Apesar da sociedade entre as marcas, esses hatches abaixo de
R$ 45 mil são diferentes em estilo, atitude e no que oferecem de melhor
Texto e fotos: Fabrício Samahá
No mundo do automóvel, existem associações de fabricantes que resultam em grande cooperação entre os produtos — caso típico é o da PSA Peugeot Citroën, que faz modelos com intenso compartilhamento de plataformas, motores e componentes, como 408 e C4 Lounge. Outras fusões, porém, preservam os desenvolvimentos independentes para a maioria de seus modelos, de modo que muito pouco em cada um deles poderia sugerir que as marcas estão associadas. É o que acontece com Nissan March e Renault Sandero.
Projetados em momentos diferentes e para continentes diversos, esses hatchbacks pequenos acabam competindo entre si em alguns mercados — como o brasileiro. Coincidência ainda maior é que ambos foram remodelados quase ao mesmo tempo por aqui, nos últimos meses, com o March assumindo cidadania brasileira e o Sandero passando pela extensa reformulação que os europeus conheceram em 2012.
Nissan March SL 1,6 16V |
Renault Sandero Dynamique 1,6 |
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3,83 m | 4,06 m | ||||||||
111 cv | 98/106 cv | ||||||||
R$ 43.980 | R$ 44.915 | ||||||||
Preços públicos sugeridos, em reais, para os carros avaliados, com possíveis opcionais |
Se essa não fosse razão suficiente para compará-los, existe a semelhança nos quatro “Ps” que norteiam nossos confrontos. Em proposta de uso, ambos são hatches de cinco portas com espaço para pequenas famílias e bom desempenho, o que os torna bastante apropriados ao uso urbano e breves viagens. Em porte, o Renault mede 23 centímetros a mais em comprimento e 14 cm em distância entre eixos, diferenças importantes, mas que não os tiram do mesmo segmento (ele não chega a ser um médio, apesar de estar entre os maiores dos pequenos).
Equipados com motores flexíveis de 1,6 litro — de duas válvulas por cilindro no Sandero e quatro no March —, eles estão próximos na potência com álcool, 106 e 111 cv, na ordem, embora o primeiro perca 8 cv ao usar gasolina (no outro o valor é mantido com qualquer combustível). Quanto ao sempre importante preço, a similaridade é grande: R$ 44,9 mil pelo Dynamique da Renault e R$ 44 mil pelo SL da Nissan, ambos em versão de topo, com pintura metálica e (no primeiro) os opcionais disponíveis. São valores equivalentes aos de versões mais simples de oponentes mais elaborados, como Ford Fiesta S e Peugeot 208 Active.
Que outras semelhanças e contrastes há entre esses produtos de marcas sócias? Qual delas encontrou as melhores soluções para oferecer um hatch de concepção simples, mas bem-equipado, por praticamente o mesmo preço? Buscaremos as respostas nas páginas seguintes.
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As remodelações caminharam em sentidos opostos rumo a um mesmo objetivo:
o March (em cima) era todo arredondado e o Sandero abusava das formas retilíneas
Concepção e estilo
Em sua versão japonesa, chamada de Micra, o March é produzido desde 1982 e já está na quarta geração, lançada em 2010 e alvo de reestilização no exterior no ano passado. O Brasil conheceu-o apenas em 2011 e acaba de receber o modelo renovado, que passa a ser fabricado em Resende, RJ, em vez de vir do México. A história do Sandero é bem outra: surgiu aqui mesmo em 2008, derivado do Logan que a Dacia — marca do grupo Renault focada em carros de baixo custo — fazia na Romênia desde 2004. A segunda geração, apresentada lá em 2012, começou a sair da unidade de São José dos Pinhais, PR, agora em julho.
Diferentes também foram os conceitos de estilo adotados pelas marcas. O Micra era tão arredondado quanto possível, padrão que foi atenuado na reestilização em nome da aparência robusta que todo fabricante parece perseguir hoje. O Sandero nasceu retilíneo ao extremo, o que também mudou na reforma a fim de obter um aspecto mais elaborado, distante do “jeito de leste europeu” tão acentuado do Logan original. Ainda que os fabricantes tenham caminhado em sentidos opostos rumo a um meio-termo, basta olhar para eles para confirmar que continuam bem diferentes.
Qual agrada mais? Nenhum se mostrou expoente em desenho às pessoas que opinaram durante a avaliação, mas a Renault parece ter acertado mais, ao descartar elementos controversos do antigo Sandero como os vincos curvos das portas e as lanternas traseiras irregulares que subiam pelas colunas. Até detalhes como os retrovisores foram alvo de merecida atenção — antes, incomodava a falta de aplique plástico ao redor de sua fixação à porta. Por sua vez, a Nissan manteve itens que dividem opiniões como as lanternas traseiras saltadas da carroceria. Ponto em comum é que os dois adotaram mais detalhes cromados, alguns questionáveis, como as grossas molduras dos faróis de neblina do Dynamique.
A versão japonesa do March, o Micra, existe há mais de 30 anos e já está na quarta
geração; o Sandero passou à segunda, sendo a anterior um projeto brasileiro
Os vãos entre painéis metálicos são um pouco grandes, mas regulares em ambos os modelos. Em aerodinâmica, o Cx 0,33 do March — mantido da versão anterior — supera o de 0,35 do Sandero, apesar da grande melhoria verificada neste (antes apresentava 0,38, valor similar ao do Ford Escort de 30 anos atrás).
O March tem câmera traseira e ajuste do intervalo
do limpador de para-brisa; o Sandero, controlador e
limitador de velocidade e volante de couro
Conforto e conveniência
No interior os dois carros revelam um projeto simples, com materiais de acabamento de baixo custo, mas com certos cuidados para obter melhor aparência nessas versões de topo — apliques em preto brilhante, maçanetas cromadas, comandos criativos para o ar-condicionado com controle automático e, no Sandero, pontos azuis no revestimento preto dos bancos. Os plásticos são rígidos, mas em sua maioria com bons aspecto (mais no March) e montagem, e os bancos recebem tecidos simples que não comprometem.
O motorista dos dois obtém relativo conforto, com restrição pelo assento curto, e conta com regulagem de altura do banco e do volante de três raios, mas não sua distância. No Nissan o volante fica enviesado e um pouco voltado à esquerda, fazendo o condutor esticar mais esse braço, sem chegar a incomodar. Os pedais vêm em posições corretas; o apoio de pé esquerdo é mais adequado no March, pois o do Sandero fica muito próximo. A reclinação do encosto é em pontos definidos nos dois modelos.
O interior do March não mudou muito, mas ganhou detalhes interessantes como
os comandos de ar-condicionado; a posição do motorista poderia ser melhor
Os painéis simples têm instrumentos de fácil leitura, iluminados em branco, e trazem computador de bordo (sem indicação de velocidade média no March), além de um recurso na tela central que analisa a forma de dirigir e dá notas ao motorista nos quesitos aceleração, troca de marchas e antecipação. Não há termômetro do motor; só luz indicadora de superaquecimento. Incomoda no Nissan ter-se de selecionar funções e zerar o computador pelo botão do hodômetro, em vez de teclas no volante ou nas alavancas da coluna de direção como em qualquer carro.
Navegador por GPS equipa ambos os modelos, com tela sensível ao toque para fácil programação. Os sistemas de áudio têm qualidade mediana, interface Bluetooth para telefone celular, conexões USB e auxiliar (no March, também para cartão SD, mas ocupada pelos mapas do navegador) e comandos no volante ou junto a ele. O Nissan mantém toca-CDs, em desuso para muita gente, mas que ainda tem apreciadores; só no Sandero pode-se ligar o aparelho sem a chave no contato.
Detalhes que favorecem o March são câmera traseira para manobras, controle elétrico de vidros com função um-toque ao menos para descer o do motorista (no concorrente, nem isso) e comandos traseiros na porta do condutor (o rival os traz no painel), dois hodômetros parciais, ajuste do intervalo do limpador de para-brisa e vidros traseiros que descem por inteiro. Há ainda o sistema Nissan Connect para telefones inteligentes com sistema Android ou IOS, que permite usar no carro aplicativos como Facebook e pesquisa de pontos de interesse pelo Google e tem uso gratuito por três anos.
