração dos cintos dianteiros puxa-o com força a ponto de golpear o vidro da porta com a fivela, ao ser liberado; e há tampas plásticas onde estariam os pinos de travas e as manivelas de vidros nas portas, caso a versão não tivesse controles elétricos.

No Toyota o comando para destravar o capô é um botão ultrapassado (lembra os afogadores dos anos 70 e 80) e o painel deforma-se quando ele é puxado, sugerindo fragilidade; faróis e luzes de posição permanecem acesos ao desligar ignição, sem aviso mesmo ao abrir a porta; os difusores de ar centrais deslocados à direita não são ideais e faltam temporizador da luz interna e bolsas atrás dos encostos dianteiros. Embora o limpador de para-brisa monobraço com mecanismo pantográfico atue bem, deixa sem limpar uma faixa esquerda maior que o normal. O Renault deveria ter comando uma-varrida para o limpador.

 


Etios: mostradores centrais que requerem adaptação, com marcador de
combustível e hodômetros pequenos, e refrigeração no porta-luvas

 

Ainda, o compartimento traseiro de Logan e Etios não tem qualquer iluminação, pois a única luz fica na frente (imperdoável em sedãs, que são familiares por vocação); nenhum traz faixa degradê no para-brisa, o que é mais grave no Toyota, pela serigrafia insuficiente acima do retrovisor central (o VW vinha com a faixa até algum tempo atrás); e o espaço para os objetos do dia a dia deixa a desejar em todos eles, com especial crítica ao Voyage.

 

 

As maiores dimensões do Logan — sobretudo largura e entre-eixos — conferem-lhe o interior mais espaçoso, capaz de acomodar cinco adultos com conforto, sendo o vão para as pernas seu maior destaque. O Etios vem pouco atrás, com desvantagem em largura, e o Voyage é crítico nesse aspecto (consequência esperada de ser o mais estreito por fora, com quase 8 cm a menos que o Logan) e inferior em acomodação das pernas. Além de apertado para três pessoas, o VW prejudica o quinto ocupante pelo encosto mole demais, diferente do restante do banco, o que logo cansa o corpo.

Em capacidade de bagagem a vitória é do Etios, com 562 litros, ante 510 do Logan (ainda ótimo para o porte do carro) e 460 do Voyage. Todas as tampas usam braços convencionais, que roubam espaço e podem amassar a bagagem ao fechar. Exclusivo do Renault é o banco traseiro com encosto bipartido, mais conveniente; o Voyage traz uma caixa com tampa que facilita organizar pequenos volumes. Em estepe, empate: todos usam pneu igual aos restantes do carro, mas com roda de aço em vez de alumínio, e adotam a colocação interna sob o assoalho — incômoda no Voyage, pois foi mantida a posição do Gol, que no sedã ficou um tanto distante do usuário.

 

 

 
O Voyage tem instrumentos bem claros com velocímetro digital e computador
com duas medições, sensor de estacionamento com indicação gráfica e caixa
no porta-malas; série Seleção traz tecido em relevo e cinzeiro com logo da CBF
Próxima parte

 

