Hatches de aventura: Argo Trekking, WR-V, HB20X e Nivus

O recente Volkswagen desafia competidores da Fiat, Honda e Hyundai entre os hatches com inspiração em SUVs

Texto e fotos: Fabrício Samahá

Os hatchbacks em versões “aventureiras” continuam bem aceitos no mercado nacional. Além do apelo visual, trazem alterações em pneus e suspensão que, na maioria dos casos, promovem boa aptidão para ruas cheias de lombadas, valetas e buracos como as de nossas cidades. Com o tempo, a categoria evoluiu para um segmento à parte, em que o próprio desenho do carro é refeito — no todo ou em parte — para se diferenciar do modelo de origem, sem chegar a caracterizar um utilitário esporte (SUV).

Isso começou pela Honda em 2017 com o WR-V, derivado do Fit, e alcança novo patamar com o Volkswagen Nivus, baseado no Polo, mas com poucos painéis de carroceria em comum a ele. Neste Desafio o Best Cars colocou-os lado a lado com dois “aventureiros” de conceito tradicional, o Fiat Argo Trekking e o Hyundai HB20X. Outro importante competidor, o Renault (ex-Sandero) Stepway, não pôde comparecer após quatro meses de espera.

Primeiro com o WR-V, agora com o Nivus, o conceito de “aventureiro” evolui dos cosméticos para uma carroceria quase toda exclusiva

Dentro do objetivo de estreitar o quanto possível a faixa de preços, o mais caro Nivus foi avaliado na versão de entrada Comfortline (R$ 96.250 com opcionais), enquanto os demais vieram na opção de topo: HB20X Diamond Plus (R$ 84.690), WR-V EXL (R$ 96.600) e o Argo Trekking com o pacote superior de opcionais (R$ 85.565).

Similares também em proposta de uso, eles estão próximos em porte no que se refere a distância entre eixos (variação de até 4 centímetros, embora em comprimento a faixa chegue a 32 cm) e não muito distantes em potência (de 115 a 135 cv com gasolina), sendo o Nivus equipado com motor turbo de 1,0 litro, o WR-V com 1,5 litro, o HB20X com 1,6 — não há versão turbo para ele — e o Argo com 1,75 litro, todos com transmissão automática.

Os estilos do Fiat e, sobretudo, do Volkswagen agradam mais: o Hyundai e o Honda causam controvérsia

Estilo
HB20X e Argo são hatches conhecidos “vestidos” com trajes de aventura, que no Hyundai têm aspecto controverso pelos recortes irregulares das molduras plásticas. O WR-V mostra um redesenho frontal completo em relação ao Fit, para se parecer com um utilitário esporte, e também não agrada a muitos — a frente mais alta não combina com o perfil quase de minivan da cabine, além de as laterais com sulcos profundos evidenciarem a maior idade entre os quatro. A linha 2021 recebeu alterações em grade, faróis e lanternas. Conjunto atual e atraente tem o Nivus, que parece um carro de segmento superior com o formato fastback da traseira e o maior comprimento.

Exclusivo do HB20X é o alerta para saída da faixa de rolamento, enquanto só o Nivus traz controlador de distância à frente; os dois vêm com frenagem autônoma de emergência

Acabamento e conveniência
Os interiores mostram bom desenho, embora o do WR-V não esconda o passar do tempo — surgiu em 2014 no Fit. No Nivus, a parte superior com a bela integração da central de áudio ao painel contrasta com o aspecto pobre do console, no mesmo plástico rígido usado no Polo, de aspecto inferior ao dos demais carros. Por se tratar de versão básica, o revestimento dos bancos do Volkswagen em tecido também é mais simples que o dos outros (que usam padrão sintético simulando couro), embora mais apropriado ao calor tropical.

Desenho interno mais atual no Argo e no HB20X; o Nivus deixa a desejar nos plásticos; motorista encontra menos conforto no Fiat

As centrais de áudio têm ampla tela (10,1 polegadas no Nivus, 8 pol no HB20X e 7 pol nos demais), duas tomadas USB e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, sendo que o Volkswagen dispensa cabo para a segunda dessas conexões. O Honda é o único a incluir navegador.