O espaço no banco traseiro deixa clara vantagem ao Sandero, que tem o mesmo
painel do novo Logan; o acabamento é espartano em ambos os adversários
O Sandero é melhor em outros itens: controlador e limitador de velocidade, volante revestido em couro, sensores de estacionamento na traseira, mostrador de temperatura externa (falta inaceitável no March, pois ela é medida pelo ar-condicionado automático), alças de teto para os passageiros de trás, luz de leitura na frente e bolsas para revistas atrás dos dois encostos (só no direito no concorrente). Bons recursos em ambos são ar-condicionado automático (opcional no Renault), abertura interna da tampa traseira e do tanque de combustível, espelho em ambos os para-sóis (poderia haver tampa também no do passageiro no Sandero), porta-copos e alerta para porta mal fechada.
Alguns pontos podem melhorar. No Nissan são os cintos de segurança sem ajuste da ancoragem superior, o incômodo do bloqueio de controle elétrico de vidros habitual em marcas japonesas (ao travar os comandos traseiros, o motorista perde o próprio controle sobre tais vidros e inativa o botão do passageiro ao lado), o porta-luvas de dimensões mínimas e sem iluminação e a montagem da câmera na tampa traseira, que parece improvisada. No Renault falta ao limpador de para-brisa a função de varrida única, a tela central é propensa a reflexos pela luz que vem dos vidros traseiros e os sensores de estacionamento pretos (opcionais), que destoam do para-choque pintado, também lembram instalação pós-venda.
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Os dois têm computador de bordo, maçanetas cromadas e comandos de áudio
no volante; a tela central do March serve a áudio, telefone, navegador, câmera
traseira de manobras e à pontuação ao motorista pela direção econômica
Em ambos a iluminação interna é precária, só com luz central no March e dianteira no Sandero; falta a faixa degradê no para-brisa (pior no Nissan, que nem serigrafia na região acima do retrovisor tem) e o espaço para objetos é escasso. Também é hora de os fabricantes substituírem o obsoleto tanque suplementar de gasolina por um sistema de partida a frio por preaquecimento de álcool, em uso por outras marcas há bons anos.
Três pessoas não muito largas conseguem
viajar no banco traseiro do Renault,
enquanto o Nissan as deixa apertadas
Vantagem inegável do Sandero é em espaço interno: é maior na largura e na acomodação das pernas de quem vai atrás, embora o March seja adequado neste último quesito. Três pessoas não muito largas conseguem viajar no banco traseiro do Renault, enquanto o Nissan as deixa apertadas e impõe um encosto mole demais ao passageiro do meio.
Com capacidade de 320 litros, o compartimento de bagagem do Sandero também supera facilmente o de 265 litros do adversário e ele tem encosto traseiro bipartido 60:40, preferível ao inteiriço do March. Os estepes vêm sob o assoalho interno (mudança bem-vinda para muita gente no Renault, que o trazia sob a carroceria no modelo anterior), mas o Nissan com rodas de 16 pol usa pneu de reserva em medida diferente, uma economia questionável.
