Na nova geração a Honda aderiu a um desenho marcado por vincos
e sulcos; a Kia (à direita) optou por linhas mais suaves e arredondadas
Concepção e estilo
City é um nome longevo na Honda, mas nem sempre como sedã médio: por duas gerações (de 1981 e 1986) denominou um hatch pequeno no Japão, até ser adotado em 1996 em um sedã tailandês para aquele e outros mercados asiáticos. Seguiram-se as gerações de 2002 e 2008 até chegar em 2013 à atual, todas as três derivadas da plataforma do Fit, embora sem compartilhar painéis de carroceria com ele. O Cerato tem menos tempo de história: foi lançado na Coreia do Sul em 2003 como sucessor do Sephia e passou a novas gerações em 2008 e 2012 — estas chamadas de Forte na maioria dos mercados e, no caso da última, de K3 para os sul-coreanos.
A Honda fez um bom trabalho de estilo no novo sedã, que deixa de lado alguns elementos criticados pelo excesso no Fit (como os vãos que simulam saídas de ar no para-choque traseiro), ao mesmo tempo em que adota o padrão de ângulos, vincos e sulcos marcantes que caracteriza os últimos modelos da marca. O aumento da distância entre eixos trouxe proporções mais equilibradas que na geração anterior, assim como as lanternas traseiras amplas e horizontais dão a sensação de um carro mais largo.
Maiores largura e entre-eixos contribuem para as proporções do Cerato;
o City (à esquerda) agora parece mais largo com as amplas lanternas
No Cerato, o padrão retilíneo do modelo antigo deu lugar a linhas mais curvas e suaves, o que de certa forma vai na contramão da atual tendência, mas tende a criar um desenho mais duradouro — a moderada aplicação de vincos concorre para o mesmo resultado. Mais longo, largo e baixo, ele obtém proporções mais atraentes. No conjunto, julgamos bem resolvidos os estilos de ambos. Apenas a Kia divulga o coeficiente aerodinâmico (Cx) de seu carro, excelente 0,27. Os dois mostram boa qualidade de carroceria, com vãos médios ou estreitos e bem regulares entre os painéis.
O ar-condicionado do City usa um painel
sensível ao toque, longe de ser uma
boa ideia: requer mais tempo de atenção
Conforto e conveniência
A diferença de desenho externo — mais ângulos no City, linhas curvas no Cerato — repete-se no ambiente interno, que agrada em ambos, sem transmitir modernidade ou chegar a ser luxuoso. Os bancos revestidos em couro deixam o Honda mais requintado que o Kia, que usa um tecido algo simples e áspero, mas os dois têm couro no volante. Em ambos os plásticos de acabamento são rígidos, embora com aspecto e montagem corretos, e o Cerato tem bons detalhes como a simulação de couro sobre o quadro de instrumentos, os apoios bem acolchoados nas portas para o cotovelo (são duros no adversário) e o couro liso e agradável do volante.
Nenhum tem bons bancos dianteiros: os do City exageram no apoio lombar a ponto de incomodar, enquanto os do Cerato — muito firmes e mal conformados — cansam as coxas e as costas, mesmo com o ajuste (elétrico) de apoio lombar, aspecto que não afetava a geração anterior. De resto a posição do motorista é cômoda nos dois, com ajuste de altura do banco e de altura e distância do volante, pedais bem posicionados (com acelerador preso ao assoalho no Kia, o que nos agrada) e apoio adequado para o pé esquerdo.
Interior e instrumentos simples no City, que vem com bancos de couro; os
bancos exageram no apoio lombar e a largura traseira é insuficiente
Os quadros de instrumentos bem legíveis incluem conta-giros e computador de bordo — se é que cabe chamar assim o do Honda, restrito a consumo médio e autonomia. O do Cerato é controlado pelos botões no volante, assim como os sistemas de áudio, telefone e controlador de velocidade dos dois carros. Ambos têm iluminação permanente e ajustável em cor branca. Termômetro do motor vem apenas no sul-coreano.
Os dois trazem ar-condicionado com controle automático, que inclui ajustes diferenciados para motorista e passageiro (duas zonas) e difusores de ar para o banco traseiro no Kia. O do Honda usa um painel sensível ao toque para os comandos, longe de ser boa ideia: apesar do aspecto “limpo”, sobretudo com ignição desligada, o uso requer mais tempo de atenção, pois o motorista não consegue encontrar o botão desejado pela forma; além disso, nos pisos irregulares que são um padrão no Brasil, é comum o dedo afastar-se do ponto certo de toque.
Entre os detalhes, o Cerato tem a seu favor para-sóis com extensão (para melhor cobrir o sol pelos vidros laterais) e iluminação nos espelhos, faróis com acendimento automático, alerta específico de qual porta está mal fechada (no City, só o aviso genérico), sensores de estacionamento na traseira e nas laterais dianteiras (para facilitar entrada e saída de vagas, embora não acuse proximidade de obstáculo à frente), duas tomadas de 12 volts no console, controle elétrico de vidros com função um-toque para os dianteiros (no City, só motorista; ambos têm temporizador), porta-óculos de teto, ajuste do intervalo do limpador de para-brisa e recolhimento elétrico dos retrovisores.
Tecido deixa o Cerato mais espartano, embora similar nos plásticos; os
bancos dianteiros precisam melhorar, mas o espaço atrás é superior
O City responde apenas com a câmera traseira para orientar manobras (com ajuste entre três ângulos), preaquecimento de álcool para partida em baixas temperaturas (dispensa o tanque auxiliar de gasolina, ainda usado pelo rival) e indicadores para condução econômica no painel, que ficam verdes com aceleração leve e azuis com “pé pesado” (correto neste caso, pois o câmbio CVT impede o uso do método carga em modo automático: maior abertura de acelerador leva a aumento de rotações).
Outros itens aparecem nos dois, como controlador de velocidade, para-brisa com faixa degradê (cada vez mais rara, embora tão útil no Brasil), maçanetas internas cromadas (para melhor localização à noite), alerta para uso de cinto, mostrador de temperatura externa (que antes faltava no City), apoios de braço centrais à frente e atrás, quatro porta-copos, bolsa atrás do encosto dianteiro direito, comandos internos para tampas do porta-malas (aberta também pelo controle remoto da chave) e do tanque de combustível, luzes de leitura apenas na frente (os passageiros de trás dependem da luz de cortesia central) e vidros traseiros que descem por inteiro, além de bom espaço para objetos no console.
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