Equipamentos de série e opcionais

Logan

Etios

Voyage

Ajuste de altura dos bancos mot./pas. S/ND ND S/ND
Ajuste de apoio lombar mot./pas. ND ND ND
Ajuste do volante em altura/distância S/ND S/ND ND
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. ND ND ND
Ajuste elétrico dos retrovisores S S S
Alarme antifurto/controle a distância S/S S/S S/S
Aquecimento S S O
Ar-condicionado/controle automático/zonas S/O/1 S/ND O/ND
Bancos/volante revestidos em couro ND/S ND/S ND
Bolsas infláveis frontais/laterais/cortinas S/ND/ND S/ND/ND S/ND/ND
Câmbio automático/automatizado ND ND ND/O
Câmera traseira para manobras ND ND ND
Cintos de três pontos, todos os ocupantes ND ND ND
Computador de bordo S ND S
Conta-giros S S S
Controlador/limitador de velocidade S/S ND ND
Controle de tração/estabilidade ND ND ND
Controle elétrico dos vidros diant./tras. S/S S/S S/S
Controles de áudio no volante S S O
Direção assistida S S S
Encosto de cabeça, todos os ocupantes S ND ND
Faróis com lâmpadas de xenônio ND ND ND
Faróis de neblina S S O
Faróis/limpador de para-brisa automático ND ND ND
Freios antitravamento (ABS) S S S
Interface Bluetooth para telefone celular S S S
Limpador/lavador do vidro traseiro NA NA NA
Luz traseira de neblina ND ND O
Navegador por GPS O ND ND
Rádio com toca-CDs/MP3 S/S S/S S/S
Repetidores laterais das luzes de direção S S S
Retrovisor interno fotocrômico ND ND ND
Rodas de alumínio S S S
Sensores de estacionamento diant./tras. ND/O ND ND/O
Teto solar/comando elétrico ND ND ND
Travamento central das portas S S S
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível; NA = não aplicável
Próxima parte

 

 

 

Mais potente que o Etios, mais leve que o Logan, o Voyage destacou-se em aceleração, retomada e velocidade máxima, embora por pequenas margens

 

Mecânica, comportamento e segurança

Pode-se dizer que há duas escolas entre os motores, mas com resultados semelhantes. O do Etios recorre a quatro válvulas por cilindro, que em tese permitem potência específica mais alta, mas a Toyota fez sua opção por menos cv por litro e melhor distribuição de torque por toda a faixa de uso. A consequência foi um 16-válvulas que se comporta como os oito-válvulas da concorrência (veja outras diferenças de ordem técnica).

O Voyage é o mais agradável pela disposição em baixa rotação associada a um peso moderado, enquanto o Logan pesa 85 kg a mais; o Etios, embora leve como o VW, tem torque inferior ao de ambos. No conjunto, porém, os três são relativamente ágeis em baixos giros e não entusiasmam em altos. O motor Toyota destaca-se pela suavidade, ao produzir ligeira vibração apenas acima de 4.000 rpm, mas é bastante ruidoso (são coisas diferentes). O Renault é mediano quanto à suavidade, e o VW, um pouco pior; ambos também incomodam pelo nível de ruído quando mais exigidos. Notam-se ainda no Logan ruídos aerodinâmicos acima do usual.

 

 

Embora mais moderno e com quatro válvulas por cilindro, o motor do Etios perde em potência e torque, mas seu funcionamento é suave

 

Os diversos fatores considerados, o Voyage sobressaiu em desempenho na simulação do Best Cars, com marcas em aceleração, retomada e velocidade máxima que o colocam um pouco à frente dos demais. Entre estes, o Logan foi melhor que o Etios por pequena margem nos dois primeiros quesitos. Vantagem do Toyota é o menor consumo de combustível em qualquer das condições, com os outros dois em equilíbrio, embora o VW vença em autonomia. Veja os números e a análise detalhada.

 

O Voyage sobressaiu em aceleração,
retomada e velocidade máxima; vantagem do
Etios é o menor consumo de combustível

 

Um tradicional ponto positivo do Voyage encontra paralelo no Etios: excelente comando de câmbio, muito leve e preciso, ante o apenas bom do Logan. Ainda melhor no Toyota é o fácil engate da marcha à ré, como se fosse a sexta marcha e sem travas externas (presente no Renault), enquanto no VW precisa-se pressionar a alavanca para baixo. O pedal de embreagem é leve em todos, com agradável curso curto no Etios.

Embora as suspensões usem os mesmos conceitos, chegam a resultados diversos. O Voyage tem o comportamento mais preciso, esportivo até, com melhor atitude em curvas e estabilidade direcional mais definida. Não chega a ser duro, mas transmite mais os pequenos impactos — talvez pelos pneus de perfil mais baixo no grupo e, ainda, de modelo conhecido por não prezar o conforto, Pirelli P7.