O Sandero usa mola a gás no capô e agora traz o estepe dentro do porta-malas;
a tela central tem as mesmas funções do oponente, exceto a câmera traseira
Equipamentos de série e opcionais
March |
Sandero |
|
Ajuste de altura dos bancos mot./pas. | S/ND | S/ND |
Ajuste de apoio lombar mot./pas. | ND | ND |
Ajuste do volante em altura/distância | S/ND | S/ND |
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. | ND | ND |
Ajuste elétrico dos retrovisores | S | S |
Alarme antifurto/controle a distância | S/S | S/S |
Aquecimento | S | S |
Ar-condicionado/controle automático/zonas | S/S/1 | S/O/1 |
Bancos/volante revestidos em couro | ND | ND/S |
Bolsas infláveis frontais/laterais/cortinas | S/ND/ND | S/ND/ND |
Câmbio automático/automatizado | ND | ND |
Câmera traseira para manobras | S | ND |
Cintos de três pontos, todos os ocupantes | ND | ND |
Computador de bordo | S | S |
Conta-giros | S | S |
Controlador/limitador de velocidade | ND | S/S |
Controle de tração/estabilidade | ND | ND |
Controle elétrico dos vidros diant./tras. | S/S | S/S |
Controles de áudio no volante | S | S |
Direção assistida | S | S |
Encosto de cabeça, todos os ocupantes | ND | S |
Faróis com lâmpadas de xenônio | ND | ND |
Faróis de neblina | S | S |
Faróis/limpador de para-brisa automático | ND | ND |
Freios antitravamento (ABS) | S | S |
Interface Bluetooth para telefone celular | S | S |
Limpador/lavador do vidro traseiro | S | S |
Luz traseira de neblina | ND | ND |
Navegador por GPS | S | O |
Rádio com toca-CDs/MP3 | S/S | ND/S |
Repetidores laterais das luzes de direção | ND | S |
Retrovisor interno fotocrômico | ND | ND |
Rodas de alumínio | S | S |
Sensores de estacionamento diant./tras. | ND | ND/O |
Teto solar/comando elétrico | ND | ND |
Travamento central das portas | S | S |
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível; NA = não aplicável |
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Mais leve e potente, o March (em cima) deixa para trás o rival em desempenho
e ainda consome menos; seu motor é mais moderno sob qualquer aspecto
Mecânica, comportamento e segurança
Os motores desses modelos exemplificam como o grupo ainda é tímido no compartilhamento de componentes: nada há em comum entre a veterana unidade de duas válvulas por cilindro do Sandero, herança do Clio dos anos 90, e a bem mais atual de quatro válvulas do March (saiba mais sobre técnica no quadro abaixo). Contudo, o desenvolvimento mais elaborado para uso de álcool permite ao Renault ficar pouco atrás em potência e algo acima em torque ao usar tal combustível: 106 cv e 15,5 m.kgf ante 111 cv e 15,1 m.kgf do Nissan (com gasolina o Sandero cai para 98 cv e 14,5 m.kgf, mas o adversário mantém os valores).
Em desempenho, a vantagem do March é
clara: ele acelerou e retomou velocidade em
menos tempo em todas as medições
O motor da marca francesa tem sua maior qualidade no torque em baixa rotação, que traz agilidade no uso urbano. Contudo, em altos giros mostra-se “sem fôlego” e seus níveis de ruído e aspereza estão em desacordo com o patamar de refinamento que a nova aparência do carro faz esperar. O da japonesa, embora um pouco ruidoso no uso rodoviário (sobretudo em alta rotação) por causa do escasso isolamento, tem funcionamento mais macio, responde bem em baixos giros e supera o do concorrente nas altas, além de poder ser levado até 7.000 rpm (1.000 a mais).
Quando o assunto são índices de desempenho, a vantagem do March é clara: ele acelerou e retomou velocidade em menos tempo em todas as medições realizadas pelo Best Cars. Foi ainda o mais econômico nas três condições de uso aferidas, o que denota a eficiência de seu motor, somada ao menor peso (982 ante 1.055 kg) e à aerodinâmica mais favorável. Confira os números e a análise detalhada.
Os dois mostram bom acerto de suspensão, em que os pneus baixos não trouxeram
desconforto ao March, mas o câmbio do Sandero (embaixo) deixa a desejar
Um ponto de clara superioridade do March é o comando de câmbio bastante macio e preciso, ante o apenas bom do Sandero, que tem ainda a desvantagem de transmitir mais trancos e vibrações do que o aceitável em um carro de hoje. Nos dois casos é simples engatar a marcha à ré, ao lado da quarta, sem travas redundantes. O que estranhamos no Nissan foi um ronco de engrenagens muito acima do aceitável em primeira marcha, que não havíamos notado em avaliações anteriores do modelo e do Versa e, por isso, vamos tratar como defeito específico do carro avaliado.