Entre as conveniências, apenas o Argo tem luz de cortesia no piso externo, acionada ao destravar as portas. O WR-V defende-se com banco traseiro com ajuste de inclinação do encosto e rebatimento do assento para cima (útil para levar cargas altas no assoalho), três ângulos de visualização para a câmera traseira de manobras, quatro alças de teto, prático porta-copos diante do difusor de ar e sensores de estacionamento também na frente (atrás todos têm), além do maior espaço para objetos. Exclusivo do HB20X é o alerta para saída da faixa de rolamento (não intervém na direção), enquanto só o Nivus traz controlador de distância ao tráfego adiante e luzes de leitura para o banco traseiro (HB20X e WR-V têm luz central, o Argo nem isso).

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Argo: tela de 7 polegadas, mostrador digital completo, chave presencial, ar-condicionado automático

WR-V: tela de 7 pol, navegador, instrumentos modestos, retrovisor fotocrômico, bom porta-copos

Argo e WR-V têm ar-condicionado automático, para-brisa degradê (raridade hoje) e retrovisor interno fotocrômico. HB20X e Argo trazem chave presencial para acesso ao interior e partida do motor. No Argo e no Nivus há aviso de qual porta está mal fechada (em vez do alerta geral) e HB20X e Nivus têm limitador de velocidade, monitor da distância frontal com frenagem autônoma de emergência e para-sóis com espelhos iluminados.

Como de hábito, há pontos melhoráveis. O Argo perdeu as opções de controlador de velocidade e faróis com acionamento automático (presentes nos outros), tem pouco espaço para objetos, os cromados dos difusores de ar causam reflexos e a moldura da soleira suja a barra da calça ao sair. No WR-V o painel de toque para ajustes de ar-condicionado não é prático e faltam função um-toque no controle elétrico de vidros traseiros e comando a distância para abrir e fechar. O HB20X não tem marcador de temperatura externa e o Nivus é o único sem alças de teto e rebatimento elétrico dos retrovisores.

HB20X: tela de 8 pol, quadro com parte digital, chave presencial, alerta de faixa, frenagem autônoma

Nivus: tela de 10,1 pol, quadro simples com boas informações, monitor e controlador de distância

Posto do motorista
O Argo fica para trás em conforto de quem dirige: seu banco é curto nas coxas, poderia oferecer mais apoio lombar (idem para Nivus e HB20X) e o volante é ajustável apenas em altura (nos rivais, também em distância). Quem gosta da sensação de dirigir no alto vai gostar do WR-V, mais espaçoso na vertical, enquanto o teto baixo do Volkswagen implica uma posição mais esportiva, típica de hatch.

Espaço interno é destaque do WR-V, com o melhor banco traseiro do grupo, mas o compartimento de bagagem do Nivus (415 litros) é o maior entre os hatches compactos nacionais

O painel do Hyundai combina velocímetro digital a conta-giros analógico, enquanto os demais são apenas analógicos. As informações adicionais são voltímetro, horas do motor e temperatura do fluido da transmissão, no Fiat, e temperatura do óleo do motor no Volkswagen. Entre os computadores de bordo, o Nivus oferece três trajetos de medição, o Argo duas e os demais só uma. Insatisfatório no Honda e no Hyundai é usar o botão zerador do hodômetro para escolher as funções. Chamou atenção no HB20X o grande erro de velocímetro, cerca de 10% para mais em ritmo de rodovia, sendo a praxe do mercado até 5%.

O WR-V melhorou em faróis para 2021; com leds, são os melhores do grupo ao lado do Nivus

Os melhores faróis por larga margem são do Nivus e do WR-V, dotados de leds, com uma luz intensa e branca, além de ajuste elétrico da altura do facho no Volkswagen. O WR-V também ganhou duplo refletor (fachos baixo e alto simultâneos) e o tipo elipsoidal para os baixos. Com lâmpadas halógenas, o HB20X usa elipsoidal para ambos os fachos e o Argo não tem esse arranjo. Luzes diurnas de leds estão no Honda e no Volkswagen; os outros usam leds apenas para posição, o que não substitui faróis baixos em rodovia. Faltam ao Nivus os faróis de neblina, presentes nos demais, e nenhum traz luz traseira de nevoeiro. Repetidores laterais de luzes de direção estão em todos. Ponto negativo no WR-V é a grande obstrução das colunas dianteiras à visibilidade em ângulo.

