O veterano Fiesta Rocam enfim tem sucessor: saiba como anda o
primeiro sedã da linha Ka, com bom conteúdo de série e motor de 1,5 litro
Texto: Edison Ragassi e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
O Ford Ka é um daqueles carros nacionais que, pouco a pouco, se adaptaram às preferências do mercado. Nascido na Europa em 1996 como um compacto de desenho ousado, certo requinte e apenas quatro lugares, ele tentou manter essa imagem em seus primeiros anos de Brasil — houve até uma série Black com bancos de couro em 2001 —, mas a Ford percebeu que sua vida seria mais fácil se seguisse a linha espartana, competindo na base da oferta da marca com outros modelos despojados.
O Ka então foi simplificado para ficar mais barato e, 10 anos após o lançamento, mudava de visual — mantendo a estrutura do original — e assumia de vez a simplicidade, sobretudo no desenho interno, enquanto abria espaço para um quinto ocupante e um pouco mais de bagagem. Versão esportiva, comportamento dinâmico quase de kart e painel inspirado ficavam no passado. Mesmo a opção Sport, com motor de 1,6 litro e faixas que faziam lembrar o Mustang, não passou de um breve suspiro inexpressivo em vendas.
Chega agora o Ka de terceira geração, que o Best Cars já avaliou na versão hatch SEL de 1,0 litro, com um importante acréscimo: o primeiro sedã em sua história, chamado de Ka+ (leia Ka mais, e não Ka plus, sob risco de fazer uma salada com o acabamento SE Plus: “Comprei um Ka Plus SE para mim e um Ka SE Plus para minha esposa”…). Apresentado à imprensa em simultâneo ao lançamento oficial do hatch, o sedã começa a ser vendido em setembro com entregas a partir de outubro, um mês após a versão de dois volumes. Ambos são fabricados em Camaçari, BA, e dispõem do motor Sigma de 1,5 litro e 16 válvulas como alternativa ao 3C de 1,0 litro, três cilindros e 12 válvulas.
Não é um estilo que cause paixões, mas o Ka+ ficou bem resolvido mesmo com as
portas traseiras do hatch; na frente mudam a grade e as molduras de faróis
O conteúdo de série da versão de entrada, SE, inclui ar-condicionado, direção assistida elétrica, controle elétrico de vidros dianteiros e travas com controle remoto, rádio com tomada USB e interface Bluetooth para celular, My Ford Dock (alojamento para telefone ou navegador), bolsas infláveis frontais, freios com ABS e distribuição eletrônica (EBD), ajuste de altura do volante, desembaçador traseiro, rodas de 14 pol com pneus 175/65, maçanetas e retrovisores na cor do carro, indicador de troca de marcha, conta-giros e abertura elétrica do porta-malas. Custa R$ 37.890 com motor de 1,0 litro e R$ 42.890 com o 1,5.
Os novos Kas substituem o Fiesta antigo, de preços
bem mais baixos, mas a Ford acredita que
não abandonará um filão expressivo de mercado
O SE Plus (R$ 39.890 e R$ 44.890, de acordo com o motor) traz os itens do SE, além de controles elétricos de vidros traseiros e sistema de áudio Sync com toca-CDs, comandos de voz e volante com controles de áudio (nesse caso o Dock é excluído). O SEL (R$ 42.490 e R$ 47.490) acrescenta ao SE Plus controle eletrônico de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, rodas de alumínio de 15 pol com pneus 195/55, faróis de neblina, computador de bordo, alarme, ajuste de altura do banco do motorista e grade dianteira com aplique cromado. No caso do hatch com motor 1,5 os preços são: SE, R$ 40.390; SE Plus, R$ 42.390; e SEL, R$ 44.990.
