Novo visual tenta aproximá-lo do Golf, mas só o Highline ganha
novo motor 1,6-litro, controle de estabilidade e outras melhorias
Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação
Você, à frente de um fabricante estabelecido no País há mais de 60 anos, está diante de uma decisão. Desde que seus modelos pequenos de segmento pouco mais alto — não aquele de entrada — foram lançados, há mais de um decênio, a concorrência se renovou por inteiro. O carro que você se orgulhava de anunciar como “o mesmo no mundo todo” já não passa de uma lembrança dos velhos e bons tempos. A empresa tem na manga produtos de última geração, fabricados na Europa, mas que demandam investimento elevado para trazer. Como alternativa, pode-se tentar segurar mais alguns anos com uma maquiagem aos velhos carros. Que caminho você escolheria?
A Volkswagen optou claramente pela segunda opção. Em vez de atualizar o Polo nacional conforme seu equivalente europeu, preferiu deixá-lo à própria sorte — a geração de 2002 será fabricada “enquanto houver demanda”, afirma a empresa — e aplicar uma segunda reestilização ao Fox, produto só um ano mais recente, na tentativa de competir com adversários atualizados com os mercados desenvolvidos como Citroën C3, Ford Fiesta e Peugeot 208, além de exclusividades brasileiras como Chevrolet Onix e Hyundai HB20.
Frente e traseira mudaram bastante, mas não as laterais; o Fox Trendline (vermelho)
e o Comfortline (prata) continuam com o antigo motor 1,0-litro de quatro cilindros
Inspirada no atual Golf, a VW aplicou ao Fox 2015 faróis de linhas angulosas com refletores quadrados e novas lanternas traseiras, as primeiras no modelo em linha horizontal. Capô, para-choques (com “lâminas” pretas no dianteiro que remetem ao Golf GTI), para-lamas e tampa do porta-malas (cujo emblema VW serve de maçaneta) também foram refeitos, mas nas laterais foram alteradas apenas as molduras de caixas de roda. O resultado é que os novos elementos retilíneos não “conversam” bem com os cantos arredondados das portas e janelas, o que deixa evidente a renovação pela metade. A mudança anterior havia sido mais feliz nesse aspecto.
O Fox beneficia-se dos aumentos de potência e
torque do motor 1,6 de 16 válvulas, que é
também mais econômico em qualquer condição
Os faróis de neblina ganham a função de auxiliar a visão noturna em esquinas, acendendo apenas o do lado para o qual se gira o volante caso os faróis baixos estejam ligados, como no Fiat Bravo. Por dentro as novidades são pequenas: alguns materiais plásticos, difusores de ar, o volante da versão Highline. Como opção no mesmo Fox, o rádio RNS315 — o mesmo da linha Passat — vem com tela sensível ao toque de 5,5 polegadas, navegador integrado, interface Bluetooth para telefone celular, toca-CDs e entradas auxiliar e para cartão SD (veja no quadro abaixo as versões, preços e conteúdos de cada uma).
Para compensar a falta de maiores intervenções, a VW passa a oferecer ao Fox recursos inéditos em seus carros compactos, alguns em todo o segmento. O Highline recebe câmbio manual de seis marchas e freios dianteiros de maior diâmetro; como opcionais pode ter controle eletrônico de estabilidade e tração, assistência adicional de frenagem em emergência, sensores de estacionamento também na frente, assistente de partida em rampa (retém os freios por até dois segundos após o motorista aliviar o pedal, para evitar que o carro recue) e bloqueio eletrônico do diferencial (aciona o freio da roda com menor tração, transferindo o torque para a roda com maior tração, a até 80 km/h). E toda a linha vem com direção com assistência elétrica em vez de hidráulica.
O Blue Motion de três cilindros é o mais econômico da linha; as fotos internas
mostram as poucas novidades, como alguns plásticos e os difusores de ar
Curiosamente, o motor de 1,0 litro e três cilindros permanece exclusivo do Blue Motion — uma incoerência, pois o Up de segmento inferior o usa como padrão. Por outro lado, a versão Highline recebe a unidade de 1,6 litro da linha EA-211, lançada em março no Gol Rallye e na Saveiro Cross e que deve se estender a outros modelos da marca no futuro próximo.
Além das quatro válvulas por cilindro, o EA-211 tem soluções atuais como bloco de alumínio, sistema de partida a frio aquecida (que dispensa o tanque auxiliar de gasolina), coletor de escapamento integrado ao cabeçote, variação do tempo de abertura das válvulas de admissão e duplo circuito de arrefecimento. O motor vem associado ao câmbio manual de seis marchas — o primeiro em um VW brasileiro —, que mantém as relações de primeira a quinta do cinco-marchas, mas com diferencial 4% mais curto. A sexta atua como sobremarcha. No caso do automatizado monoembreagem I-Motion, o gerenciamento eletrônico passa à chamada Versão 2, com programação que busca mudanças mais suaves (o Comfortline permanece na Versão 1).
