Dia a Dia: 208 Allure é bom primeiro e segundo carro

 

Bem-equipada e agradável de ver e dirigir, versão de R$ 49 mil
é limitada em espaço, mas satisfaz como hatch de médio desempenho

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Principal lançamento da Peugeot no Brasil no ano passado — talvez nos últimos 10 anos —, o 208 havia deixado boas impressões no comparativo com Citroën C3 e Ford Fiesta, em agosto. Mas aquela versão Griffe com motor de 1,6 litro e câmbio automático representa uma pequena parcela das vendas: o que realmente “sai” são as opções com motor de 1,45 litro e caixa manual, oferecidas nos acabamentos Active, Active Pack e Allure. Para conhecê-las melhor, o Best Cars passou uma semana com a terceira para a seção Dia a Dia.

Ao preço sugerido de R$ 49 mil, o 208 Allure vem bem-equipado de série: bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força entre os eixos, ar-condicionado, direção com assistência elétrica, controle elétrico dos quatro vidros, travas e retrovisores, computador de bordo, comando de travas a distância, faróis de neblina, rodas de alumínio, teto com área envidraçada, volante revestido de couro e central multimídia com tela central sensível ao toque de sete polegadas que controla áudio, navegação e conexão Bluetooth para celular. Pinturas metálica e perolizada são os únicos opcionais. A garantia é de três anos.

 

 

 
O desenho moderno e atraente é um argumento a favor do 208; faróis simples
e rodas de 15 pol em vez de 16 diferenciam o Allure do mais luxuoso Griffe

 

Dono de linhas modernas e atraentes que constituem forte argumento a seu favor, o 208 muda pouco por fora nessa versão: as principais diferenças são as rodas de 15 pol — de alumínio e com bonito desenho —, em vez das de 16 pol do Griffe, e os faróis mais simples, com dois refletores de superfície complexa e a função de luz diurna a cargo de lâmpadas halógenas (na versão superior, o facho baixo usa refletor elipsoidal e a luz diurna cabe a leds). Apesar de mais simples, o conjunto do Allure cumpre bem seu papel. Vãos de carroceria estreitos e regulares transmitem a sensação de qualidade de fabricação e o coeficiente aerodinâmico (Cx) é muito bom para seu porte, 0,32.

 

Apesar das concessões que lhe permitem
custar menos, o 208 intermediário oferece um
bom conjunto e vários detalhes positivos

 

Um detalhe agradável do Griffe, o teto com ampla área envidraçada, é mantido no Allure. Tem forros independentes para dianteira e traseira que, quando desejado, vedam a passagem de sol e calor como deve ser em um país tropical. Abaixo dele vem uma cabine com materiais de acabamento acima da média da categoria, em que pese o revestimento dos bancos em tecido simples e a rigidez dos plásticos. A ampla faixa em cinza claro no painel e as seções no mesmo tom nas portas contribuem para a sensação de espaço e arejamento, mas seu aspecto não nos agradou.

Ousadia parece ter sido o objetivo da Peugeot com a solução para o posto do motorista de seu novo carro pequeno: o quadro de instrumentos é visto por cima do volante (de menor diâmetro que o usual) e não através dele, como é comum. Embora alguns possam estranhar, em nossa opinião a ideia cumpre bem sua função de facilitar a leitura dos mostradores, ao mantê-los mais perto do campo visual do condutor enquanto dirige.

 

 

 
Instrumentos vistos por cima do volante são peculiaridade do 208, que acomoda
bem quem viaja na frente, mas o banco traseiro é apertado e tem assento curto

 

É verdade que o velocímetro tem uma grafia congestionada, mas o repetidor digital torna esse detalhe menos relevante. A mesma tela central traz o computador de bordo, que indica consumo em nosso padrão (km/l) e oferece duas medições independentes. Apesar da fácil leitura dos mostradores, em certos horários o sol intenso sobre sua moldura inferior causa reflexos na lente. No centro do painel, em destaque, vem a tela sensível com menus de fácil acesso e relativamente intuitivos. O áudio traz comandos no volante e conexões USB e auxiliar, mas não toca CDs.

 

 

Comparado ao Griffe, o 208 Allure mostra simplificações como o ar-condicionado com ajuste manual (em vez de automático de duas zonas), que tem nada menos que seis velocidades, mas não representa vantagem sobre as usuais quatro: com um sistema que parece subdimensionado, em geral precisa-se usar a quinta para obter a ventilação que outros carros fornecem na terceira.

Outros itens que o Allure deixa de fora são alarme com ultrassom, controlador e limitador de velocidade, luzes de leitura dianteiras (e não há qualquer iluminação na parte traseira da cabine), faróis e limpador de para-brisa com acionamento automático, sensores de estacionamento na traseira, bolsas nos encostos dianteiros, apoio de braço central à frente e banco traseiro bipartido, este importante em um hatchback. Como na versão superior, faltam faixa degradê no para-brisa, alças de teto e comando interno da portinhola do tanque de combustível. Os controles elétricos de vidros, que têm temporizador, passaram a incluir as janelas traseiras depois do lançamento do modelo, uma boa providência.