 

 

É do Voyage o acerto de suspensão mais esportivo, com conforto adequado; o Etios destaca-se pela absorção de irregularidades e o Logan está duro demais

 

O Etios concilia conforto adequado, estabilidade segura e a sensação de um conjunto robusto para nosso lamentável padrão de piso. Embora com molas um pouco duras, mostra absorção de irregularidades das melhores, mas transmite muito os ruídos de rodagem. Decepcionou o Logan: as molas duras deixam-no com o rodar menos confortável dos três em piso irregular, saltando sobre emendas do piso como uma picape leve, sem que sobressaia em estabilidade. Os três transpõem lombadas com tranquilidade.

 

 

Destaque do Etios é a leveza da direção (dotada de assistência elétrica, a única no grupo) em baixa velocidade. Em contrapartida, poderia melhorar em precisão direcional, com melhor definição do ponto central e realinhamento mais rápido após as curvas — não se trata de assistência excessiva, mas de ajuste infeliz da geometria de suspensão e direção. O Logan fica para trás pelo volante mais pesado em baixa e apresenta a mesma sensação em velocidade do Toyota, ou seja, deixa a desejar em ambos os quesitos. O mais preciso em alta é mesmo o Voyage. Os freios dos três estão bem dimensionados e, além do obrigatório sistema antitravamento (ABS), trazem distribuição eletrônica da força de frenagem entre os eixos (EBD).

Em iluminação, os faróis de duplo refletor de Voyage e Logan são mais eficientes que os simples do Etios, mas os três vêm com unidades de neblina (luz traseira de mesmo uso, só no VW), repetidores laterais das luzes de direção (montados nos para-lamas do Toyota, menos vulneráveis que nos retrovisores dos outros carros) e retrovisores externos convexos — no Voyage houve avanço depois do lançamento da atual geração, que no início usava lente plana no esquerdo.

 

 

Os faróis do Logan agora são de duplo refletor como os do Voyage, preferíveis aos do Etios, mas os três têm unidades de neblina e repetidores de direção

 

É boa a visibilidade em todos, com algum prejuízo no Logan pelas colunas dianteiras muito largas e mais avançadas (quem esperaria reclamar disso em um carro que, até outro dia, tinha um desenho típico dos anos 80?), além de certa dificuldade na traseira em todos, inerente à forma de porta-malas de um sedã.

Em segurança passiva, as fábricas oferecem praticamente só o que exige a lei: bolsas infláveis frontais, encostos de cabeça e cintos de três pontos para quatro dos ocupantes (apenas o Logan tem o quinto encosto). Fixação Isofix para cadeira infantil não foi prevista em nenhum deles.

Próxima parte

 

 

Simulação de desempenho

O carro mais potente nem sempre é o mais rápido e veloz, como comprovou mais uma vez a simulação de desempenho do Best Cars, elaborada pelo consultor Iran Cartaxo. Apesar dos 2 cv a mais que o Voyage (com álcool), o Logan ficou para trás dele em aceleração, retomada e velocidade máxima e perdeu também para o Etios em alguns quesitos.

Em velocidade, o VW obteve entre 8 e 14 km/h acima dos oponentes, o que se explica por fatores como melhor aerodinâmica (evidenciada no menor consumo de potência para manter 120 km/h) e bom cálculo de câmbio para esse fim. Sua quinta marcha quase atinge a rotação de maior potência, enquanto a do Renault fica cerca de 400 rpm abaixo. No Toyota a quarta chega perto do limite de giros, mas a quinta longa demais faz perder 2 km/h. Interessante a proximidade dos regimes a 120 km/h em quinta.