Como já ocorrera no Gol e na Saveiro, o Fox beneficia-se dos aumentos de potência (de 101/104 cv do oito-válvulas para 110/120 cv no 16V, na ordem gasolina/álcool) e de torque (de 15,4/15,6 m.kgf para 15,8/16,8 m.kgf, na mesma ordem). Com câmbio manual, o oito-válvulas acelera de 0 a 100 km/h em 10,9/10,6 segundos e retoma de 80 a 120 km/h em quinta em 15,6/15,3 s. O 16V abaixa esses números para 10,3/9,8 s na aceleração e 15,5/15 s na retomada, lembrando-se que tem seis marchas e requer redução para obter esse tempo. O novo motor é também mais econômico em qualquer condição e combustível, salvo no consumo rodoviário com câmbio I-Motion, versão que não tem a sexta marcha.
As melhores novidades estão reservadas à versão Highline, como o motor EA-211;
o interior tem novo volante e opção de navegador no mesmo rádio do Passat
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Versões, preços e conteúdos
O Fox 2015 adota a nomenclatura global da VW para versões: passa a ser oferecido em acabamentos Trendline (com motores de 1,0 e 1,6 litro, ambos de duas válvulas por cilindro), Comfortline (mesmas opções), Highline (com o novo 1,6 de quatro válvulas por cilindro da série EA-211) e Blue Motion (com o 1,0-litro de três cilindros da mesma família, já oferecido antes). Confira os equipamentos de série e opcionais mais importantes:
• Trendline (R$ 35.900 com motor 1,0 e R$ 39.800 com o 1,6): direção com assistência elétrica, controles elétricos de vidros dianteiros e travas, volante ajustável em altura e distância, chave do tipo canivete, faróis duplos e rodas de 15 pol (de aço). Opcionais: aquecimento, ar-condicionado, computador de bordo, controles elétricos de vidros traseiros e retrovisores, rádio/toca-CDs/MP3 com interface Bluetooth, alarme com comando remoto e retrovisores externos com luzes de direção.
• Blue Motion (R$ 37.690): idem ao Trendline, mais motor de 1,0 litro específico, soluções para economia de combustível (como indicador digital de troca de marchas e sistema de partida a frio por preaquecimento de álcool (dispensa tanque suplementar de gasolina). Tem rodas de 14 pol. Opcionais: banco traseiro corrediço, computador de bordo, ar-condicionado, faróis e luz traseira de neblina.
• Comfortline (R$ 38.190 com motor 1,0, R$ 41.490 com o 1,6 e câmbio manual, R$ 44.590 com o 1,6 e câmbio automatizado I-Motion): idem ao Trendline, mais computador de bordo, faróis de neblina, aquecimento, retrovisores com luzes de direção, rádio/CD/MP3 e controles elétricos dos vidros traseiros e retrovisores. Opcionais: ar-condicionado, alarme, rodas de alumínio, volante com comandos de áudio, banco traseiro corrediço, sensores de estacionamento na frente e na traseira, controlador de velocidade, função de luzes de esquina para os faróis de neblina. Com motor 1,6, pode ter também teto solar e revestimento dos bancos em couro sintético Native.
• Highline (R$ 48.490 com câmbio manual e R$ 51.790 com o I-Motion, sempre com motor 1,6): idem ao Comfortline, mais banco corrediço, rodas de alumínio de 15 pol, câmbio de seis marchas (cinco no I-Motion), controle eletrônico de tração, sensores de estacionamento à frente e atrás, volante revestido em couro com comandos de áudio. Opcionais: controle de estabilidade (inclui o bloqueio de diferencial), bancos de couro sintético, teto solar, limpador de para-brisa e faróis automáticos, controlador de velocidade, retrovisor interno fotocrômico, rodas de 16 pol com pneus 205/50, rádio com navegador. Com todos eles o preço supera R$ 63 mil. Em toda a linha as bolsas infláveis são apenas frontais.
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Controle de estabilidade, bloqueio de diferencial e auxílio para saída em rampa
chegam ao Fox Highline como opcionais; câmbio de seis marchas é de série
Avaliado no campo de provas da Goodyear, em Americana, interior paulista, o Fox Highline mostrou evoluções. O motor EA-211 é um destaque, com respostas muito boas desde baixas rotações, em oposição ao que muitos esperam encontrar em um 16-válvulas. Seu funcionamento suave e o ruído moderado permitem explorar bem a potência adicional — que poderia ser maior, já que a concorrência oferece até 130 cv nessa faixa de cilindrada.
O câmbio de seis marchas mantém o comando impecável conhecido da linha VW, com grande maciez e precisão de engate, e seu escalonamento revela-se adequado para aproveitar as características do motor: as cinco marchas ficam mais próximas entre si, com menor queda de rotação nas mudanças que no câmbio anterior, e há uma sexta longa para viajar em rotação moderada.