 

 

 
Tela tátil de 7 pol controla áudio, navegador e computador de bordo com
menus 
práticos; partes em cinza claro no painel e nas portas não agradam

 

Apesar das concessões que lhe permitem custar menos, o 208 intermediário oferece um bom conjunto e vários detalhes positivos como extensão do ar-condicionado para o porta-luvas, alerta individual para porta mal fechada, temporizador de faróis, seu acendimento pelo comando da chave (útil para localizar o carro em estacionamento), volante regulável em altura e distância, cinto de três pontos para o passageiro central do banco traseiro (bastante raro na classe), repetidores de luzes de direção nos retrovisores e ótima dispersão de água pelo lavador de para-brisa, além do já citado teto de vidro.

Os bancos dianteiros acomodam bem e oferecem amplo apoio lateral para as curvas. No traseiro é que a situação se complica, pois o banco é estreito e seu assento muito curto apoia mal as coxas, apesar do razoável espaço para cabeças e pernas, este favorecido pelo grande entre-eixos de 2,54 metros. Três crianças têm relativo conforto, mas adultos vão lamentar. A capacidade de bagagem está na média do segmento, com 285 litros pelo padrão VDA; o estepe montado sob o assoalho usa pneu da mesma medida dos outros e roda de aço.

Próxima parte

 

 

 

 
Sem impressionar pelo desempenho ou pela estabilidade, o 208 agrada de modo
geral: boas respostas em baixa rotação, ótima direção, um rodar confortável

 

Motor esperto, suspensão acertada

Assim como o C3 lançado em 2012, o 208 usa nas versões mais simples um motor de 1,45 litro obtido a partir do antigo 1,4 do grupo francês, que permanece em uso no 207. É uma unidade convencional com comando único e duas válvulas por cilindro, cuja maior sofisticação é o uso de alumínio também no bloco. Fornece índices de potência (89 cv com gasolina, 93 com álcool) e torque (13,5 e 14,2 m.kgf, na mesma ordem) satisfatórios para a cilindrada, embora modestos diante do concorrente direto da Ford, o Fiesta de 1,5 litro e 16 válvulas, que com álcool chega a 111 cv e 15 m.kgf.

 

O ponto alto desse motor é sua pronta resposta
em baixas rotações, que torna o 208 agradável de
usar no trânsito urbano e ágil em retomadas

 

O ponto alto desse motor é sua pronta resposta em baixas rotações — 86% do torque estão disponíveis a 2.000 rpm —, que torna o 208 agradável de usar no trânsito urbano e relativamente ágil em retomadas. Levá-lo a giros mais altos (o limite é de 6.400 rpm) não traz grande aumento de potência e resulta em vibrações e ruídos acima do esperado, bem notados de 4.500 em diante. Parece ter havido perda nesse aspecto em relação ao antigo 1,4. Em contrapartida, mostrou-se moderado em consumo e trabalha em rotação adequada em rodovia, como 3.500 rpm a 120 km/h em quinta marcha. Ao contrário do 1,6, a versão mantém o tanque auxiliar de gasolina para partida a frio.

Usar o câmbio do pequeno Peugeot poderia ser mais prazeroso com engates mais macios, embora sejam precisos. Como habitual na marca, aplicar a marcha à ré é tão simples como colocar uma sexta. Destaque é a assistência elétrica de direção, que a deixa bastante leve em manobras e com o devido peso em alta velocidade. Os freios são adequados e revelam assistência bem calibrada, mas poderiam usar discos ventilados, que ficam restritos ao 1,6.

 

 
O motor de 89/93 cv deriva do 1,4 usado pelo antigo 207 e leva o Allure com
disposição e consumo moderado, embora o nível de vibração esteja maior

 

Bom também o acerto da suspensão, que concilia um rodar confortável a uma estabilidade segura. Os pneus de perfil mais alto que no Griffe (195/60 R 15, Pirelli Cinturato P1 no avaliado, em vez de 195/55 R 16) melhoram a absorção de irregularidades, que poderia ser ainda melhor com pressão de pneus mais baixa, mas já supera grande parte da concorrência. De modo geral os movimentos são bem controlados pelos amortecedores que, se poderiam ser mais firmes no começo do curso (como se nota ao acelerar e frear com rapidez), não incomodam.

 

 

Embora R$ 49 mil não sejam pouco dinheiro para um carro pequeno, o que mais agrada no 208 Allure é o equilíbrio do conjunto. Não impressiona pelo desempenho, mas tem agilidade bem superior à de modelos de 1,0 litro; sem ser luxuoso, traz bons equipamentos de conforto, conveniência e segurança; e atende às expectativas em quase todos os aspectos — com o adicional de um desenho muito agradável. Como dizia um antigo comercial, um ótimo segundo carro, mesmo para quem não tiver o primeiro.

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2
Diâmetro e curso 75 x 82 mm
Cilindrada 1.449 cm³
Taxa de compressão 12,5:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 89/93 cv a 5.500 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 13,5/14,2 m.kgf a 3.000 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas manual, 5
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 6 x 15 pol
Pneus 195/60 R 15
Dimensões
Comprimento 3,966 m
Largura 1,702 m
Altura 1,472 m
Entre-eixos 2,541 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Compartimento de bagagem 285 l
Peso em ordem de marcha 1.086 kg
Desempenho e consumo (gas./álc.)
Velocidade máxima 177/181 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 11,7/10,9 s
Consumo em cidade 11,6/8,0 km/l
Consumo em rodovia 14,3/9,6 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

 

 

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