Para carros sem pretensões esportivas, ambos agradam pela calibração da suspensão, que equilibra boa estabilidade em curvas com adequado conforto de marcha. Ainda se percebem no Sandero os amortecedores traseiros firmes, mas não há nele o desconforto notado no novo Logan pela transmissão excessiva de impactos do piso; destaca-se ainda a sensação de grande robustez que sempre caracterizou essa linha. Poderia melhorar a estabilidade direcional. O March não sofreu em conforto com a adoção de pneus (Dunlop japoneses) 185/55 R 16, de perfil bem mais baixo que os 185/65 R 15 do Sandero.
O Nissan volta a sobressair em direção: a assistência elétrica, além de mais eficiente em termos de consumo de potência do motor, deixa o volante bem mais leve em manobras que o do Renault (que usa sistema hidráulico) sem que haja prejuízo a seu peso em alta velocidade. Os freios de ambos estão bem dimensionados e trazem, além do obrigatório sistema antitravamento (ABS), a distribuição eletrônica entre os eixos (EBD).
O Renault (à direita) ganhou faróis de duplo refletor, melhores que os simples
do Nissan, e vem com importantes repetidores laterais de luz de direção
A adoção de duplo refletor nos faróis do novo Renault deu-lhe relativa vantagem sobre o Nissan, que manteve o refletor único; outro ponto positivo é trazer repetidores laterais das luzes de direção, que agora ficam nos retrovisores. Ambos vêm com faróis de neblina, mas não a luz traseira. A visibilidade do March é muito ampla (reflexo de seu desenho que lembra carros dos anos 90), enquanto a do Sandero impõe maiores pontos cegos na dianteira em ângulo, por causa das colunas mais avançadas, e na traseira pelas colunas largas. Ao ganhar retrovisor esquerdo convexo (antes plano) o Nissan equiparou-se nesse quesito ao adversário; a câmera traseira para manobras é um ponto a seu favor.
Em segurança passiva ambas as marcas aplicaram apenas as bolsas infláveis obrigatórias, as frontais, e deixaram o passageiro central do banco traseiro sem cinto de três pontos. O do Sandero dispõe de encosto de cabeça, ausente do March. Também não há fixações de cadeiras infantis em padrões internacionais como o Isofix.
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Comentário técnico
• O motor do March é de concepção claramente mais moderna, com recursos como duplo comando (simples no Sandero), quatro válvulas por cilindro (duas) com variação do tempo de abertura das de admissão (no concorrente, nenhuma variação) e bloco de alumínio (ferro fundido no Renault). O movimento do virabrequim é levado às árvores de comando por uma corrente, o que dispensa a substituição periódica prevista para a correia dentada do adversário, além de garantir robustez. A Nissan emprega esse 1,6-litro da série HR no exterior desde 2005, enquanto a unidade Renault da linha K está em uso desde o Mégane de 1995.
• Embora tenham relações iguais na primeira e na segunda marchas, os câmbios são diferentes em escalonamento: o do Sandero usa relações mais abertas, e o March, mais fechadas, próximas entre si. Isso resulta em maior velocidade por marcha no Renault em quarta e quinta e, no Nissan, em primeira e segunda. É uma diferença coerente com as características de cada motor, em que o da francesa dispõe de maior torque em baixa rotação, mas o da japonesa é capaz de alcançar 1.000 rpm a mais e tem seu pico de torque em regime 1.150 rpm mais alto. Mas o acerto do March foi mais preciso para velocidade máxima (divulgada), obtida em quinta marcha apenas 50 rpm abaixo do ponto de maior potência.
• Em termos de plataforma os modelos estão relacionados, mas apenas na origem. A aliança Renault-Nissan apresentou em 2002 a plataforma B para carros pequenos, então usada pelo Clio. A variação B0 (B-zero) foi desenvolvida em duas versões, uma para Renault e Nissan (usada pelo Tiida anterior, que foi vendido no Brasil) e outra para a romena Dacia, que a emprega em Logan, Sandero e Duster. Por sua vez, a Nissan revelou em 2010 uma evolução da arquitetura B, renomeada V e aplicada ao March/Micra da atual geração e ao novo Tiida.