Embora rejuvenescido, o Fox preserva defeitos de 10 anos atrás e não evoluiu nos
motores das versões mais vendidas: a atualização poderia ter sido maior
No restante, a não ser por detalhes internos e os novos recursos de segurança e auxílio à condução que ficam restritos à versão de topo, é o mesmo Fox bem conhecido. Um carro espaçoso para seu porte, com a conveniência do banco traseiro corrediço — ganha-se em acomodação das pernas ou em capacidade de bagagem, conforme a demanda do momento — e que se tornou agradável por dentro na reestilização de cinco anos atrás. Contudo, os pontos negativos inerentes ao projeto permanecem, como a posição do motorista prejudicada pelos pedais muito à direita e a visibilidade com grandes pontos cegos — como os da larga base das colunas dianteiras.
Competitivo, o Fox ainda é, mas a VW poderia rever algumas estratégias, como cobrar à parte pelo ar-condicionado em três das quatro versões (no novo Ka é de série em toda a linha) e deixar os motores mais modernos e eficientes restritos ao Blue Motion e ao Highline, enquanto vários concorrentes os têm estendido a toda a gama. Repensar tais medidas tornaria mais justificáveis os preços do modelo 2015, que estão longe de refletir sua condição de veterano em um segmento repleto de novas opções.
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Saveiro: como ficou com cabine dupla
Junto ao Fox renovado a VW apresenta a Saveiro Cabine Dupla, que sobre a concorrente direta — Fiat Strada — tem a vantagem de ser homologada para cinco lugares, com três cintos de segurança no banco traseiro, ante dois da rival. A nova opção está disponível para três versões (Trendline, ao preço de R$ 47.490; Highline, a R$ 52.720; e Cross, por R$ 60 mil) e com duas opções de motores, ambas de 1,6 litro: o tradicional EA-111 de duas válvulas por cilindro, com potência de 101/104 cv, e o moderno EA-211 de quatro válvulas por cilindro, com 110/120 cv (gasolina e álcool, na ordem), exclusivo da Cross. A Highline, inédita no modelo, segue o novo padrão de designações da marca. Não existe a opção para a Startline, versão de entrada.
O desenho da Saveiro foi revisto das portas para trás, com teto elevado em relação às demais cabines e um novo rack sobre ele. Na base do banco traseiro há dois porta-garrafas de até 500 ml e saída de 12V. Os vidros laterais traseiros são basculantes e há desembaçador do vidro traseiro, de série para todas as versões Cabine Dupla e inédito no segmento. A caçamba foi reduzida: ficou com 1,10 metro de comprimento e capacidade de 580 litros. O estepe passa a ser montado por baixo dela.
O banco traseiro, comparado ao da Strada, é realmente mais espaçoso. A solução de elevar o teto foi correta, pois mesmo no caso de uma pessoa com 1,80 metro não há a sensação de aperto. Já o espaço para as pernas deixa a desejar. Assim, a picape acomoda três pessoas nos assentos traseiros, mas o ideal é que elas tenham baixa estatura ou sejam crianças. Em termos de acesso, porém, a Strada leva clara vantagem com a terceira porta do lado direito.
Avaliamos a versão de entrada Trendline entre São Paulo e Americana, no interior do estado. Para quem conhece a Saveiro, as modificações não interferiram nas qualidades da picape, como a posição de dirigir agradável. O motor 1,6 de oito válvulas oferece desempenho justo e as mudanças de marchas são suaves. Os freios a disco nas quatro rodas deixaram o modelo bem confiável para uso com carga. Bom também o trabalho das suspensões, com um rodar confortável para uma picape e estável nas curvas. É o conforto de um carro de passeio em um veículo preparado para o trabalho.
Nosso contato com a Saveiro Cross aconteceu no campo de provas da Goodyear. Para mostrar o funcionamento dos itens de segurança, o circuito molhado misturava curvas, retas e um slalom (desvio entre cones). Com dispositivos acionados, as curvas mais severas em segunda marcha e na velocidade média de 50 km/h são feitas de maneira fácil, sem esforço. Já desligando-se o controle de estabilidade, parece que a traseira vai ultrapassar a frente.
Confira aqui o conteúdo de série de cada versão e mais fotos da Saveiro.
Ficha técnica – Fox Highline
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 76,5 x 86,9 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 110/120 cv a 5.750 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,8/16,8 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 6 ou automatizado, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6 x 15 pol ou 6 x 16 pol |
Pneus | 195/55 R 15 ou 195/50 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,868 m |
Largura | 1,66 m |
Altura | 1,552 m |
Entre-eixos | 2,467 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 270 a 353 l |
Peso em ordem de marcha | 1.105 kg (manual) |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 183/189 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,3/9,8 s |
Consumo em cidade | 10,8/7,6 km/l |
Consumo em rodovia | 12,0/8,4 km/l |
Dados do fabricante; desempenho e consumo com câmbio manual; consumo conforme padrões do Inmetro |