Motor turbo e mais torque em baixa rotação são decisivos para o melhor desempenho do 308 (embaixo), embora o Focus também ande muito bem
Mecânica, comportamento e segurança
Ambos os motores são de concepção atual e usam injeção direta de combustível para maior eficiência. O do 308 adota turbocompressor de duplo fluxo, o que lhe permite potência próxima à do Focus aspirado (166 cv com gasolina e 173 com álcool ante 175 e 178 cv) e torque superior em regime bem mais baixo (24,5 m.kgf a 1.400 rpm com qualquer dos combustíveis, contra 21,5/22,5 m.kgf a 4.500 rpm do oponente), apesar da cilindrada menor em 400 cm³.
Essa distinção fica clara ao volante de cada um: com pesos bem próximos (o Focus tem 17 kg a menos), o Peugeot mostra maior agilidade na maioria das situações, sobretudo em menores rotações. Seu motor é também mais suave em altos regimes, nos quais surge alguma aspereza no Ford, sendo ambos silenciosos — não espere um ronco esportivo desses modelos. O desempenho de ambos satisfaz para sua proposta, como indicaram nossas medições, com aceleração de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos no 308 e 9,4 s no Focus e boas retomadas. Em consumo eles são equivalentes (veja números e análise na próxima página).
Caixas diferentes em princípio, mas ambas suaves e bem calibradas; o Focus (à esquerda) ganhou comandos de trocas manuais no volante, e o 308, o modo Eco
Diferenças aparecem também na transmissão: o 308 usa automática, e o Focus, automatizada de dupla embreagem, ambas de seis marchas. A Ford fez sua calibração no foco no conforto e na suavidade, com mudanças não tão imediatas quanto as do DSG da Volkswagen, o que deixa os dois hatches semelhantes para o motorista. No Peugeot, que tem a seu favor a multiplicação de torque promovida pelo conversor (para mais agilidade nas saídas rápidas), ficou clara a recalibração para 2016.
Superior em técnica, a suspensão do Focus agrada mais pelo equilíbrio irrepreensível entre comportamento dinâmico e conforto de marcha
A caixa está mais favorável à economia, mantendo o motor em baixas rotações, sem o excesso de giros notado nos anteriores. Essa característica chega a exagero quando acionado o modo Eco, não disponível até então: nota-se com frequência o motor pouco acima de 1.000 rpm em marchas altas. Nos dois carros existe também um programa esportivo, que trabalha o motor com giros mais altos para trazer agilidade e freio-motor nos declives.
Operação manual é possível em ambos, com a boa solução de comandos junto ao volante no Ford (novidade do modelo 2016; antes havia só um botão na alavanca) e canal próprio na alavanca no Peugeot. Em modo manual eles passam à próxima marcha no limite de giros do motor, mas a atuação ao abrir o acelerador varia: o 308 reduz marcha apenas se o pedal for levado ao fundo, enquanto no Focus uma pisada rápida, mesmo que parcial, invoca redução. Não gostamos desse arranjo, que muitas vezes reduz quando se queria apenas uma retomada com acelerador mais aberto.
A Peugeot mexeu de novo na suspensão em busca de maior conforto, que foi conseguido, mas o melhor acerto ainda é do Ford (em cima)
Superior do ponto de vista técnico pelo emprego do conceito multibraço na traseira, a suspensão do Focus agrada mais também pela calibração. Mestre no assunto, a fábrica obteve um equilíbrio irrepreensível entre comportamento dinâmico — respostas ágeis, grande aderência, pouco subesterço, leve sobresterço quando provocado pelo corte do acelerador — e conforto de marcha, com rodar suave e muito boa absorção de irregularidades.
O 308 passou na linha 2016 pela segunda revisão desde o lançamento: em 2014 havia recebido novas buchas, que eliminaram a transmissão “seca” de certos impactos (como ao passar por linhas férreas), e agora traz nova calibração dos amortecedores. O resultado foi bom, deixando-o mais confortável na maioria das situações, mas ainda se tem nele a clara sensação de pneus de perfil baixo, ao contrário do oponente, mesmo que a altura de flancos seja muito próxima (101 mm no Peugeot, 107 mm no Ford). Por outro lado, em estabilidade é tão bom quanto o adversário e também tem controle eletrônico.
O uso de assistência elétrica pela direção do Focus facilitou ao fabricante chegar ao acerto ideal, com pouco esforço em manobras e peso adequado em alta velocidade. O 308 equivale-se no segundo quesito, mas não no primeiro: o volante é mais pesado do que se tem visto em vários carros de projeto recente. Mais que isso, incomoda a transmissão de impactos em curvas, mesmo em ondulações sutis do asfalto, algo conhecido nessa plataforma. Quanto a freios os dois estão bem servidos, com discos nas quatro rodas e distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), a que o Peugeot acrescenta assistência adicional em emergência.
Faróis equivalem-se e os dois têm unidades de neblina e repetidores de direção
Ambos os modelos trazem bons faróis com duplo refletor de superfície complexa (apenas o Focus Titanium com lâmpadas de xenônio usa o tipo elipsoidal), unidades de neblina à frente e atrás e repetidores laterais das luzes de direção. Lamenta-se que a Ford tenha retirado o ajuste elétrico do facho dos faróis, também ausente do adversário. Duas vantagens para o Focus em visibilidade são as colunas dianteiras, que obstruem menos o campo visual que as do 308, e os excelentes retrovisores biconvexos (são convexos no rival). Para trás, ambos impõem limitações pelo formato da carroceria.
Bolsas infláveis laterais nos bancos dianteiros equipam os dois carros, mas só o Peugeot traz também cortinas que protegem a cabeça dos ocupantes à frente e atrás, item que a Ford reserva à versão Titanium. Ambos têm encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos os passageiros e ancoragem Isofix para cadeiras infantis.
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