Espaço interno
A acomodação dos passageiros é um destaque do WR-V. O banco traseiro leva dois adultos com ótimo espaço para pernas e cabeças, o melhor do grupo, enquanto o HB20X fica em último para as pernas (no restante, os outros três são adequados para seu porte). Limitações comuns aos quatro são a largura insuficiente para três pessoas — pouco melhor no Nivus — e o lugar central incômodo ao passageiro.

O Honda acomoda melhor pernas e cabeças no banco traseiro; o Volkswagen oferece largura um pouco maior

Porta-malas
Com capacidade para 415 litros, o compartimento de bagagem do Volkswagen é o maior entre os hatches compactos nacionais, à frente do Honda (363), do Fiat e do Hyundai (ambos com 300). Todos têm banco traseiro bipartido 60:40 (apenas encosto no HB20X e no Nivus) e usam algum tipo de estepe de uso emergencial: bem fino no Honda e no Hyundai e com pneu diferente dos demais nos outros carros.

Motor e desempenho
O Nivus é o único do grupo com turbocompressor e injeção direta, o que lhe permite obter potência próxima às de WR-V e HB20X e o maior torque entre todos, mesmo com apenas três cilindros e 1,0 litro (veja índices na ficha técnica na próxima página). Entre os demais, a cilindrada superior do Argo traduz-se na maior potência e no segundo maior torque, mas o motor lida com peso bem mais alto que o dos outros.

Maior comprimento garante espaço adicional para bagagens no Volkswagen: 415 litros, acima do Honda e bem melhor que nos outros dois

O teste na pista com gasolina indicou HB20X e Nivus à frente praticamente empatados, com diferenças de até 0,2 segundo nas várias provas de aceleração e retomadas, enquanto Argo e WR-V também andaram muito próximos. De 0 a 100 km/h foram 10,5 s no Hyundai, 10,6 no Volkswagen, 11,3 no Fiat e 11,4 no Honda. Vale observar que, se usassem álcool, o ganho de potência seria bem maior no Nivus (12 cv) que no HB20X (7 cv), no Argo (4 cv) ou no WR-V (1 cv).

Silenciosos no uso moderado, os carros podem incomodar quando mais solicitados: pelo ruído no Honda, pelas vibrações no Fiat e por uma oscilação típica de motores de três cilindros no Volkswagen. O HB20X tem o acelerador típico da marca, que abre muito a borboleta com leve toque no pedal: dá sensação de agilidade, mas dificulta modular a aceleração e leva o motorista a andar mais rápido do que gostaria em certas condições. O do Argo tem outro problema: um retardo de resposta que se pode querer compensar com mais pressão no pedal. Quando o desempenho finalmente vem, pode ser excessivo.

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O Volkswagen pelo motor turbo e o Hyundai pelo menor peso sobressaem em desempenho; o alto peso do Fiat cobra seu preço

Entre as transmissões automáticas, o Honda distingue-se por usar a de variação contínua (CVT), que opera em seu modo típico variando pouco a rotação enquanto a velocidade sobe, a menos que sejam usados os comandos no volante para simular seis marchas. Os outros carros usam a automática tradicional de seis marchas, com trocas manuais pelos comandos no volante ou alavanca. Em modo manual, apenas o Hyundai não faz reduções quando se abre todo o acelerador. Honda e Volkswagen oferecem programa esportivo, que no primeiro é algo exagerado em elevar as rotações quando se acelera de leve.

Consumo
Com transmissão CVT, peso moderado e boa calibração de motor, o WR-V agradou por ser o mais econômico em todas as condições de medição. O Nivus foi segundo colocado nos trajetos urbanos, com os outros dois bem próximos, mas em rodovia foi ele o mais gastador, inesperado pelo motor tido como eficiente e por seus resultados do Polo. Qual a razão? Pode ser que a aerodinâmica do modelo requeira maior ação do turbo nessa faixa de velocidade, anulando a economia esperada pelo dispositivo. Uma pena a Hyundai não oferecer motor turbo no HB20X, pois — a julgar pela versão normal do modelo — traria consumo bem menor que o do 1,6.

