O 308 (à direita) foi mais rápido em aceleração e parte das retomadas; os índices de consumo fazem esperar certo equilíbrio ao concorrente
Desempenho e consumo
Não foi possível testá-los com o mesmo combustível, como seria ideal, pois recebemos o Focus com gasolina e o 308 com álcool e não haveria tempo hábil para esgotar o tanque antes das medições. Assim, a vantagem do Ford em potência (9 cv com gasolina, 5 cv com álcool) acabou reduzida a 2 cv, com o Peugeot claramente superior em torque, tanto pelo valor máximo quanto por sua oferta que começa 3.100 rpm mais cedo. Com pesos bem próximos, o Focus tem uma transmissão mais eficiente, mas não conta com conversor de torque para obter sua multiplicação nas saídas.
Diante dessas diferenças, como eles se saíram na pista de testes?
O 308 ficou à frente em todas as acelerações e na maior parte das retomadas, mas sempre por pequena margem. De 0 a 100 km/h ele levou 8,9 segundos, ante 9,4 s do Focus, e de 80 a 120 km/h precisou de 7,8 s contra 8,7 s do adversário (que foi mais rápido, porém, de 60 a 120). Beneficiaria o Ford se as mudanças automáticas de marcha fossem em rotação mais alta: ocorrem a 6.500 rpm, ponto de potência máxima, sendo recomendável passar desse ponto em pelo menos 5% para reduzir a perda de desempenho após a troca. O Peugeot vai a 6.200 rpm, uma sobra de 200 rpm.
Para entender a vantagem do 308 é preciso considerar que motores aspirados perdem potência com a altitude pela menor pressão atmosférica. No caso de nossa pista, 600 metros acima do nível do mar, o Focus estaria com cerca de 9% a menos ou perto de 159 cv: uma diferença de 24 cv para o rival com álcool, que não sofre o mesmo efeito por ser turboalimentado.
A velocidade máxima informada pelo fabricante é mais alta no Peugeot: 215 km/h ante 206 do Ford. O primeiro revela cálculo exato de transmissão para atingi-la em quinta marcha, apenas 100 rpm abaixo do pico de potência, ao passo que o segundo fica quase 1.000 rpm abaixo do pico. Nos dois casos a sexta é sobremarcha, pouco mais longa no 308.
Como os carros usavam combustíveis diferentes, os índices de consumo não podem ser diretamente comparados. Contudo, simulamos os resultados do Focus com álcool pela aplicação, aos obtidos com gasolina, da proporção verificada nos dados oficiais (veja na tabela mais abaixo): 69% para consumo em cidade e 71% para rodovia. Assim, ele ficaria com 8,4 km/l no trajeto urbano leve, 4,5 km/l no urbano exigente e 9,7 km/l no rodoviário: um pouco mais econômico que o 308 em rodovia, algo menos na cidade. Pelo mesmo critério o Ford teria 477 km de autonomia rodoviária, quase um empate com os 486 do rival.
Focus | 308 | |
Aceleração | ||
0 a 100 km/h | 9,4 s | 8,9 s |
0 a 120 km/h | 12,8 s | 12,2 s |
0 a 400 m | 17,1 s | 16,6 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h* | 7,8 s | 7,5 s |
60 a 120 km/h* | 11,0 s | 11,3 s |
80 a 120 km/h* | 8,7 s | 7,8 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 12,2 km/l (g) | 8,8 km/l (a) |
Trajeto exigente em cidade | 6,6 km/l (g) | 4,6 km/l (a) |
Trajeto em rodovia | 13,6 km/l (g) | 9,0 km/l (a) |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 604 km (g) | 475 km (a) |
Trajeto exigente em cidade | 327 km (g) | 248 km (a) |
Trajeto em rodovia | 673 km (g) | 486 km (a) |
Testes efetuados com gasolina (Focus) e álcool (308); *com reduções automáticas; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
Focus | 308 | |
Velocidade máxima | 206 km/h | 215 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,2 s | 8,3/8,1 s |
Consumo em cidade | 9,7/6,7 km/l | ND |
Consumo em rodovia | 13,0/9,2 km/l | ND |
Dados do fabricante para gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro |
Motor aspirado ou turbo, caixa de dupla embreagem ou automática, suspensão multibraço ou eixo de torção: várias diferenças entre as soluções mecânicas
Comentário técnico
• O motor do Focus pertence à família Duratec, sendo uma evolução daquele que equipa o modelo desde 2005, ainda na primeira geração. Para esta terceira, recebeu injeção direta de combustível para operar com taxa de compressão mais alta (12:1), o que resultou em ganhos expressivos em potência e torque. No 308 vem a unidade Prince, desenvolvida em cooperação entre a PSA Peugeot Citroën e o grupo BMW, que já deixou de usá-lo na maioria dos modelos. A versão flexível, que os alemães não chegaram a oferecer, teve a taxa reduzida (de 10,5:1 para 10,2:1) em relação à movida a gasolina.
• Além da injeção, ambos têm características modernas como bloco de alumínio e variação de tempo de abertura das válvulas e usam corrente para sincronizar o comando ao virabrequim. A partida a frio com álcool é obtida pela alta pressão de injeção, o que dispensa sistemas de preaquecimento e de injeção suplementar de gasolina. A relação r/l é muito boa no Ford (0,284) e nem tanto no Peugeot (0,310).
• A transmissão de dupla embreagem do Focus tem a peculiaridade de usar duas relações de diferencial: uma para terceira e quarta marchas, outra (mais longa) para as demais. É por isso que a relação de quarta fica numericamente tão próxima à da quinta, como se vê na ficha técnica. Feitos os cálculos de velocidade por 1.000 rpm, tudo se arruma e o intervalo entre elas cai dentro do habitual. No modelo 2016 a caixa do 308 teve as relações alongadas em 11% e passou a tracionar menos na condição de marcha-lenta para menores vibrações e consumo.
• A suspensão traseira multibraço do Ford é mais moderna e sofisticada. Além da completa independência entre as rodas, permite que os engenheiros planejem melhor a posição das rodas em diferentes condições, como carro vazio ou carregado, sob aceleração ou desaceleração. Vantagem do eixo de torção do 308 — um arranjo simples, similar ao dos carros mais baratos do mercado — é dispensar correção de alinhamento por toda sua vida útil.