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Potência, peso e aerodinâmica favorecem o desempenho do March (em cima),
que acelerou e retomou mais rápido e ainda fez, em média, 1 km/l a mais
Desempenho e consumo
Se sua prioridade é desempenho, consumo ou ambos, não precisa ler mais: compre o March. Com mais potência, menor peso e aerodinâmica mais favorável, ele superou o Sandero em todos os quesitos de aceleração, retomada de velocidade e economia, além de ter vantagem consistente na velocidade máxima pelos dados dos fabricantes.
O Nissan foi mais rápido para acelerar por diferenças evidentes, como 1,6 segundo de 0 a 100 km/h, e precisou de menos tempo para recuperar velocidade nas várias medições. Sua vantagem cresce quando é usada a terceira marcha, pois o motor de 16 válvulas tem seu melhor desempenho em altas rotações; nas provas de quarta e quinta marchas, o Renault conseguiu ficar mais próximo dele com o bom torque em baixos e médios regimes.
Vale notar que foi usado álcool nas medições e que o Sandero perde 8 cv se for abastecido com gasolina, enquanto o March preserva a potência com qualquer combustível, segundo a fábrica. Assim, uma comparação com o derivado de petróleo nos tanques traz a expectativa de superioridade ainda mais clara do carro de marca japonesa.
O Nissan foi melhor também em consumo nos três ciclos estabelecidos pelo Best Cars, dois deles com uso de ar-condicionado, que cobrem situações de uso bastante variadas. Em todos os casos, rodou cerca de 1 km a mais com cada litro de álcool. É do Renault, porém, a maior autonomia nos três percursos por causa da maior capacidade de seu tanque.
Medições Best Cars
March |
Sandero |
|
Aceleração | ||
0 a 80 km/h | 7,4 s | 9,1 s |
0 a 100 km/h | 11,1 s | 12,7 s |
0 a 120 km/h | 15,0 s | 18,6 s |
0 a 400 m | 17,5 s | 18,5 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h (3ª.) | 7,1 s | 7,9 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 10,3 s | 11,0 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | 10,7 s | 13,5 s |
60 a 120 km/h (4ª.) | 15,3 s | 16,9 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | 8,2 s | 9,8 s |
80 a 120 km/h (4ª.) | 11,4 s | 12,4 s |
80 a 120 km/h (5ª.) | 16,3 s | 17,3 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 11,4 km/l | 10,5 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 6,4 km/l | 5,5 km/l |
Trajeto em rodovia | 9,9 km/l | 8,9 km/l |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 421 km | 472 km |
Trajeto exigente em cidade | 236 km | 248 km |
Trajeto em rodovia | 365 km | 401 km |
Testes efetuados com álcool; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
March |
Sandero |
|
Velocidade máxima | 191 km/h | 177/179 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,9/9,5 s | 11,2/11,0 s |
Consumo em cidade | 11,6/8,1 km/l | ND |
Consumo em rodovia | 13,2/9,3 km/l | ND |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |
Ficha técnica
March |
Sandero |
|
Motor | ||
Posição | transversal | |
Cilindros | 4 em linha | |
Material do bloco/cabeçote | alumínio | ferro fundido/alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 2 |
Diâmetro e curso | 77 x 83,6 mm | 79,5 x 80,5 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ | |
Taxa de compressão | 10,7:1 | 12:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | |
Potência máxima (gas./álc.) | 111 cv a 5.600 rpm | 98/106 cv a 5.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,1 m.kgf a 4.000 rpm | 14,5/15,5 m.kgf a 2.850 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 69,5 cv/l | 61,3/66,3 cv/l |
Transmissão | ||
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 | |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | ||
1ª. | 3,73 / 8 km/h | 3,73 / 7 km/h |
2ª. | 2,05 / 14 km/h | 2,05 / 13 km/h |
3ª. | 1,39 / 20 km/h | 1,32 / 20 km/h |
4ª. | 1,03 / 27 km/h | 0,97 / 28 km/h |
5ª. | 0,82 / 34 km/h | 0,76 / 35 km/h |
Relação de diferencial | 4,07 | 4,36 |