Motores de 1,0 a 1,75 litro com e sem turbo, caixa automática tradicional ou CVT: um grupo variado em soluções técnicas

Comportamento dinâmico
Quando se aumenta a altura de rodagem de qualquer carro, é usual adotar um acerto de suspensão mais firme a fim de manter a estabilidade, com sacrifício ao conforto de rodagem. Esse efeito fica claro no HB20X em relação ao HB20 comum e, em menor grau, no Nivus em comparação ao Polo, enquanto a diferença se faz mais discreta no Trekking comparado ao Argo Precision. O WR-V fica no caso oposto: chega a parecer mais macio que o Fit, tanto pelas molas quanto pelos pneus de perfil mais alto.

O HB20X empolga pelo comportamento em curvas, sendo preciso, controlado e fácil de dirigir rápido; as suspensões mais confortáveis são do WR-V e do Argo

Comparados entre si, os mais confortáveis são o Honda e o Fiat, sendo este último melhor na absorção de pequenos impactos. O Confortline da Volkswagen com rodas de 16 polegadas decepcionou: pareceu mais duro em irregularidades que o Highline com 17 pol, talvez por culpa dos pneus Bridgestone Ecopia ou da pressão adotada. Qualquer um, porém, supera nesse campo o Hyundai, muito firme em toda aspereza ou irregularidade e que sugere pouca resistência estrutural em certos impactos. Em uso fora de estrada leve o Trekking agrada pelos pneus de uso misto, melhores quando existe lama, e pelo maior vão livre do solo.

Maior estabilidade no Hyundai, melhor conforto no Honda e no Fiat: faça sua escolha de suspensão

O HB20X dá seu troco em comportamento em curvas: é preciso, controlado e fácil de dirigir rápido. Argo (apesar dos pneus de uso misto, em geral piores em aderência) e Nivus ficam em segundo plano e o WR-V em último, prejudicado pela suspensão macia. O Honda afinal recebeu controle eletrônico de estabilidade e tração de série, como nos outros, o que ele estava devendo ao próprio Fit havia três anos. Os freios e a direção dos quatro modelos, com assistência elétrica bem acertada, cumprem bem seu papel. Apenas o Nivus usa discos também nas rodas traseiras. Maior assistência aos freios do HB20X, para pedal mais leve, seria bem-vinda.

Segurança passiva
O WR-V e o Nivus vêm com bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina de série, além dos itens hoje obrigatórios (cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos, fixação Isofix para cadeiras infantis, bolsas frontais), o que compõe um bom pacote de segurança em caso de acidente. O HB20X traz apenas as bolsas laterais e o Argo nem elas, carência que a Fiat deveria rever.

O maior preço do Nivus pode ser justificado pelo conteúdo, mas não o do WR-V; os outros dois custam bem menos

Custo-benefício
Os dois modelos que mais se distinguem dos carros de origem são também os mais caros: WR-V e Nivus ultrapassam R$ 96 mil como avaliados, enquanto HB20X e Argo ficam ao redor de R$ 85 mil. Os dois primeiros podem defender seu valor, ao menos em parte, por itens como controlador de distância (Nivus), cortinas infláveis e faróis de leds. Entre os dois mais baratos, se o conteúdo do Hyundai leva vantagem por recursos de segurança como frenagem autônoma e bolsas infláveis laterais dianteiras, o Fiat tem a seu favor algumas conveniências.

A comparação nas notas (abaixo) aponta como cada um pode atender melhor a um perfil de público. O WR-V agrada pelo espaço, o rodar confortável e a economia, além de estar tão bem em segurança passiva quanto o Nivus, que é forte em porta-malas e rápido como o HB20X. Este é o mais esportivo em comportamento e tem bom conteúdo pelo preço, com limitações em espaço como no Argo — elogiável em acerto de suspensão, nem tanto em posição do motorista, recursos de segurança e na combinação de desempenho e consumo. No fim das contas, o Honda e o Volkswagen confirmam-se as melhores opções do grupo na média de pontos, com ressalva à boa relação custo-benefício do Hyundai.

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