 

 

O Voyage volta a brilhar em aceleração, como ao passar de 0 a 100 km/h em 0,8 segundo a menos que o Logan e 1,6 s a menos que o Etios, sempre com álcool. Além da potência superior à do Toyota, beneficia-se do peso bem mais baixo que o do Renault. A vantagem do VW cresce nas retomadas, nas quais o torque expressivo em baixa rotação deixa-o com os menores tempos em todas as provas, seguido quase sempre pelo carro da marca francesa (que, no entanto, perde mais com gasolina que seus adversários). O da japonesa decepciona nesse quesito.

Onde o Etios dá o troco é no consumo, o melhor do grupo por até 0,9 km/l, favorecido pela combinação de boa aerodinâmica, peso moderado e câmbio pouco mais longo que os dos oponentes em algumas marchas. Com marcas ao redor de 13 km/l com gasolina e 10 com álcool no ciclo rodoviário, os três podem ser considerados econômicos. Com tanque de maior capacidade, o VW oferece a maior autonomia.

 

Logan

Etios

Voyage

gas. álc. gas. álc. gas. álc.
Veloc. máxima (km/h) 168,8 175,1 175,5 177,5 183,8 185,2
Regime à vel. máxima (rpm) 4.750 4.950 5.900 5.950 5.050 5.100
Marcha em vel. máxima 5ª. 4ª. 5ª.
Regime a 120 km/h (5ª., rpm) 3.400 3.350 3.300
Potência a 120 km/h (cv) 33 30 28
Aceler. 0 a 100 km/h (s) 12,9 11,9 12,9 12,6 11,2 11,0
Aceler. 0 a 400 m (s) 18,4 18,0 18,6 18,5 17,6 17,5
Aceler. 0 a 1.000 m (s) 34,4 33,3 34,1 33,9 32,3 32,2
Ret. 60 a 100 km/h em 4ª. (s) 11,9 10,8 12,3 12,6 10,5 10,2
Ret. 60 a 100 km/h em 3ª. (s) 8,1 7,6 8,8 8,7 7,2 7,1
Ret. 80 a 120 km/h em 5ª. (s) 19,2 16,8 18,6 19,1 15,4 15,2
Ret. 80 a 120 km/h em 4ª. (s) 13,5 12,1 14,2 14,0 11,5 11,4
Ret. 80 a 120 km/h em 3ª. (s) 9,7 8,8 9,8 9,5 8,1 7,8
Cons. ciclo urbano (km/l) 9,1 6,6 9,9 7,3 9,0 6,4
Cons. ciclo rodoviário (km/l) 12,8 9,5 13,7 10,3 13,0 9,4
Auton. ciclo urbano (km) 411 298 401 294 445 318
Auton. ciclo rodoviário (km) 575 427 557 416 641 467
Melhores resultados em negrito; conheça o simulador e os ciclos de consumo

 

 

Dados dos fabricantes

Logan

Etios

Voyage

gas. álc. gas. álc. gas. álc.
Veloc. máxima (km/h) 178 180 ND 189 191
Aceler. 0 a 100 km/h (s) 11,9 11,6 11,8 11,3 10,1 9,8
Consumo ciclo urbano (km/l) 11,9 8,1 11,9 8,4 10,7 7,3
Consumo ciclo rodoviário (km/l) 13,4 9,2 14,0 9,3 13,7 9,4
ND = não disponível; consumo conforme padrões do Inmetro

 

 

São três sedãs práticos, de bom desempenho e relativamente econômicos, mas o Voyage fica um pouco atrás dos oponentes em capacidade de bagagem

 

Comentário técnico

• O motor do Etios tem a concepção mais atual, sendo usado em modelos da marca na Europa, só que com adição de variação de tempo de abertura das válvulas. O bloco de alumínio favorece a eficiência (menor peso e maior dissipação de calor que o ferro fundido dos outros), o cabeçote tem duplo comando com quatro válvulas por cilindro e o acionamento do comando usa corrente, que dispensa troca periódica (nos adversários, correia dentada). Os de Voyage e Renault são projetos mais antigos, em uso no Brasil há 13 anos no primeiro e 15 no segundo.

