O motor da linha Mégane tem diferenças para o de origem Nissan do Fluence
aspirado; potência de 180 cv abriu caminho para alto torque (veja curvas)
No interior, a proposta de adicionar esportividade sem cair no exagero foi seguida com sucesso. Os bancos dianteiros têm apoios laterais e de coxa mais pronunciados e trazem a inscrição GT nos encostos de cabeça — bordada em vermelho, mesmo tom da costura aplicada aos assentos, ao volante e ao pomo da alavanca de câmbio. O painel tem seções em preto brilhante, que no Privilège vêm em tom prata, e traz novo quadro de instrumentos digital com velocímetro, marcadores de temperatura e de nível de combustível — fica de fora o conta-giros, analógico, em uma combinação discutível. Há ainda pedais esportivos, mas o volante poderia ser outro.
O comportamento dinâmico atingiu um ponto apreciável, com um tempero esportivo que não afeta a facilidade de controle pelo motorista, e o controle eletrônico de estabilidade não atua cedo demais, permitindo alguma diversão
Ao volante
A Renault permitiu boas condições de avaliação à imprensa ao oferecer tanto o uso livre de um circuito — o da Fazenda Capuava, na região de Vinhedo, SP — quanto a direção em estradas nos arredores. O Best Cars considera ideal tal combinação para modelos esportivos, já que seus limites não poderiam ser explorados com segurança nas ruas e, por outro lado, sua aptidão para o uso cotidiano não pode ser analisada na pista.
Começamos pelo circuito, um velho conhecido nosso, e as impressões foram muito boas. O GT “veste” bem com o banco mais envolvente e as diversas regulagens para assento e volante. Saindo, a embreagem reforçada não deixou o pedal pesado nem tornou difícil a modulação. O motor turbo fornece potência consistente desde as rotações mais baixas e mostra um crescimento linear, sem sobressaltos. A elasticidade é seu ponto alto: quase dispensa mudanças de marcha para explorar todo o circuito, podendo-se manter a terceira com bom resultado.
Comportamento previsível com alguma diversão na pista, rodar confortável e
motor silencioso na rodovia, mas nível de vibração não está à altura do conjunto
Vêm as primeiras curvas e o Fluence revela propensão para um uso vigoroso. Para um sedã familiar de suas dimensões e peso (1.341 kg) e com tração dianteira, o comportamento dinâmico atingiu um ponto apreciável, com um tempero esportivo que não afeta a facilidade de controle pelo motorista menos experiente. O subesterço vem fácil e farto com o uso do acelerador, e não se esperava nada diferente, mas ao tirar o pé nas tomadas de curvas rápidas a traseira “aparece” e ajuda na inserção. Embora o controle eletrônico de estabilidade não possa ser desativado — apenas o de tração —, sua calibração foi acertada no sentido de não atuar cedo demais, permitindo alguma diversão.
Na principal reta da Capuava, o TCE 180 “estica as pernas” empurrando o sedã com ímpeto até o limite de giros de 6.250 rpm, precedido pela indicação de uma seta para cima para indicar o momento de trocar de marcha. A mesma seta aparece bem antes em caso de direção mais tranquila, enquanto outra sinaliza a necessidade de reduzir marcha se o motor for forçado em rotação muito baixa. O câmbio em si é bom nas mudanças, mas não excelente; a marcha à ré fica junto à primeira e requer uso de anel-trava.
Em baixa ou em alta, o 2,0-litros revela ruído moderado e que não transmite esportividade. Nada de ronco de admissão ou de escapamento, nada de “espirros” ao aliviar a pressão do turbo nas desacelerações. O que decepciona um pouco é o funcionamento algo áspero já em rotações medianas, na faixa de 3.500 rpm, inerente ao motor de geração mais antiga — embora a Renault alegue que ele passou por evoluções há dois anos na Europa — e com relação r/l desfavorável, 0,323. Em certas faixas nota-se vibração nos pedais de acelerador e embreagem, o que poderia ser evitado.
A Renault acertou no equilíbrio entre características esportivas e de sedã
familiar em seu primeiro Sport para o Brasil; faltou um câmbio automatizado
Carro entregue, pegamos outro para a avaliação em rodovia. É quando o GT mostra sua face comportada, capaz de levar a família com conforto a qualquer velocidade pretendida. O câmbio foi definido para esse fim, com a sexta atuando como sobremarcha: a 120 km/h produz apenas 2.650 rpm e, à máxima de 220 km/h, ficaria 800 rpm abaixo do ponto de potência máxima (melhor usar a quinta até 5.950 rpm).
Nos pisos menos regulares a suspensão mostrou o ponto de equilíbrio com que foi calibrada: embora se perceba a alta carga de amortecedores, que a leva a copiar as oscilações do piso para a cabine, não há pancadas secas ou o desconforto de molas muito duras. A nosso ver, seria difícil fazer melhor em um sedã com proposta esportiva e diante da limitação da suspensão traseira simples, de eixo de torção (o Jetta TSI recorre a um sistema multibraço). Mesmo em um trecho bem brasileiro, com muitas lombadas de diferentes alturas e perfis, não raspou o defletor dianteiro, apesar de quatro centímetros mais baixo que o dos demais Fluences.
A Renault não tem grandes ambições de vendas com o Fluence GT — estima algo como 70 unidades por mês —, mas fez bem em acrescentar a sua linha um carro de imagem esportiva, coerente com o esforço da empresa em âmbito internacional ao fornecer motores para quatro equipes da Fórmula 1. Poderia ser um pouco mais potente, é verdade, mas como está já oferece desempenho de alto nível. A maior carência, dentro do perfil atual do mercado, talvez seja mesmo a de um câmbio automático ou automatizado de dupla embreagem, já que o desconforto do pedal esquerdo no trânsito pesado é hoje abominado pelos brasileiros, mesmo os mais interessados em esportividade.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 82,7 x 93 mm |
Cilindrada | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 9,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 180 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo | 30,6 m.kgf a 2.250 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 205/55 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,64 m |
Largura | 1,81 m |
Altura | 1,47 m |
Entre-eixos | 2,70 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 530 l |
Peso em ordem de marcha | 1.341 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 220 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 8,0 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |