Por dentro o Sentra está mais sofisticado e espaçoso e adota materiais superiores no
acabamento, mas a Nissan poderia oferecer alternativas ao revestimento sempre preto
Ainda no interior, as forrações de porta e painel receberam tratamento suave e o apoio do braço do motorista tem até espuma demais. Todos os materiais internos são agradáveis e, apesar das regulagens de banco serem todas mecânicas, é fácil encontrar uma boa posição de dirigir, combinando com a regulagem de distância do volante, não disponível antes. Os comandos são fáceis de operar, mas o tom cinza do console central tem gosto discutível e o controle elétrico dos vidros traz função um-toque apenas para o motorista. Percebe-se que houve uma preocupação em sofisticar o sedã; contudo, dentro dessa estratégia, deveria ser oferecido revestimento em couro bege como na extinta edição limitada Unique.
Mais potente no Brasil
No lançamento da nova geração do Sentra nos Estados Unidos — principal mercado atendido pela linha de produção no México, de onde o importamos —, o motor de 2,0 litros havia dado lugar a um de 1,8 litro, com redução de potência para 130 cv. No Brasil, porém, quase toda a concorrência tem versões de 2,0 litros e assim a Nissan optou por manter a unidade MR20DE do modelo anterior, dotada de variação do tempo de abertura das válvulas, da mesma família do 1,8 que move o Tiida e a Livina.
Mostradores analógicos para combustível e temperatura, volante ajustável em
distância, navegador e ar-condicionado de duas zonas: mudanças bem-vindas
Com nova programação eletrônica, o motor adota o sistema Bosch de partida a frio por preaquecimento de álcool, que dispensa o tanque auxiliar de gasolina usado antes. Potência e torque estão um pouco mais baixos: de 143 cv a 5.200 rpm e 20,3 m.kgf a 4.800 rpm para 140 cv a 5.100 rpm e 20 m.kgf a 4.800 rpm (regime estranhamente alto), com qualquer dos combustíveis. O câmbio XTronic tem cerca de 60% dos componentes novos, segundo a fábrica, e está mais leve e com 30% menos atritos que o anterior. A gama de variação de relações ficou mais ampla (7,3:1), superando até as de caixas automáticas de sete marchas.
O Sentra continua com desempenho mais do que suficiente e mostra bom trabalho no conforto de rodagem: a suspensão está mais suave
Embora baseado na mesma plataforma do antigo, com eixo de torção na traseira, o novo Sentra teve as suspensões recalibradas para melhorar o conforto, aspecto criticado no anterior — a traseira dura transmitia excesso de impactos à cabine. Foram adotados novos amortecedores ZF Sachs, outras buchas de rolamentos e dos amortecedores e reforços no eixo de torção. Outra novidade estrutural é o uso de aços de maior resistência.
Na avaliação da imprensa no Rio de Janeiro, RJ, o novo Sentra revelou que o câmbio CVT (o único com que pudemos dirigi-lo) ainda é uma de suas maiores qualidades. Como se sabe, esse sistema não tem marchas de fato, mas um sistema de variação de polias (acionadas por correntes de metal, não correias) de forma a imitar mudanças de marcha, só que de forma contínua e muito suave.
O motor é o mesmo do anterior, apenas recalibrado e sem tanque suplementar para
partida; o câmbio CVT ficou mais leve, mas continua sem modo manual de uso
Logo na saída, percebe-se a falta de assistente de subida: quando se solta o pedal do freio sem acelerar o carro desce, mais que o usual em câmbios automáticos. O público feminino em particular aprecia esse tipo de auxílio, já oferecido em modelos mais acessíveis como Fiat 500 e Ford Fiesta. Rodando, porém, o XTronic cativa pela total ausência de trancos, desde a marcha-lenta até a faixa vermelha a 6.500 rpm. O funcionamento é liso, sem a sensação de embreagem patinando.
Com a nova gama de relações foi possível reduzir a faixa de rotação em velocidades de viagem: a 120 km/h o conta-giros anuncia 2.000 rpm, cerca de 200 a menos que antes, sem prejuízo da capacidade de rampa na relação mais curta disponível. O que faltou foi um modo manual — como no Fluence, que usa a mesma caixa Nissan — para simular marchas por meio da parada do variador: isso atenderia à preferência dos que não gostam da sensação de “carro elétrico” do CVT, com seu aumento de velocidade em rotação constante.
Existem apenas o botão para desligar o overdrive, o que eleva um pouco os giros, e a posição L (low, baixa) da alavanca, que impõe rotação elevada e se destina a descidas íngremes. Como exemplo, a 60 km/h na posição D (drive) o motor fica a 1.200 rpm; quando se passa a L, o motor sobe para 3.200 rpm e deixa as respostas bem mais rápidas. Essa posição não limita a velocidade, pois a variação de relação permanece; assim, o carro ainda pode atingir sua velocidade máxima sem se precisar mover a alavanca.
Embora com grande parte da mecânica herdada da sexta geração, o novo Sentra roda
melhor com a suspensão mais macia, o que corrige um antigo ponto de reclamações
Embora os 140 cv sejam medianos diante do que o mercado hoje oferece na classe — o novo Focus tem 178 cv, o C4 Lounge e o 408 oferecem versões de 165 cv —, o Sentra continua com bom desempenho, mais do que suficiente para as necessidades do comprador médio. Nota-se ainda que houve bom trabalho no conforto de rodagem: além do baixo nível de ruído, a suspensão está mais suave, dentro dos padrões da categoria, mesmo que agora os pneus da versão SL tenham perfil mais baixo que os anteriores (205/50 R 17 em vez de 205/55 R 16).
Com volante revestido de couro de boa empunhadura, a direção usa assistência elétrica para ser bem suave em baixa velocidade e mais firme em alta, mas sofre do mesmo mal de alguns outros sistemas do tipo: não transmite as sensações de aderência dos pneus com o asfalto, sobretudo em curvas. Leva algum tempo para o motorista se adaptar — também o retorno do volante à posição central é um pouco lento. Mas nada que desabone o conjunto.
Com bom nível de equipamentos de série, motor ágil e um câmbio de funcionamento simples e eficiente, o novo Nissan Sentra surge como proposta de sedã com boa relação custo-benefício. Resta saber como o público reagirá a seu estilo mais tradicional e como ele se sairá em uma categoria que pode ser chamada de tudo, menos de monótona.
Ficha técnica – Sentra SL
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 84 x 90,1 mm |
Cilindrada | 1.997 cm³ |
Taxa de compressão | 9,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 140 cv a 5.100 rpm |
Torque máximo | 20 m.kgf a 4.800 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | variação contínua |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 205/50 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,625 m |
Largura | 1,761 m |
Altura | 1,500 m |
Entre-eixos | 2,700 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 52 l |
Compartimento de bagagem | 503 l |
Peso em ordem de marcha | 1.348 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 186 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,1 s |
Consumo em cidade | 10,2/6,9 km/l |
Consumo em rodovia | 12,9/9,1 km/l |
Dados do fabricante; consumo pelos padrões do Inmetro/Conpet |