• Um ponto em comum é a taxa de compressão ao redor de 12:1, que indica a prioridade dos fabricantes ao funcionamento com álcool. A potência específica varia pouco, sendo mais alta no Logan com álcool e mais baixa no mesmo modelo com gasolina — os concorrentes ficam dentro desse intervalo. Até a relação r/l é a mesma (0,314) em dois dos motores, o VW e o Renault, um pouco acima do limite convencionado de 0,3 para uma operação suave (a do Toyota não é conhecida).

• Nas suspensões, apenas o “arroz com feijão” usado por quase toda a indústria, com sistema McPherson à frente e eixo de torção atrás. Mais moderna é a assistência elétrica de direção do Etios, ante a hidráulica dos demais, pois reduz o consumo de energia e dispensa fluido.

Próxima parte

 

 

 

Além de mais barato, o Logan tem maior conteúdo de série; o Voyage cobra caro pelo que oferece e o Etios, de preço intermediário, é o mais despojado

 

Preços

Logan

Etios

Voyage

Sem opcionais 42.100 46.890 43.850
Como avaliado 44.250  46.890 50.602
Completo 44.250  46.890 50.602
Preços públicos sugeridos, em reais, vigentes em 13/3/14; menores preços em destaque; consulte o preço dos opcionais: Logan, Etios, Voyage

 

Custo-benefício

Vendido sem opções, o Etios XLS fica com preço intermediário entre os concorrentes. O Logan Dynamique avaliado trazia o pacote Techno Plus (navegador, ar-condicionado automático e sensores de estacionamento) por R$ 1.100 e a pintura metálica de R$ 1.050; o Voyage Seleção veio equipado com ar-condicionado, rodas de alumínio, faróis de neblina, volante com comandos, caixa no porta-malas e a pintura, em total de R$ 6.750. Assim considerados, o Toyota é 6% mais caro que o Renault e o VW custa 14,4% mais que o mesmo modelo.

Na comparação de equipamentos (veja relação), o Logan aparece com vantagens sobre os demais como controlador e limitador de velocidade e os citados ar automático e navegador. O Voyage fica no meio-termo, enquanto o Etios é o único sem itens como ajuste de altura do banco, computador de bordo e os sensores traseiros. Portanto, na relação entre conteúdo e preço, o Renault está em claro primeiro lugar. O VW oferece equipamentos, mas cobra alto por eles; o Toyota vem mal equipado e ainda assim custa mais que o primeiro.

 

 

Na análise item por item (veja as notas abaixo), percebe-se uma alternância de vantagens. O Logan é o melhor em estilo, posição de dirigir e relação custo-benefício; o Etios, em consumo; e o Voyage, em estabilidade. Os pontos fracos, ou nos quais o modelo não se iguala aos concorrentes, também ficam à mostra: no carro da marca francesa, câmbio e direção; no da japonesa, estilo, acabamento, instrumentos, itens de conveniência e visibilidade; e no da alemã, espaço interno e porta-malas.

Tudo considerado, preços inclusive, o Logan é o vencedor do comparativo: fornece atributos importantes em um sedã compacto, como espaço para passageiros e bagagem, associados a bons equipamentos de conforto e pelo menor valor. Em segundo vem o Voyage, o “esportivo” do grupo: fica para trás em espaço, mas é o mais rápido e tem um conjunto agradável quanto a câmbio, direção e estabilidade, só que custa mais do que deveria. O último colocado, o Etios, mescla qualidades como economia, espaço (sobretudo no porta-malas) e boa dirigibilidade, mas não vale seu preço diante do desprezo da marca a fatores como aparência, acabamento e conteúdo.