O novo sedã tem uma legião de concorrentes pela frente, entre os quais Chevrolet Prisma (motores 1,0 e 1,4-litro, de R$ 41,4 mil a R$ 54,8 mil), Fiat Grand Siena (motores 1,4 e 1,6, de R$ 41,2 mil a R$ 50,8 mil), Hyundai HB20 S (motores 1,0 e 1,6, de R$ 41 mil a R$ 57,7 mil), Nissan Versa (motor 1,6, de R$ 42,4 mil a R$ 47,9 mil), Renault Logan (motores 1,0 e 1,6, de R$ 32,3 mil a R$ 45,8 mil), Toyota Etios (motor 1,5, de R$ 42 mil a R$ 49,7 mil) e Volkswagen Voyage (motores 1,0 e 1,6, de R$ 36,5 mil a R$ 56,2 mil). Vale notar que os equipamentos de série variam muito, sendo frequente que o ar-condicionado venha à parte, e que algumas versões incluídas acima têm câmbio automático ou automatizado.
“Ar, direção, vidros e travas” são de série em todo novo Ka, mesmo o SE de 1,0 litro;
o SEL (fotos) vem com controle de estabilidade, rodas 15 e computador de bordo
A Ford agora confirma que os novos Kas substituem o Fiesta de geração antiga, o Rocam, em produção desde 2002 como hatch e 2004 como sedã. Embora o veterano modelo tivesse preços de entrada bem mais baixos (R$ 27 mil e R$ 29,5 mil, na ordem), a empresa acredita que não abandonará um filão expressivo de mercado, pois muito poucas vendas do mercado atual seriam de carros sem ar-condicionado, direção assistida e controles elétricos de vidros e travas, que o Ka traz de série.
Haverá concorrência interna com o novo Fiesta sedã? Alguma pode existir, mas a Ford cuidou de mantê-lo afastado do Ka+ em motorização (vem só com o 1,6-litro), faixa de preço (de R$ 53,2 mil a R$ 63,3 mil) e, ao menos por enquanto, na exclusiva oferta do câmbio automatizado de dupla embreagem Powershift, que para a linha Ka estaria “em estudos” de acordo com a fábrica.
Dentro da estratégia One Ford, que prevê o desenvolvimento de carros mundiais para a corporação, o novo Ka não ficará restrito ao mercado brasileiro. Um dos alvos do grupo com a versão sedã é a Índia, também apreciadora de três-volumes pequenos, que já teve uma prévia do modelo a ser fabricado lá com o conceito Figo do último Salão de Nova Déli. Contudo, o sedã indiano terá a traseira cerca de 25 centímetros mais curta que o nosso para se adequar à legislação tributária local, que favorece carros com até quatro metros de comprimento.
Apliques em preto brilhante, em vez do prata do hatch (foto maior), diferenciam o
Ka+ por dentro; posição de dirigir e espaço são bons para um sedã de seu porte
Desenhado — assim como o hatch — pelo Centro de Estilo da Ford em Camaçari, BA, o Ka+ mostra linhas simples, que não causam paixão, mas parecem aptas a agradar a um amplo público, dentro do que a fábrica almeja com esses carros do segmento de entrada. A frente é a mesma para ambas as carrocerias, salvo por detalhes como a grade superior com frisos horizontais, que combina melhor com a tomada de ar inferior (no hatch a grade em padrão colmeia destoa da tomada), e os faróis com molduras cromadas em vez de pretas.
De lado, um bom trabalho de estilo permitiu usar as mesmas portas traseiras em ambas as versões — para óbvia economia na produção — sem que parecessem improvisadas. A inclinação do vidro posterior é adequada para uma boa aparência e a coluna final não ficou larga em excesso. A nova traseira, se está longe de impressionar, consegue manter a identidade do hatch, como na linha sinuosa da face interna das lanternas, e não destoa do conjunto. Todo o comprimento adicional ao hatch (37 centímetros, de 3,88 para 4,25 metros) está ali, pois a distância entre eixos se mantém em 2,49 m.
O que pode causar estranheza é a sensação de porta-malas baixo notada de certos ângulos, causada pela linha de cintura ascendente nas portas de trás. É também um estilo que requer rodas grandes para obter harmonia com tanto volume de chapas da carroceria, algo que tem sido comum em desenhos recentes de várias marcas (rodas de 15 pol, que há anos “enchiam” a vista lateral de um carro médio, hoje parecem pequenas em modelos compactos). De qualquer forma o Ka+ revela proporções mais equilibradas que o “primo rico” Fiesta sedã, pelo comprimento menor em 25 cm associado a um entre-eixos quase igual.
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