São carros atraentes, mas a nova grade do Bravo 2016 não fez muito por
seu estilo e o i30 (á direita) também tem na sua um ponto discutível
Concepção e estilo
São carros diferentes na origem e na idade dos projetos. O Bravo foi apresentado na Europa em 2007 como sucessor do Stilo, do qual rompia qualquer ligação visual — de retilíneo passou a arredondado —, e três anos mais tarde veio substituí-lo na produção nacional. Tão empenhada em criar infinitas variações sobre o tema do 500, a Fiat até hoje não desenvolveu um sucessor para ele no Velho Continente, onde o veterano de oito anos ainda aparece entre os modelos “em fim de linha” da marca. Foi também em 2007 que a sul-coreana Hyundai lançou o i30, sucessor do Elantra hatch (embora seja vendido com esse nome nos Estados Unidos), trazendo-o ao Brasil dois anos depois. A segunda geração apareceu em 2012 por lá e chegou aqui no ano seguinte.
Tanto pela diferença de idade quanto pelos contrastes culturais entre Itália e Coreia do Sul, seus estilos não poderiam ser mais diferentes. O Bravo é “limpo”, arredondado, com poucos vincos e um perfil esportivo que estabelece certa ligação com a Alfa Romeo, caso da frente comprida e do teto mais baixo. Por sua vez, o i30 abusa de vincos, curvas e arestas, um padrão que dominou os Hyundais por anos, mas anda em desuso em seus últimos lançamentos.
O Fiat (à esquerda) envelheceu dignamente e não parece ter oito anos de
mercado europeu; o Hyundai poderia se distinguir melhor do HB20
Ambos são atraentes, cada um a seu modo, e o Bravo certamente mostrou-se duradouro ao não parecer já ter oito anos. De qualquer modo, preferíamos o desenho original da frente ao adotado no modelo 2016 brasileiro. É curioso que o i30 tenha aparência discutível no mesmo item, a grade dianteira, com os frisos cromados que sugerem um sorriso. De resto, a grande semelhança de estilo com o HB20 representa inconveniente para muitos.
Não poderiam ser mais diferentes: o Bravo é “limpo”, arredondado, e o i30 abusa de vincos e arestas, o que dominou os Hyundais por anos
Os vãos de carroceria de ambos são estreitos (exceto os da quinta porta do Bravo) e regulares, em boa demonstração de qualidade construtiva. Infelizmente, nenhum dos fabricantes fornece o coeficiente aerodinâmico (Cx) dos modelos.
Conforto e conveniência
Com aparência atual, talvez mais ousada no i30 no desenho da área central do painel, os interiores transmitem boa impressão, com vantagem ao Bravo pelo revestimento em couro dos bancos (o concorrente usa um tecido simples, algo áspero; couro é oferecido como opcional) e do volante. Os plásticos são rígidos em sua maioria, mas com aspecto e montagem muito bons; o i30 usa algumas partes macias nas portas, e o Bravo, inserções de couro.
Bancos mais envolventes e detalhes como os pedais trazem ar esportivo ao
interior do TJet; o novo sistema de áudio supera em muito o antigo
O motorista acomoda-se bem nos dois, com banco bem dimensionado em forma e densidade (firme), pedais e volante em posição correta, apoio adequado para o pé esquerdo e amplos ajustes de volante e banco, embora nenhum inclua o apoio lombar. Os apoios laterais do Bravo, mais intensos, compensam o escorregamento permitido pelo couro em curvas e não incomodam, mas gostaríamos de mais apoio na região lombar. Seu ajuste de inclinação de encosto é milimétrico por botão giratório, ante a alavanca em pontos definidos do i30.
Os quadros de instrumentos trazem o habitual, incluindo termômetro do motor (que muitos apreciam, embora de pouco sirva nos carros atuais), com fácil leitura e iluminação em branco. Há computador de bordo nos dois, mas superior no Fiat, que inclui segunda medição e informa consumo em nosso padrão de km/l (apenas l/100 km no Hyundai), além de mostrar em barras a pressão do turbo. A iluminação dos dois é em branco e permanente, o que resolveu a antiga dificuldade de leitura diurna do Bravo, antes com luz alaranjada apenas com faróis acesos.
Vantagem do i30 é a tela central dos sistemas de áudio, telefone via Bluetooth e navegação, de sete polegadas ante apenas cinco do oponente, ambas comandadas por toques na tela e com botões físicos para as principais operações. O sul-coreano tem ainda reprodução de vídeo por fonte digital ou DVD (a imagem é exibida apenas com o carro parado, como exige a lei), mas a claridade da tela deveria ser reduzida ao acender faróis ou conforme a luz ambiente. No nacional há comando de voz em idioma local para áudio, telefone e navegação em um sistema de origem Chrysler, bem mais prático de usar que o oferecido até o modelo 2015. Curioso é encontrar um Fusca, intitulado Bug (um de seus apelidos nos EUA), entre as opções de carros para sua tela de navegação.
O ambiente interno do i30 é mais ousado, mas simples sem os bancos de
couro e outros opcionais; agrada a central de entretenimento maior
Apesar da boa qualidade geral de áudio (como o do i30) e de uma caixa de alto-falante de subgraves na lateral do porta-malas, o sistema do TJet não impressiona pelo peso de som — a sensação é de que o conjunto usado nos primeiros anos do modelo era superior nesse quesito, ainda que sujeito a distorções. Ambos os carros trazem conexões USB e auxiliar.
Detalhes que favorecem o Bravo são ar-condicionado automático com duas zonas de ajuste e difusor de ar para o banco traseiro (opcionais do i30 que não vinham no avaliado), controle elétrico de vidros com função um-toque em todos (no oponente, só para descer o do motorista; ambos têm temporizador) e função de abrir/fechar pelo controle remoto, alarme volumétrico, alerta programável para excesso de velocidade, retrovisor interno fotocrômico, ajuste de altura também para o banco do passageiro da frente, assistente para saída em rampa (embora o i30 praticamente a dispense, pelo câmbio automático) e molas a gás para manter o capô aberto.
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