 

Nossas notas

Logan

Etios

Voyage

Estilo 4 2 3
Acabamento 3 2 3
Posição de dirigir 4 3 3
Instrumentos 4 3 4
Itens de conveniência 4 3 4
Espaço interno 4 4 3
Porta-malas 5 5 4
Motor 4 4 4
Desempenho 3 3 4
Consumo 3 4 3
Câmbio 4 5 5
Freios 4 4 4
Direção 3 4 4
Suspensão 3 4 3
Estabilidade 3 3 4
Visibilidade 4 3 4
Segurança passiva 3 3 3
Custo-benefício 4 3 3

Média

3,67

3,44

3,61

Posição

1º.

3°.

2º.

As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia

 

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Logan Etios Voyage
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Ficha técnica

Logan

Etios

Voyage

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Material do bloco/cabeçote ferro fundido/ alumínio alumínio ferro fundido/ alumínio
Comando de válvulas no cabeçote duplo no cabeçote no cabeçote
Válvulas por cilindro 2 4 2
Diâmetro e curso 79,5 x 80,5 mm 72,5 x 90,6 mm 76,5 x 86,9 mm
Cilindrada 1.598 cm³ 1.496 cm³ 1.598 cm³
Taxa de compressão 12:1 12,1:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas.) 98 cv a 5.250 rpm 92 cv a 5.600 rpm 101 cv a 5.250 rpm
Potência máxima (álc.) 106 cv a 5.250 rpm 96,5 cv a 5.600 rpm 104 cv a 5.250 rpm
Torque máximo (gas.) 14,5 m.kgf a 2.850 rpm 13,9 m.kgf a 3.100 rpm 15,4 m.kgf a 2.500 rpm
Torque máximo (álc.) 15,5 m.kgf a 2.850 rpm 13,9 m.kgf a 3.100 rpm 15,6 m.kgf a 2.500 rpm
Potência específica (gas./álc.) 61,3 / 66,3 cv/l 61,5 / 64,5 cv/l 63,2 / 65,1 cv/l
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas manual / 5
Relação e velocidade por 1.000 rpm (em km/h)
1ª. 3,73 / 7 3,55 / 8 3,45 / 8
2ª. 2,05 / 13 1,91 / 15 1,95 / 14
3ª. 1,32 / 20 1,31 / 22 1,28 / 21
4ª. 0,97 / 28 0,97 / 30 0,93 / 29
5ª. 0,76 / 35 0,80 / 36 0,74 / 36
Relação de diferencial 4,36 3,94 4,19
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado (259 mm ø) a disco ventilado (ø ND) a disco ventilado (239 mm ø)
Traseiros a tambor (203 mm ø) a tambor (ø ND) a tambor (200 mm ø)
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência hidráulica elétrica hidráulica
Diâmetro de giro 10,6 m 9,8 m 10,8 m
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Estabilizador(es) dianteiro e traseiro dianteiro
Rodas
Dimensões 15 pol 5,5 x 15 pol 6 x 15 pol
Pneus 185/65 R 15 185/60 R 15 195/55 R 15
Dimensões
Comprimento 4,349 m 4,265 m 4,215 m
Largura 1,733 m 1,695 m 1,656 m
Altura 1,529 m 1,51 m 1,462 m
Entre-eixos 2,635 m 2,55 m 2,465 m
Bitola dianteira ND ND 1,429 m
Bitola traseira ND ND 1,416 m
Coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,34 0,31 0,313
Capacidades e peso
Tanque de combustível 50 l 45 l 55 l
Compartimento de bagagem 510 l 562 l 460 l
Peso em ordem de marcha 1.070 kg 980 kg 985 kg
Relação peso-potência (gas./álc.) 10,9 / 10,1 kg/cv 10,6 / 10,1 kg/cv 9,8 / 9,5 kg/cv
Garantia
Prazo 3 anos sem limite de quilometragem
Carros avaliados
Ano-modelo 2014
Pneus Bridgestone Turanza ER 300 Pirelli Cinturato P1 Pirelli P7
Quilometragem inicial 4.000 km 500 km 3.000 km
Dados dos fabricantes; ND = não disponível

 

 

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