Regime a 120 km/h (5ª.) | 3.500 rpm | 3.400 rpm |
Regime à velocidade máxima informada (5ª. – gas./álc.) | 5.550 rpm | 5.000/5.050 rpm |
Tração | dianteira | |
Freios | ||
Dianteiros | a disco ventilado (260 mm ø) | a disco ventilado (258 mm ø) |
Traseiros | a tambor (203 mm ø) | |
Antitravamento (ABS) | sim | |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | |
Assistência | elétrica | hidráulica |
Diâmetro de giro | 9,0 m | 10,6 m |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Estabilizador(es) | dianteiro | |
Rodas | ||
Dimensões | 6 x 16 pol | 15 pol |
Pneus | 185/55 R 16 V | 185/65 R 15 H |
Dimensões | ||
Comprimento | 3,827 m | 4,06 m |
Largura | 1,675 m | 1,733 m |
Altura | 1,528 m | 1,536 m |
Entre-eixos | 2,45 m | 2,59 m |
Bitola dianteira | 1,45 m | ND |
Bitola traseira | 1,455 m | ND |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,33 | 0,35 |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 41 l | 50 l |
Compartimento de bagagem | 265 l | 320 l |
Peso em ordem de marcha | 982 kg | 1.055 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 8,8 kg/cv | 10,7/9,9 kg/cv |
Garantia | ||
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem | |
Carro avaliado | ||
Ano-modelo | 2015 | |
Pneus | Dunlop Enasave 2030 | Continental Conti Power Contact |
Quilometragem inicial | 3.000 km | 5.000 km |
Dados dos fabricantes; ND = não disponível |
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Similares em preço e equipamentos, eles se distinguem mesmo pelas vantagens
de espaço para o Renault (embaixo) e qualidades mecânicas para o Nissan
Custo-benefício
O March SL é vendido com conteúdo fechado, que pode receber apenas pintura metálica. No Sandero Dynamique há um pacote de opcionais com controle automático do ar-condicionado, tela central com navegador e sensores de estacionamento traseiros, por R$ 1.430, além da pintura. Com tais itens o preço do Renault fica cerca de R$ 1 mil acima do valor do Nissan, mas sua adição é necessária para equilibrar os equipamentos das versões.
Assim configurados eles ficam bastante próximos em conteúdo, com vantagem para o Sandero pelo controlador e o limitador de velocidade, os ditos sensores e o encosto de cabeça para o quinto ocupante, a que o March opõe a câmera traseira para manobras e, para quem gosta, rodas de 16 pol em vez de 15.
Se a escolha não será decidida pelos equipamentos ou o preço, vale observar como cada modelo se saiu nas notas (abaixo). O March foi o melhor em motor, desempenho, consumo, câmbio e direção, enquanto o Sandero mostrou vantagens em estilo, espaço interno e porta-malas. Com a mesma nota em relação custo-benefício, eles terminam a comparação com três pontos a mais para o modelo da Nissan.
Ficou claro que o Renault oferece mais espaço para passageiros e bagagem, além de ter evoluído bem mais que o rival em estilo na recente reformulação. Por outro lado, o conjunto mecânico do Nissan revelou-se mais eficiente em desempenho e economia (ajudado, é verdade, pela carroceria mais leve e compacta) e mais agradável ao motorista na hora de mudar de marcha ou de mover o volante em uso urbano. É de acordo com suas prioridades que se pode encontrar a melhor opção entre esses modelos ligados em algum ponto distante da árvore genealógica.
Mais Avaliações |
Nossas notas
March |
Sandero |
|
Estilo | 3 | 4 |
Acabamento | 3 | 3 |
Posição de dirigir | 3 | 3 |
Instrumentos | 4 | 4 |
Itens de conveniência | 3 | 3 |
Espaço interno | 3 | 4 |
Porta-malas | 3 | 4 |
Motor | 4 | 3 |
Desempenho | 4 | 3 |
Consumo | 4 | 3 |
Câmbio | 4 | 3 |
Freios | 4 | 4 |
Direção | 5 | 3 |
Suspensão | 4 | 4 |
Estabilidade | 4 | 4 |
Visibilidade | 3 | 3 |
Segurança passiva | 3 | 3 |
Custo-benefício | 4 | 4 |
Média |
3,61 |
3,44 |
Posição |
1º. |
2º. |
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia |
Teste do Leitor: opinião dos proprietários
March | Sandero |
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