EcoSport vs. Duster: os contrastes além das aparências

 


A modernidade do estilo é um forte atrativo para o novo EcoSport; lanternas e
molduras laterais mostram bom aspecto, mas o estepe aparente divide opiniões 

 

Concepção e estilo

A primeira geração do EcoSport foi desenvolvida no Brasil a partir de um modelo europeu da Ford, o Fusion — sem relação com o sedã feito no México —, lançado em 2002 com base no Fiesta introduzido pouco antes. Era uma espécie de perua alta que aqui recebeu tratamento estético de utilitário esporte, com molduras de para-lamas e estepe preso a uma tampa traseira articulada na lateral, em vez de por cima — e obteve um resultado que fez sucesso de imediato. Na segunda geração, coube à Ford brasileira desenhar toda a carroceria a partir da plataforma do novo Fiesta, sendo o novo Eco produzido também em outros países — como China, mais adiante, Rússia — dentro da estratégia global da marca.

 

O EcoSport ficou tão ousado que o estepe “pendurado” — considerado essencial para manter a identidade visual — acaba com ar de adaptação

 

A história do Duster é bem outra. Embora também tenha surgido da plataforma de um hatchback compacto — o Sandero, do qual toma emprestadas até as portas dianteiras —, ele foi desenhado na Europa e lançado em 2010 pela marca Dacia, da Romênia, que pertence à Renault desde 1999. A versão nacional tem poucos itens próprios, como a grade dianteira e acabamentos internos.

Lado a lado, eles não poderiam ser mais diferentes. O EcoSport transmite modernidade com seu estilo típico da fase atual de desenho da Ford, da ampla grade dianteira às lanternas traseiras bem elaboradas, passando pelo para-brisa bem inclinado e as janelas de perfil baixo. Ficou tão ousado que o estepe “pendurado” — considerado essencial pelo fabricante para manter sua identidade visual — acaba destoando, com ar de adaptação. O curioso é que no modelo antigo, ao qual fora acrescentado, ele parecia ter sido pensado desde o início. No Duster as linhas são bem mais tradicionais, até antiquadas em alguns detalhes (a grade é talvez o maior exemplo), mas transmitem robustez com os para-lamas abaulados e fizeram seus adeptos (leia nossas análises de estilo do Ford e do Renault).

 

 

 
Típico de utilitários, o desenho mais robusto do Duster tem seus adeptos, mas parece
envelhecido perto do oponente; faixas e faróis negros fazem parte do Tech Road

 

Algo que chama a atenção — negativamente — no EcoSport é a má qualidade de estamparia e montagem dos painéis de carroceria. Os vãos entre chapas, além de grandes como os do adversário, são bastante irregulares e no carro avaliado havia diferença acentuada nas mesmas peças entre um lado e outro do carro, como na combinação entre porta e para-lama dianteiro; a quinta porta também estava longe da melhor instalação possível.

 

 

Utilitários esporte são em geral desfavoráveis ao ar, pelo grande vão livre do solo e a carroceria mais retilínea que a de um automóvel típico, e não é diferente com esses modelos, mas o Ford obtém coeficiente aerodinâmico (Cx) bem melhor, 0,365, enquanto o do Renault (0,402) é típico de carros de outras eras. Multiplicado à área frontal estimada, que é maior no Duster, obtêm-se os índices nada interessantes de 1,003 para o primeiro e 1,137 para o segundo.

 

Conforto e conveniência

Por dentro, como por fora, o EcoSport transmite um ar bem mais moderno com o painel de formas elaboradas, sobretudo na seção central e no quadro de instrumentos, em oposição ao desenho sóbrio do Duster. Os materiais plásticos usados em ambos são rígidos e de aspecto simples, embora com texturas de melhor aparência no Ford. O Titanium avaliado trazia revestimento em couro nos bancos, o que a série Tech Road do concorrente não oferece; em seu lugar vem um tecido simples e adequado ao tipo de carro. Mesmo nessas versões superiores em cada linha, os dois ainda têm ambiente interno incompatível com a faixa de preço em que são vendidos.

 

 

 
Similar ao do novo Fiesta, o ambiente interno do EcoSport usa formas inspiradas;
seu banco traseiro pode ser reclinado; o rádio em prata causa muitos reflexos

 

O motorista acomoda-se bem nos dois, mas as regulagens adicionais do EcoSport — distância do volante e apoio lombar — facilitam obter maior conforto, sendo que a primeira faz falta no Duster: alguns condutores precisam ajustar o banco mais perto do que gostariam para manter o alcance ideal do volante. Este ainda fica um pouco deslocado à direita no Renault, e a ambos faltam maior apoio para as coxas e um descanso adequado para o pé esquerdo. As duas marcas usam reclinação do encosto por alavanca, em pontos definidos, que não julgamos a melhor opção.

Os instrumentos equivalem-se em informações, salvo pelo termômetro do líquido de arrefecimento, ausente no EcoSport (mas bem substituído por luzes de motor frio e superaquecimento). Os computadores de bordo são básicos, sem a segunda medição oferecida por outros modelos, e falta informação de consumo instantâneo; no Ford vem um gráfico para esse fim, o que não é ideal. Os sistemas de áudio, de qualidade de som equivalente — apenas razoável —, trazem função MP3, conexões USB e auxiliar, interface Bluetooth para telefone celular e comandos no volante (junto dele, do tipo satélite, no Duster). O Titanium vem com o sistema Sync, que inclui comando de voz para funções de áudio, telefone e ar-condicionado e funciona bem.

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